quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Que nada fique por cantar


O CANTO DO CISNE
Nunca o ouvi.
Que seja inextinguível.
Ou então silencioso
por pudor e tremendo
de raiva.
E que dure o bastante
para que nada fique por cantar.
António Osório, in “A Luz Fraterna - Poesia Reunida”, Assírio & Alvim, 2009
O Sítio
O mundo sitiou o sonho, e o tem preso
em débeis cidadelas
— suas últimas guaridas.

Os soldados oníricos têm medo
sem armas
e suas caravelas
não têm velas.

Inúteis seus desvelos desarmados
até os sentinelas
fatigados
já estão cedendo ao peso das vigílias.

Vai longo o sítio, e já vão se esgotando
as frágeis provisões
dos sitiados.

O mundo tem seus ásperos soldados
nos dias
pontuais
que na luta não cedem nem recuam.
E nunca erram as duras cimitarras
os seus golpes
directos e fatais.

O assédio continua, já inúteis os galopes
dos bravos cavaleiros sitiados.

Têm cavalos de mar
e o sítio é em terra.
Têm cavalos de paz
e sítio é guerra.

Fácil de prever o resultado
dos combates travados
desiguais.
Já se aprestam os dias, bons guerreiros
aos ataques certeiros
e finais.
António Osório, in “A Luz Fraterna - Poesia Reunida”, Assírio & Alvim, 2009
"A Luz Fraterna" reúne toda a obra poética de António Osório, produzida de 1965 a 2009.
«A poesia de António Osório – e nela incluo, por assim dizer, todos os seus livros, mesmo os que, aparentemente, são de prosa — é sempre em verso livre (quando leio obras como a Libertação da Peste — livro notável — ou Crónica da Fortuna, o meu ouvido “diz-me” que estou a ler versículos, como quando leio A Raiz Afectuosa ou A Ignorância da Morte.)
Do já citado livro [A Experiência de Ler] de C. S. Lewis, recolho uma observação pertinente e que me parece ser digna de ser tomada em conta pelos leitores da obra de António Osório, que agora se publica “completa”. Diz Lewis ser “possível que aos jovens de hoje se tenha deparado demasiado cedo o verso livre. Quando este é veículo de verdadeira poesia, os seus efeitos auditivos são de extrema subtileza e, para uma verdadeira apreciação, exigem um ouvido longamente familiarizado com a poesia metrificada. Aqueles que acreditam poder apreciar verso livre sem experiência de métrica estão, creio eu, a enganar-se a si próprios, tentando correr antes de saberem andar. Mas na corrida literal as quedas magoam e o aspirante a corredor logo descobre o seu erro.” Um dos grandes prazeres que podemos deduzir da leitura dos livros do autor de Décima Aurora vem de podermos ir ajustando, com cuidado e alguma teimosia, o nosso ouvido à música subtilíssima que se esconde na só aparente “liberdade” que os versos sugerem.»Eugénio Lisboa  

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um grande repórter


Um grande repórter: Fernando Magalhães
Por Eugénio Lisboa
"Fernando Magalhães, ontem (1.2.2013) falecido, aqui, em Lisboa, após alguns meses de sofrimento, foi um grande e singular jornalista.
Privei com ele, de perto, em Moçambique, nos anos sessenta e setenta e, depois, em Lisboa, a partir da segunda metade dos anos noventa. Tínhamos uma tertúlia mensal, aqui no concelho de Cascais, de que faziam parte, sempre, o Fernando Magalhães, o Carlos Adrião Rodrigues, o João Afonso dos Santos e eu próprio, e, ocasionalmente, outros elementos ( o Salvador Amaro, a Joana Pereira Leite, etc).
Em Moçambique, a tertúlia era aos sábados, em casa do Adrião Rodrigues, e aí conspirávamos os nossos textos e disparos para A Voz de Moçambique e, durante algum tempo, para A Tribuna. O Fernando Magalhães pecara, literariamente falando, apenas uma vez, com uma magra ficção que não teve seguimento. O seu temperamento era, sobretudo, de jornalista e, nesse pelouro, ele era único. Lembro-me de um concurso literário (que incluía a sub-espécie do jornalismo), em que tivemos, por uma razão qualquer, de congeminar um Prémio Hors Concours, para não ficar por assinalar uma fabulosa reportagem do Fernando Magalhães.
Entre nós, ele recortava o perfil de um personagem peculiar: objectivo, friamente analista, raramente dava escape aos ventos da indignação: mais depressa se inclinava a um desprezo distante do que a uma fúria incontida. Escondia o tumulto das emoções no exercício de uma ironia que se alcandorava, por vezes, até ao nível do humor negro.
A sua prosa era secamente acutilante, às vezes, subtilmente perversa, nunca romântica. Recentemente, ofereceu-me, num gesto de amiga homenagem, uma reportagem saborosamente mortífera acerca de uma viagem à Coreia do Norte, quando Samora Machel era ainda vivo e Presidente.  O texto é de uma maldade saudável e ferina, digna dos melhores momentos do Swift de “A Modest Proposal”.
O Fernando escondia, com pudor, os seus afectos e só em raros momentos – e sempre “defendendo-se” com o apetrecho da ironia – deixava escapar um sinal de maior entrega. Mas era um ser raro e a sua morte deixa, na nossa tertúlia, um feio buraco negro. Não há muito, partira de nós o Adrião Rodrigues: duas presenças insubstituíveis.
Seria interessante – e recomendável – que, num qualquer departamento universitário, alguém se dispusesse a fazer ou mandar fazer um inventário exaustivo dos trabalhos de reportagem de Fernando Magalhães com vista à publicação de um livro onde elas se acolhessem. Ver-se-ia assim melhor o que foi o trabalho de investigação e análise, na prosa enxuta e desafiadora de um dos nossos grandes jornalistas ( e, neste “nosso”, incluo Portugal e Moçambique)."
Eugénio Lisboa, in Jornal Savana nº 996, 8/02/2013

O PAÍS DOS CINCO CORTES DE CABELO
Por Fernando Magalhães                               
"Em meados da longínqua década de 60, vivíamos nós na então Lourenço Marques, o Eugénio Lisboa presidiu a um júri nomeado pelo Município que me atribuiu um primeiro prémio de reportagem. Tratava-se da minha descoberta da Bolsa de Joanesburgo, na Hollard Street, uma ruazinha de uns 200 metros onde se concentrava mais dinheiro e se fazia mais negócio do que em toda a África. Decidi pois homenageá-lo agora à minha maneira: oferecer-lhe a reportagem que na altura não tive a coragem de escrever, porque ainda não era claro para mim que um jornalista não pode deixar de denunciar o totalitarismo quando o descobre no exercício da sua função.

