sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Centenário de Álvaro Cunhal

A 10 de Novembro de 2005, morria uma das figuras mais emblemáticas da resistência portuguesa, Álvaro Cunhal (1913-2005) , o líder maior do PCP e um dos mais notáveis dirigentes do movimento comunista internacional. No dia do seu  funeral, as ruas  de Lisboa foram pequenas  para  uma multidão imensa que lhe prestava homenagem e se rendia ao homem que soube defender , ao longo da vida,   um ideal  político e a ele se entregou  por inteiro.
Para assinalar o centenário de Álvaro Cunhal, estão agendados vários eventos promovidos pelo Partido Comunista Português  e por outros organismos.
Relembrá-lo-emos  neste   espaço,  como   já  o  fizemos  anteriormente. Hoje,apresentamos algumas sugestões  vindas do site do PCP.

A obra artística de Álvaro Cunhal
Texto de José Casanova, director do «Avante!» e membro do Comité Central do PCP
"Da intensa e rica actividade intelectual de Álvaro Cunhal, nasceu, a par de uma relevante obra teórica – expressa num corpo de pensamento político, económico, social, ideológico e cultural que faz dele o maior pensador político do século XX português – uma obra artística de assinalável qualidade, ambas indissociáveis entre si e ambas intrinsecamente ligadas à vida e à intervenção política do autor – revolucionário empenhado a tempo inteiro na luta pelos valores da emancipação social e humana e sempre tendo como referência prioritária o Partido, de que foi, até aos seus últimos instantes de vida, o mais relevante construtor e defensor.
Romance, novela, conto, tradução, desenho, pintura: em todos estes géneros vive a obra artística de Álvaro Cunhal – com o valioso complemento de um conjunto de textos sobre questões relativas à arte e à estética. Sublinhe-se o facto, por demais significativo, de parte grande desta obra ter sido construída nos oito anos de isolamento numa cela da Penitenciária de Lisboa.
A sua reflexão sobre os problemas da arte e da estética, iniciada na juventude (correspondência com Abel Salazar e polémica com José Régio), encontramo-la em três textos essenciais: Cinco notas sobre forma e conteúdo, escrito na Penitenciária em 1954; a intervenção na I Assembleia de Artes e Letras da ORL, em 1978; e aquele que é o corolário da profunda, inteligente e lúcida reflexão do autor sobre a matéria: o ensaio A Arte, o Artista e a Sociedade, publicado em 1996. Em todos esses textos está presente a defesa de uma arte socialmente comprometida, o desejo da intervenção do artista, com a sua arte, ao lado dos trabalhadores e do povo, mas sem a subordinação a imposições de opção por qualquer escola ou tendência estética: «um apelo à arte que intervém na vida social é intrinsecamente um apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho.»
Com o pseudónimo de Manuel Tiago, ele é autor de quase uma dezena de obras literárias, das quais se destaca o emblemático romance Até Amanhã, Camaradas, inspirado no processo de reorganização/construção do PCP, ocorrido na primeira metade dos anos 40, e escrito na Penitenciária – onde produz, também, os Desenhos da Prisão e os quadros a óleo sobre madeira a que chamou Projectos e onde traduz O Rei Lear, de Shakespeare.
Em toda a obra de ficção de Álvaro Cunhal/Manuel Tiago está presente a experiência vivida e sofrida do autor: as passagens clandestinas da fronteira, em Cinco Dias, Cinco Noites e Fronteiras; o cumprimento do serviço militar na Companhia Disciplinar de Penamacor, em Os Corrécios e Outros Contos; a prisão nos cárceres fascistas, em A Estrela de Seis Pontas e Sala 3 e Outros Contos; a passagem pela guerra de Espanha, em A Casa de Eulália; momentos do período que se seguiu ao 25 de Abril, em Um Risco na Areia.
As obras artística e teórica de Álvaro Cunhal, pela sua qualidade intrínseca e pela sua dimensão política e ideológica; pela reflexão inteligente e lúcida que lhes dá corpo; pela cultura, o talento e a sensibilidade humana de que estão impregnadas; pela universalidade dos temas que abordam; pelos valores humanos que as percorrem, são obras sem tempo: lemo-las nós, leitores de hoje, e o mesmo farão os leitores do futuro. Entre eles os que, em 2113, hão-de celebrar o bicentenário do autor."Artigo publicado, no jornal «Avante!», Nº 2073 de 22 de Agosto 2013
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