domingo, 30 de setembro de 2012

Ao Domingo Há Música

“Depois do silêncio, aquilo que mais aproximadamente exprime o inexprimível é a música." Aldous Huxley

"Deep Peace" de Bill Douglas, baseado numa oração irlandesa, é um excelente fundo musical   para uns momentos de repouso, neste último Domingo de Setembro.   



sábado, 29 de setembro de 2012

A bicicleta pela lua dentro


A bicicleta pela lua dentro — mãe, mãe —
ouvi dizer toda a neve.
As árvores crescem nos satélites.
Que hei-de fazer senão sonhar
ao contrário quando novembro empunha —
mãe, mãe — as telhas dos seus frutos?
As nuvens, aviões, mercúrio.
Novembro — mãe — com as suas praças
descascadas.

A neve sobre os frutos — filho, filho.
Janeiro com outono sonha então.
Canta nesse espanto — meu filho — os satélites
sonham pela lua dentro na sua bicicleta.
Ouvi dizer novembro.
As praças estão resplendentes.
As grandes letras descascadas: é novo o alfabeto.
Aviões passam no teu nome —
minha mãe, minha máquina —
mercúrio (ouvi dizer) está cheio de neve.

Avança, memória, com a tua bicicleta.
Sonhando, as árvores crescem ao contrário.
Apresento-te novembro: avião
limpo como um alfabeto. E as praças
dão a sua neve descascada.
Mãe, mãe — como janeiro resplende
nos satélites. Filho — é a tua memória.

E as letras estão em ti, abertas
pela neve dentro. Como árvores, aviões
sonham ao contrário.
As estátuas, de polvos na cabeça,
florescem com mercúrio.
Mãe — é o teu enxofre do mês de novembro,
é a neve avançando na sua bicicleta.

O alfabeto, a lua.

Começo a lembrar-me: eu peguei na paisagem.
Era pesada, ao colo, cheia de neve.
la dizendo o teu nome de janeiro.
Enxofre — mãe — era o teu nome.
As letras cresciam em torno da terra,
as telhas vergavam ao peso
do que me lembro. Começo a lembrar-me:
era o atum negro do teu nome,
nos meus braços como neve de janeiro.

Novembro — meu filho — quando se atira a flecha,
e as praças se descascam,
e os satélites avançam,
e na lua floresce o enxofre. Pegaste na paisagem
(eu vi): era pesada.
O meu nome, o alfabeto, enchia-a de laranjas.
Laranjas de pedra — mãe. Resplendentes,
as estátuas negras no teu nome,
no meu colo.

Era a neve que nunca mais acabava.

Começo a lembrar-me: a bicicleta
vergava ao peso desse grande atum negro.
A praça descascava-se.
E eis o teu nome resplendente com as letras
ao contrário sonhando
dentro de mim sem nunca mais acabar.
Eu vi. Os aviões abriam-se quando a lua
batia pelo ar fora.
Falávamos baixo. Os teus braços estavam cheios
do meu nome negro, e nunca mais
acabava de nevar.

Era Novembro.

Janeiro: começo a lembrar me.
O mercúrio crescendo com toda a força em volta
da terra. Mãe — se morreste, porque fazes
tanta força com os pés contra o teu nome,
no meu colo?
Eu ia lembrar-me os satélites todos
resplendentes na praça. Era a neve.
Era o tempo descascado
sonhando com tanto peso no meu colo.
Ó mãe, atum negro —
ao contrário, ao contrário com tanta força.

Era tudo uma máquina com as letras
lá dentro. E eu vinha cantando
com a minha paisagem negra pela neve.
E isso não acabava nunca mais pelo tempo
fora. Começo a lembrar-me.
Esqueci-te as barbatanas, teus olhos
de peixe, tua coluna
vertebral de peixe, tuas escamas. E vinha
cantando na neve que nunca mais
acabava.

O teu nome negro com tanta força —
minha mãe.
Os satélites e as praças. E novembro
avançando em janeiro com seus frutos
destelhados ao colo. As
estátuas, e eu sonhando, sonhando.
Ao contrário tão morta — minha mãe —
com tanta força, e nunca

— mãe — nunca mais acabava pelo tempo fora.
Herberto Helder, in “Poesia Toda”, Ed. Assírio & Alvim,1998

As rochas de Marte

Rochas encontradas em Marte e as similares terrestres 
«Curiosity encontra pedras moldadas por correntes de águaInvestigadores estudaram as imagens do interior da cratera Gale.
Rochas moldadas por correntes de água que existiram à superfície de Marte foram encontradas, pela primeira vez, pelo rover Curiosity, da NASA. Missões anteriores ao 'Planeta Vermelho' tinham já detectado fortes indícios da presença de água, mas só agora se encontraram este tipo de evidências.
Os tamanhos e formas das pedras dão pistas sobre a velocidade a que a água fluía à superfície e também sobre a sua profundidade.

Tendo em conta o tamanho das pedras, podemos dizer que a água se movia a 0,9 metros por segundo. A profundidade podia ser até aos tornozelos de uma pessoa ou mesmo até à anca”, explicou William Dietrich, da Universidade de Califórnia em Berkeley, um dos investigadores principais da missão.
Para obterem esses resultados, os investigadores estudaram as imagens que o Curiosity fez das rochas do interior da cratera Gale. Foram utilizadas fotografias tiradas nos afloramentos rochosos Link e Hottah, situados na base da parede da cratera (que tem mais de 5 mil metros de altitude).
Especula-se muito e há várias teorias sobre os canais de Marte. Esta é a primeira vez que realmente vimos pedras que foram transportadas por água. Já não estamos a especular sobre os sedimentos, estamos sim a observá-los directamente”, diz o investigador.
Os cientistas não conseguem precisar a idade exacta das rochas nem quando estes riachos correram, mas“terão vários milhares de milhões de anos”, indica John Grotzinger, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
O Curiosity está em Marte para estudar o potencial de habitabilidade do planeta. Um rio de grandes dimensões poderia proporcionar um ambiente habitável. “Ainda que esta não seja a zona em que mais apostávamos para detectar material orgânico, acredito que já encontrámos o primeiro sítio potencialmente habitável”».2012-09-28, in " CiênciaHoje"

