domingo, 30 de junho de 2013

Ao Domingo Há Música

Ecos de verão 

Quando todo o brilho da cidade
me escorre pelas mãos, que já não são
mais que fugídios ecos de verão,
a música dos dias sem idade
subitamente como fonte ou ave
rompe dentro de mim - e nem eu sei,
neste rumor de tudo quanto amei, 
se a luz madrugou ou chegou tarde.
Eugénio de Andrade, in "As palavras interditas - Até amanhã", Ed. Assírio&Alvim, 1ª Ed.,Out.2012

E a música dos dias sem idade,subitamente como fonte ou ave, rompe nas vozes ímpares de Liza Minnelli e Luciano Pavarotti, num dueto perfeito. Recordar grandes interpretações  é retomar o prazer perdido. Assim é  " New York, New York".

sábado, 29 de junho de 2013

O povo nas ruas do Mundo

No Brasil :  O que diz o povo que foi à rua mostrar a indignação. Veja em: A mensagem dos cartazes( Globo)
No Egipto: "Manifestações simultâneas, a favor e contra o Presidente do Egipto, Mohammed Morsi, estão a ocupar várias artérias da cidade do Cairo e outras localidades do país, nomeadamente em Alexandria. Três pessoas morreram durante a noite.
Entre elas está um estudante americano, que foi morto quando manifestantes irromperam num escritório na cidade de Alexandria da Irmandade Muçulmana, o partido no poder no Egipto. Também um membro da Irmandade foi morto durante a noite num ataque a um escritório do partido em Zagazig, onde muita da recente violência se tem registado."(Público)
Em Portugal estão a ser julgados os manifestantes que tentaram impedir a circulação na Ponte 25 de Abril no dia 27, dia da greve geral . Greve que o Público refere que foi uma greve geral conjunta das duas centrais sindicais (UGT e CGTP) mas a dois tons. De um lado a afirmação do confronto da CGTP, do outro o apelo ao diálogo da UGT. O líder da CGTP falou de "greve excepcional" e o líder da UGT afirmou que os "objectivos foram cumpridos". Um exige "uma mudança de governo e de política", o outro apela à "boa-fé, sensatez e diálogo" do Governo.

Na Turquia: "A polícia antimotim turca voltou a recorrer, esta noite, a gás lacrimogéneo e a canhões de água para dispersar centenas de manifestantes no centro de Ancara, efectuando quatro detenções, de acordo com relatos de testemunhas e a imprensa local."DN
No Iraque:"As explosões, que ocorreram ao final da tarde de quinta-feira e atingiram sobretudo cafés num bairro, de maioria sunita, de Bagdad, o centro da cidade de Baquba e uma cidade localizada a sul da capital, figuram como os mais recentes de uma violenta série de incidentes que já reavivou receios relativamente ao regresso de um conflito sectário generalizado."
Na Síria: a morte saiu à rua e nela se instalou. Os dias de ira perpetrados por uma guerra intestina não terminam e o governo cego à barbárie fratricida não cai. Que mundo o nosso que selecciona o que quer ver e permitir. 
Na África do Sul: "A preocupação com o estado de saúde de Nelson Mandela, internado há cerca de três semanas, mantém-se.Muitos sul-africanos fizeram vigília durante a última noite.Um dos locais onde houve orações e manifestações de solidariedade por Mandela foi no Soweto, o grande bairro nos arredores de Joanesburgo. O antigo Presidente sul-africano encontra-se internado há 20 dias em Pretória, mas é em frente à residência dele no Soweto onde muitos se têm concentrado para rezarem e cantarem por ele."Público

A lei do mais forte

Atenienses e mélios, Portugal e a Europa, poder e política
por ANSELMO BORGES
“1. Foi pela mão da filósofa e mística Simone Weil e do filósofo André Comte-Sponville que voltei à leitura da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídedes. E lá está aquele passo célebre, V, 104-105, que narra o encontro entre os atenienses e os mélios, quando os atenienses estavam em guerra contra Esparta e queriam forçar os habitantes da pequena ilha de Melos a juntar-se a eles. Uma vez que não cederam, os atenienses arrasaram a cidade, mataram os homens, venderam como escravos as mulheres e as crianças.
O mais terrível é a razão apresentada. De facto, perante o ultimato ateniense, os mélios imploraram piedade e até disseram que, em caso de guerra, teriam a protecção dos deuses, pois a justiça estava do seu lado. Os atenienses responderam: "Quanto à divina benevolência, nós também não cremos ser inferiores, pois nem exigimos nem fazemos nada que esteja fora do juízo que os homens têm das coisas divinas nem dos desejos em que baseiam as suas relações recíprocas. Efectivamente, cremos que os deuses e os homens (no primeiro caso, trata-se de uma opinião, e, no segundo, de uma certeza) imperam sempre em virtude de uma lei natural sobre aqueles a quem superam em poder. Não fomos nós que estabelecemos esta lei nem fomos os primeiros a aplicá-la. Já existia quando a recebemos e havemos de deixá-la como legado à posteridade. E sabemos que também vós, e qualquer outro, se chegasse a esta situação de poder como nós, faríeis o mesmo."
Está aí, no seu esplendor e horror, a defesa da lei do mais forte.
2. A organização não-governamental Oxfam revela que nos paraísos fiscais se encontram 14 biliões de euros (14 com doze zeros à frente), tendo dois terços origem na União Europeia. Se esses 14 biliões fossem taxados, poder-se-ia acabar com a pobreza extrema no mundo duas vezes.
Num trabalho coordenado por Augusto Mateus, ficou-se a saber que Portugal recebeu, ao longo dos últimos 25 anos, 81 mil milhões de euros de fundos comunitários, o que significa 9 milhões por dia. Pergunta-se para onde foi tanto dinheiro, se teve as aplicações mais racionais... E porque é que continuamos o País mais desigual da Europa. E, quando Portugal se afunda na crise, como se explica tanta impunidade.
De qualquer modo, Paulo Morais vem dizer, no seu livro Da Corrupção à Crise. Que Fazer?, que "enquanto o País empobrece, a classe média se extingue e o desemprego alastra, a corrupção continua a aumentar, os mecanismos de corrupção agravam-se e cresce a promiscuidade entre a política e os negócios".
3. Vivemos num mundo deveras perigoso e os espíritos mais lúcidos temem pelo futuro da paz e da democracia.
Portugal não tem solução fora da Europa. Mas a Europa, sem união e procurando o caminho de estruturas federativas, não tem futuro: num mundo globalizado, tornar-se-á irrelevante. Por sua vez, um mundo globalizado precisa de uma governança global.
Em todo este contexto, é o célebre sociólogo Zygmunt Bauman, que já aqui citei algumas vezes e que tive o prazer de encontrar no grande acontecimento cultural que foi o III Festival Literário do Funchal, que tem razão, quando reclama o recasamento do poder e da política.
Qual é o problema? Nos tempos modernos, nos Estados-nação, houve durante cerca de duzentos anos um casamento entre poder e política, e julgou-se que "poder e política deveriam continuar de qualquer maneira a viver juntos: a arte política como o poder de fazer coisas, diga-se um poder regulado, compensado e orientado pela política". Ora, o que está a acontecer é que numa globalização meramente negativa não conseguimos ainda instituições políticas de carácter global e o poder tende a evaporar-se no ciberespaço, num mundo planetário. Em síntese, "o poder globaliza-se enquanto a política permanece local". O poder já não está subordinado à política nem é por ela limitado. "A política encontra-se cada vez mais desprovida (e torna-se cada vez mais destituída) de poder, e os Estados-nação, como tal, podem fazer cada vez menos do que faziam antes.” Anselmo Borges, em Artigo de Opinião publicado no DN, em 22 de Junho de 2013

