quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O admirável Universo



Planeta do tamanho da Terra também tem o interior rochoso, detecta estudo.
Kepler-78b, a 700 anos-luz, tem massa e densidade similares às nossas.
Apesar disso, o exoplaneta possui órbita de apenas 8,5h e alta temperatura.
"Um planeta localizado fora do Sistema Solar, a 700 anos-luz da Terra, não tem apenas o tamanho parecido com o nosso, mas também a massa e a densidade, com um núcleo de ferro e o interior rochoso. É o que apontam dois estudos publicados na revista "Nature" desta quarta-feira (30).
As novas medições sugerem que o Kepler-78b é o menor exoplaneta – nome dado aos planetas fora do Sistema Solar – do Universo a ter sua massa e seu raio conhecidos com precisão. Ele orbita uma estrela semelhante ao Sol chamada Kepler 78, mas está bem mais perto dela do que nós do Sol.
Para determinar a massa exacta dele, dois grupos independentes de astrónomos (um liderado pelo Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, nos EUA, e outro pela Universidade de Genebra, na Suíça) mediram "oscilações" na luz da estrela hospedeira enquanto o planeta circulava em volta dela. Um grupo chegou à conclusão de que a massa desse planeta é 1,69 vez a nossa, e o outro calculou 1,86 vez, usando uma escala similar.
A densidade analisada variou de 5,3 a 5,57 gramas por centímetro cúbico, respectivamente, o que indica uma composição rochosa parecida com a da Terra.
 Apesar de ser muito semelhante ao nosso planeta, o Kepler-78b está próximo demais de sua estrela principal, razão pela qual ele tem seu período orbital muito curto – uma volta completa em torno do astro dura apenas 8,5 horas – e temperaturas altíssimas (entre 1.500° C e 3.000° C).
Embora hoje se acredite que não haja nenhuma possibilidade de vida na superfície desse planeta, ele "constitui um sinal animador para a busca de mundos habitáveis fora do nosso Sistema Solar", disse o astrónomo Drake Deming, da Universidade de Maryland, nos EUA, em um comentário separado publicado na "Nature".
Segundo o astrónomo, a existência desse planeta hostil "tem pelo menos o mérito de mostrar que planetas extra-solares com uma constituição semelhante à da Terra não são um facto extraordinário" na Via Láctea, e que é possível encontrar outros com critérios mais compatíveis com alguma forma de vida.
Além das universidades do Havaí e de Genebra, participaram da pesquisa cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da Universidade da Califórnia, em Berkeley e em Santa Cruz, e da Universidade Yale, todas nos EUA.
Kepler com defeito
Lançado em Março de 2009 pela agência espacial americana (Nasa) para identificar exoplanetas rochosos na zona habitável de suas estrelas hospedeiras, o telescópio espacial Kepler descobriu, durante sua missão, biliões de candidatos a "novas Terras", como o Kepler-78b. A zona habitável de uma estrela é a região onde a quantidade de radiação emitida permite que a temperatura no planeta se mantenha em níveis para que a água exista em estado líquido.
A missão do telescópio terminou em Novembro do ano passado, e depois disso ele começou a trabalhar numa missão adicional de mais quatro anos. Um defeito em duas de suas rodas que lhe davam estabilidade e precisão, porém, impediram o equipamento de continuar funcionando totalmente, e a Nasa já desistiu das tentativas de restabelecer suas actividades por completo."G1,Globo
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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Dá-me um canto canoro e eloquente


Homenagem a Gomes Leal

Morre o povo aí pelas esquinas,
com a fome que também matou Camões.
Abrigam-se os pobres nas ruínas,
com gestos e ademanes de ladrões.

Com fome e frio, o povo abandonado,
sacode o mundo, tenebrosamente:
dá-me tu, ó Musa, um furor sagrado,
que nos levante, poderosamente!

Uma lira feita só de vinganças,
uma lira cuspindo ameaças!
Uma lira que abale as seguranças
dos que vivem de rapina e trapaças!

Dá-me um canto canoro e eloquente,
que seja para os pobres como um sol,
pai dos párias e astro transcendente,
que faz do pobre grato girassol!


Ó Musa, quero a gana do Poeta,
que me ajude a castigar este horror,
a varrer, com vigor, esta sarjeta,
onde copulam gula e impudor!