Estávamos em Março de 1975 e eu, jornalista experiente, preparava-me para mudar de paradigma, como é moda dizer agora. Ia ser finalmente um verdadeiro jornalista moçambicano, livre da odiosa censura colonial e “engajado” (como se dizia então), na missão de informar, defender, educar e ser educado pelo meu povo, libertado pela Frelimo. Era o meu velho sonho tornado realidade.
Este trabalho, melhor, esta missão, de cobrir a visita do presidente (ainda só da Frelimo) Samora Machel, aos “países amigos e irmãos” da República Popular da China e da República Popular Democrática da Coreia, enchia-me de orgulho. Além do mais fora-me confiada a responsabilidade de chefiar a delegação de jornalistas moçambicanos.
O Boeing da CAAC (Linhas Aéreas da RPC) deslizava suavemente sobre as nuvens aproximando-se de Pyongyang quando um “camarada dirigente altamente responsável” se veio sentar ao meu lado e me disse com convicto: – Agora vais conhecer um país socialista verdadeiramente organizado, talvez mais organizado que a China ou a RDA (antiga República Democrática Alemã). Toma atenção que vais aprender muito.
Devo referir que este então “camarada dirigente altamente responsável” – ainda hoje meu amigo, acho eu, era dos poucos a tratar-me por tu. Para os outros, como estava estabelecido e mesmo que fossemos velhos conhecidos, eu era o “camarada Magalhães”. Claro que havia outra excepção, mas Samora Machel tratava todos por tu, do guerrilheiro analfabeto, ao embaixador da URSS ou dos EUA. Adiante.
Aterrámos pois em Pyongyang com o aeroporto cheio de coreografias, danças, canções e bandeirinhas e eu de olhos e ouvidos bem abertos, desejoso de aprender. Sabia apenas que a cidade tinha sido completamente arrasada por bombardeamentos aéreos americanos durante a guerra da Coreia e que, sobre as ruínas, Kim Il-sung erguera uma urbe que pretendia socialista, moderna e exemplar.
À entrada da cidade, o guia coreano apontou-nos um enorme cartaz com a efígie de Kim e explicou-nos em mau castelhano: Ali está escrito, bem-vindo a Pyongyang a cidade onde já foi instalado o verdadeiro comunismo. Alguém lá de trás da carrinha, acho que o Miguéis Lopes ou o Albino Magaia, rosnou: o comunismo não foi instalado em lugar nenhum do mundo, camarada, ainda estamos na fase da edificação do socialismo. E o guia solícito a replicar que não, não, não, no nosso país o querido e glorioso líder e marechal de aço Kim Il- sung já construiu o verdadeiro comunismo! A réplica veio noutro rosnanço do género, este camarada é parvo ou quê? Mas do que víamos, lá que a cidade era bonita, isso era.
Chegámos ao belo hotel e sobre a entrada, bem em grande, muito grande, sorria-nos a imagem de Kim Il-sung. Solícito, o pessoal não nos deixou levar as malas. Eles de fato à Mao, com um bem grandinho “pin” do querido líder no peito. Elas, de longo vestido tradicional, em cetim com florinhas, com o mesmo “pin”, de olhos sempre no chão e muitas reverências, lembrando gueixas.
Na recepção, lá estava, em grande, o rosto sorridente de Kim, e também, fardado ou à civil, a meio corpo ou corpo inteiro, em todas as paredes. Nos longos corredores a caminho dos quartos, de três em três metros, multiplicavam-se as imagens do querido líder e à entrada de todos os quartos havia uns quadrinhos com um miúdo a perorar a outros miúdos e a graúdos que o ouviam entre espantados e veneradores. Alguém dos nossos perguntou o que é isto camarada? e a resposta veio rápida: ilustram a história do nosso querido líder e marechal de aço, ainda criança mas já divulgando a linha política correcta.
Chegado finalmente ao meu belo aposento, lá estava ele, fitando-me de frente, de trás e de lado, umas vezes como querido líder, outras como marechal de aço. Sorridente, olhava-me também da primeira página do jornal nacional, à minha espera na secretária. Ao lado, uma avantajada resma de 10 ou 11 calhamaços (em português) com o seu nome e efígie explicando a sua filosofia “juche” (da auto-suficiência).
Desesperado e ansioso por descansar os olhos, escancarei a janela do quarto. Caía a noite e sobre a cidade pairava um silêncio estranho, inédito numa capital. Lá em cima, dominando Pyongyang, qual Cristo do Corcovado, resplandecia envolvida em focos luminosos a estátua do querido líder. O que vale é que o jantar, como todos os outros, foi óptimo e muito bem brindado.
No dia seguinte lá fomos, muito de manhãzinha em peregrinação ao monumento de 20 metros de altura, todo de bronze dourado, estrategicamente colocado em frente à Biblioteca Nacional e Museu da Revolução.
Perguntámos ao guia quantos livros havia na biblioteca. Disse-nos que mais de um milhão. De que tipo? Todos escritos pelo querido líder ou sobre o querido líder e com muitas traduções. Julgámos ouvir mal. Um milhão e só sobre Kim Il-sung? O guia confirmou, feliz. E então não há nada de Marx, Lenine, Mao? Que não, não eram necessários. Estavam ultrapassados pela filosofia “juche”do querido líder.
Mais resmungos “pouco próprios da linguagem do nosso partido” e lá fomos, numa longa coluna automóvel a velocidade desenfreada por largas avenidas vazias, visitar a cidade “onde já fora edificado o verdadeiro comunismo”. Era a hora das crianças irem para as creches ou escolas, todas muito organizadas, de mãozinha dada, lencinho vermelho de “pioneiras” ao pescoço, em intermináveis filas, professores à frente (lindo!) e cantando (informou-nos o guia) odes ao querido líder. Visitámos uma das creches. Danças e mais canções (já não perguntámos nada) e depois, para todas, uma sessão de tiro com espingardinhas de pressão, tendo como alvos o “cachorro presidente imperialista americano” (lá estava ele caricaturado) e o navio espião americano “USS Pueblo” que anos antes tinha sido capturado pela marinha norte-coreana.
Adiante e passemos à nossa muito ambicionada visita ao complexo industrial desse “modelar país amigo”. Tínhamos sido informados de que nos seriam mostradas moderníssimas fábricas, muitas quais, pelo seu valor estratégico e a sempre presente ameaça do imperialismo ianque, funcionavam dentro de galerias enormes, escavadas em montanhas.