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

As mãos


Crónica das mãos
Por António Lobo Antunes
"Os gestos, isto é os actos dos mais elementares aos que exigem precisão, faço com a esquerda. A direita é a dos livros. Só para os livros.
Estou aqui sentado à mesa, com papel e esferográfica, à espera que a crónica chegue e não há maneira de chegar(a maior parte das vezes é assim, demora imenso tempo a decidir-se)
e, de repente, reparo nas minhas mãos. Não são grande coisa, coitadas. Quase tão feias como as de Chopin, que eu imaginava etéreas, de dedos como chamas de círios de igreja quando o guarda-vento se abre e elas se inclinam, a fugirem da corrente de ar, e fiquei de boca aberta ao ver-lhes o molde em gesso.Mesmo assim comovi-me, quer dizer tocaram-me imensos sininhos corpo fora e fiquei para ali a olhá-las, a olhá-las, sentido Chopin todo cá dentro. O compositor favorito de Gide. Tanto sofrimento naquele polaco. E tão humanas aquelas mãos, tão vivas. Bom, reparei nas minhas mãos, reparo agora à medida que escrevo, uma com a caneta, a outra com o cigarro, e espanta-me que se mexam sem ajuda, indiferentes a mim. Eu sou canhoto, faço com a esquerda as coisas mais difíceis mas, a partir de certa altura, passei a usar a direita para desenhar palavras. A caligrafia delas é completamente diferente uma da outra e, o mais curioso, a maneira de ser também. Durante anos e anos, até aos vinte e tal, escrevia sempre com a esquerda e o que saía não me agradava: vários livros inteiros para o lixo. Farto daquilo zanguei-me com ela, passei a caneta para o lado oposto e apareceu-me a Memória de Elefante. Era o que eu procurava, ou seja o embrião do que eu procurava. Estava já tudo ali e, de uma forma totalmente desapaixonada, dei conta que, se desenvolvesse o material, teria o que pretendia ter, através de pacientes conquistas sucessivas. Tirando isso a mão direita para pouco mais serve. Os gestos, isto é os actos dos mais elementares aos que exigem precisão, faço com a esquerda. A direita é a dos livros. Só para os livros. Por exemplo no hospital, as receitas, as histórias clínicas, as ajudas nas cirurgias, as palpações, sei lá, tudo pertencia à esquerda. A outra apenas a encaixava no braço para riscar papel. E assim tem sido até hoje, assim continuará a ser. Mas agora estou a observá-las e a dar-me conta que nos conhecemos mal. Volto-as de uma banda, da outra, encolho e estico os dedos, palpo-as, noto as articulações, os ossos, as veias. Coisa esquisita, as mãos. As minhas pelo menos. A direita está cheia dos calos da caneta: no médio, na ponta do indicador, na ponta do polegar, numa prega da palma em consequência de um quisto sinovial que lhe torceu as linhas por causa da posição do anelar e do mínimo quando trabalho. A colega não tem nada disso: esforçando-se para ser estúpida debitaria as palermices sobre Literatura que se publicam nos jornais e nas revistas do nosso País. Curioso como a ignorância e a pretensão andam a par. Mudei, durante a última frase, a caneta para a esquerda, por uma questão de higiene, já estou na direita outra vez. Olha, tem sardas e os dedos um bocadinho tortos do ofício de escrever. As mãos de Chopin. Quietas, de gesso, e no entanto
e no entanto nada, aí estou eu comovido. Porque carga de água os artistas me comovem tanto? Porque carga de água me indigna a sua morte? Sinto-os por aí, à minha volta: músicos, pintores, escritores, cantores, bailarinos. A mão de Liszt, a mão de Delacroix, a mão de Gontcharov, etc. Se me poisassem no ombro, que alegria. Mão morta, mão morta, vai bater àquela porta. O meu irmão Nuno contou ontem que um doente dele, um menino com autismo, foi passar uns dias às termas com os pais. As termas estão cheias de velhos em cadeiras. Vai daí o menino chegava ao pé deles e perguntava
- Vais morrer hoje?
esta pergunta extraordinária trouxe-me à cabeça que, em criança, me interrogava numa espiral de aflição
- Terei morrido?
e espiava as mãos para ter a certeza. Mexer mexiam-se, mas o que é que isso provava? Nunca tinha visto um morto a não ser nos retratos, a começar pelo irmão do meu pai, que morreu bebé, e não imaginava o que fosse. Se calhar os mortos mexem as mãos, pensava eu, se calhar os mortos mexem as mãos, se calhar são eles quem anda no corredor à noite, antes de se acenderem as luzes. Com a luz acesa escondem-se, claro, por qualquer motivo que eu não entendia detestam o escuro e admirava a coragem dos meus pais por serem capazes de andar no meio deles sem medo que os comessem porque, como toda a gente sabe, os mortos pelam-se por comer os vivos. As minhas mãos mexiam-se, sou capaz de ainda estar vivo. Às vezes via gatos mortos na berma das estradas mas isso eram gatos, não eram pessoas. Uma ocasião atrevi-me
- Estou vivo?
responderam-me
- Que pergunta mais parva
e como
- Que pergunta mais parva
não é sim nem não fiquei indeciso. Fui estudar-me no espelho e estava lá, passei as mãos na cara e, com a cara no espelho cheia de dedos, comecei a acreditar que talvez. Para tirar a prova dei, com toda a força, uma palmada no meu próprio rabo e doeu-me. Como continua a doer se me baterem estou vivo. E os dedos obedeciam todos, as mãos igualmente. Resolvi fazer um soneto para comemorar. Tinha aprendido nos Almanaques Bertrand dos meus avós, cheios de sonetos de senhoras veementes. Os sonetos eram perfeitos e, para mim, estupendos, aos meus faltava-lhes um bocado no caminho da perfeição, os versos saíam com tamanhos diferentes mas tudo aquilo rimava que era uma beleza. Com a mão esquerda, é lógico, a direita a pensar noutra coisa. Ainda hoje acho que os fazedores de antologias deviam pescar para a imortalidade aquelas maravilhas. As das senhoras, claro, não as minhas, tinha consciência que para o génio me faltava ser crescido, ter mais experiência de vida, doze anos por exemplo. Provavelmente a mão direita não estava de acordo comigo mas o que interessa o julgamento da mão? Olhem para ela: não é grande coisa, coitada. Acabou esta crónica mesmo agora. E, se bem a conheço, vai passar uma meia hora ou isso a olhar para o tecto, uma das suas actividades favoritas. É o que te apetece, não é? Olha para o tecto então que eu fico a sonhar com as poetisas do Almanaque Bertrand, cheias de andorinhas e estrelas. Qual Chopin! O que me calhava agora era um soneto desses almanaques a desfazerem-se, assinado Viúva Solitária."
Crónica de António Lobo Antunes publicada na Revista Visão em 14/09/2012