sexta-feira, 28 de junho de 2013

A tristeza do crime da existência


“CAMILLE CLAUDEL, 1915”

A irresistível tristeza do crime da existência
"Quem conhece a obra do cineasta Bruno Dumont sabe que o seu cinema é sinónimo de um mundo cru, repleto de paisagens inóspitas, com a violência e o sexo a roçar o gratuito e os silêncios a apoderarem-se de forma abrupta da tela. Estes singulares predicados, que reflectem a forma como o realizador francês se movimenta na sétima arte, levantavam grandes dúvidas sobre este “Camille Claudel, 1915”.
Toda a tragédia que vitima Camile Claudel era, à partida, o maior desafio que Dumond iria enfrentar. A escultora que teve uma ligação sentimental com Auguste Rodin e que, dizem alguns, pode ter sido essa a razão para que a sua mente ultrapassasse a fronteira da sanidade, passou as últimas décadas da sua existência num hospício onde enfrentou terríveis abstinências provocadas pelos danos colaterais de uma vida marcada por uma perda da condição humana e anulação pessoal.
Mas eis que ao conhecer-se este filme, vemos um outro Dumont, um homem que ignorou o sexo e a violência (física), para dedicar toda a sua arte a fazer um retrato da vida de Claudel aquando do seu internamento e que se revela num quotidiano forte, instigador, que a presença de não-actores e possuidores de distúrbios mentais diversos ajuda a reforçar a pesada, cruel e grotesca atmosfera.
Este é também o primeiro filme de Dumond cujo papel principal é atribuído a uma verdadeira estrela, neste caso a Juliette Binoche, uma das últimas divas do cinema europeu e que se entrega de forma irrepreensível ao incorporar Camille conseguindo criar uma personagem inquietante, emersa em várias camadas emotivas e que cativa pela autenticidade.
A primeira tentativa de levar a vida de Camille Claudel para o grande ecrã foi levada a cabo por outro Bruno, Nuytten de apelido, que conseguiu criar furor com a sua adaptação cinematográfica conseguindo mesmo levar Isabelle Adjani a estar entre as nomeadas para o Óscar.
Hoje, 25 anos depois de Nuytten, cabe à arte de Dumont voltar a colocar a vida de Claudel em foco, mas desta vez recorrendo a facetas menos conhecidas da escultora que viveu momentos fracturantes enquanto esteve internada. Numa das cenas mais marcantes deste filme, Binoche, aqui Claudel, grita o seu desespero pela companhia que desfruta, abominando a severidade opressiva de tais criaturas. Apesar de encarnar na perfeição a sua desgastada personagem é impossível não reparar, e adorar, os traços inatos de uma beleza que teima em ficar, em permanecer apesar do avançar do calendário.
Ainda que Claudel se sinta sitiada pela loucura (alheia), Dumont consegue colocar a personagem numa ilha de sanidade através de uma narrativa que faz a fronteira entre a perda de lógica e um momentâneo lapso da razão. Exemplo disso é um das cenas inaugurais do filme onde Camille toma a sua refeição juntamente com as suas companheiras de clausura mas num patamar distante. Ainda que fazendo parte do todo, Claudel é o retrato da racionalidade perante tais exemplos desprovidos de sentido.
A maior fonte de inspiração deste filme é a correspondência que Camille trocou com o seu irmão Paul (Jean-Luc Vincent), também ele um famoso poeta e dramaturgo, sendo que o filme começa quando a versão de Nuytten termina, ainda que não estejamos perante uma qualquer sequela, apresentando uma Camille cativa no hospício e que tem nas visitas do seu irmão o tão ansiado oxigénio que pode ser encarado como um sinónimo de esperança, de liberdade, de afectos.
A atmosfera geral que Dumont dá a este trabalho tem logo nos primeiros instantes uma tentativa de definição e, por exemplo, o caminho que Camille faz por entre os corredores mostra uma via-sacra marcada pelos tons medievais, solenes e opressivos da própria instituição aqui filmada de forma meticulosa e com tonalidade cinza-azulada, cores que trazem à memória as pinturas do holandês Johannes Vermer.
CAMILLE CLAUDEL, 1915
Fechada em si mesma, Camille observa os que a rodeiam com um misto de curiosidade, repúdio e, por vezes, afectividade, escondendo dentro da sua mente atribulada medos díspares entre os quais o desesperado sentimento que a leva a crer que o seu antigo amante e professor, Rodin, a quer envenenar.
Curiosamente, Dumont “ignora” a arte de Claudel mas apresenta a escultura do seu rosto através de planos calculados e preci(o)sos. Metaforicamente também as companheiras loucas de Claudel se podem assemelhar a esculturas, neste caso a verdadeiras “gárgulas” de fria pedra que compõem a zona dos claustros desta instituição.
O receio da escultora, na forma da bela Binoche, assume-se desmesuradamente maior quando o nome do antigo amante da sua personagem é citado, por exemplo, pelo psiquiatra local (Robert Leroy) cuja menção leva a uma agitada reacção por parte de Camille.
Nas cenas de maior intensidade Dumont “cola” a câmara ao rosto de Binoche e faz o seu monólogo entrar dentro dos olhos e mente do espectador revelando uma mulher em constante luta consigo própria, enfrentando sentimentos que vão acabar por destruir a sua capacidade de viver. A arte da sugestão tão do agrado de Dumont incendeia a plateia e os grandes panos são a fonte mais procurada para conferir um acentuado grau de intimidade.
Outra técnica usada pelo cineasta é composta por uma narrativa “circular” da imagem que dá ao espectador uma sensação de uma visão de 360 graus. Num interessante jogo de espelhos, a câmara fixa de Dumont percorre pormenores, voltando aos mesmos numa mesma sequência.
Na segunda metade deste “Camille Claudel, 1915” a narrativa muda e a perspectiva das viagens de Paul são o maior foco de atenção. Filosofa-se, fala-se de Deus, da natureza e de Rimbaud. Essa mudança peca por alguma menor densidade emocional mas permite uma achega de Dumont ao misticismo católico e ao quotidiano infernal que se vive em Montdevergues.Esta viagem metafísica de Paul serve, essencialmente, para libertar a pressão do cativeiro que é vivido pela sua irmã atribuindo uma forma especial de (des)conforto tal se vive na cena final. Se, noutras ocasiões, as derradeiras cenas das obras de Dumont sejam por norma inconclusivas, aqui não se pretende deixar dúvidas ou alimentar suspeitas pois o argumento está enclausurado em si mesmo e tem nos “letreiros” iniciais e finais uma forma de contextualização." Por Carlos Eugénio Augusto, em RUADEBAIXO, Edição nº 93, Junho 2013
Em exibição:Monumental – Lisboa
Diariamente: 13h45; 15h45; 17h45; 19h45; 21h45 | Sexta e Sábado também às 00h15
ESTREIA NACIONAL (digital)