      Eugénio Lisboa, depois de reler “A Fome de Camões”, de Gomes Leal, 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Correspondência de Albert Camus

No ano do centenário do nascimento de Albert Camus (7 de Novembro), estão previstas várias publicações. L' Express, através da revista Lire , anunciava já no Verão que Camus iria estar  representado, nas Livrarias, em todos os géneros literários. Desde a Correspondência ( com Francis Ponge, Louis Guilloux e Roger Martin du Gard, na  Gallimard),a Livros de colecção (Le Monde em parceria com a filha  Catherine,Gallimard), a reedição dos seus famosos  Carnets em três volumes, (Folio), a  recolha dos seus mais célebres romances, os discursos e  peças de Teatro à  compilação  dos  seus artigos no Jornal Combat (Folio)... Camus estaria presente  e visível.
Albert Camus tem sido um dos nossos escritores. A riqueza da sua obra, a actualidade do seu pensamento são sempre motivos para revisitá-lo. Fá-lo-emos, agora e no futuro.
Hoje, apresentamos o artigo que L'Express ( Lire) publicou sobre  a Correspondência entre Albert Camus e Louis Guilloux, uma das obras anunciadas, editada pela Gallimard.
À découvrir: les correspondances entre Albert Camus et Louis Guilloux
Par Jérôme Dupuis (Lire), publié le 25/10/2013 à  07:00
Gallimard édite la correspondance établie entre Albert Camus et Louis Guilloux de 1945 à 1959. Extraits de leurs échanges épistolaires.
"Ils ne sont pas nombreux, ceux que le pudique Albert Camus appelait "vieux frère". Louis Guilloux était de ceux-là. Les deux hommes se sont rencontrés en 1945 par l'intermédiaire de leur "bon maître", Jean Grenier. Tous deux issus de milieux populaires, tous deux tuberculeux, tous deux francs-tireurs politiques après avoir été tentés par le communisme, le Breton et l'Algérien étaient faits pour s'entendre. Lorsque Guilloux est à Paris, ils se voient presque quotidiennement. Preuve de leur complicité, Camus présentera sa mère à son ami, à Alger. C'est aussi avec l'auteur du Sang noir qu'il ira se recueillir sur la tombe de son père, près de Saint-Brieuc, en 1947, épisode fondateur que l'on retrouvera dans Le Premier Homme. Et Guilloux sera de ceux qui veilleront le cercueil de Camus, la nuit précédant son enterrement.
La Correspondance publiée -63 lettres au total- donne aussi à voir une véritable amitié littéraire. Comme le montre l'extrait ci-après, Camus a soumis le manuscrit de La Peste à son ami, qui lui suggérera nombre de changements. "À Louis Guilloux, puisque tu as écrit ce livre en partie. Avec l'affection de ton vieux frère, A. Camus", peut-on lire sur l'exemplaire dédicacé au Breton. En retour, Camus écrira, en 1948, une mémorable préface à la réédition de La Maison du peuple, dans laquelle on pouvait lire cette charge qui porte en germe les futures querelles avec Sartre: "Presque tous les écrivains français qui prétendent aujourd'hui parler au nom du prolétariat sont nés de parents aisés ou fortunés." L'échange ci-après, dans lequel Camus baisse inhabituellement la garde, dit assez la complicité qui unissait le "cher Albert" et le "bon Louis".