Aí já ia também parte da delegação política e não apenas nós, pobres jornalistas. O meu amigo “camarada dirigente altamente responsável”, depois de me ouvir alguns reparos sobre aquela estranha forma de socialismo, tranquilizou-me: “Culto da personalidade, especificidades do socialismo asiático; já discutimos isso entre nós. Agora é que a visita vai começar. Abre os olhos”.
Estávamos preparados para uma longa visita ao campo mas acabámos num imponente edifício no centro de Pyongyang. Lá dentro apresentaram-nos “algumas das gigantescas fábricas”. Estavam de facto escondidas em montanhas de papelão dentro de grandes vitrines. Um camarada carregava num botão e a montanha abria-se. Mais um toque revelava-nos zonas com máquinazinhas a trabalhar e bonequinhos cumprindo a sua função de operários. A visita acabou com a reconstituição de algumas das grandes batalhas vencidas pelo querido e glorioso líder e marechal de aço contra o imperialismo. Lembro-me de muitas luzinhas a apagar e a acender e, acho eu, canhões, carros de combate e soldados em miniatura. Não havia qualquer referência aos aliados chineses (morreram mais de 300 mil na guerra da Coreia) e perguntámos porquê. Aliados chineses? Estávamos enganados… a guerra tinha sido integralmente feita e vencida pelo povo coreano dirigido pelo querido líder e marechal de aço. Lembro-me de incontidos sorrisos em alguns camaradas dirigentes. Eu, mais do que frustrado estava sobretudo preocupado. É que os meus companheiros jornalistas começavam a revelar “comportamentos pouco próprios da nossa disciplina”. Sussurravam entre si como conspiradores, ouviam-se risinhos e o mesmo já se passava com alguns representantes das nossas organizações populares. Adiante.
A visita estava a acabar mas faltava o grande final, a festa do encontro com o querido líder.
Era ao fim da tarde mas foram-nos buscar muitas horas antes, “a preparação”. Reuniram toda a delegação, com excepção de Samora Machel, numa ampla sala de hospital. Mandaram-nos despir. Depois urinámos para um tubinho. Em fila (camaradas dirigentes à frente) com o tubinho erguido na mão direita e todos em pêlo avançámos para uma enfermaria onde um camarada coreano (julgo que médico ou enfermeiro) nos auscultava, outro via-nos os olhos e um outro tirava-nos uma amostra de sangue. Aqui já se ouviam reclamações algo coléricas, não só de alguns dos meus jornalistas como também de camaradas “altamente responsáveis”, nomeadamente de um famoso comandante da guerrilha (ainda não havia generais da Frelimo e ainda se acreditava que no “nosso exército popular” não seriam necessárias patentes) exigindo explicações. Tudo para o nosso bem, explicavam os guias intérpretes, já que vínhamos da guerra no mato e poderíamos ser portadores de doenças que assim seriam detectadas e tratadas. Adiante. A fila lá seguiu nuazinha (éramos só homens, julgo que as poucas camaradas estavam, algures, a ter tratamento igual) por um corredor onde subitamente se desencadeou um chuveiro infernal de água com desinfectante. Alguns berros e alguma desorganização, como acontece com as vacas quando tomam o primeiro banho carracicida. Depois toalha felpuda, secagem e devolução das nossas roupas, ainda quentes, impecavelmente engomadas. Lembrei-me das palavras do meu “amigo camarada altamente responsável” sobre a exemplar organização norte-coreana. Ali estava ela.
E chegou o grande momento. No enorme salão de festas do palácio da Assembleia Popular esperavam-nos muitas centenas de altas entidades, claro que todas com o seu “pin” do grande líder. Como em qualquer reunião burguesa falava-se (aqui sussurrava-se) e bebia-se um aperitivo. Numa extremidade havia uma espécie de salão caixa de vidro e lá dentro, muito só, sorriso permanente nos lábios, estava Kim Il-sung, mais velho e mais gordo do que nas fotografias. De vez em quando um grupo de convidados aproximava-se da parede de vidro, fazia uma reverência e brindava. O querido líder, do outro lado do vidro, acenava com a mão esquerda, sorria e levantava a sua taça. Depois o grupo brindante recuava, olhos no chão, para dar oportunidade a outros.
Pressuroso, um guia-intérprete introduziu-nos no salão caixa de vidro (muito florido, com muitas sedas, brocados e aveludados) para conhecermos o grande líder em carne e osso. Tivemos até oportunidade de descobrir que na zona posterior do pescoço se notava um tumor bem grande (maior que uma bola de ténis ou de bilhar) que os milhões de imagens do querido líder, mostradas ao seu povo e ao mundo, não revelavam. Soube mais tarde, muito em segredo, por um camarada jornalista chinês que se tratava de um depósito de cálcio não removível por se situar numa zona demasiadamente próxima da espinal-medula e do cérebro.
Kim foi muito afável. Cumprimentou-nos, disse umas palavras e até abraçou os agraciados com a Ordem dos Combatentes Anti-Imperialistas. Minutos depois, com excepção de Samora Machel, que permaneceu a conversar com Kim, fomos devolvidos ao salão de festas para o convívio possível.
O último banquete foi opíparo e muito brindado, tanto por nós como por eles. De tal forma que o nosso guia-intérprete acabou por se deixar enredar num debate sobre a necessidade de democracia no socialismo. Será que isso acontecia no “juche”? De toda a argumentação do camarada guia-intérprete a provar que a RDPD era um verdadeiro estado democrático, lembro-me bem de um exemplo decisivo: no país de Kim Il-sung, qualquer camarada podia escolher entre cinco cortes de cabelo! Confirmei mais tarde que era verdade.
Quanto à reportagem, nunca a consegui escrever. O mesmo aconteceu com a maioria dos outros jornalistas. Ficaram-se pelas fotos, com umas legendazinhas de circunstância. Não tenho dúvidas que aquela viagem foi extremamente pedagógica para todos, que foi o que eu disse ao meu amigo, então camarada altamente responsável.
Lisboa, Dezembro de 2010 "
Fernando Magalhães,in " Eugénio Lisboa: Vário,Intrépido e Fecundo - Uma  homenagem", organização de Otília Pires Martins e Onésimo Teotónio Almeida, Editora Opera Omnia 