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O vento


O essencial é ter o vento

O essencial é ter o vento.
Compra-o; compra-o depressa,
A qualquer preço.
Dá por ele um princípio, uma ideia,
Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia
Dos teus melhores amigos, mas compra-o.
Outros, menos sagazes
E mais convencionais,
Te dirão que o preciso, o urgente,
É ser o jogador mais influente
Dum trust de petróleo ou de carvão.
Eu não:
O essencial é ter o vento.
E agora que o Outono se insinua
No cadáver das folhas
Que atapeta a rua
E o grande vento afina a voz
Para requiem do Verão,
A baixa é certa.
Compra-o; mas compra-o todo,
De modo
Que não fique sopro ou brisa
Nas mãos de um concorrente
Incompetente.
Reinaldo Ferreira, in “ Poemas”, livro editado em Lourenço Marques  pela Imprensa Nacional de Moçambique, em 1960

Ao  Vento
O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amor,
A tua voz tortura toda a gente! ...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim ! ... Ó vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
e a gente andar a rir pla vida fora!! ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas" - " Sonetos", Bertrand Editora, 1978


Estou vivo mas quero viver

Estou vivo
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Por que é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso que nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento
António Ramos Rosa, in “ Deambulações Oblíquas”, Ed. Quetzal

As minhas cidades


"A CIDADE DO CANAL
                              11 de Outubro de 1951
Prometi uma vez retratar as sete cidades ou burgos em que vivi por mais tempo, e afinal não passei de umas duas. Tendo começado pela terra onde nasci, esqueci-me por lá em minudências saudosas.
Os naturais dos sítios são como os criminosos: voltam ao lugar do delito. Não que eu subscreva àquilo do poeta que diz, que «sempre o pior mal é ter nascido». O mal ou a culpa de Adão remiu-a Cristo com sangue – e Ele próprio se lustrou nas águas do baptismo, ainda que o Santo Espírito o tenha gerado sem mácula. Fora disso, não há mal algum em cá vir. Se o mal existe independente da consciência que o apreende e do coração que lhe dá campo, tal como o bem impassível, os homens de carne e osso os vivem e padecem – pois que o bem-proceder nasce de paixão levantada. Sem suor do rosto, sem alento e outros sinais de existência, como queixar-nos da vida? Isto de Mundo é irrecusável. Só há perdão para a repulsa do Mundo no anelo da Santa Cidade.
Ora, as minhas cidades não seriam santas, decerto, – que nem Jerusalém nem Roma me couberam, – mas eram as melhores que dar-se podiam a um vivo desenraizado. O mais importante nas memórias de homem um pouco peregrino é esse ponto dorido que o coração acusa quando se lembra do transplante. Partir, arrancar de um lugar, é pagar o preço da viagem, que sempre nos sai da pele. Morei em terras estranhas por largos lapsos de tempo e, apesar de as deixar para voltar às nossas, estremecia sempre. Vamo-nos semeando pelo mundo como um punhado de trigo que só numa única leira daria seara que se visse. E estes semeadores salteados, custa-lhes muito a ceifar... «Terra quanta vejas» – é o lema do morar e possuir.
Os pés de barro que tornam o recordar vulnerável são o «eu fiz», «eu aconteci», forçosos na recordação. Mas já me desenganei; – pois, como oficial de escrever e de falar, tenho de me agarrar ao pronome antipático e ostensivo: «eu», «eu» a torto e a direito... Como o bom carpinteiro não larga a plaina da mão, o escritor, mais que a pena ou o teclado da máquina de escrever, não pode largar o «eu». «Que me arrancan mi yo!» gostava Unanumo de gritar, creio que com Michelet. A primeira pessoa do plural, aliás, também não fica bem a quem não apascente ovelhas de redil humano. Oh ! o emprego dos pronomes: a eterna história de O Velho, o Rapaz e o Burro...
Mas dizia eu que o arranque do sítio onde vivemos resume o pó da jornada, fá-lo tragado e sufocante como nenhuma outra curva do caminho. Lembro as pequenas torres das igrejas e da Câmara da Praia, na ilha Terceira, que, deixadas ao alto da Boa Vista, me pareciam sepultar nos seus alicerces de tufo as casas dos meus e dos vizinhos, a escola, as ruas do trânsito e da gandaia, o cais e o areal dos sonhos. Eu chegava a Angra e, pouco a pouco, outras torres, – maiores e tão duramente históricas, que duas delas, as da igreja do Castelo, campeavam entre torreões que haviam sido estrangeiros, assestando bocas de fogo sobre os naturais da ilha inermes, – começavam a organizar em torno de mim a intimidade, a confiança, e dali a bem pouco o apego. Alguns anos bastaram para me naturalizar ali. E confesso até, que, apesar de ter feito o meu transplante num palmo redondo de ilha, nunca uma aclimação me custou mais do que essa.
As raízes então violentadas eram as mais tenazes, as primeiras. Depois, lentamente, a planta humana vai-se acostumando a que o destino, que é jardineiro, a «disponha», – e acaba por ter o seu sistema de implante como que em estado de alarme. Umas gotas de água de rega chegam para lhe tornar algum viço.
Mas dói, custa sempre... Recordo-me mesmo de que a minha segunda transplantação, a de uma ilha para outra, foi que me deu o tema para reviver a terceira, – então já um salto grave, quase transoceânico, das ilhas para estas nossas portuguesas paragens, a que nós, os ilhéus, chamamos «o Continente», de um ponto de vista telúrico que deve ter seu sentido em etnopsicologia. E é curioso que a evocação da largada decisiva tenha surgido noutro transe crucial de filho pródigo: a minha primeira fixação no estrangeiro.
A sempre-mesma visão da terra deixada, em panorama, parecia levar, com o apartamento, a carne do saudoso aderida ! Era outra vez toda a planta arrancada que se retraía e sentia murchar pouco a pouco. Algo assim como estas modestas largadas deve ser o passo do rio de Caronte. A uma perspectiva negra, de eclipse e de fim de mundo, sucederá, mediante a transição adequada, a adesão gradual à perspectiva nova que nos vai convidando e absorvendo. Não custa estar... ser objecto de censo demográfico, de recolher e de alvorada, de almoço, de sesta e ceia. O que dói é tornarmo-nos de repente sujeitos do mundo concluso e ausente, juízes na própria causa subitamente processada ali diante de nós... naquelas casas do amor e do hábito que fogem... que se aninham ao longe e é em nós que se comprimem.”
Vitorino Nemésio, in    "Corsário das Ilhas, ( capítulo X) ", Bertrand, 1956