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O acordo do nosso desacordo

Professores brasileiros avaliam em Portugal reabertura de discussões sobre Acordo Ortográfico
"A senadora defende assim a reabertura das discussões, entre todas as nações lusófonas, para a criação de um acordo que seja "fruto de um entendimento geral" e consensual para que nenhum dos países se sinta prejudicado.
Dois conceituados professores de língua portuguesa do Brasil reunir-se-ão, em Novembro, em Lisboa, com representantes de Portugal, para avaliar a possibilidade de reabrir as discussões sobre o Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, disse à Lusa fonte oficial brasileira.
A informação foi adiantada à Lusa pela senadora brasileira Ana Amélia Lemos, responsável pelo projecto de lei que adiou, em Dezembro do ano passado, a entrada em vigor do Acordo Ortográfico no Brasil.
O acordo, assinado em 1990 pelos países de língua portuguesa, foi ratificado pelo Brasil em 2008, pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com previsão de passar por um período de adaptação, até Dezembro de 2012, quando as duas normas seriam aceites, entrando oficialmente em vigor a partir de Janeiro deste ano.
Face à proximidade do fim do período de transição, no entanto, a senadora brasileira, individualmente, e também através da Comissão de Educação do Senado, sugeriu à Presidência uma prorrogação desse limite, tendo em conta a falta de consenso nos restantes países lusófonos.
De acordo com a parlamentar, o próximo passo agora será a reunião entre os professores brasileiros Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto com representantes portugueses para avaliar se há disposição em reabrir o debate sobre o acordo.
Os dois professores fazem parte do grupo de trabalho criado este mês pela Comissão de Educação do Senado brasileiro para tratar sobre o tema.
Em Portugal, por sua vez, há uma petição na Assembleia da República, pedindo que o país se retire do Acordo. A intenção dos representantes brasileiros é encontrar-se com os membros do parlamento português para mostrar que "há possibilidades de os dois países trabalharem juntos".
De acordo com um dos professores envolvidos, Ernani Pimentel, a visita será feita entre 14 e 28 de Novembro com previsão de encontros com a Comissão de Educação da Assembleia da República portuguesa, bem como grupos de estudantes, jornalistas e professores.
"Prontificamos a nos reunir com grupos de estudantes, jornalistas e professores com a finalidade de trocar de perto experiências, identificar o máximo de divergências e procurar o máximo de convergências", afirmou Ernani Pimentel à Lusa." Jornal I,27/10/2013
Leia o Artigo completo AQUI
 O Acordo Ortográfico tem sido um dos flagelos  que tem vitimado a Língua Portuguesa, nos últimos anos
À volta de uma unificação que nunca existirá, a expressão ortográfica da nossa língua está já em processo de alteração , o que  faz dela algo que, tal como o país, já não nos é familiar. A identidade de um povo traduz-se em múltiplos traços. E o pior que lhe pode acontecer é sentir-se mutilada , amputada ou violentada. A inutilidade de um acordo ortográfico fez emergir divisões e dissidências  que não existiam. 
Dissertámos, reflectimos e publicámos algumas opiniões sobre este indesejável Acordo. Hoje, a propósito da Notícia do Jornal I , reactivamo-lo e transcrevemos alguns excertos da reflexão  de Eugénio Lisboa, extraídos do  Jl de 13-16 Agosto 2008
A minha opinião sobre o Acordo Ortográfico é simples e transparente: trata-se de um exercício tão monumentalmente fútil quanto dispendioso. Um formidável desperdício que nunca resolverá o problema que ostensivamente visa resolver: a “defesa da unidade essencial da língua portuguesa” (cito João Malaca Casteleiro e faço notar que ele não fala em “unidade ortográfica” mas sim em “unidade essencial da língua portuguesa”).
A minha questão é só uma: como é que a unificação, aliás relativa, da ortografia – que não passa de uma simples convenção de escrita – pode ambiciosamente significar “a unidade essencial da língua portuguesa”, quando a gramática e uma parte substancial do glossário não farão outra coisa que não seja divergirem alegre e abundantemente, entre os sete países da CPLP?
 Divergência, aliás salutar, por significar maior diversidade e riqueza… (….)
“O segundo motivo”, pondera o ilustre campeador do Acordo, “relaciona-se com a política externa do idioma. Do ponto de vista internacional, a escolha entre duas ortografias oficiais pode levantar problemas diplomáticos delicados e mesmo insolúveis.”
E curioso que possa levantar mas que até hoje não tenha levantado.
 (…)Tenhamos a coragem de admitir, de uma vez por todas, que há um português ortónimo – o que se fala e escreve em Portugal – e vários portugueses heterónimos (os que se falam no Brasil, em Moçambique, em Angola, etc.) que se falam e que se escrevem.
Apagar esta heteronímia, tentar fingir que o português é só um, por via de uma tímida e ridícula unificação ortográfica, é querer tapar o sol com uma peneira.
Acham, a sério, que se pode confundir uma uniformização ortográfica com a “unidade essencial da língua”?
Que “E embolaram” é da mesma língua que diz: “E pegaram-se à zaragata”? A sério que acham? Num tá bom da bola! (…)”Eugénio Lisboa , JL de 13-16 Agosto 2008

domingo, 27 de outubro de 2013

Ao Domingo Há Música

"O movimento vertical da construção vem de muito longe, de um fundo sem fundo que a visão não capta mas que é a condição primeira da visibilidade. A noite desse fundo é a força que unifica e propaga preenchendo o vazio da pupila e abrindo-a ao mundo. Essa força é a força da imaginação e a possibilidade de ser o que ainda não se é." António Ramos Rosa, in " O Aprendiz secreto", 2001, Quasi Edições