Nota: Curiosamente, volvidos 38 anos após esta visita à Coreia do Norte, registou-se alguma evolução na oferta e permissão de cortes de cabelo, nesse país, conforme noticia  a Revista Visão em artigo  publicado, ontem, 26 de Fevereiro.
“ Coreia do Norte só autoriza 28 cortes de cabelo
Cabelos curtos para as mulheres casadas e um pouco mais compridos para as solteiras. Para os homens também há uma lista de cortes permitidos... que, curiosamente, não inclui o do líder Kim Jong Un .”in Revista Visão
 Leia o artigo completo 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A Actualidade em Cartoon

Italia Oggi
Iatalia Oggi
Cartoon de Henrique Monteiro
Cartoon de Henrique Monteiro

Ranson, Le Parisien
Ranson, Le Parisien

Adicionar legenda

Italia Oggi
The daily cartoon
Rodrigo, Expresso
Erlich, El País

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Celebrar Aquilino Ribeiro

“Os 50 anos da morte de Aquilino Ribeiro vão ser o tema de diversas acções da Associação Portuguesa de Escritores (APE), numa iniciativa coordenada por Luís Machado.
Hoje,  25 de Fevereiro  no Panteão Nacional, onde estão os restos mortais de Aquilino, José Manuel Mendes, Mário de Carvalho, António Valdemar e Serafina Mendes evocam o homem e o escritor.
A 19 de Março  Alfredo Caldeira, Fernando Rosas, Mário Cláudio e José Manuel Mendes lembram, na biblioteca do Parlamento, o tempo da clandestinidade e exílio. Depois, a 20 de Abril  será a vez de uma visita guiada por Henrique Monteiro às Terras do Demo, onde nasceu Aquilino.
No dia seguinte, será Mário Cláudio a guiar o itinerário de Romarigães, no Minho, tema de um dos romances de Aquilino e casa da família da sua mulher.
A 22 de Maio, em Paris, Coimbra Martins, Eduardo Lourenço e José-Augusto França recordarão os tempos de exílio do escritor; dois dias depois, no restaurante La Closerie des Lilas (favorito de Aquilino e Hemingway), Luís Machado fala sobre os locais do escritor em Paris.
As comemorações terminam a 27 de Maio, quando se completam 50 anos sobre a morte, com uma conferência de António Valdemar e Luís Machado: "De Garfo e Faca com Aquilino".”Expresso
A  Casa Grande de Romarigães
" Em poucas remadas a barca endireitou o rumo, em linha recta para a margem. Que energia acordara dentro de Luís,  para que o remo vergasse na sua mão e não cedesse à violência do monstro? Dobrado para a proa , olhos fitos  no fluxo da água , via-a murmurar, num murmúrio quase animal, de choro, de raiva, espadeirada, desviada, cortada do seu caminho à fina força. O outro remador secundava Luís Antas com alma, embora impando. E a barca penetrou como uma flecha na terra impaludada de Portugal.
Luís levou Joana nos braços para a terra firme, um bosque de carvalhos e amieiros onde não chegara a babugem fluvial e não longe do ponto em que os criados aguardariam com duas montadas. Depô-la na relva,  semimorta pela emoção. Tanto um como outro tinham sentido soprar o vento infrene que sopra das fronteiras da vida e da morte. Luís agora exultava. Quando ela derregelou do colapso, sobrepondo-se a todas as limitações, testemunhados pelas estrelas, que bem elas os miravam, com um ralo, ao cabo do almargeal, a entoar a flébil cantiguinha e que não interrompeu para não ouvir  e ter de contar, mataram sua sede de amor.
Dali até Romarigães, por Cerveira, serra de Ovas, Ponte, ora a chouto, ora a galope , foi uma passeata embevecida. O padre-mestre, reverendo Sebastião Mendrugo, deitou-lhes a benção na capelinha da casa , consagrada a Nossa Senhora do Amparo. Pequena resistência teve a vencer de parte do pai, Domingos  da Cunha, tão correntão e desenganado em aparência, no fundo o mais  atrido dos homens, e igualmente da terna e lacrimosa mamã. O padre incorria na pena de anátema substituindo-se ao pároco próprio, sem estar habilitado com licença da Câmara Eclesiástica a ministrar-lhes a benção nupcial, e o casamento era nulo segundo um reescrito do Concílio  Tridentino. Mas que se importava  ele com as consequências dum acto praticado à sombra do todo-poderoso Domingos da Cunha e que estivesse válido ou nulo? 
Dos irmãos de Luís da Cunha, apenas Cristina se achava na Casa Grande.(...)  Cristina era amada por um moço de Ganfei. Nele não concorria porém a prosápia do sangue  com a do espírito, e que mais não fosse,  no intuito de se forjar uma aliada, acolheu Joana , como a maninha preciosa, leal e verdadeira.
Nessa mesma tarde que ela chegou à varanda, curiosa de conhecer os lugares onde estava, Luís veio de seguida, não menos curioso também de receber a sua impressão.
- Como é bonito!"
 Aquilino Ribeiro, in " A Casa  Grande de Romarigães". Círculo de Leitores, 1988
O que escreveu Agustina Bessa-Luís sobre  Aquilino Ribeiro: " As novas gerações aprendem com Aquilino a honrar a linguagem. Não é próprio do nosso tempo honrar seja o que for , a inflação da desonra é quase um mérito aconselhado. Mas, em qualquer altura, alguém que tenha a inclinação solitária, ou atenta, ou simplesmente erudita, abrirá um livro de Aquilino ( sobretudo refiro-me às obras de grande densidade regional) e amará o seu verbo. Não é imprescindível a cultura. Pode-se passar sem ler Virgílio e Homero. Mas um dia deparamos com uma página assim e achamos que alguém assim esgotou na terra a sua energia e os seus dons. E o seu fantasma não anda disperso  a tentar confundir-se à variedade de discursos e acções humanas, para completar o seu ciclo criador,." Agustina Bessa-Luís, in " Colóquio Letras nº 85 - Maio de 1985
Aquilino Gomes Ribeiro nasceu a 13 de Setembro de 1885, em Carregal de Tabosa, no concelho de Sernancelhe, Beira Alta. A sua vida, como a de muitas das personagens que animou, foi movimentada e aventurosa. Tendo estudado no Liceu de Lamego (depois da escola de Soutosa), parte para Viseu, onde se inicia na filosofia. A pedido de sua mãe, D. Mariana do Rosário Gomes, entra para o Seminário de Beja, fazendo apenas o 1º. e parte do 2º. ano de Teologia, pois não lhe é reconhecida vocação religiosa.
Em 1906 vai para  Lisboa, onde começa a sua longa carreira de jornalista, com artigos (e princípio de um romance em folhetins – «A Filha do Jardineiro») na Vanguarda. Escreveu ainda para o Jornal do Comércio e O Século (tendo sido, mais tarde, correspondente deste jornal em Paris), foi redactor do diário A Pátria, colaborou na Ilustração Portuguesa, no Diário de Lisboa, na República e em muita outra imprensa diária. Para além de ser um dos fundadores da Seara Nova (1921), onde também colaborou, escreveu em revistas como Homens Livres e Lusitânia. Foi, com outros intelectuais seus amigos, à frente dos quais Raul Proença, um dos animadores da publicação do Guia de Portugal (1919). 
Em 1907, é preso  na sequência de uma explosão acidental no seu quarto, na qual morreram dois carbonários,Gonçalves Lopes( Professor) e Belmonte de Lemos (Adeleiro). No entanto, conseguiu evadir-se e exilou-se em Paris, só regressando a Portugal no início da Grande Guerra, em 1914.
Data de 1913 o seu primeiro livro, " Jardim das Tormentas", um livro de contos com dedicatória à  sua primeira mulher, Grete Tiedemann natural da Alemanha.O livro foi prefaciado por um monárquico,Carlos Malheiro Dias, um adversário político muito prestigiado no meio literário.Nunca descurando o seu trabalho de escritor, exerce na Biblioteca Nacional de Lisboa a função de segundo-bibliotecário e, depois, de conservador, cargo de que é demitido em 1927, aquando da segunda perseguição policial. Desta feita unira-se à revolta contra a ditadura militar que entroviscava a Nação. Foge para a Beira Alta e, em seguida, de novo para Paris – segundo exílio. Quando, clandestinamente, regressa a Portugal, esconde-se em Soutosa. Morre-lhe a esposa. No ano seguinte reincide, envolvendo-se noutra conjura contra o Governo. É encarcerado no presídio militar de Fontelo, em Viseu. Com António Mota, consegue evadir-se serrando as grades da prisão enquanto, numa grafonola, sacolejava, altissonante, um disco... Esconde-se em plena serra e foge para Paris – terceiro exílio. Casa com D. Jerónima Dantas Machado, filha do presidente Bernardino Machado, também exilado na capital francesa. Vão residir para o Sul de França (onde, em 1930, lhe nasce o segundo filho). Entretanto, em Lisboa, condenam-no à revelia. Vive depois em Vigo e em Tui até entrar semiclandestinamente em Abravezes (Viseu). Amnistiado em 1932, vai viver para Cruz Quebrada. 
Em 1933, a sua novela As Três Mulheres de Sansão ganha o Prémio Ricardo Malheiros. Sócio-correspondente da Academia Real das Ciências em 1935, só vinte e três anos mais tarde o elegem sócio efectivo. O Brasil presta-lhe homenagem e condecora-o em 1952. Apesar das forças políticas contrárias, é um dos mais entusiastas fundadores, o primeiro presidente eleito e o sócio nº. 1 da Sociedade Portuguesa de Escritores (1956). No ano seguinte, a Livraria Bertrand inicia a edição das suas Obras Completas, que se tinham agigantado em quarenta e quatro anos de profissão literária. Publicado em 1959, o incómodo romance Quando os Lobos Uivam é apreendido e o seu autor processado. Uma amnistia abrange este processo no ano seguinte, ano em que a intelectualidade portuguesa candidata Aquilino Ribeiro ao Prémio Nobel de Literatura.
Em 1963, a Sociedade Portuguesa de Escritores, sob a presidência de Ferreira de Castro, nomeia uma comissão encarregada de festejar os cinquenta anos da publicação do seu primeiro livro " O jardim das Tormentas". Aquilino Ribeiro adoece inesperadamente no decorrer de entusiásticas homenagens, que se iniciam no Porto. Morre ao meio-dia e trinta do dia 27 de Maio, no Hospital da CUF, de Lisboa. Dificilmente se contestaria tratar-se de um dos maiores escritores do século XX, e um dos mais originais e fecundos de toda a literatura portuguesa." Fonte: Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994 e Óscar Lopes in " Introdução à Casa  Grande de Romarigães", Círculo de Leitores, 1988