 "A biografia de Nemésio é bastante o percurso da sua obra, da ficção, das crónicas, principalmente da poesia
A propósito de António Nobre, Nemésio escreveu que a biografia é "uma velha ciência que raro se deu por tal" e que o que lhe dá valor não é o somatório dos factos mas a verdade universal a partir da exemplaridade pessoal. Eis um bom pressuposto para percorrer a vida de Nemésio, açoriano da Terceira, nascido a 19 de Dezembro de 1901, nas vésperas da República e da I Guerra, e projectado a um plano europeu de Prémio Montaigne (1974), professor universitário, romanista, romancista, poeta (poeta de tudo - se considerou), ensaísta, conferencista, homem de rádio e, no fim da vida, de televisão.Instaladíssimo no continente desde que entrou na universidade, o açoriano Nemésio só voltará às suas ilhas em duas viagens, a que chamará "corsos" e relatará depois num volume chamado "Corsário das Ilhas". O "primeiro corso" passa-se em 1946, já Nemésio tinha escrito o "Mau Tempo no Canal". Antes de partir, no navio da Insulana que era o transporte da época, Nemésio está objectivamente "perturbado com os seus fantasmas de infância", como assinala Machado Pires no prefácio. "Oh, solidão das ilhas!... Conquista da terra por firmeza no pouco que se tem e por tino e recuo a tempo no muito que se deseja... Portos fechados, ilhas à vista... Entre nós e o mundo aquela porção de sal que torna incorrupto o aro da terra... Movimento e força; outras vezes tranquilidade e pasmo (...) Ilhas pontuadas naquela brutalidade oceânica que é afinal a única coisa delicada e discreta da nossa vida - o mar do nosso segredo... a volubilidade do nosso ardor que nada estanca... esta inconsistência de projectos humanos (mas desumano é o lógico, o ético e o inflexível! Além disso o vapor da carreira... o boletim meteorológico (grau de humidade à saturação 100...) e o acostamento de Santos com a bandeira de saída... Oiço os rebocadores."
A viagem levá-lo-á de Ponta Delgada à Terceira natal, da Graciosa ao Faial, demorando-se na Horta à qual chama "a cidade do canal" - e ainda há entre os amantes nemesianos quem insista furiosamente que o "Canal" do "Mau Tempo" é o canal Pico-São Jorge! Não é, o que uma leitura atenta do livro e esta referência à Horta deixam claro.
O "Corsário das Ilhas" - uma mistura de registos literários, entre a autobiografia e a crónica de viagem - mostra um Vitorino Nemésio desterrado na sua terra, pela violenta carga emocional que o regresso lhe provoca. Sobre a Horta, onde viveu em 1918, ainda no liceu: "Dois ou três meses bastam para criar entre um forasteiro e o seu efémero exílio uma acomodação razoável. As raízes cortadas longe pegam perto. Há logo ramaria nova, amigos que se admiram de nos conhecer há tão pouco, ruas que nos parecem reboar de passadas que teríamos ouvido no berço. O acerto não vem logo; o tempo decorrido no exílio é retrospectivo, remitente, mais consagrado ao perdido do que ao que se acaba de ganhar. Mas vem a hora do adeus, e tudo o que parecia violência feita à nossa tendência imóvel, que refere a paz e a felicidade ao primeiro lugar que nos calhou, torna-se o 'melhor tempo', o território da lembrança que os faróis da noite vão lentamente dourando e logo remetendo ao escuro... Mau tempo no Canal".
Em 1955, volta Nemésio, desta vez já de avião, que abominava. Mudaram os tempos: "Tornado à casa ancestral onde me criei e cresci, ainda me envolve o antigo silêncio sideral, o cheiro húmido e morno da vegetação sempre verde, a sua perspectiva do relevo ilhéu acamado pelas erupções de lava efusiva (...). Mas de hora em hora quebra-o, primeiro um zumbido, e logo um ronco poderoso do quadrimotor que se aproxima. É que sou vizinho das Lajes, uma das maiores plataformas da era atómica".
Por António Machado Pires, Professor Universitário, presidente do Seminário Internacional de Estudos Nemesianos, in "Público" - Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2001

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Assim o amor


LATINDO

Este o amor que não foste
nem nunca serás
de tanto o amar
esgotaste-o
olhando a frio
o teu delírio.

Este o amor que não foste
nem nunca serás
de tanto o tocar
apagaste-o
em contrário, inusitado
caminho.

Este o amor que não foste
nem nunca serás
de tanto o escreveres
gastou-se,
no labor
de uma gélida surdez.

Este o amor que não foste
nem nunca serás
de tanto o contemplares
fugiu-te
incapaz de suportar
a página
e o seu branco uivo.
Ana Marques Gastão,In “ Nós / Nudos “, Gótica, 2004

De Amor nada Mais Resta que um Outubro

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia, in “Poesia Completa”, Ed. Dom Quixote
Assim o Amor

Assim o amor
Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos

Em vão busquei eterna luz precisa

Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”, Ed. Caminho

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A vitória nossa de cada dia

“Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si." Clarice Lispector, in “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”

"E então tu não quiseste mais nada. E paraste com a possibilidade da dor, o que nunca se faz impunemente. Paraste apenas e nada encontraste além disso. Eu não digo que tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não essa tua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia grito. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que tu, mas é vitória. Eu já poderia ter-te com o meu corpo e a minha alma. Esperarei nem que sejam anos até que também tu tenhas corpo-alma para amar. Nós ainda somos novos, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olha para todos ao teu redor e vê o que temos feito de nós e a isso considerado a vitória nossa de cada dia. Não temos amado acima de todas as coisas. Não temos aceitado o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido já catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmo construímos, tememos que sejam armadilhadas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de sermos inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer o seu contexto de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o medo maior e por isso nunca falamos do que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado fraqueza à nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso chamamos a vitória nossa de cada dia." Clarice Lispector, in “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”,  Ed. Relógio D’Água, 1999

Recensão:
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres
de Lispector, Clarice, Ed. Relógio D’Água, 1999
recenseador: Jacinto Lucas Pires, 2005 in “ Rol de Livros”, Leitura Gulbenkian

Este romance, verdadeira obra-prima de Clarice Lispector, conta a história do amor de Lóri e Ulisses – e, de certo modo, também a história do contar dessa história, que é feito na primeira pessoa pela mulher, Lóri ou Loreley –, falando-nos ainda, com assombrosa lucidez, de tudo o resto à volta. O que dificilmente tem nome e que a um olhar corrente parece tantas vezes ínfimo demais para valer uma frase; os milhares de partículas que compõem uma vida – a vida (Clarice ensina-nos que em todo o “um” há um “o” espreitando). 
“Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres” é a história de uma ligação demorada, dolorosa e feliz. Mas é também – como talvez todos os romances da escritora brasileira – a procura de uma identidade e de um pertencer. Uma procura tremenda, e tremendamente livre, que se confunde com a busca de uma linguagem outra, mais justa e mais calada, mais próxima do concreto das coisas, isto é, do seu mistério. Palavras desconcertantes de tão claras. 
Um contar em que se unem narrativas exteriores e interiores, o espiritual e o sexo, com a naturalidade de quem inventa um falar, de quem vê pela primeira vez, com o poder puro de uma permanente interrogação. A história, sem resumo possível, de uma mulher que se chama Lóri e que se chamará só “Eu”.

