quinta-feira, 5 de setembro de 2013

As nossas ilhas Selvagens

Todos somos hispanos
Por Fernando Dacosta
"O incidente agora levantado por Madrid a propósito das nossas ilhas Selvagens – a que a diplomacia castelhana chama, para impedir o alargamento da zona marítima portuguesa, “rochedos” – vem provocar surpresa numa península bloqueada pela austeridade, pela miséria, pela corrupção, pelo desemprego e pelo desprestígio das instituições – a começar nas das chefias dos estados.
Expressa em pacote nacionalista (com Gibraltar à cabeça), a sanha dos responsáveis vizinhos resume--se a esgrimir “ameaças” externas para desviar atenções de rupturas internas, truque de quem não tem imaginação mais elevada.
Os problemas da Ibéria não são, porém, esses, que se resumem a cortinas de fumo para opinião pública (não) ver. Os problemas da Ibéria são outros: são o da submissão à mortal agiotagem norte-europeia (hoje) e o da transformação das regiões internas em países independentes (amanhã). Veja-se o crescente avanço da Catalunha nesse sentido, precipitado pela austeridade imposta pelo governo e pela descredibilização sofrida pela casa real.A ruptura (a salvação?) da Ibéria estará, segundo os mais avançados, na sua emergência como bloco de estados independentes, onde Portugal constituirá uma referência angular. 
"Todos Somos Hispanos”, notável ensaio de Natália Correia, prevê-o, levando a autora a dizer-se não “iberista” (os iberistas preconizam a nossa integração na Espanha), mas “ibericista” – termo por si criado, na peugada de Agostinho da Silva, que sugere, para centro dessa nova e poderosa comunidade, a minúscula cidade de Olivença.Dilatado aos países de línguas portuguesa e espanhola, tal bloco formará um (fabuloso e transcontinental) mapa ibérico transformador, como no passado, do mundo.! " Fernando Dacosta, em Artigo de Opinião , publicado no Jornal i, em 5/09/13

1 comentário:

  1. A ESPANHA CONTRADITÓRIA
    (TÍTULO ORIGINAL:ESPANHA CONTESTA POSSE PORTUGUESA DAS ÁGUAS DAS SELVAGENS)

    O Estado espanhol parece estar a iniciar um ciclo de reivindicações cujo aspeto contraditório não pode escapar a qualquer observador atento.
    Na verdade, após Gibraltar, Madrid contesta a interpretação que Lisboa faz da soberania das águas que rodeiam as Ilhas Selvagens. Fá-lo... ao abrigo do Direito internacional.
    Não pretendo discutir se a Espanha tem ou não razão. O que é espantoso nesta atitude é o facto de Espanha usar várias e opostas interpretações do mesmo Direito Internacional. Madrid parece não se dar conta de que está a "brincar" com coisas MUITO SÉRIAS (NOTA: A FRASE SEGUINTE FOI CORTADA, E SURGE NO JORNAL (...)e a despoletar indignações e a mexer num vespeiro.FIM DO "CORTE")
    Os dirigentes espanhóis não se dão conta de que, ao reivindicarem Gibraltar com base nas teses anticolonialistas das Nações Unidas, terem de aceitar a validade das reivindicações de Marrocos sobre Ceuta e Melilla.
    Madrid parece não ter consciência de que agitar regras do Direito internacional (tenha ou não razão) em relação à Zona Económica Exclusiva das águas das Selvagens a faz cair numa abissal contradição, já que, em relação a Olivença, mantém uma situação de claro NÃO CUMPRIMENTO das determinações de 1814/15 e 1817, tomadas em Congressos Europeus onde esteve presente e de que foi signatária.
    Alguns articulistas e comentadores, a propósito ainda e apenas dos recentes acontecimentos em Gibraltar, optaram por não referir Olivença, ou por destacar o contraste entre a posição "cautelosa e prudente" da Diplomacia portuguesa ao reivindicar esta cidade (ou vila) alentejana de forma discreta e a "fúria" despropositada da Espanha no que toca às exigências sobre o Rochedo.
    O que estas notícias vêm aparentemente abrir caminha é à convicção de que Madrid não parece disposta a ouvir opiniões e razões que não sejam os seus, a fazer respeitar os tratados que lhe convêm, e que pouco lhe importam as consequências que tudo isso lhe poderá trazer. Este posicionamento pode abrir o caminho a numerosas crises e tensões, que não creio que venham a beneficiar minimamente ninguém, muito menos o Povo Espanhol.
    Resta ver qual vai ser a reação em Portugal. Continuar com a cabeça mergulhada na areia?
    Estremoz, 1 de Setembro de 2013 Carlos Eduardo da Cruz Luna

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