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ao Domingo Há Música

Um simples pensamento

É a música, este romper do escuro.
Vem de longe, certamente doutros dias,
doutros lugares. Talvez tenha sido
a semente de um choupo, o riso
de uma criança, o pulo de um pardal.
Qualquer coisa em que ninguém
sequer reparou, que deixou de ser
para se tornar melodia. Trazida
por um vento pequeno, um sopro,
ou pouco mais, para tua alegria.
E agora demora-se, este sol materno,
fica comigo o resto dos dias.
Como o lume, ao chegar o inverno.
Eugénio de Andrade, in “ Os sulcos da sede”, Quasi Edições

Lang Lang  num encore (Etude No. 3, Op. 10 in E major de Frédéric Chopin )  em concerto com a Orquestra Filarmónica de Berlim. O virtuosismo e a mestria deste extraordinário pianista   dão a  esta obra um novo e profundo fulgor, como o lume, ao chegar o inverno.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Fazer Arte

Eliseu Visconti, Moça no trigal, 1913
Toda arte é actual
Por  Ferreira Gullar
"Peço que o leitor me desculpe se ando escrevendo demais sobre artes plásticas. É que, ligado a elas como sou, de vez em quando me pego reflectindo sobre o assunto. Foi o que ocorreu há pouco, quando visitei a exposição de Eliseu Visconti, no Museu Nacional de Belas Artes.
Estava apenas esperando uma oportunidade para ir vê-la, desde que recebi o convite para o vernissage: ele trazia a reprodução de um retrato pintado pelo artista, que sempre me fascina quando o vejo. Assim que, logo que pude, fui ao MNBA e não me arrependi. Pelo contrário, vi confirmada minha convicção de que Visconti, embora nascido na Itália, é um dos maiores pintores brasileiros.
A exposição reuniu obras do acervo do museu, da Pinacoteca do Estado de São Paulo e de colecções particulares. Embora esteja longe de ser completa, nos deu uma visão bastante ampla da obra do artista em suas diferentes fases. Nas pinturas mais antigas, do final do século XIX, ele se mostra um pintor realista, que é a fase menos interessante de sua obra.
Não por culpa sua, pois já ali se mostra um excelente pintor, pela composição, a qualidade do desenho e domínio da linguagem pictórica propriamente dita. O defeito está no carácter realista das obras. Pode ser apenas, no que me diz respeito, uma questão de gosto, mas o que ocorre é que a preocupação com a cópia fiel das figuras torna a pintura menos fascinante, ao trocar a imaginação criativa e poética pela fidelidade ao real.
A verdade é que há muitos tipos de realismo pictórico e que, também aí, pesam certas qualidades do artista. Velásquez, por exemplo, era um barroco realista e, em algumas obras, não alcançou a transcendência poética. Não é o caso, obviamente, da obra-prima "As Meninas", porque, nesse quadro, apesar do realismo das figuras, a relação espaço-tempo que ele estabeleceu ali supera a imitação realista: é que ele nos mostra, a um só tempo, as figuras que pintara, como se fossem os modelos do que ainda estaria pintando na tela, cujo avesso nos é mostrado ali.
Mas o realismo não é chato apenas nas artes plásticas; ele o é também na literatura. Pelo menos para mim, pois acho que não se faz arte para imitar a vida, e sim para inventá-la. A realidade é pouca.
Por isso mesmo, a pintura de Eliseu Visconti ganha qualidade à medida em que abandona o procedimento académico --iminentemente imitativo-- para abrir-se ao impressionismo, que em seus quadros adquire uma poética própria. Inicialmente, há uma fase de passagem do estilo realista, que busca a imitação da realidade, a uma linguagem pré-impressionista, em que, aos poucos, um uso novo da cor e da luz se manifesta.
Como se sabe, o impressionismo nasce quando o pintor deixa de pintar dentro de casa --ou no ateliê-- para pintar "à pleine aire", ou seja, à luz do dia. A relação de sombra e luz é substituída pela cor irradiante, nascida da vibração da luz solar sobre a superfície das coisas. Isso durante etapa desse movimento pictórico, porque, no final, algumas das obras de Monet (como "Nenúfares") já estão impregnadas da subjectividade simbolista.
Pois bem, a esse simbolismo se vinculará a pintura de Visconti na etapa áurea de sua obra, que se estenderá até 1944, ano de sua morte. Nesta última fase, o pontilhismo impressionista se muda em pinceladas mais amplas. Visconti é quem faz a transição, na pintura brasileira, do academicismo do final do século 19 ao modernismo, que nasce, historicamente, com Anita Malfatti na exposição que fez em 1919, em São Paulo.
Não quero terminar este registo sem mencionar uma observação que fiz, alguns anos atrás, quando reuniram obras de pintores brasileiros do modernismo e da etapa imediatamente anterior. Ali estava uma obra de Eliseu Visconti e o conhecido autorretrato de Tarsila do Amaral. Embora seja eu fã de nossa pintora modernista, não pude deixar de reconhecer a diferença de qualidade artística entre as duas obras. O quadro de Visconti ali exposto, comparado ao de Tarsila, era indiscutivelmente melhor.
Não se trata aqui de diminuir a importância de Tarsila que, naquele momento, abria um caminho novo para nossa pintura. Mas não se deve confundir o papel histórico com valor estético. Como disse Picasso, toda arte é actual."Ferreira Gullar, em Crónica publicada na Folha de S. Paulo, em 29/07/2012