domingo, 23 de setembro de 2012

Ao Domingo Há Música


Por vezes de um poema concluído

Por vezes de um poema concluído
subsiste um aroma frágil instantâneo
que acende sobre nós uma ingénua estrela
que ilumina os nossos gestos
e aligeira os passos sobre as pedras claras.
António Ramos Rosa , in “ A intacta ferida”,1991, Ed. Relógio D’ Água



A música também faz subsistir os acordes do coração quando o encanto que dela emana reacende o fulgor que o  sustém . A voz prodigiosa de Freddie Mercury empresta ao talento das suas composições uma indizível prodigalidade musical que perpetuará, na história da música universal, audições de  inefável  prazer. Em "Who wants to live forever" acontece um desses momentos que poderá  aligeirar  os passos  sobre as agrestes arestas deste castigado luso território, num Domingo de Setembro.

sábado, 22 de setembro de 2012

O peso da austeridade



Portugal’s austerity measures
The tipping point
How much austerity is too much?
Sep 22nd 2012 | LISBON | from the print edition “ The Economist”

"A FORTNIGHT is a long time in the euro crisis. In two short weeks Portugal has gone from being a model pupil, praised in Brussels and Frankfurt for steadfastly pressing ahead with a reform programme tied to a €78 billion ($101 billion) bail-out to a cautionary example of the dangers facing governments which attempt to push austerity beyond the tolerance of long-suffering voters.
With his decision to finance a reduction in company costs through a sharp cut in workers’ take-home pay, Pedro Passos Coelho, Portugal’s prime minister, appears to have taken reform past the limit of what is deemed acceptable by large parts of the electorate. Until then, voters had accepted successive rounds of belt-tightening with grudging resignation.
The prime minister is proposing to cut employers’ social-security contributions by 5.75 points, to 18% of their wage bill. By reducing labour costs in this way, he hopes to boost employment, push down prices and increase Portugal’s export competitiveness. What makes the reform such a bitter pill for workers is that their social-security contributions will increase from 11% to 18% of their pay to finance the measure.
In the 15 minutes that Mr Passos Coelho took to announce his scheme on television earlier this month, he performed the remarkable feat of uniting not only the opposition parties against his “intolerable” plan, but also trade unionists, big business and economists. The move also opened a potentially irreparable breach between the two parties in his governing coalition. By the following weekend, hundreds of thousands of peaceful demonstrators had taken to the streets in Portugal’s biggest anti-austerity protest to date.
Aníbal Cavaco Silva, the president, will convene a meeting of the Council of State, his top advisory body, on September 21st. The president’s chief concern is to prevent this unexpectedly vehement backlash from developing into a full-blown political crisis that would demolish the international confidence that Portugal has gradually gained over the past year through painful sacrifice and meticulous adherence to its three-year adjustment programme.
António José Seguro, leader of the centre-left Socialists, the main opposition party, described the proposal as an “immoral and unacceptable” transfer of workers’ earnings to their bosses. It was, he said “a social experiment” never tried before anywhere in the world. Unless the proposal is withdrawn, the Socialists, supporters of the bail-out, but not the prime minister’s policies, will table a censure motion against the government. Potentially more damaging for Mr Passos Coelho, who enjoys a comfortable majority in parliament, is the growing threat of a rift in his Social Democratic Party’s hitherto solid coalition with the conservative People’s Party, led by Paulo Portas, the foreign minister, who argued against the social-security transfer.
Faced with such widespread opposition and the risk that some government MPs could rebel in a crucial October vote on the 2013 budget, the prime minister is widely expected to modify, if not fully retract, his plan. This could spare Portugal a destructive political crisis. But it will be too late to save the prime minister from the damage that has already been inflicted on the government coalition and his own standing with hard-pressed voters.
Mr Passos Coelho’s policies may have succeeded in emphasising Portugal’s differences from Greece. But he is also discovering that austerity cannot be pushed past a limit that is determined by voters, whether they are violently rioting in Athens or marching peacefully in Lisbon."


A consciência da rua
Por Baptista Bastos
“As imponentes manifestações que chamaram, às ruas de quarenta cidades portuguesas, um milhão de pessoas, possuem um significado que se não exprime, apenas, pela grandeza dos números. Elas são um despertar da consciência cívica nacional e um rebate contra os perigos que este Governo corporiza. Não foi, somente, como alguns pretendem fazer crer, um desagrado ante a anunciada taxa social única. Essa propositada intenção pretende minimizar a extensão do protesto. Os que foram para as ruas demonstraram a sua repulsa por Pedro Passos Coelho e pela inexcedível incompetência maléfica da ideologia que representa. O homem empurra o País para o abismo, e é urgente impedi-lo de o fazer.
António Capucho veio a terreiro advertir-nos. Habitualmente reservado e cuidadoso, as circunstâncias levaram-no, na televisão e no jornal I, a propor a necessidade de "um Governo de salvação nacional, mas sem Passos Coelho". Classificando os propósitos do primeiro-ministro de "ultraneoliberais", afirma: "O Governo não está com falta de apoio das pessoas; o Governo está com o ódio das pessoas."
Capucho é a ponta do icebergue de descontentamento e fúria que lavram e alastram no PSD, onde numerosos dirigentes e outros se interrogam sobre a legitimidade dos actos governamentais. A aplicação deste sistema de domínio, sem regras e sem limites morais, requer um método de respostas de que a natureza dos protestos de 15 de Setembro foi, unicamente, uma expressão serena. Porém, não deixou de ser a exposição de um outro poder, o popular, enfrentando e contestando o outro, por injusto e agressivo.
É preciso não esquecer de que, por vezes, a legalidade, ao exceder- -se, se inscreve na ordem de uma violência que a coloca fora da lei. É o que tem acontecido. Um preopinante anunciou, enfaticamente, ter Passos Coelho perdido o País. Não se perde o que se não tem, e se houvesse dúvidas acerca da impossibilidade de qualquer Governo deter a afeição de um país, as manifestações que chamaram às ruas um milhão de portugueses dariam que reflectir.
Como escrevi, nesta coluna, na última quarta-feira, o ciclo fechou-se sobre Passos e a sua obstinada soberba. E ainda não se registara a explosão ética de cidadania. Depois, surgiram as declarações de Paulo Portas. As características de uma coligação já trémula na essência assinalaram a proximidade da ruptura. Portas é uma personalidade cuja dualidade se conhece. As exigências de uma generalidade governamental não lhe calham bem. E Passos Coelho é suficientemente sobranceiro e autoritário para ceder a vez e desaproveitar a voz. Os dados estão lançados. Mas a alternativa é inexistente. A não ser que a consciência cívica se erga, de novo, e exija que esta nefasta indigência entre o PS e o PSD seja substituída por outras possibilidades. Que as há.”
Baptista Bastos em Artigo de Opinião publicado no DN de 19/09/12

