sábado, 13 de outubro de 2012

O Dinheiro


O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
.........................Tlim!
.........................Papo.

E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
.........................Tlim!
.........................Pronta.


Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
.........................Tlim!
.........................Ora...


Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
...........................(Tlim!)
...........................Pois não!
João de Deus, in "Campo de Flores" , Livraria Bertrand

1 comentário:

  1. Eis um epigrama de João de Deus, que está sempre actual!...
    É que o "demo" continua a ter cá.... aquela "lábia", que serão poucos os que lhe resistem!
    ... "Em chegando à outra vida, logo escrevo!"...
    ... Continuamos à espera da tua carta, João!

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