Ferreira Gullar é poeta, dramaturgo, cronista, crítico de arte, ensaísta.Tem uma obra extensa e variada já galardoada com vários Prémios tais como Molière, Saci, Jabuti,Camões.Em 2002, foi também proposto ao Prémio Nobel da Literatura e integrava, neste ano de 2013 ,a Lista dos nomeados ao Prémio Correntes d’Escritas. "Uma das maiores características da obra de Ferreira Gullar é a preocupação com a realidade social aliada a uma constante busca pela renovação estética da linguagem". Durante a Ditadura foi preso. Exilado em Moscovo, Santiago, Lima e Buenos Aires foi  obrigado a viver por muito tempo na clandestinidade. Voltou ao Brasil no final da década de 70.Escreve aos Domingos na versão impressa de "Ilustrada", Folha de S.Paulo, Brasil.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um pastor rodeado de lobos


Bento XVI resigna. E depois?
por ANSELMO BORGES
"Julgo que não se consegue imaginar o peso que cai em cima de quem aceita ser Papa. Torna-se o responsável primeiro pela Igreja Católica, com 1200 milhões de fiéis. Uma Igreja vergada sob a rigidez da tradição e talvez a única instituição verdadeiramente global, portanto, confrontada com múltiplas sensibilidades, problemas e aspirações: as questões dos europeus não são as dos norte-americanos, dos sul-americanos, dos africanos, dos asiáticos, dos australianos. É uma figura de relevo mundial, com imensa influência política no mundo, mas sujeito aos seus jogos, manhas e ardis. Mesmo viajando pelo mundo inteiro, fica a viver num pequeno território, com os seus rituais seculares e rígidos. Num mundo de homens. Só, onde, quando e como contacta com a família e com os amigos? E os olhos de todos estão sobre ele. Quase sem vida privada. Monarca absoluto, mas com todos os passos vigiados. Qual é o seu poder real? O Papa João XXIII, interrogado por um estudante num Colégio universitário pontifício: "Santidade, como é sentir-se o primeiro?", terá respondido: "Está enganado. Pus-me a contá-los e eu, lá no Vaticano, devo ser o quarto ou quinto."
Bento XVI não foi sempre conservador. Ainda só professor, escreveu em 1968: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso obedecer em primeiro lugar; se for necessário, até contra o que disser a autoridade eclesiástica. O que faz falta na Igreja não são panegiristas da ordem estabelecida, mas homens que amem a Igreja mais do que a comodidade da sua própria carreira." Também escreveu que era necessário repensar a descentralização da Igreja, abrindo um debate sobre o primado papal. Opondo-se à teologia da "satisfação" que situava a Cruz "no interior de um mecanismo de direito lesado e restabelecido", rejeitou a noção de um Deus "cuja justiça inexorável teria exigido um sacrifício humano, o sacrifício do seu próprio Filho. Esta imagem, apesar de tão espalhada, não deixa de ser falsa". Defendeu, com outros grandes teólogos, a necessidade de debater a questão do celibato obrigatório.
Quando, jovem professor de Teologia, chegou ao Concílio Vaticano II como assessor do cardeal J. Frings, de Colónia, foi crítico de cinco dos sete esquemas preparatórios e foi provocador, criticando duramente a Cúria e a sua "atitude antimoderna": "A fé tem de enfrentar-se com uma nova linguagem, uma nova abertura."
Em 1968, frente à revolução de estudantes ateus de Teologia, teve medo, encontrando-se aí o ponto decisivo para a sua orientação conservadora; abandonou então a Universidade de Tubinga e o colega e amigo Hans Küng, para ir para Ratisbona. Depois, foi feito arcebispo de Munique e, mais tarde, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, condenou dezenas de teólogos.
Aceitou o papado como "humilde servidor da vinha do Senhor". Deixa uma marca num tema que lhe é caro: a exigência do diálogo entre a fé e a razão; acabou por ser duro e inequívoco contra a pedofilia na Igreja; prosseguiu, embora timidamente, o diálogo com as confissões cristãs e as diferentes religiões, em ordem à paz; condenou sistematicamente a ditadura financeira sem regulação.
Percebeu que não controlava a Cúria, mergulhada em escândalos de corrupção e intrigas, até ao Vatileaks. Foi admoestando cardeais para "renunciarem ao estilo mundano de poder e glória", e dizendo que lhe coubera viver o pontificado de "um pastor rodeado de lobos". Queixava-se: "Os javalis entraram na vinha do Senhor." O cardeal W. Kasper foi advertindo que Bento XVI andava "muito triste" com o péssimo clima no Vaticano.
Fragilizado, sentindo-se sem forças no corpo e no espírito, anunciou que resigna no próximo dia 28, às 20.00 (19.00 em Lisboa e Funchal). Um gesto de inteligência, honestidade e humildade, que fica para a História, pois quebra um tabu e mostra que o Papa é tão-só um servidor da Igreja e do mundo, continuando humano, também com as suas debilidades. Depois, retira-se para um convento, para rezar, meditar, tocar e ouvir música, escrever, mantendo o apagamento. Os cardeais elegerão um novo Papa. Talvez europeu ou latino-americano.” Anselmo Borges, em Artigo de Opinião publicado no DN de 16/02/2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Poesia de Hélia Correia vence Prémio Correntes d'Escritas



“A escritora Hélia Correia venceu hoje o prémio literário Correntes d'Escritas/ Casino da Póvoa com o livro de poesia "A Terceira Miséria", editada pela Relógio d' Água.
Na cerimónia, esta manhã, Hélia Correia disse que gostava que "A Terceira Miséria", uma homenagem à Grécia como berço civilizacional, funcionasse como o grito das canções de José Mário Branco "para o povo alevantar-se".
O prémio foi atribuído por unanimidade pelo júri do concurso, composto por Carlos Vaz Marques, Almeida Faria, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis (que não esteve presente na reunião final do júri realizada na quarta-feira, mas enviou o seu voto). 
Nascida em Lisboa, Hélia Correia – que esta semana tinha já sido distinguida com o Prémio Vergílio Ferreira pela Universidade de Évora, pelo conjunto da sua obra – é formada em Filologia Românica e foi professora do ensino secundário. É escritora, poeta e dramaturga, com uma obra que começou a chamar a atenção no início da década de 80, com a edição de O Separar das Águas (1981). A Casa Eterna (Prémio Máxima de Literatura, 2000), Lillias Fraser (Prémio de Ficção do Pen Club, 2001, e Prémio D. Dinis, 2002), Bastardia (Prémio Máxima de Literatura, 2006) e Adoecer (Prémio da Fundação Inês de Castro, 2010) são alguns títulos da sua vasta bibliografia.”DN Artes e Público