Veja aqui : Notícias da manifestação em Belém
Protestos voltaram a rua para forçar conselheiros a ouvir o povo (COM VIDEO)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Som Brasil

A elegância de um grande músico brasileiro que se mantém discreto apesar do sucesso e da popularidade. A música popular brasileira é rica e diversa. Paulinho da Viola é um dos seus ícones.

Livros que são notícia em França


Le Festival America accueille Toni Morrison à Vincennes
Le prix Nobel de littérature 1993, présente au festival America de Vincennes, vient de publier son dixième roman, “Home”, exploration de la violence et du racisme dans les Etats-Unis des années 1950. Il fait partie de ses quatre meilleurs.
Toni Morrison, les quatre livres à lire en priorité:
 “Beloved”, prix Pulitzer 1988
A la fin du XIXe siècle, Seth égorge par amour sa petite fille pour qu'elle ne devienne pas une esclave. Elle est hantée par ce meurtre jusqu'au jour où une mystérieuse adolescente, Beloved - elle a une profonde cicatrice sur la gorge -, croise son chemin. On ne sait si elle est la réincarnation du bébé sacrifié ou le symbole d'une possible rédemption, afin d'exorciser le passé... Tout l'art de Toni Morrison est dans cette ouverture symbolique, comme dans presque tous ses romans. Avec une écriture formidablement "jazzée", parce que la musique est aussi une des clés de l'oeuvre du Prix Nobel, dont les mots envoûtés et envoûtants flamboient comme des soleils noirs.
Un don
Nous sommes à la fin du XVIIe siècle, lorsque les communautés indiennes furent décimées par les épidémies et les conquêtes. C'est dans ce monde chamboulé que débarque un couple d'Européens qui dirigeront une ferme isolée à grands renforts de domestiques. Parmi eux, Lina, la servante indienne qui veille sur la jeune Florens, inconsolable depuis qu'elle a été arrachée à sa mère... A ces deux voix de femmes blessées, la romancière ajoute celle d'une esclave rescapée d'un naufrage - la petite Sorrow -, tout en jetant un long travelling sur une époque enchaînée à ses superstitions. Dans ce récit polyphonique où se mêlent enquête ethnographique et épopée historique, Toni Morrison analyse remarquablement les premières tensions raciales en Amérique. Et signe une parabole qui raconte la naissance traumatique de son pays.
Paradis
Nous sommes au fin fond de l'Oklahoma, "en plein milieu de nulle part", dans la petite ville de Ruby, un eldorado fondé en 1950 par des Noirs, afin d'oublier les crachats des Blancs, le mépris et la haine. Mais les murailles de cette Babel idyllique finiront par s'écrouler. Parce que les mâles imposent leur loi d'airain. Parce que le puritanisme fait rage. Parce qu'on se met à regarder d'un sale oeil les métis qui n'ont pas la peau assez noire... Et puis, il y a ces étranges malédictions qui planent sur la ville : cinq "sorcières" un peu délurées mais inoffensives, qui squattent un ancien couvent, à 25 kilomètres de Ruby... Tableau d'un éden transformé en enfer, satire des utopies faussement rédemptrices, terrible réquisitoire contre l'intégrisme racial, ce roman est un feu d'artifice de magie et de violence.
Home
Une fulgurante novela où se confesse Frank Money, un Noir traumatisé par les violences dont il a été le témoin pendant la guerre de Corée. Sa seule devise, c'est de "rester envie" et, lorsque sa soeur Cee l'appelle au secours, il la rejoint à Atlanta en traversant une Amérique férocement ségrégationniste. Ensemble, ils retrouveront le village de leur enfance, un village où ils ont passablement souffert, et leur pèlerinage ressemble à la fois à un règlement de comptes et à un exorcisme. Un récit où Toni Morrison explore la violence sous toutes ses formes - politiques, raciales, familiales - dans l'Amérique des années 1950. “Par André Clavel (LEXPRESS.fr), publié le 20/09/2012 à 15:00, mis à jour à 16:24
Festival America, du 20 au 23 septembre 2012, Vincennes (Val-de-Marne). 


Un somptueux roman de Jérôme Ferrari
 « Le Sermon sur la chute de Rome », de Jérôme Ferrari, lève à lui seul les doutes émis par certains sur la littérature française contemporaine : trop hexagonale, trop biographique, trop narcissique...
Fiction pure, il déroule une histoire improbable moins attachante par son développement baroque que par les caractères qui l'animent, saisis en connaissance d'une terre corse à nulle autre pareille. Tutoyant le conte philosophique, il est fondé sur une pensée frottée - par la fréquentation professionnelle de son auteur -, aux esprits les plus brillants : "le meilleur des mondes possibles" de Leipniz, le Sermon sur la chute de Rome de Saint-Augustin, présenté ici moins comme une élévation de la pensée humaine qu'un éloge de sa boutique religieuse triomphant du paganisme. Et encore : Jérôme Ferrari est un sceptique, il sait que l'âme humaine toujours retourne à ses abysses et la construction des empires à leur effondrement : le meilleur des mondes possibles "avant la chute" ! Ce livre, enfin, jouit d'une écriture somptueuse, violente et sensuelle - " Autour de l'abbaye du Mont-Cassin, les longues tresses des goumiers surgissent de terre comme des fleurs exotiques que caresse tendrement une douce brise d'été " -, faite de longues phrases enveloppantes, digne des meilleures proses classiques nourries au lait de la culture latine et de la dialectique grecque. Les lecteurs avisés d'Un Dieu un animal et d'Où j'ai laissé mon âme sont familiers de ce style incandescent ; s'y ajoute ici une légèreté grinçante qui fait vibrer le marbre. Au bout, je ne suis pas loin de croire que ce roman puisse être désigné comme le champion de cette rentrée. Par Dominique Léger ( L’Express Culture)