King – Lisboa
Diariamente: 14h00; 16h00; 18h00; 20h00; 22h00 | Sexta e Sábado também às 00h30
ESTREIA NACIONAL 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O país em greve


Greve geral: país está parado
Transportes, saúde e justiça são os sectores mais afectados

"O país vai parar esta quinta-feira devido à greve geral, a quarta que o Governo de Pedro Passos Coelho enfrenta. 
A paralisação começou a ter efeitos na última noite, sobretudo no sector dos transportes. Os camiões do lixo das principais cidades não sairam para fazer a recolha. Os comboios da CP também não circulam. Na Fertagus, a empresa diz que «tudo depende da adesão à greve». Os barcos da Transtejo e da Soflusa estão parados e, em Lisboa, o metro fechou na última noite às 23h00 até às 06h30 de sexta-feira. Ao todo, só vão circular 12 carreiras da carris.

A Norte, no Porto, o metro vai funcionar a «meio-gás». Prevê-se que a linha amarela, entre o hospital S. João e Santo Ovídio, funcione com perturbações. O troço entre o estádio do Dragão e a Senhora da Hora também terá composições a circular. Os STCP terão apenas 20 carreiras a postos.
Por isso, os portugueses que queiram ir trabalhar esta quinta-feira vão ter muita dificuldade em deslocar-se em transportes públicos.
Do lado da aviação, a TAP e a ANA alertam para possíveis perturbações. Haverá apenas uma ligação da TAP com a Madeira e uma com os Açores. Quanto aos outros voos mantêm-se os horários mas pode haver «atrasos e cancelamentos».
Na saúde, as cirurgias e as consultas serão adiadas nos hospitais públicos. Os centros de saúde também serão afectados. Ainda assim, as urgências estão asseguradas.
Na educação não haverá grandes transtornos. As escolas estão encerradas mas as férias já começaram e houve exames antecipados para hoje.
Na Justiça, os tribunais estão fechados mas há serviços mínimos para «casos urgentes».
A greve chega também às repartições de Finanças e à Segurança Social, que deverão estar encerradas, tal como as estações dos correios.
Nas empresas privadas, tudo depende da adesão. A Autoeuropa antecipou-se e decretou um dia de «não produção».
Como se não bastasse, em Lisboa, prevêem-se ainda limitações ao trânsito por causa da manifestação da CGTP entre o Rossio e a Assembleia da República, sendo certo que a concentração da UGT em frente ao Ministério das Finanças também deverá causar transtornos.
Os líderes sindicais acreditam numa grande adesão. Do lado da CGTP, Arménio Carlos garante que a greve geral resultará numa «enorme derrota para o Governo». Já o líder da UGT, Carlos Silva, explica que será «um grito de insubmissão» às políticas de austeridade e de «tolerância zero» para com o Executivo.
É mais um «cartão vermelho» a quem dizem «estar a afundar o país».TVI24

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Património e Eventos Culturais


