quarta-feira, 10 de julho de 2013

Entre as árvores da serra de Sintra




Castelo dos Mouros
Voando sobre a copa das árvores na serra de Sintra

Onde se alia conhecimento, desporto, aventura, educação cultural e ambiental
O Sintra Canopy é uma actividade de slide
 entre a vegetação da Serra de Sintra.
Os termómetros marcam 33 graus à sombra, pelas 10h00. Ao calor de um Verão que chegou com vigor junta-se a adrenalina produzida pela expectativa de deslizar por cima e entre as árvores da serra de Sintra.
Nas bilheteiras do Castelo dos Mouros, fortificação medieval, adquirimos bilhete para a aventura do Sintra Canopy. Tudo a postos, roupa confortável, cabelo preso, sapatos seguros. A organização da actividade, a Parques de Sintra – Monte da Lua (PSML), tem onde guardar malas e outros objectos. Quer-se liberdade total para “voar” sobre a copa das árvores.

As mãos vão colocadas em cima de um travão, que permite controlar a velocidade.
As mãos vão colocadas em cima de um travão, que permite controlar a velocidade.

O Sintra Canopy é composto por 11 plataformas suspensas nas árvores com alturas variáveis que podem atingir os 30 metros. Depois são mais de 900 metros de cabo, com extensões entre os 50 e os 200 metros de comprimento, para deslizar entre as plataformas e descobrir o ecossistema da tapada na encosta do Castelo.

Eucaliptos, Sequóias da América do Norte, carvalhos, castanheiros são algumas das árvores que compõem este jardim secular de Sintra. “A vegetação que existe actualmente em Sintra não era aquela que se encontrava aqui originalmente e a composição de hoje resulta da intervenção do Homem na serra. A floresta original começa a desaparecer a partir do momento em que o homem ocupa a serra porque consome recursos, abre áreas para agricultura e pastorícia”, explica Susana Morais, coordenadora de actividades do PSML.

Este é o género de explicações que ao longo do percurso vamos ouvindo. Os monitores conhecem os recantos da serra, histórias das árvores, características, sabedoria que partilham com quem se aventura a ser “tarzan por duas horas”, o tempo que normalmente dura a actividade.
Francisco Ataíde, um dos monitores, revela que, por exemplo, os eucaliptos têm a capacidade de “deixar um ramo apodrecer e cair quando têm pouca água. É o mecanismo encontrado para sobreviver”.
Convive-se lado-a-lado com
 as muralhas do Castelo dos Mouros

A Serra de Sintra tal como existe hoje é resultado do entusiasmo pela natureza, sobretudo, de dois homens que viveram no século XIX e que seguiam o movimento cultural da altura: o Romantismo. Lagos, jardins com recantos, palácios fazem parte do cenário bucólico exigido pelo Romantismo.
O rei D. Fernando II, que construiu o Palácio da Pena, e o milionário inglês Francis Cook, que construiu o Palácio de Monserrate, fizeram no terreno à volta dos seus palácios ricos jardins, coleccionando árvores dos quatro cantos do mundo.
“Passámos assim de uma floresta nativa, dominada por carvalhos, medronheiros, azevinhos, para uma composição onde existem espécies exóticas, como eucaliptos e bordos [cuja folha está patente na bandeira do Canadá]. A partir destes jardins, Parque da Pena e Monserrate, tudo o que foi plantado se expandiu para a Serra de Sintra”, acrescenta Susana Morais.
Os monitores colocam todo o equipamento necessário para fazer o slide em segurança.
Os monitores colocam
todo o equipamento necessário
 para fazer o slide em segurança
.
A conversa acontece nas plataformas, onde estamos sempre presos por cabos. Do cimo destas estruturas de madeira de acácias,avistamos o casario da zona urbana de Sintra, os palácios e propriedades privadas da serra e os turistas que caminham no percurso de Santa Maria, que liga a Vila ao Castelo dos Mouros.
“As acácias são uma espécie exótica infestante que tem de ser abatida, mas o PMSL aproveita a sua madeira para fazer estas plataformas e outras construções dos Parques de Sintra”, comenta Francisco Ataíde.
Um a um deslizamos pelos cabos de aço com total controlo da velocidade que queremos tomar. Os monitores transmitem as regras de segurança e antes mesmo de empreendermos caminho pela serra faz-se uma descida teste. Quase rente ao chão percebemos como funciona o travão, a posição – sentada de pernas esticadas e cruzadas – e interiorizamos os sinais que os monitores podem fazer.
Depois disto é disfrutar da paisagem e cortar o vento deslizando pelos cabos de diferentes dificuldades. Uma aventura que pode ser vivida todos os dias às 11h00, 12h30, 14h00, 15h30, 17h00, 18h30. O número máximo de participantes por grupo é de dez.
O Canopy (vocábulo inglês que pode ser traduzido por cobertura) terá nascido pela mão de cientistas na Costa Rica. Francisco explica que “os biólogos para estudar as árvores usavam técnicas de escalada. Subiam a uma árvore, faziam o seu trabalho, desciam e escalavam outra. Até que um dia pensaram que se deslizassem de uma árvore para a outra seria mais fácil”. É na ciência que nasce este género de slide que aos poucos ganhou adeptos e se tornou também uma actividade lúdica.
De certa forma, aqui em Sintra retomamos um pouco a origem do Canopy ao aliarmos a componente pedagógica”, remata Susana Morais.
A única ponte do percurso. Permite passear acima da copa das árvores.
A única ponte do percurso.
Permite passear acima da copa
 das árvores.
Aproximamo-nos do fim deste “voo”, mas há ainda tempo para perceber que por trás do Sintra Canopy há um trabalho minucioso de segurança e preservação da natureza. Francisco comenta que “a primeira coisa feita foi seleccionar os exemplares que queríamos que fizessem parte do percurso. Procurámos ter o máximo de diversidade das árvores. Depois foi feito um estudo de arboricultura por engenheiros florestais de forma a garantir que as árvores estavam saudáveis. Foram também avaliadas as características da árvore, como o sue porte para sabermos se suportava o esforço exigido”.
Deslizámos até à última plataforma. Estamos junto ao percurso pedestre de Santa Maria, inseridos numa zona classificada como Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), percorremo-lo até junto da bilheteira para o Castelo dos Mouros. O ponto de partida torna-se assim em ponto de chegada e já com alguma vontade de repetir."Por Sara Pelicano (imagens: PSML/EMIGUS), in " CiênciaHoje",5/07/2013


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