  • La note de Philippe Delaroche : 3
    Deux étudiants originaires de Corse prennent la gérance d'un bar qu'ils souhaitent transformer en "meilleur des mondes possibles". Dans son cinquième roman, Jérôme Ferrari s'interroge sur la pureté des âmes, les échecs et les désillusions.
  • Deux étudiants décident de devenir les nouveaux gérants d'un bar corse. Le Sermon sur la chute de Rome dépasse sa trame régionaliste pour atteindre des accents mythologiques, où Jérôme Ferrari nous interroge sur la fin d'un monde, les conditions de l'échec et la tentation du mal.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Acordo Ortográfico, uma ameaça à Língua Portuguesa


PEN Internacional: Acordo Ortográfico
"Evidente preocupação pela ameaça à Língua Portuguesa"
O PEN Internacional, organização não-governamental de escritores com 144 centros em mais de 100 países, manifestou "evidente preocupação pela ameaça à Língua Portuguesa representada pelo Acordo Ortográfico de 1990", informou hoje o PEN Clube Português.
Em comunicado, o PEN Clube Português afirma que, no 78.º Congresso do PEN Internacional, que terminou Domingo na Coreia do Sul, " foi aprovada por unanimidade uma resolução do Comité de Tradução e Direitos Linguísticos que manifesta uma evidente preocupação pela ameaça à língua portuguesa representada pelo Acordo Ortográfico de 1990 [AO/90] ".
No Congresso, que reuniu 87 centros de todo o mundo, a maioria dos escritores presentes manifestou "incredulidade" e interrogou-se "como se teria chegado a tal situação", afirma o PEN Português.
Segundo o comunicado, na apresentação do tema na Coreia do Sul, a presidente do PEN Clube Português, Teresa Salema, manifestou a "preocupação pela situação com que um número crescente de escritores e tradutores se vê confrontado", nomeadamente pelo facto de muitos não se identificarem com AO/90 ou "de deixarem que os seus textos sejam convertidos para uma ortografia que lhes é alheia, ou de não verem as suas obras publicadas".
Uma preocupação que "foi por todos sentida como um problema complexo", atesta o PEN Clube Português.
"Também os tradutores que em princípio não pretendam seguir o AO/90 se vêem submetidos às imposições administrativas e comerciais", refere o comunicado, citando a resolução aprovada pelo PEN Internacional.
Segundo a resolução aprovada, "tentar centrar uma língua em prioridades administrativas e/ou comerciais é enfraquecê-la ao atacar a sua complexidade e criatividade inata, a fim de promover métodos burocráticos de natureza pública e privada".
Na resolução aprovada afirma-se que, "no que toca ao Inglês, houve tentativas equivalentes para uma aproximação universal no tempo do Império Britânico. Contudo, a força das regiões anglófonas (situação similar à do Português) levou a que tais regras tivessem sido quebradas tanto internacional como naturalmente".
"A força do Inglês actual é amplamente atribuída à sua abertura face às diferenças -- a diferentes gramáticas, ortografias, palavras e, na realidade, significados. Uma das características mais positivas de qualquer língua internacional é o facto de palavras, ortografias, gramática, frases e sotaques assumem significados assaz diferentes como resultado de experiências locais ou regionais", frisa a resolução que acrescenta que "o mesmo argumento poderia ser apontado para explicar a força crescente do Espanhol como língua internacional".
"Duvidamos muitíssimo que essa proposta de estandardização produza outros efeitos além de burocratizar os textos usados nas escolas, separando assim os alunos da real criatividade da língua portuguesa, nos planos regional e internacional", lê-se na mesma resolução.
Segundo o comunicado do PEN Clube Português, no debate da resolução houve intervenções de vários centros, nomeadamente por parte do Centro PEN galego que manifestou "a sua afinidade na diferença linguística [...] reiterando o seu apoio incondicional à Declaração".
"Também o Centro PEN alemão repudiou firmemente a ingerência de autoridades governamentais em assuntos linguísticos de reconhecida complexidade", lê-se no mesmo comunicado, segundo o qual, "o Presidente do Comité de Escritores para a Paz sublinhou a sua preocupação pela divisão -- e possível aumento de conflitualidade - que tais medidas estão a causar entre os cidadãos portugueses".
"Todos sentiram ainda o carácter nocivo e desestabilizador de uma medida que fere os princípios pedagógicos da democracia, nomeadamente a intenção de contribuir para um aprofundado contacto de amplas camadas das populações com a diversidade linguística e a herança cultural". Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, em DN de 17/09/2012

Eventos culturais e literários


Conferência de Seth Siegelaub

Galerista e editor ligado ao movimento da arte conceptual que marcou a cena artística norte-americana da segunda metade do século XX, Seth Siegelaub conversará sobre livros de autor nos finais dos anos 60, no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian, a 26 de Setembro, às 18h, no âmbito da exposição Tarefas infinitas, quando a arte e o livro se ilimitam.
Ver mais

As cores do pensamento - A arte abstracta dos neurónios
mostra ao ar livre
De 25 set 2012 a 25 out 2012
Das 10:00 às 20:00
Jardim Gulbenkian e Terreiro do Paço
Entrada livre

Associada ao Fórum Gulbenkian de Saúde 2012 “Brain.org” (9 e 10 de outubro), esta mostra ao ar livre exibe um conjunto de painéis onde representações visuais do cérebro em grande formato estão em correlação com reproduções de obras de arte, algumas das quais pertencentes às coleções do Museu Gulbenkian e do CAM. As representações visuais do cérebro aqui apresentadas são obtidas através de técnicas sofisticadas, utilizadas por eminentes investigadores que no mundo inteiro colaboram entre si transpondo fronteiras e produzindo imagens com cores vivas que parecem inspiradas em obras de arte.
Esta mostra é uma iniciativa conjunta do Edmond & Lily Safra Centre for Brain Sciences da Universidade Hebraica de Jerusalém e da FCG.