O diário da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, entre 1497 e 1499, foi aceite pela UNESCO e integra agora a lista dos Registos da Memória do Mundo desta instituição.
O diário, que é atribuído a Álvaro Velho, é propriedade da Biblioteca Municipal do Porto e esteve já ali exposto. É possível fazer uma leitura online destes diários através da colecção Gâmica da Biblioteca Digital da Universidade do Porto.
O reconhecimento do diário da viagem de Vasco da Gama como Registo da Memória do Mundo resultou de uma análise, juntamente com mais de 80 outras inscrições,submetida ao Comité Internacional do Programa Memória do Mundo, que está reunido até sexta-feira em Gwangju, na Coreia do Sul. A candidatura do diário terá sido entregue com a premissa de fornecer um "testemunho da viagem marítima pioneira (...), um dos documentos decisivos que mudaram o curso da história". Para além do recente reconhecimento do diário de Vasco da Gama, outros três documentos portugueses, que fazem parte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), já integravam o Registo Memória do Mundo. São estes a carta de Pêro Vaz de Caminha ao rei de Portugal D. Manuel I sobre a chegada ao Brasil (Terra de Vera Cruz, Brasil, 1 de maio de 1500), o Tratado de Tordesillas (na versão castelhana), de 7 de Junho de 1494, assim como um conjunto de 83.212 documentos, que datam de 1161 a 1699, que visam, segundo o ANTT, a "informação e esclarecimento sobre as relações entre os europeus, sobretudo as dos portugueses com os povos africanos, asiático e latino-americanos.
Entre as 54 candidaturas agora reconhecidas pelo comité constam os escritos de juventude de Che Guevara e os arquivos do arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer. "DN
                    UNESCO aprova barragem de Foz Tua
 
28 de Junho | 19h00 | Casa da América Latina | Entrada livre
O cantautor de música folclórica argentino César Isella, uma das figuras do Movimento do Novo Cancioneiro e autor de Canción con todos, considerada o hino da América Latina, desloca-se à Casa da América Latina no dia 28 de Junho para um concerto de tributo aos principais compositores argentinos.
Na sua longa carreira musical, César Isella cantou em dezenas de países de todo o mundo, especialmente da América Latina, e compôs músicas para textos dos maiores poetas da região, entre os quais Pablo Neruda, Nicolás Guillén, Armando Tejada Gómez, César Vallejo, Manuel J. Castilla e José Pedroni. Foi membro proeminente do Movimento do Novo Cancioneiro, iniciado por Tejada Gómez, Mercedes Sosa e Oscar Matus, entre outros artistas.
Em 1969 compôs a música Canción con todos, escrita por Tejada Gómez. O tema foi designado pela UNESCO como o hino da América Latina e traduzido para trinta idiomas. O álbum Canción con todos, que publicou em 1993 com apoio da UNESCO, conta com interpretações da música por Joan Manuel Serrat, Silvio Rodríguez, Pablo Milanés, Manuel Mijares, Astor Piazzolla, Osvaldo Pugliese e Guadalupe Pineda, entre outros artistas de renome.
Ouça aqui a 'Canción con Todos'
Compôs também outras canções destacadas, como Fuego de Animaná, Canción de las simples cosas, Canción de lejos, Canción para despertar a un negrito, Canción de la ternura e La patria dividida.

O concerto de Isella na Casa da América Latina deverá ter o seguinte alinhamento:
- Vidala para mi sombra (Julio Espinosa)
- El Amor te dejo (candombito; Teresa Parodi e César Isella)
- La Volvedora (zamba; Eduardo Falu e Manuel J. Castilla)
- Canción de las simples cosas (Tejada Gómez e César Isella)
- Augusto (cueca; César Isella)
- Padre del Carnaval (zamba; Horacio Guarany e César Isella)
- La arenosa (cueca; Gustavo ‘Cuchy’ Leguizamon e Manuel J. Castilla)
- Tonada del viejo amor (Eduardo Falu e Jaime Davalos)
- Balderrama (zamba; Manuel J. Castilla e Gustavo ‘Cuchy’ Leguizamon)
- Noticia para viajeros (canção; Julio Cortázar e César Isella)
- La niña (zamba; Eduardo Falu e César Perdiguero)
- Soneto 93 (canção; César Isella e Pablo Neruda)
- Fuego en Anymana (huayño; Tejada Gómez e César Isella)
- Canción con todos (César Isella e Tejada Gómez)
A Cinemateca Próximo Futuro começa no dia 24 com a estreia mundial do filme Cadjigue, de Sana Na N’Hada. No dia 25, será exibida uma trilogia de ensaios cinematográficos de Filipa César e o documentário Sem flash: homenagem a Ricardo Rangel, de Bruno Z’Graggen
Todos os filmes são exibidos a partir das 22h, no Anfiteatro ao ar livre, com legendas em português, até 4 de Julho.
>> Ver programa

O teatro regressa este ano com Velório Chileno (na foto), de Cristián Plana, no Teatro do Bairro a 5 e 6 de Julho.
Antes, haverá dança no Teatro São Luiz com o Tempo e Espaço: Os Solos da Marrabenta (23 e 24 de Junho) e Orobroy, Stop! e Smile if You Can (29 e 30 de Junho . A 29 de Junho, a peça Outra Hora da Estrela apresenta a visão de Eucanaã Ferraz sobre Clarice Lispector. A 5 Julho, Uma história à margem e a 7 de Julho, a estreia de África Fantasma II encerram a programação.
>> Ver agenda


Dois concertos completam a programação deste ano.
No dia 28 Junho, às 22h, vão estar no anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian  os Jagwa Music – as maiores estrelas do mchiriku, grande fenómeno musical da Tanzânia nos últimos anos.
No dia 7 Julho, às 19h, os Konkoma juntam músicos do Gana e do Reino Unido que misturam afro-funk, jazz, soul e ritmos tradicionais africanos.
>> Ver programação

terça-feira, 25 de junho de 2013

Encantamento


Cessa o teu canto!

Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Como que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.

Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas a cantar.
E a melodia
Que não havia,
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.

Foi tua voz
Encantamento
Que, sem querer,
Nesse momento
Vago acordou
Um ser qualquer
Alheio a nós
Que nos falou?

Não sei. Não cantes!
Deixa-me ouvir
Qual o silêncio
Que há a seguir
A tu cantares!

Ah, nada, nada!
Só os pesares
De ter ouvido,
De ter querido
Ouvir para além
Do que é o sentido
Que uma voz tem.

