quinta-feira, 14 de março de 2013

As crianças e a crise


“Cerca de 300 crianças ligaram em 2012 para a Linha SOS Criança, do Instituto de Apoio à Criança, preocupadas com a situação socioeconómica dos pais, um número que aumentou quase 8% em relação a 2011.
O número consta nos dados estatísticos relativos ao ano passado e que mostram que o Instituto de Apoio à Criança (IAC) apoiou 6.872 crianças, entre a Linha SOS Criança (2.760), mediação escolar (3.610), Linha da Criança Desaparecida (53), correio electrónico (389) e atendimento psicológico (103).
Dos mais de 2.700 telefonemas feitos para a Linha SOS Crianças, 311 (11%) foram feitos por crianças que ligaram a pedir apoio, a maioria das quais por causa da situação socioeconómica dos pais, fruto das dificuldades económicas pelas quais o país atravessa.
"As crianças desenvolveram assim quase como que a ideia de um síndrome de um mundo mau e começaram a ficar preocupadas com medo que os pais pudessem perder o emprego e ligaram mais com esse tipo de preocupação", contou o secretário-geral do IAC.
De acordo com Manuel Coutinho, comparativamente com os anos anteriores, esta "foi a preocupação que mais surgiu", sublinhando que a Linha SOS Criança serviu como uma "almofada psicoemocional".
"Certamente que há uma correlação positiva entre a abertura dos jornais e as preocupações que as crianças nos vão manifestando, até porque muitas delas viviam numa situação socioeconómica melhor e hoje estão um bocadinho mais privadas e isto fá-las perceber que algo está a acontecer, nomeadamente no campo das restrições", adiantou Manuel Coutinho.
Nestes casos, explicou o psicólogo clínico, a solução passa por "ouvir com muita tranquilidade (...),de maneira a que a criança por ela consiga perceber e intuir que há caminho para andar".
Manuel Coutinho acrescentou que estes casos acontecem mais entre as crianças com idade entre os 10 e os 12 anos porque "têm alguma perceção, mas não têm conhecimento total" e não gostam de partilhar as suas angústias com os pais.
Os telefonemas não foram todos eles feitos por crianças, e houve também 2.283 chamadas feitas por adultos. Do total de chamadas, houve 345 por causa de crianças em perigo, 300 por situações de negligência, 256 por maus tratos físicos, 151 por maus tratos psicológicos, 65 por abusos sexuais, entre outros.
Do total de 2.760 chamadas, a Linha SOS Criança teve de dar encaminhamento específico a 608 situações.
A maior parte dos contactos foi feito de Lisboa (538), logo seguido do Porto (181) e de Setúbal, enquanto a maior parte das ocorrências foi registada em Lisboa (626), Setúbal (605) e Porto (219).
A maior parte dos contactos foi feita à terça-feira (574), no mês de maio (297) e a maioria das chamadas (677) durou até meia hora.
A Linha SOS Criança foi criada em 1988 e até hoje já recebeu mais de 120 mil apelos.”Diário Digitall/Lusa, 14/03/2013

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