quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A leitora


 
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em
arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as
sílabas da sombra.

Ela adere à matéria porosa, à madeira do
vento.
Desce pelos bosques como uma menina
 descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se
 eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das
formas,

branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se
inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de
tremer.

António Ramos Rosa, in “Volante Verde”, Círculo de Poesia, Nova Série, Moraes Editores

2 comentários:

  1. António Ramos Rosa, poeta maior... Entre nós.
    ..."um pássaro suspenso. A Terra ergue inteira"...
    Perante um poeta, ergamo-nos, como destinos da sua mensagem!

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  2. A pintura...
    Raparigas retratadas por pintores impressionistas... Renoir!?... Monet!?... Outros?!...

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