Que anjo, ao ergueres
A tua voz
Sem o saberes
Veio baixar
Sobre esta terra
Onde a alma erra
E com as asas
Soprou as brasas
De ignoto lar?

Não cantes mais!
Quero o silêncio
Para dormir
Qualquer memória
Da voz ouvida,
Desentendida,
Que foi perdida
Por eu a ouvir...
9-5-1934
Fernando Pessoa, in “ Poesias”. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os bastidores da morte de Pablo Neruda


Anos depois, em isla Negra imagem do dia da exumacão do corpo do poeta Pablo Neruda
Fotos: Evandro Teixeira, F. Füllgraf, divulgação
Crónica de um assassinato presumido
Os bastidores da exumação de Pablo Neruda
14 de Junho de 2013 - 12:48 |  Revista Brasileiros 70
Por Frederico Fullgraf
"Pablo Neruda: 12 de Julho de 1904-23 de Setembro de 1973. O corpo do poeta, Prêmio Nobel de Literatura, foi exumado em 8 de Abril último. O relatório preliminar e parcial do SML, Instituto Médico Legal do Chile, de 2 de maio, sobre os exames radiológicos e histológicos, conclui que o poeta, morto na Clínica Santa María, em Santiago do Chile, “padecia de câncer de próstata em estágio avançado, com metástase”. A informação não é nova – ela foi veiculada após o falecimento de Neruda pela equipe médica e depois usada para fragilizar e desautorizar a segunda linha de investigação da efetiva causa mortis, que suspeita de um atentado, realizado mediante aplicação de uma injeção letal.
Junho de 1975
Durante as filmagens de Um Minuto de Escuridão não nos Deixará Cegos, estávamos em Valparaíso e Vinha del Mar, muito perto de Isla Negra, mas não era possível visitar a casa de Neruda, ela estava lacrada e vigiada por militares. Para a ditadura do general Augusto Pinochet, era a “casa maldita”. Mais de 30 anos depois, tenho permissão para visitar Isla Negra por um motivo insólito: a exumação do corpo de Neruda, que não foi apenas o diplomata-viajor.
Com sua obra traduzida para 35 idiomas, tornou-se “cidadão do mundo” e poeta da planetária. Autor do metafísico Residencia en la Tierra, com sua casa em Isla Negra, Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, também conhecido por Pablo Neruda, decidira morar em frente ao mar. A casa seria seu barco, e ele seu capitão.
Escrivinhador anônimo dos Versos do Capitão, dedicados a Matilde Urrutía, sua terceira mulher, Neruda sentia-se um marinheiro frustrado, um marujo em terra, com os olhos teimosa e perenemente postos sobre o Pacífico. “Para Neruda, o mar é aquilo, onde tudo nasce e tudo termina”, observou Francisco Rivas, escritor e neurocirurgião nerudino chileno. De volta da Espanha – em cuja guerra civil apoiara os republicanos, por isso persona non grata e expulso pelos franquistas vitoriosos – em 1937, Neruda procurou um lugar para morar no litoral central do Chile.
Montado a cavalo, em uma tarde de 1939, descobre a pequena praia de Las Gaviotas, que abrigava uma modesta casa feita de pedras, onde Don Eladio Sobrino, um velho capitão de navio espanhol, aposentado, resolvera passar seus últimos dias. Neruda compra o terreno de Don Eladio, mas rebatiza-o com o nome de “ilha” por necessidade poética e de “negra” por causa das rochas pretas. As mesmas rochas pretas que em um domingo de 2013 estão apinhadas de jornalistas em busca de um ângulo favorável para acompanhar o momento em que se interromperá o sono etéreo do autor das Odes Elementais, aqui sepultado, cara a cara com o mar.
O pescador
O convite para acompanhar a exumação partiu de Don Manuel Araya, ex-motorista, dublê de secretário e segurança do poeta, que me foi apresentado em março deste ano pelo líder pescador Cosme Caracciolo, com quem eu preparava as filmagens de um documentário. Araya e Caracciolo vivem a poucas quadras um do outro, na cidade portuária, San Antonio, distante 100 km de Santiago, 30 km de Isla Negra.
A exumação, ocorrida em 7 e 8 de abril, foi celebrada por Araya como uma vitória, embora salientasse com delicadeza que era a “vitória da verdade”. Araya é o pivô da exumação ordenada pelo juiz Mario Carroza, da Corte de Apelações de Santiago. Há 40 anos, esse senhor de pele morena e modos suaves, sempre trajando um terno impecável, insistia que Neruda não fora vitimado por um câncer, mas assassinado com uma injeção letal. Na condição de militante do Partido Comunista, filiação que compartilhava com o patrão, por oito vezes Araya interpelara o partido com sua denúncia, mas ninguém dera crédito.
Então, o pescador Cosme Caracciolo – ex-militante do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), preso político torturado durante meses pelos sicários de Pinochet, hoje um livre-pensador da oposição – teve uma ideia engenhosa: chamou o jornalista Francisco Marín, correspondente no Chile da revista mexicana Proceso, e juntou-o a Araya em torno da mesa da copa de sua casa. O resultado dessa conversa foi a reportagem ¿Mataron a Pablo Neruda?, publicada em 31 de maio de 2011, que repercutiu nos meios de comunicação de língua espanhola. Só então o PC reconheceu em seu militante o homem obstinado que batera o pé e obrigara o Chile a reescrever sua história. Depois de entrevistar-se duas vezes com Araya, o advogado do PC, Eduardo Contreras – o mesmo que, em 1998, processara Pinochet por crimes de lesa-humanidade – não pestanejou, registrando ação criminal por homicídio e acobertamento da morte de Neruda, exigindo sua exumação.
Araya e Marín voltariam a se encontrar várias vezes, o que resultou o livro-reportagem El Doble Asesinato de Neruda, lançado no Chile no final de 2012, mas já em vias de contratação no Brasil pela Geração Editorial.
Sobre a causa mortis de Neruda, a sociedade chilena está rachada, mas a maioria admite que o poeta pode ter sido assassinado, como ilustração de tantos casos ainda mal explicados, mais de 20 anos após o fim da ditadura do general Pinochet.
Portanto, encontrar-se em Isla Negra significa embarcar em uma dolorosa retronarrativa. Empossado no governo dos EUA havia menos de um ano, em uma célebre entrevista de 1970, o presidente Richard Nixon comparava a América Latina com Fidel Castro no poder em Cuba e Salvador Allende no Chile, com a imagem de um “sanduíche” esmagado por dois “polos marxistas”. Medindo consequências, ordenou a derrubada de Allende e seus assessores desenvolveram o Track II – um plano de desestabilização generalizada das instituições chilenas, com infiltração de agentes da CIA, financiamento do jornal El Mercurio para combater o governo, fomento de greves, visando ao desabastecimento do país, treinamento de militares chilenos em atentados, assassinato de militares leais a Allende e comprometimento da ditadura de Garrastazu Médici na conspiração." Frederico Fullgraf , em Crónica publicada na Revista Brasileiros, Brasil
Leia a Crónica completa AQUI ,Revista Brasileiros 70
Frederico Füllgraf, Brasil,cineasta, escritor, ambientalista , jornalista, tem uma extensa obra cinematográfica  cuja credibilidade,  conforme  escreveu o poeta Manoel de Andrade, "vem de uma longa trajetória de realizações cujos rastros foram deixados, em 2006,  no interior paranaense e na distante Namíbia, quando dirigiu a filmagem de Maack, o profeta pé-na-estrada, relatando as viagens e pesquisas geológicas feitas no Paraná, na década de 40, pelo cientista alemão Reinhard Maack, um precursor do ambientalismo, descobridor do Pico do Paraná e autor de estudos geológicos que ligam a bacia geológica paranaense à bacia de Gondwana, na Namíbia. 
Seu primeiro filme, Queremos que esta terra seja nossa, rodado em Portugal, em 1975, aborda a Revolução dos Cravos, golpe militar pacífico que derrubou o governo herdeiro da ditadura de SalazarEm 1985, pelo seu filme Dose Diária Aceitável, sobre as consequências dos agrotóxicos no Brasil, recebe no RIEENA ― Festival Internacional do filme ambiental, na França, o prêmio de Melhor Documentário de Conscientização, considerado o primeiro prêmio internacional do cinema paranaense. No seu invejável currículo acadêmico, Füllgraf, na década de 80, estudou Comunicação Social, Filosofia e Ciências Políticas na Universidade Livre da Alemanha, época em que realizou reportagens e filmagens de documentários para a ARD (rede pública de televisão da Alemanha). Em 1988, a Editora Brasiliense publicou seu livro (já esgotado) A bomba pacífica ― O Brasil e outros cenários da corrida nuclear.
Frederico Füllgraf é um respeitável intelectual"  com várias obras publicadas. Edita o Blog Füllgrafianas que considera "um diário de bordo da cultura na era do espanto".