Corrente d'Escritas


“Mais de 50 escritores reúnem-se, a partir de hoje, na Póvoa de Varzim, para falar de literatura, na 14. edição das Correntes d'Escritas, o maior encontro de autores de expressão ibérica.
Até sábado, temas como "Mentem-nos tanto os mitos", "Só o que não se sabe é poesia" e "Desse país arranquei todos os cravos" juntarão, em sete mesas de debate, autores como Rubens Figueiredo e Andréa del Fuego (Brasil), Ignacio Martínez de Pisón (Espanha), Luís Cardoso (Timor-Leste), Hélia Correia, Afonso Cruz, Maria Teresa Horta, Mário Zambujal e Vasco Graça Moura, entre muitos outros.
Na sessão de abertura oficial do encontro, marcada para as 11:00, no Casino da Póvoa de Varzim, serão anunciados os vencedores dos prémios Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, Correntes d'Escritas/Papelaria Locus, atribuído a autores com idade entre 15 e 18 anos, Conto Infantil Ilustrado Correntes d'Escritas/Porto Editora e Correntes d'Escritas/Fundação Dr. Luís Rainha.
À tarde, no auditório municipal, caberá ao neurocirurgião João Lobo Antunes proferir a conferência de abertura do encontro, subordinada ao tema "Não fazem mal as musas...".
Além de habitualmente esgotar o auditório municipal de 310 lugares, ao longo dos três dias em que decorre, o encontro, uma iniciativa da Câmara da Póvoa de Varzim lançada em 2000, costuma promover visitas dos escritores a escolas básicas e secundárias do concelho, iniciativa que se repetirá este ano, na quinta e na sexta-feira.
Haverá ainda, além do lançamento de 16 livros, a inauguração de duas exposições, várias sessões de poesia, a apresentação do número 12 da revista Correntes d'Escritas, dedicada a Urbano Tavares Rodrigues, e a habitual Feira do Livro, até sábado, ao lado do auditório, na Casa da Juventude, onde estarão à venda as obras dos autores presentes nesta 14. edição.
A encerrar o encontro, no sábado, ao fim da tarde, serão recordados dois poetas falecidos em 2012: o português Manuel António Pina e o brasileiro Lêdo Ivo.”SIC

Memória

Género
"A memória é o género que se atreve a dizer o seu próprio nome. A biografia diz-nos : " És o que foste." O romance diz-nos: " És  o que imaginas. " A confissão diz-nos : " És o que fizeste. " Mas biografia, confissão  ou romance requerem  memória, pois a memória, diz Shakespeare  é a guardiã da mente. Uma guardiã  diria eu, que se radica no presente para olhar com uma face o passado e com a outra o futuro. A busca do tempo perdido também é , fatalmente, a busca do tempo desejado. Hoje, no presente deste ano terceiro do segundo milénio depois de Jesus , Gabriel Garcia Márquez rememora. Aos que um dia  lhe dirão : " Foste isto" , " Fizeste isto ", ou " Imaginaste isto", Gabo adianta-se e diz simplesmente. Sou, serei, imaginei. Recordo isto." Carlos Fuentes, in " Gabo Memórias da Memória"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A voz exacta


Sítio Exacto
Sei que não acaba
o teu prazer,
nem o meu.

Alguém
ama connosco
e nos leva
ao sítio exacto
das estações.

Nem o sono
depois nos pertence,
quinhão de outros
herdado após amarem.
António Osório, “O Lugar do Amor'”, in “A Luz Fraterna”, Ed. Assírio &Alvim

Na luz a prumo
Se as mãos pudessem (as tuas,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos, e as minhas,
pudesse entrar no azul, qualquer
azul: o do mar,
o do céu, o da rasteirinha canção
de água corrente. E com elas subisse.
(A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama. Quase.
Eugénio de Andrade,in “ Os sulcos da sede”, Quasi Edições

... E UMA CANÇÃO DESESPERADA      
...não totalmente,
mas no inveterado fingimento
que o adjectivo tem.
E de inverno em inverno,
à reticência azul do teu sorriso
todos os dias             
desço
Queria da vida:
um pêlo de gigante
que te fizesse enorme e te falasse
junto a voz
falada
Os meus dedos tocando
o teu sorriso,
que, de inverno em inverno,
é nave espacial
emergindo do gelo
para o sol
E eu ficar por ali: tão encostada
ao verso,
carregada de luz
e de outras coisas:
trabalhos a fazer, ritmos lentos
Sem grandes construções,
sem grandes falas,
mas de um pêlo solene de dragão,
e dentro da palavra que é imposta
por esta noite morna,
que me ajuda a compor-te,
que me ajuda de facto
a desesperar:
uma canção de amor.
Descer o teu sorriso e aterrar
em planeta diferente,
onde outras flores com outro nome
nascem,
e as estações são vinte, ou mais
- sensivelmente.
Ana Luísa Amaral, in “Imagias”, Lisboa, Gótica, 2002

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Lisboa por José Cardoso Pires