Song to the Siren  é uma canção da autoria de Tim Buckley  que tem sido interpretada por vários artistas. A versão dos This Mortal Coil é considerada uma das melhores. Uma  singular tonalidade , um demorado lamento que prende e apela para que a imaginação nos tome e se abra a tal possibilidade de sermos  resgatados onde quer que estejamos. 
 

sábado, 26 de outubro de 2013

Convocar as palavras

 “Quando um dia acabem os poetas...Há-de ser tudo uma grande sensaboria.” - Adolfo Casais Monteiro

Convocar as palavras
torná-las responsáveis
pedir-lhes som leveza
força sugestão apelo
exigir-lhes sedução e música

Ficar atento ao seu sinuoso ataque
quando dizem gaivota cálice água
navalha vento madrugada

Devorar as palavras 
fazê-las sangue linfa lágrima
esperma suor saliva

devolvê-las lavadas nuas branda
prová-las vinho beijo voo
recomeçar

morrer por elas.
Rosa Lobato de Faria, in " A Noite Inteira Já Não Chega" , Poesia 1983-2010, Ed. Guimarães
Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono 
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs 
como este olhar que ignoro que me olha. 
Ruy Belo, in " Transporte no Tempo, Todos os Poemas II", Assírio & Alvim

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eugénio Lisboa lança 3º volume de Memórias

" The man  who writes about himself and his own time is the only man who writes about all people and about all time." George Bernard  Shaw


Só  Eugénio Lisboa teria a arguta capacidade de iniciar o 3º  volume de  Memórias,  " Acta Est Fabula , Memórias - III - Lourenço Marques Revisited ( 1955-1976 )" citando a sábia afirmação de Bernard Shaw. Quem  leu o primeiro volume desta escrita memorialística, descobriu quão ela se lhe  apropria. Através do crescimento da criança e,  posteriormente , do jovem Eugénio Lisboa, vimos crescer  muitas outras. Descobrimos como era África, Lourenço Marques, e como se inseria no Mundo ou como o Mundo chegava até lá. Neste novo volume, vamos  continuar essa descoberta.  Ao acompanhá-lo na idade adulta,  (re)viveremos, certamente,  muitos dos grandes momentos que marcaram esse tempo, em África e no Mundo. A maestria da escrita, a magia do narrado converterão, em nossas,  as vivências deste grande mestre da  Literatura. 
Foi, ontem, numa sala de Centro Nacional de Cultura,  repleta de gente das Letras, da Cultura, da Ciência, da Diplomacia, da Imprensa e de anónimos amigos que foi lançado este novo volume. Numa excelente intervenção, o  Professor Doutor Jorge Martins apresentou  a obra.
Eugénio Lisboa brindou os presentes com o fluido  discurso que lhe é natural , conduzindo-nos admiravelmente às Memórias registadas e a registar. 
Não podendo reproduzir, fidedignamente, tudo o que foi dito, optamos por transcrever o Eslarecimento que faz parte deste novo volume. 
" No arquitectado plano de cinco volumes, que cobrirão o total do que tenho a dizer, nas  minhas " memórias", este é o terceiro volume. O primeiro, publicado em 2012, cobriu o período que vai de 1930 ( ano do meu nascimento) a 1947 ( ano da minha partida , de Lourenço Marques para Lisboa). O segundo volume, ainda não escrito, deverá cobrir o período de 1947 a 1955, os oito anos ( com uma interrupção pelo meio), que estive em Portugal, a fazer o curso  de engenharia e o serviço militar. Este terceiro volume, deverá abranger o tempo que vai de 1955 ( regresso a Moçambique) até 1976 ( saída definitiva de Moçambique). O quarto abrangerá o arco do tempo que parte de 1976 até 1995 ( vida no estrangeiro, África do Sul, Suécia e Inglaterra). Por fim, o 5º e último volume, se para tanto me chegar a vida, abrangerá a vida, em Portugal, após o regresso de Inglaterra, em 1995.
A razão de saltar do primeiro para o terceiro volume ( sem redigir o segundo) é simples: tenho 83 anos e nada me garante que terei vida para redigir os ambiciosamente sonhados 5 volumes. Gostaria em todo o caso, de poder deixar escritos os tomos que dizem respeito à minha vida em  África. Foi lá que comecei, mesmo que não vá ser lá que acabo. Esses dois livros, eu devo-os à cidade de Lourenço Marques e ao espaço africano e ao mar africano e à luz africana. Faço questão de pagar essa dívida. O resto será feito se os deuses deixarem." Eugénio Lisboa, in " Acta Est Fabula, Memórias -III - Lourenço Marques Revisited ", Ed. Opera Omnia