domingo, 23 de junho de 2013

Ao Domingo Há Música

"A Universidade de Coimbra foi classificada, ontem, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Património Mundial da Humanidade.
O território da candidatura inclui a zona da Alta universitária e parte da Rua da Sofia, onde funcionou o primeiro pólo escolar da universidade, num conjunto de mais de 30 edifícios.
Ao património material, a candidatura juntou o imaterial, nomeadamente a produção cultural e científica, as tradições académicas, e o papel desempenhado ao serviço da língua portuguesa.
O projecto da candidatura começou a esboçar-se em 1999, com base na tese de doutoramento que António Pimentel, actual director do Museu Nacional de Arte Antiga e o primeiro director científico da candidatura, realizou sobre o Paço das Escolas.
A decisão foi tomada na 37.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, a decorrer em Phnom Penh, Camboja.”Diário Digital com Lusa
Luiz Goes foi um dos grandes expoentes do Fado de Coimbra. Quando a Universidade de Coimbra  é elevada a Património Mundial da Unesco não é permitido não o recordar. Em "Sonhar contigo ó Coimbra", Luis Goes dá som  ao tradicional Fado dos Estudantes ( Fado de Coimbra), património que tanto divulgou e engrandeceu  através de  uma excelente e inconfundível voz. 
Com letra e música de Carlos de Figueiredo é  acompanhado por João Bagão e Aires Máximo de Aguilar (guitarra), António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (viola). Esta peça foi extraída do seu primeiro Álbum em nome próprio,  datado de 1967.