Antonio Silvera e Nuno Júdice na Fundação José Saramago
A Casa da América Latina e a Fundação José Saramago celebraram um protocolo de cooperação cuja primeira iniciativa é o programa Leituras Internacionais em Lisboa, um ciclo literário e intercultural que pretende trazer a Lisboa autores ibero-americanos que vão “ler o mundo”, num espírito de partilha das obras, de ideias e do prazer da leitura. Os encontros, nos vários géneros – do conto à crónica, do romance à poesia -, terão sempre convidados portugueses.
Para as 19h00 do dia 25 de Setembro (terça-feira) está programado, na Fundação José Saramago, um debate com os poetas Antonio Silvera (Colômbia) e Nuno Júdice, como convidado.
A Casa da América Latina vai publicar poemas de ambos os autores ao longo das próximas semanas:

A mãe
“Teria gostado de te conhecer
quando tinhas aquele gesto
da fotografia
e ainda faltávamos nós
no álbum.
Sabes,
ter-me-ias enamorado.”
Antonio Silvera in “Um país que sonha: Cem anos de poesia colombiana (1865-1965)”, trad. Nuno Júdice, selecção e prólogo Lauren Mendinueta, Assírio e Alvim 2012

O deserto de Atacama
“Há um vale onde a lua nunca desaparece, com
árvores de sal e rios de pedra, onde nos podemos deitar
à sombra do fogo e caminhar na corrente de pó
que o vento ergue de um chão de silêncio. Não tem fim;
o sol da tarde alimenta os arbustos secos com a
sua mão implacável; as montanhas ocultam
a maternidade gélida do seu bojo de inverno. Atravesso
este vale com o voo do flamingo que nasceu do nada;
e pinto-o com as cores de arco-íris que o pássaro
inesperado me trouxe.
Do verde, nasceu a erva que circunda um leito
de rio onde estagnou a água da primavera; do azul,
soltam-se os olhos que lembro quando o
horizonte os tinge de cinzento; do amarelo, as folhas
da árvore que um desejo de chuva mancha com o
seu veio castanho. Oh! se alguém pudesse habitar
estas cores, tocar a sua matéria de esquecimento,
respirar a sua atmosfera ferida pela seta de
um caçador de acaso! Invejo a sorte de quem
não conta o tempo pela areia espessa dos instantes,
e pousa no coração dos dias como a ave
colorida.
Grito-lhe, para que se detenha; mas
o seu espaço é o cume de onde se avista o outro lado
da paisagem – o oceano da vida
invisível dos sonhos.”
Nuno Júdice, in «As coisas mais simples», Dom Quixote, Lisboa, 2004


Documentários sobre Os Latino-Americanos
Data : De 26 de Setembro até 20 de Março
Hora : 19h00

Documentários realizados por jovens diretores e produtoras independentes sobre o que distingue e identifica os latino-americanos. Cada documentário mostra a identidade de um país, através do olhar do cineasta. Série de 12 episódios. 

"O que significa ter uma nacionalidade? [...] É a tal enigma que se entregam os jovens realizadores que aceitaram o desafio da série 'Os Latino-Americanos', produzida pela TAL (Televisão América Latina). [...] Nestes, o sinal comum mais evidente é a sobreposição da fragmentação à utopia da identidade. E é daí que o conjunto adquire sua maior força. Em vez de ceder aos encantos do folclórico ou buscar nas raízes uma suposta identidade fundada em bases míticas tampouco certas, os jovens documentaristas do projeto preferiram auscultar o presente. [...] A estratégia comum aos trabalhos é percorrer os países, entrevistando gente comum. Enquanto as perguntas tentam definir o 'uruguaio', o 'cubano' etc., as respostas permanecem no terreno dos estereótipos ou da generalidade, como 'somos gentis', 'somos acolhedores', 'somos criativos'. [...] Cada trabalho não perde de vista as especificidades locais, como práticas religiosas, misturas étnicas, efeitos de migrações, de políticas econômicas e de injustiças sociais. Mas o faz na perspectiva do sujeito, sem nunca dissolvê-lo sob instâncias generalizantes. Ao desfocar o fator nação e transferir a atenção para a perspectiva individual, a série desloca-se para a realidade, na qual os simbolismos ufanistas e os delírios fascistas do passado recente, até prova ao contrário, viraram velharias guardadas no baú"
 Cássio Starling Carlos, crítico da Folha 
Organização: Casa da América Latina e TAL.tv

7 e 26 de Setembro - Os brasileiros, Philippe Barcinski, 2011 (52’)

É possível definir o povo brasileiro a partir de seu gestual, de seu uso do corpo? António Nóbrega, Carlinhos de Jesus, Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira procuram responder a essa pergunta analisando suas trajetórias pessoais e as origens do samba, do frevo, do maracatu e de outras manifestações da cultura popular brasileira.

(encerramento curso de verão, no ISCTE-IUL. Entrada livre)

10 Outubro - Os chilenos, Aldo Oviedo T., 2011 (52’)

Desde o árido deserto do Atacama até às florestas frias da Patagônia, descobrimos personagens únicos, “guardiões do património nacional”, que lutam desde suas trincheiras para proteger a cultura do povo chileno; a semente que dá origem ao alimento, e terra e o mar, a ecologia, a música, raiz do folclore nacional, a cidade e a arquitetura, todos eles mostrarão a beleza deste território chamado Chile.

24 Outubro - Os uruguaios, Mariana Viñoles, 2006 (53’)

O que é ser uruguaio? Na tentativa de compor um panorama do pequeno país ao sul do continente americano, “Os Uruguaios” opta pelas palavras. A mulher que trocou a cidade pelo campo, um pequeno fazendeiro, um advogado bem sucedido, um imigrante italiano, um guarda florestal e um estudante, contam suas histórias, enquanto encontramos o espírito uruguaio impregnado nas águas do Prata, no tango de Gardel ou numa rua ensolarada.

7 Novembro - Os peruanos, Ernesto Cabellos Damián, 2008 (53’)
Em meio a tantas diferenças que podem ser encontradas em um país, existe um espaço onde toda uma nação se sente harmoniosamente integrada. No Peru, esse espaço é a cozinha. O documentário Os Peruanos – Panelas e Sonhos é uma viagem de exploração a um universo de cores, texturas, sabores e odores, que revela a história e a cultura de um povo.

21 Novembro - Os colombianos, Omar Rincón, 2006 (52’)
Los Colombianos não é um documentário, ainda que suas imagens sejam reais, nem uma ficção, ainda que devaneie sobre o que é a identidade colombiana. Para o diretor, trata-se de um ensaio. Um apanhado geral da Colômbia cotidiana, sem verdades absolutas nem depoimentos cheios de orgulho patriótico. Cidades, símbolos e pessoas flertam com a imaginação em um filme surpreendente.
5 Dezembro - Os mexicanos, Alejandro Strauss, 2006 (54’)
Através do contraste entre os estereótipos e a entrada da sociedade mexicana na pós-modernidade, o documentário mostra múltiplas faces do México atual. O diretor busca derrubar a visão homogênea sobre o país construída pelo olhar europeu. Através dos discursos dos mais variados entrevistados, torna-se claro que o México é formado por “muitos países dentro de um só”, como define o director.