A crise e o mal-estar

A modernidade: a crise e o mal-estar
«A crise tem, pois, uma dupla vertente. Há o perigo do fim do humanismo, na medida em que dissolve o Homem na natureza, na física, na bioquímica. Cada vez mais o homem é produto do homem. Por outro lado, a crise está à vista na falta de sentido, na vivência, do niilismo e do seu mal-estar. É assim que, por exemplo, a palavra de ordem é competir, concorrer. Mas ninguém nos diz para quê. Já não há as grandes finalidades humanas, pois tudo se reduz, segundo a razão instrumental, a meios para outros meios, sem fim. Agora, no quadro da globalização, o destino é mesmo concorrer pura e simplesmente, pois a alternativa é: concorrer ou morrer.
Terreno propício para fundamentalismos!».
Anselmo Borges, in” Janela do (In)Finito”, Campo das Letras, Porto 2008

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A demagogia da liberdade

"(...) Mas reconheço hoje que há uma demagogia da liberdade, profundamente inimiga da  autêntica liberdade, porque, prova dessa mesma liberdade humana, existe sempre a possibilidade de ser demagogo mesmo com os valores mais santos. Há uma demagogia do amor, como da justiça, como de Deus. Todo o autor como o político encontrarão sempre uma fácil complacência pelo simples facto de se dizerem os defensores da liberdade, os representantes de povos livres, ou simplesmente em se intitulando a si mesmos e fazendo imaginar aos leitores que pedem a sua opinião , que quem lhes fala  é " um homem livre"." Eduardo Lourenço, in " Tempo de Heterodoxia I  - Obras Completas - Heterodoxias" , Fundação Calouste Gulbenkian
"O filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço está internado no Hospital da Luz, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima da família.
Com 90 anos, Eduardo Lourenço deu entrada no Hospital da Luz, na sequência de problemas cardíacos. De acordo com o gabinete de imprensa daquele hospital, citado pela TSF, começou por ser observado na unidade de cuidados intermédios, mas já foi transferido para um quarto, apresentando uma situação estável.
A hospitalização do ensaísta de 90 anos obrigou ao cancelamento de uma palestra marcada para quarta-feira, em Lisboa. Promovida pelo Clube Português de Imprensa e pelo Centro Nacional de Cultura, a iniciativa integrava-se no ciclo "Portugal: que Estado, que sociedade, que soberania?".
O autor de Labirinto da saudade seria o primeiro convidado de um novo ciclo de jantares-debate, subordinado àquele tema, a realizar no Grémio Literário, em Lisboa.
Eduardo Lourenço nasceu a 23 de Maio de 1923 em S. Pedro de Rio Seco, no concelho de Almeida, distrito da Guarda. Entre os prémios que recebeu contam-se o Prémio Camões, em 1996, e o Prémio Pessoa, em 2011."

Ao intelectual e ao Homem apresentamos os votos de rápida e total recuperação.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Não tenha medo


"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.
(...)Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro!
Clarice Lispector, in " Perto do coração selvagem", 1943 , Relógio d' Água

 " Perto do coração selvagem" é o primeiro romance da escritora brasileira Clarice Lispector, escrito em 1943, durante a sua adolescência. Movimentando-se sempre na esfera íntima do ser humano, Clarice dá-nos a conhecer Joana, numa viagem crua pela sua realidade.A vida de Joana é contada desde a infância até a idade adulta através de uma fusão temporal entre o presente e o passado. A infância junto ao pai, a mudança para a casa da tia, a ida para o internato, a descoberta da puberdade, o professor ensinando-lhe a viver, o casamento com Otávio. Todos estes factos passam pela narrativa, mas o que fica em primeiro plano é a geografia interior de Joana. Ela parece estar sempre em busca de uma revelação. Inquieta, analisa instante por instante, entrega-se àquilo que não compreende, sem receio de romper com tudo o que aprendeu e inaugurar-se numa nova vida.  Questiona-se com  muitas perguntas, mas nunca encontra a resposta. “
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ausência

A Ausência é sempre sentida. A sua  dimensão depende do objecto a que se reporta e da intensidade da relação que existe entre sujeito e  objecto. Quando intensa,  obriga a um registo que muitos dos poetas fizeram com grande maestria.
Declamada ou  cantada a ausência tem servido de tema musical. Eis  registos diferentes  de dois grandes artistas que se tornaram imortais.