sábado, 22 de junho de 2013

Sobre a Cultura

O poder e a cultura
Por Carlos Heitor Cony
"Dos 190 milhões de brasileiros, parece que sou o único a não ser ouvido ou cheirado pelos altos e baixos escalões da República. Não me dou ao respeito de usar cartão de visita, nunca precisei deles --pois nunca visito ninguém e não gosto de ser visitado-- mas, se tivesse de mandar imprimir esse tipo de apresentação formal, teria pelo menos um título igualmente único para ostentar: "o brasileiro que nunca foi convidado nem indicado para o Ministério da Cultura".
Diante da cultura, há duas atitudes típicas: a do militar de anedota, que quando ouvia falar em cultura puxava o revólver, e a do banqueiro, que quando tinha diante de si algum espécime da área da cultura, para adiantar o trabalho, puxava logo o talão de cheques.
Não parece, mas há razões para uma e outra atitude. O militante da cultura, reduzido à expressão mais simples, é um pedinte crônico, inarredável, tem sempre uma série de reivindicações a fazer, algumas de ordem pessoal, outras de âmbito geral, mas sempre reivindicações. Lembro um caso antigo que pode ilustrar esta mania intelectual de pedir pela cultura.
Uma tarde, estava saindo do cinema quando esbarrei com dois membros da pesada. Levaram-me para um canto e me forçaram a assinar um memorial ao ministro da Guerra --era da Guerra, então, o atual Ministro do Exército.
O Brasil mandara um pequeno contingente de soldados para integrar a força da ONU que tomava conta do Canal de Suez, e os intelectuais do Rio desejavam levar um grupo de bailarinos "para distrair as tropas brasileiras". Naquele tempo, eu assinava tudo, não por convicção, mas para ficar livre da maçada.
Dias depois, li nos jornais que o grupo de intelectuais fora recebido pelo ministro, o qual, na base da tradicional vaselina, ficara de estudar o assunto. Ignoro se os bailarinos patrícios foram ou não dançar no Suez --para a história do nosso século, o esforço artístico daquele abnegado grupo perdeu-se diante de fatos mais graves e menos dançantes.
Mas o episódio não deixa de ser uma boa ilustração das relações entre o poder e a cultura. Com pequenas variantes de gênero, grau e modo, o decantado diálogo entre governantes e intelectuais é mais ou menos esse. No fundo, todos ficam satisfeitos, porque os intelectuais sempre descolam uma boca livre, um cargo em comissão, o financiamento de um filme ou uma peça, tiram uma migalha qualquer das burras nacionais.
E os governantes, por sua vez, acreditam que obraram bem, alçaram-se às alturas do mecenato --dirão mais tarde, aos descendentes contritos: patrocinei as artes do meu tempo.
Bem, talvez seja impossível haver outro tipo de relação entre o poder e a cultura. Acredito que, quanto menos precisar do poder, melhor será a cultura de um povo. E dou outro exemplo, este mais recente: em apenas alguns anos de governo, um presidente já presidiu não só um congresso de escritores mas a duas exposições de gado zebu, em Uberlândia (ou Uberaba --sempre confundo o ponto geofísico desses eventos), e tinha na agenda uma reunião equivalente em Goiânia.
Houve discursos, placas comemorativas, comes e bebes de circunstâncias, enfim, ignoro piamente como andam os nossos zebus, nada sei de suas mazelas e de suas conquistas, mas acredito que estarão mais bem servidos do que os intelectuais.
Bem verdade que ambos --zebus e intelectuais-- serão sempre medalhados pelo poder, mas aposto muito mais na bovina saúde de um zebu do que na problemática vitalidade dos nossos intelectuais. Houve época em que ninguém seria poeta de respeito se não cultivasse, juntamente com as musas, uma respeitável dose de bacilos de Koch. Hoje, com os antibióticos, a tuberculose deixou de ser moléstia intelectual, virou o que é, moléstia de pobre mesmo. 
Quanto aos intelectuais, a situação melhorou um pouco, pois na pior das hipóteses, e genericamente, são todos ministeriáveis. Mas não só de poder viverá um intelectual. Para produzir um filme, um show, um curta-metragem, um estudo sobre a decadência da cultura do café ou a hora de investir em qualquer sustentabilidade, nada se fará sem os patrocínios que de alguma forma são sempre liberados pelo poder.”Carlos Heitor Cony , em Artigo de Opinião publicado, na Folha de S. Paulo de 14/06/2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sobreviventes do holocausto prestam homenagem ao Cônsul de Portugal, Aristides de Sousa Mendes (cont.)


"A casa de Aristides de Sousa Mendes, mais conhecida como a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, vai finalmente ser restaurada. Depois de vários anos ao abandono, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) anunciou nesta quinta-feira, numa cerimónia de homenagem ao “Cônsul de Bordéus”, que em breve vão começar os trabalhos de recuperação."

Familiares e refugiados da Segunda Guerra emocionam-se em visita à aldeia de Aristides Sousa Mendes
Lusa 20 Jun, 2013, 19:23
“Familiares e refugiados do Segunda Guerra Mundial visitaram hoje a aldeia de Cabanas de Viriato, a terra natal do "herói Aristides Sousa Mendes que salvou mais de 30 mil pessoas" e que "merece ser homenageado com a requalificação da casa onde viveu".
Linda Mendes é uma das netas de Aristides de Sousa Mendes e visita pela terceira vez a aldeia de Cabanas de Viriato, onde se ergue imponente a Casa do Passal para a qual olha emocionada.
"É tão triste ver a casa a cair, faz-me mal ao coração olhar para o edifício e pensar em algumas histórias que o meu pai, o meu avô e a família aqui viveram", referiu.
Aos 12 anos começou a ouvir as histórias de Aristides Sousa Mendes, que foi "esquecido" durante décadas, mas que agora vê "reconhecido por tudo o que fez pelos refugiados".
Numa passagem pelo cemitério, onde está sepultado o antigo cônsul de Bordéus, foram lidos alguns nomes de refugiados a quem passou o visto para a fuga, desobedecendo a ordens directas de Salazar.
"Passou vistos a mais de 30 mil pessoas. Esta viagem, com passagem por diversos pontos que marcaram a vida do meu avô assim como a partilha de testemunhos por parte de antigos refugiados, vem me dar outra dimensão da história", sublinha emocionado Gérald Mendes.
Léon Moed é um desses refugiados, salvos pelo visto de Aristides Sousa Mendes, quando tinha apenas oito anos.
"Guardo algumas memórias, fugimos de Bruxelas para França e depois conseguimos entrar em Portugal, onde ficámos cerca de dois meses. Considero-me uma pessoa de muita sorte", adianta.
O avô do arquitecto que projectou o mini museu temporário que é inaugurado hoje em frente à Casa do Passal, mostrou-se emocionado por visitar a aldeia de quem possibilitou "o passaporte para uma vida nova".
Na comitiva, constituída por familiares e fugitivos da Segunda Guerra Mundial, assim como familiares de Aristides Sousa Mendes, está Yara Nagel, uma jornalista brasileira, filha de um antigo judeu alemão que vivia em Itália.
"A minha família, pais e irmãos, foi salva pelo visto de Aristides Sousa Mendes", que permitiu chegar Lisboa e seguir para o Brasil.
"Eu existo pela coragem de Aristides Sousa Mendes, um homem maravilhoso que se sacrificou para salvar 30 mil pessoas. É muito importante e emocionante estar aqui", acrescentou.
No entanto, lamenta ver a Casa do Passal "a cair aos pedaços".
"Esperamos abrir caminho para a sua reconstrução e criação de um museu, que é a melhor homenagem que se pode fazer", sustentou.
Uma opinião partilhada por Jennifer Hartog, que teve o seu pai num campo de concentração até maio de 1945.
"Só há cerca de dois anos soubemos que tinha sido Aristides de Sousa Mendes quem assinou o visto para a fuga para o Canadá", alegou.
O "herói" de Cabanas de Viriato é homenageado hoje com a inauguração do mini museu temporário concebido pelo arquitecto americano Eric Moed, mas a presidente da Sousa Mendes Foundation defende que deveria ser construído um verdadeiro museu.
"A Casa do Passal tem de ser requalificada. Aristides de Sousa Mendes é um herói nacional e o Governo tem de assumir as suas responsabilidades, para que depois possamos ajudar na instalação de um museu", revelou.
Um dos netos, António Sousa Mendes, informou que para já apenas está prevista, para Outubro, a requalificação do telhado da Casa do Passal, ao abrigo do QREN.”