Lisboa vista do rio Tejo
"Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não  me admiro sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até  a brisa que corre me sabe  a sal.  Há ondas de  mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras , há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão;  um pouco atrás , está um rei-menino montado  num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.
(...)" Se fosse Deus parava o sol sobre Lisboa ", escreveu Fernando Assis Pacheco num poema tonto de luz ( a tão citada luz  sempre imprevista). De acordo, mas uma cidade de caprichos como esta nunca o sol a pode iluminar por igual. Tem de se lhe afeiçoar aos contornos e aos instintos desordenados, à sua placidez  aqui, ao burburinho dos bairros velhos  acolá, e é com esses desvelos que ele lhe dá cor singular.
Terreiro do Paço , estátua de D. José e Arco da Rua Augusta
Cor. De Lisboa é caso para dizer que até os daltónicos lhe discutem a cor. Veja  lá , de preferência o ocre pombalino, recomenda um byroniano de passagem. O verde, o verde, contrapõe alguém logo a seguir, com os olhos no Terreiro do Paço, " até o cavalo de D. José  vai ficando verde , comido de mar", já lá dizia Cecília Meireles. Ou o branco , o branco lembra espumas de oceano, cal de muros, Mediterrâneo, " sente-se uma nostalgia branca...", escreveu Mary McCarthy numa Carta de Portugal e Alain Tanner, cineasta civilizado, não esteve com mais aquelas e chamou a isto Cidade Branca.
Cidade Branca, que cegueira a deste Tanner lumière. É cor , o branco do filme dele ou é metáfora? Interroga as impetuosidades duma luz que no mesmo lugar, no mesmo instante e na mesma cor nunca se repete? Pergunto.
Largo de Camões de Abel Manta, (1888-1982)
Por essas e por outras é que a cor da nossa cidade é tão difícil aos pintores. Descobrimo-la por vezes nos desenhos aguarelados de Bernardo Marques, sim, um pouco; ou na suavidade ingénua de Carlos Botelho. Está naquele entardecer quase soturno do " Largo de Camões" de Abel Manta, na " Rua Augusta à Noite" dum modestissimo académico como José Contente ou na descrição do " Alto de Santa Catarina" por João Abel , aí sem dúvida. Podemos vê-la em azul na versão de Vieira da Silva como já a tínhamos visto  num célebre azulejo do século XVIII, mas em Vieira da Siva , Lisboa  é uma memória que lhe ficou no coração porque , mesmo noutros temas bem distantes , muitos dos seus discursos cromáticos são ecos dos azulejos lisboetas na luz e na composição.
(...) " « Noutros tempos , longos tempos , havia uma sereia em Lisboa, uma sereia...» Conheço uns versos de Robert Desnos que começam desta maneira mas é melhor ficar por aqui porque o Tejo não é de fábula nem de poema e corre sem nostalgias. E Lisboa a mesma coisa, disso podemos estar nós bem seguros. Só que, com o saber dos séculos e os sinais de muito mundo que a perfazem, sugere várias leituras, e daí que a cada visitante sua Lisboa, como tantas vezes se ouve dizer.
Grande panorama de Lisboa, a cidade das sete colinas e das mil Igrejas, Sec.XVII
Daí também que nós , os que somos dela, lhe estejamos tão errantes na paixão. Um dia pode acontecer que, sentados como agora sobre o rio , a tentemos ler pela voz dos outros e então ainda nos sentiremos mais errantes, mais incertos. Entre uma Lisboa de Tirso de Molina, saudada como "a oitava maravilha " e a Lisboa que Fielding, o genial , amaldiçoou como um pesadelo leproso, correm águas insondáveis. Beckford viveu-a em palácio, Sade inventou-a num cárcere de rancores. " Lisboa oferece uma apreciável variedade de escolhas para um nobre suicídio", escreveu um dos grandes narradores dela, António Tabuchhi. Vozes , tudo vozes. Olhares. Memorações.
Quando por fim fechamos a página onde líamos a cidade, descobrimos que a vidraça do café  está toldada por uma dança de gaivotas em turbilhão e que não há Tejo. Que desapareceu por detrás de uma desordem  de asas e já não é prenúncio de oceano.
Então, ternamente , confiadamente, reconhecemo-nos ainda mais ancorados  à cidade que nos viu partir." José Cardoso Pires, in " Lisboa, Livro de Bordo, vozes, olhares memorações", Publicações Dom Quixote,1997
Sobre o Livro, nas palavras do autor: Este livro foi um ajuste de contas comigo mesmo para com uma cidade que eu me fartei de ver, e vejo sempre interpretada de uma maneira um bocado convencional e que eu vejo de uma maneira muito diferente.(...) É uma Lisboa que tenho na memória.(…)Neste livro quis fazer outra coisa: uma espécie de levantamento que desse, com toda a sinceridade, o modo como sinto Lisboa. E é aí que o livro me parece muito diferente da Lisboa convencional do Tejo que é bonito, etc. Há ainda muitas coisas que faltam e que espero trabalhar numa próxima edição: a sintaxe lisboeta. Está abordada, mas não aprofundada. E os cheiros... (…)Quis uma coisa leve, não exaustiva. Chamar a atenção para o lado artístico de Lisboa e para o humor de Lisboa. Um tipo só gosta de uma cidade - e é isso que eu pretendia que se sentisse neste meu livro- quando é cúmplice dela. Interrogar a cidade é fácil, isso qualquer turista faz. Mas um tipo só está a viver numa cidade quando se sente interrogado por ela: "O que é que tu tens a ver comigo?", "Porque é que tu estás aqui?", "Como é que tu te adaptas?", "Porque é que tu não te entendes?" Paris, por exemplo, não me interroga, despreza-me. Enquanto que nas cidades de que gosto (Londres, Rio de Janeiro, Barcelona, Praga), sinto-me interrogado. Em toda a parte há bocados de mim.”            
Sobre o autor:
José Augusto Neves Cardoso Pires nasceu no dia 2 de Outubro de 1925 em São João do Peso, Vila de Rei, Castelo Branco, mas veio para Lisboa com poucos meses de idade. Lisboa era a cidade  que conhecia profundamente e pela qual tinha um fascínio muito grande. O seu primeiro livro foi publicado em 1949 e o último em 1997. Considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX, deixou-nos uma extensa , extraordinária e premiada obra que se reparte por diversos géneros literários. Viveu intensamente  e soube traduzir essa vivência na escrita, mesmo as experiências trágicas como aquela em que   sofreu um acidente vascular-cerebral ( 1995) e entrou em coma. Dessa passagem  escreveu "De Profundis, Valsa Lenta" (1997) que é apresentado pelo autor como uma “viagem à desmemória”. É a única narrativa da sua obra que pode ser considerada autobiográfica.
Em 1997, ganha o Prémio Pessoa, Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus e Prémio da Crítica da Associação Internacional de Críticos Literários (AICA).
Em Julho de 1998  é internado após novo acidente vascular cerebral. Entra em coma e não mais saiu, vindo a falecer em 26 de Outubro de 1998. A Associação Portuguesa de Escritores (APE) atribui-lhe o Prémio Vida Literária, que foi  entregue à mulher do escritor a 23 de Setembro. 
Eduardo Lourenço define-o como :«Homem, nem de certezas nem de incertezas, nem olímpico nem angustiado, o autor de "O Delfim" investiu-se, como uma espécie de predestinação, no papel de detective por conta própria, apostado na descoberta de enigmas ou crimes, secularmente sepultados, sob o espesso silêncio português, raiz e matriz do tempo sonâmbulo (a frase é dele) que lhe coube viver. Viver e reviver em contos e romances inseparavelmente realistas e alegóricos, onde em quem os ler respirará um pouco aquele ar refeito de um passado português que foi o da sua geração e, eminentemente, o seu.» (Público, 27/10/98)
E Urbano Tavares Rodrigues acrescenta:«José Cardoso Pires foi sem dúvida uma figura cimeira entre os melhores escritores portugueses do seu tempo. A sua linguagem é muito depurada, de um grande rigor, por vezes com conotações bem pessoais e intensamente sugestivas.» (Público, 28/10/98)
OBRAS DE JOSÉ CARDOSO PIRES
CONTOS
1949-Os Caminheiros e Outros Contos,1952-Histórias de Amor,1960-Cartilha do Marialva,1963-Jogos de Azar
1972-Dinossauro Excelentíssimo (fábula),1979-O Burro-em-Pé,1988-A República dos Corvos
ROMANCES
1958-O Anjo Ancorado,1963-O Hóspede de Job,1968-O Delfim,1982-Balada da Praia dos Cães,1987-Alexandra Alpha
TEATRO
1960-O Render dos Heróis,1980-Corpo Delito na Sala de Espelhos
CRÓNICAS, ENSAIOS E OUTROS TEXTOS
1977-E Agora, José?,1994-A Cavalo no Diabo1997-De Profundis-Valsa Lenta1997-Lisboa, Livro de Bordo
PRÉMIOS RECEBIDOS
1963-Prémio Camilo Castelo Branco: O Hóspede de Job-1982-Grande Prémio de Romance e Novela da APE: A Balada da Praia dos Cães-1988-Prémio Especial da Associação de Críticos do Brasil:Alexandra Alpha
1991-Prémio Internacional União Latina-1997-Prémio Pessoa-1997-Prémio D.Dinis: De Profundis, Valsa Lenta
1998-Prémio Vida Literária da APE
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