Ausência
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
 Vinícius de Moraes, in " Antologia Poética", Ed. Saraiva

Ausência ,uma canção da autoria de Goran Bregovic interpretada pela voz inovidável de Cesaria Evora. O tema faz parte da banda sonora do filme Underground, realizado por Emir Kusturica.

Ausencia ausencia ...
Si asa um tivesse
Pa voa na esse distancia
Si um gazela um fosse
Pa corrê sem nem um cansera

Anton ja na bo seio
Um tava ba manchê
E nunca mas ausencia
Ta ser nôs lema

Ma sô na pensamento
Um ta viajà sem medo
Nha liberdade um tê ' l
E sô na nha sonho

Na nha sonho mi é forte
Um tem bô proteçäo
Um tem sô bô carinho
E bô sorriso

Ai solidäo tô ' me
Sima sol sozim na céu
Sô ta brilhà ma ta cegà
Na sê claräo
Sem sabe pa onde lumia
Pa ondê bai

Ai ...Solidäo é um sina ...

Ai solidäo tô ' me
Sima sol sozim na céu
Sô ta brilhà ma ta cegà
Na sê claräo
Sem sabe pa onde lumia
Pa ondê bai

Ma sô na pensamento
Um ta viajà sem medo
Nha liberdade um tê ' l
E sô na nha sonho

Na nha sonho mi é forte
Um tem bô proteçäo
Um tem sô bô carinho
E bô sorriso

Ai solidäo tô ' me
Sima sol sozim na céu
Sô ta brilhà ma ta cegà
Na sê claräo
Sem sabe pa onde lumia
Pa ondê bai

Ai ...Solidäo é um sina ...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O outro,condição inicial da construção

"(...) O construtor aspira a uma comunidade fraterna e solidária. Por isso, vive longe da sociedade, convivendo apenas com alguns amigos e, quer solitário, quer em companhia, a sua construção é a constante renovação da sua vida. Se a existência é uma incessante mudança, o móvel equilíbrio de ser implica uma abertura aos outros sem preconceitos nem fantasias deformadoras. O deus do real não está no interior do sujeito, no círculo fechado da confusa intimidade mas no rosto dos outros e é através desses rostos que se perspectiva a construção humana de uma comunidade viva e essencialmente aberta. Nas pulsações da convivência, o ser emerge dos seus obscuros labirintos e encontra o pólo do outro que o clarifica e assegura a sua móvel e aberta identidade. A verdadeira origem solar reside neste encontro com o outro que, deste modo, ilumina o sujeito e o erige em face da alteridade essencial. O deus da origem e do recomeço da vida revela, assim, a sua integridade viva como ser da transformação e da mudança fértil do real. O outro é uma condição inicial da construção e está sempre implícito nela mesmo quando irrompe do círculo solitário do ser." António Ramos Rosa, in " O Aprendiz secreto", 2001, Quasi Edições

Sinopse: "O Aprendiz secreto " é um dos mais marcantes títulos de António Ramos Rosa dos últimos anos, originalmente publicado pela Quasi em 2001. A fragilidade da beleza é o eixo central de um livro que descreve o quotidiano de um ser rodeado de silêncio e empenhado em construir a morada perfeita para as suas inquietações. "Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá."

domingo, 20 de outubro de 2013

Ao Domingo Há Música

O filósofo Emmanuel Levinas afirma que "aquilo que faço e aquilo que sou é , ao mesmo tempo, aquilo de que vivo. Relacionamo-nos com isso com uma  relação que  não é nem teórica, nem prática. Por detrás da teoria  e da prática há a fruição  da teoria e da prática: egoísmo da vida. A relação última é fruição , felicidade. "
A Música é uma força que se revela a cada instante e quando a fruímos, aceitamos uma relação de  prazer . E , segundo Levinas, "o prazer  não é um estado  psicológico entre outros, mas o próprio estremecimento do eu."