quinta-feira, 20 de junho de 2013

De Lisboa para Lisboa

Apresentação
"Lisboa em Si" tem como objectivo explorar as possibilidades musicais de uma cidade à beira rio. O desenho e toponímia de Lisboa servem como anfiteatro natural para uma paleta de sons e texturas que a caracterizam de forma única e sedutora.
De Lisboa para Lisboa... dos sons que esta produz na sua quotidianidade para uma viagem musical irrepetível.
O resultado será uma composição musical de sete minutos, recorrendo aos apitos de embarcações, viaturas de bombeiros, comboios, sinos de igrejas e campainhas de eléctricos. Cerca de cem músicos irão interpretar uma peça original em directo, coordenados entre eles via rádio e espalhados pela zona ribeirinha da cidade.
Local
O evento irá decorrer em toda a zona ribeirinha da cidade de Lisboa, delineado a este pela igreja de St. Estêvão, a oeste pela igreja de St. Catarina e a norte pelo Miradouro de S. Pedro de Alcântara.
Na concepção da obra foram identificados 7 pontos de escuta, que serviram de referências espaciais para um melhor entendimento da dinâmica dos sons neste palco improvisado – Miradouro de ST. Catarina, Praça Camões, Miradouro de S. Pedro de Alcântara, Miradouro da Graça, Castelo de S. Jorge, Miradouro de St. Luzia e Praça do Comércio. A música foi, no entanto, composta para ser usufruída em qualquer lugar, dentro da área já referida, com as variações inerentes às fontes sonoras vizinhas
Data e Hora
A realização do concerto está agendada para as 22h00 do dia 21 de Junho de 2013. A obra terá a duração de aproximadamente 7 minutos (em homenagem às sete colinas da cidade)." Site de " Lisboa em Si"
 «Lisboa em si» pede silêncio para se ouvir a cidade cantar
“O projecto “Lisboa em Si”, que vai, na noite de 21 de Junho  fazer da capital uma orquestra – com sirenes de embarcações, sinos de igrejas, carros de bombeiros e eléctricos – pede ao público silêncio, para deixar ouvir Lisboa.
Estar em silêncio durante os sete – “precisamente sete, em homenagem às sete colinas” – minutos em que Lisboa vai fazer-se ouvir é ser parte da orquestra, é “ser um instrumento, parte activa do concerto”, disse à Lusa o músico e compositor Pedro Castanheira, director artístico do projecto.
Essa é "a parte mais essencial de todas”, frisou. O público pode ainda – e deve, disse – participar no evento em outros dois momentos, antes de o concerto começar e depois de terminar.
Quando soarem as sirenes que assinalam que está para breve o início, explica, vai ser lançado um foguete do rio. "As pessoas devem fazer ‘shhhhhhhhh’, mas não de uma forma agressiva, de uma forma percutiva, para espalharmos ao longo da zona ribeirinha um [som] como se fossem as pedras a rolar, quando o rio ia buscá-las para dentro de água”, pede.
Depois do primeiro apito, começa o silêncio. “É o momento ‘silêncio, que se vai cantar Lisboa’”, sublinhou Graça Fonseca, vereadora da Economia e Inovação na Câmara Municipal de Lisboa.
Durante este tempo, sons da Lisboa de todos os dias vão, ao longo da zona ribeirinha – num espaço delineado a este pela igreja de Santo Estêvão, a oeste pela igreja de Santa Catarina e a norte pelo Miradouro de São Pedro de Alcântara – combinar-se numa “ode musical”.
Aos jornalistas, a falar em nome da Câmara de Lisboa, que apoia o projecto  a vereadora Graça Fonseca explicou que esta iniciativa "cria a partir daquilo que a cidade já é". Lisboa, disse, "é som, é espaço público, é luz". Este conceito, acrescentou, "tem muito que ver com uma estratégia própria da cidade, que é a de dar-se a conhecer como uma ‘lovable brand’".
"Este projecto torna visível o que Lisboa é, e o que pode ser na combinação da luz, do som, do espaço, dos equipamentos, do seu património”, concluiu.
Quando a orquestra de 30 embarcações, seis carros de bombeiros, 19 torres sineiras, dois comboios e seis eléctricos terminar a actuação  e depois de um segundo foguete, “pede-se às pessoas que façam barulho”, o barulho “que lhes apetecer”, acrescentou Pedro Castanheira.
A importância de o público alinhar nas regras, reforçou o compositor, é o retrato que vai tirar-se deste momento: “Vai haver uma gravação do concerto. Alguém que queira participar e ache que pode, por exemplo, buzinar, estraga o momento e estraga o acervo para a posteridade”, disse.
A iniciativa “Lisboa em Si” é uma coprodução da Cooperativa Fora de Si e da Câmara Municipal de Lisboa, com o apoio do Turismo de Lisboa e da Administração do Porto de Lisboa, e com a participação da Marinha, Transtejo/Soflusa, CP, Carris, Patriarcado de Lisboa e Escola Superior de Música de Lisboa.”Lusa, 06 Junho 2013

Mapa da cidade de Lisboa com as localizações das fontes sonoras e dos pontos de escuta

Saiba mais Aqui