Neste Domingo de Outubro, o talento e as mãos virtuosas de Wilhlem Kempff  no piano, em " Siciliano  from flute Sonata nº 2, in E- Flat major",  BWV 1031 de Johann Sebastian  Bach, dão espaço a um estremecido momento de puro existir.

sábado, 19 de outubro de 2013

Notícias da Cultura

" Lugares da infância onde 
sem palavras e sem memória
alguém, talvez eu, brincou
já lá não estão nem lá estou."
           Manuel Pina , in "Lugares de Infância", " Todas as Palavras" Assírio&Alvim
1º Aniversário da morte de Manuel Pina
Manuel Pina, o poeta, o jornalista, o ensaísta, o escritor, morreu há um ano. Deixou-nos uma imensa saudade apenas redimida pela sempre viva obra legada. O Porto, cidade adoptiva do poeta, tem vários eventos para assinalar a data que vão desde a celebração de uma missa, a entrega do Diploma do Prémio Camões à apresentação de um livro com retratos de Manuel Pina da autoria de Agostinho dos Santos e com textos  de  vários amigos do poeta.
(...)Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima 

Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima." Vinicius de Moraes, in " A Cidade Antiga"

Vinicius de Moraes nasceu há cem anos
Em 1913, no dia 19 de Outubro  na Rua Lopes Quintas nº114, no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro nasceu Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes (apenas aos nove anos regista o nome  Vinicius de Moraes),  filho de Lydia Cruz de Moraes e de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes.
Com um singular percurso de vida,  foi  diplomata, jornalista, poeta, cantor e compositor. Homem de grande carisma, viveu uma vida agitada por grandes causas e ideais em que a luta pela liberdade o obrigou ao exílio no nosso país, no tempo sujo do Brasil. A vasta obra que nos legou é rica e variada.
Morreu a 19 de Julho de  1980, no Rio de Janeiro.
Língua portuguesa, língua de ciência
“A propósito da 2ª Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que terá lugar em Lisboa, no final deste mês,nos próximos dias 29 e 30, tendo como tema a Língua Portuguesa Global - Internacionalização, Ciência e Inovação, o Professor Ivo Castro, Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa e Presidente da Comissão Científica do 1º segmento desta Conferência, reflecte,  no destacável Camões nº 196, sobre a relevância da língua portuguesa enquanto língua de ciência – tópico que norteará o encontro de eminentes académicos..”Instituto Camões - Encarte Camões 196, 16 de Outubro de 2013
Prémio Fernando Namora 2013 
José Eduardo Agualusa foi o vencedor do Prémio Fernando Namora 2013 com a sua obra Teoria Geral do Esquecimento. A acção desta obra decorre em Luanda e começa nas vésperas da proclamação da independência, no dia 11 de Novembro de 1975, quando uma mulher portuguesa decide erguer um muro que a separa do edifício onde mora, acabando por sobreviver isolada durante cerca de 30 anos.
Prémio Man Booker
A neozelandesa Eleanor Catton, de 28 anos, convenceu o júri com as 832 páginas de The Luminaries, um romance de mistério situado na Nova Zelândia de meados do século XIX.
O prémio Man Booker foi atribuído esta terça-feira a Luminaries, de Eleanor Catton, uma neozelandesa de 28 anos que bateu alguns adversários de peso, como o britânico Jim Crace ou o irlandês Colm Tóibin, ambos frequentadores habituais das listas de finalistas do prémio.
Catton não só é a mais nova vencedora de sempre, como triunfou com o romance mais longo alguma vez premiado desde a fundação do Booker, em 1969. Espécie de versão pós-moderna de uma “sensation novel” vitoriana ao estilo de Wilkie Collins, The Luminaries é um calhamaço de 832 páginas que conta uma história de crime e mistério, usando como cenário a corrida ao ouro na Nova Zelândia de meados do século XIX.
Numa cerimónia transmitida em directo na televisão, durante a qual o presidente do júri, Robert Macfarlane, começou por lembrar os seis romances finalistas e fez preceder o anúncio da obra vencedora da clássica deixa usada na gala dos Óscares — “and the winner is…” —, Eleanor Catton acabou a receber o prémio das mãos de Camilla Parker Bowles, duquesa da Cornualha.
Este Man Booker 2013, com uma dotação pecuniária de cerca de 60 mil euros, tem o simbolismo adicional de ser o último ao qual só puderam concorrer autores do Reino Unido, da Irlanda e de países da Commonwealth. Já a partir da próxima edição, o prémio vai abrir-se aos escritores dos Estados Unidos e a autores de quaisquer outras nacionalidades, exigindo-se apenas que as obras candidatas tenham sido originalmente publicadas em inglês.
Não fora o já longínquo precedente de Keri Hulme, uma autora de ascendência inglesa e maori que ganhou o Booker em 1985 com The Bone People, e Eleanor Catton ter-se-ia ainda tornado a primeira escritora a levar o prémio para a Nova Zelândia.
Apesar da sua juventude, pode dizer-se que, mesmo antes desta consagração, Catton era já uma autora conhecida. Embora só tenha um romance anterior, composto aos 23 anos como tese de mestrado num curso de escrita criativa, esse seu livro de estreia, The Rehearsal (2008), foi muito elogiado pela crítica, integrou a lista de finalistas dos prémios Orange e Dylan Thomas e foi traduzido numa dúzia de línguas. Em Portugal, O Ensaio foi publicado pela editora Gradiva.
Após o sucesso de The Rehearsal, que abordava as reacções a um affaire entre um professor e uma aluna do ensino secundário, Catton começou a escrever The Luminaries aos 25 anos. Completou-o aos 27, e o prémio que agora lhe foi atribuído sugere que passou com distinção o clássico teste do segundo livro, demonstrando que The Rehearsal não passara mesmo de um ensaio.
Nascida no Canadá em 1985  — o seu pai, neozelandês, estava a concluir o doutoramento em Ontário —,  Eleanor regressou com a família à Nova Zelândia quando tinha seis anos e cresceu em Christchurch, no Sul do país. Vive agora em Auckland, no Norte, onde ensina escrita criativa.
Ao anunciá-lo como vencedor do Man Booker 2013, Robert Macfarlane descreveu The Luminaries como um trabalho “deslumbrante, luminoso, vasto”, um livro no qual o leitor se “pode por vezes sentir perdido”, mas que é “minuciosamente estruturado”.
Sublinhando o virtuosismo da autora, Macfarlane garante, todavia, que o livro não é “um extenso exercício literário”, mas um “romance com coração”. E está convencido de que a sua invulgar extensão não afastará os leitores. “O tamanho nunca é problema quando se trata de um grande romance”, disse o presidente do júri, que se mostrou impressionado com a precocidade de Catton: “A maturidade é evidente em casa frase, nos ritmos e equilíbrios, e o domínio da narrativa é espantoso.”
A acção do livro decorre em 1866, numa povoação da costa oeste de South Island, a maior (e menos populosa) das duas principais ilhas que constituem a Nova Zelândia. Numa noite tempestuosa, Walter Moody, acabado de desembarcar, aloja-se na primeira estalagem que lhe aparece e dá de caras com uma ecléctica assembleia de 12 homens. Com origens geográficas e sociais muito diversas, o grupo inclui um chulo, um político, um garimpeiro, um traficante de ópio, um leitor de sinas e um carcereiro, entre outros. Já o estranho segredo que une estes homens envolve uma prostituta que terá tentado matar-se, um bêbado que está mesmo morto, uma apreciável fortuna em ouro, um jovem desaparecido e, na melhor tradição do romance de sensação oitocentista, um antro de ópio.
Robert Macfarlane sugere que Catton cruza Wilkie Collins – autor de A Pedra da Lua, obra pioneira da ficção policial, e de A Mulher de Branco, romance pioneiro no recurso a múltiplos narradores – e Herman Melville, autor de Moby Dick, um dos grandes romances fundadores da literatura americana. No jornal Telegraph, Gaby Wood, centrando-se mais na inovadora estrutura narrativa, vê em The Luminaries um encontro entre Wilkie Collins e Georges Perec, o autor experimentalista francês do grupo Oulipo.”Público

Os desenhos de Siza Vieira para as palavras de Bastide
A Casinha dos Prazeres é o livro que inaugura a colecção Espécies de Espaços (editora Abysmo). A ideia de Susana Oliveira, professora de Desenho da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, é juntar os traços dos arquitectos às palavras dos escritores. O volume de estreia mistura a escrita barroca do autor francês do século XVIII Jean-François Bastide com o traço depurado do arquitecto Siza Vieira. Os desenhos estão expostos no espaço da galeria da editora Abysmo (Rua da Horta Seca, 40, R/C, Lisboa) até 30 de Outubro.