segunda-feira, 21 de maio de 2012

Prémio Camões para Dalton Trevisan

O prémio Camões deste ano acaba de ser entregue, por unanimidade, ao escritor brasileiro Dalton Trevisan, de 86 anos. O maior prémio literário de língua portuguesa foi anunciado esta segunda-feira em Lisboa pelo Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.
O prémio vale cem mil euros. Tal como tem sido habitual ao longo dos anos na conferência de imprensa, o júri leu a acta da reunião, apresentando as razões justificativas da escolha do premiado: "Dalton Trevisan significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra. Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao fazer literário sem concessões às distracções da vida pessoal e social”. A escolha de Dalton Trevisan, um dos mais importantes e premiados escritores brasileiros, foi unânime.
Nesta 24ª edição do Prémio Camões, o júri foi constituído por Rosa Martelo, professora associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Abel Barros Baptista, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; a poeta angolana Ana Paula Tavares; o historiador e escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho; Alcir Pécora, professor da Universidade de Campinas, Brasil, e o crítico, ensaísta e escritor brasileiro Silviano Santiago.
A discussão começou em aberto com os diversos participantes fazendo as suas indicações e em seguida houve um debate entre os participantes, em torno dos nomes sugeridos. Esse debate foi produtivo e do meu ponto de vista, enriquecedor. Depois de duas horas, chegámos à unanimidade”, explicou Silviano Santiago.
Não há dúvida que Dalton Trevisan é uma pessoa muito secreta. Ele não tem aliás, ele lembra um pouco, para facilitar pessoas que não o conheçam o escritor norte-americano J.D. Salinger (1919-2010). Mas quando lhe foi atribuído o Prémio PT ele aceitou” , acrescentou.
Dalton Jérson Trevisan, nasceu em 1925, em Curitiba, no Sul do Brasil, cidade que inspirou uma série dos seus contos e onde vive, escondido do assédio dos meios de comunicação.
Entre as muitas personagens misteriosas descritas nos seus livros, pode-se dizer que o próprio Trevisan se destaca entre as mais enigmáticas.
Recluso convicto, com enorme aversão à imprensa, sem nunca receber visitas, Trevisan ganhou a alcunha de «Vampiro de Curitiba», nome que deu título a um de seus livros mais conhecidos, lançado em 1965.
«Para se conceber um histórico de Trevisan, é preciso a habilidade das cerzideiras, cosendo retalhos aqui e ali, em uma ou outra reportagem, nas antigas e raras entrevistas», diz o texto a seu respeito, na Editora Record, responsável pela publicação das suas obras desde 1978.
Formado em advocacia, o autor chegou a exercer a profissão durante sete anos. Trabalhou ainda como repórter policial e crítico de cinema. A veia literária, porém, falou mais forte.
O primeiro livro, Sonata ao Luar, foi lançado em 1945, seguido de Sete Anos de Pastor. Ambos foram mais tarde rejeitados pelo autor, que diz não possuir um exemplar sequer de suas primeiras obras.
“Felizmente, já esqueci aquela barbaridade”, afirmou Trevisan sobre o seu primeiro livro, numa de suas raras entrevistas.
Entre 1946 e 1948, o «curitibano» editou a revista Joaquim, que reunia ensaios e contos de autores como António Cândido, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, que marcaram a afirmação do modernismo brasileiro, além de traduções de escritores como Franz Kafka, Marcel Proust ou Jean-Paul Sartre.
Contos Eróticos" (1984), Crimes de Paixão (1978), Desastres de Amor", (1968), Dinorá - Novos Mistério" (1994), estão entre as suas obras, assim como Vozes do Retrato - Quinze histórias de Mentiras e Verdades (1998), "Violetas e Pavões" (2009) e O Anão e a Nifeta (2011), que é o seu último livro publicado.
Enquanto Trevisan se esconde em sua casa, em Curitiba, os seus contos têm ganhado o mundo, com traduções para diferentes línguas, entre as quais inglês, espanhol, francês e italiano.
Em Portugal, foi publicado em 1984 pela Relógio d'Água, de Francisco Vale, com a colectânea "Cemitério de Elefantes", dedicada a alguns dos seus contos.
As histórias de Trevisan receberam adaptação para a televisão e o cinema, no Brasil e na Hungria, onde um de seus contos foi adaptada a série de televisão.
No Brasil, a adaptação para o cinema de A Guerra Conjugal, de 1969, do realizador Joaquim Pedro de Andrade, recebeu o prémio de melhor filme e melhor realizador em festivais nacionais, além de uma menção honrosa no Festival de Barcelona.
Consagrado como contista, com temas sobre a classe média e as angústias do quotidiano, Trevisan possui um único romance publicado, intitulado A Polaquinha.
No ano passado, o autor recebeu o Jabuti - o maior prémio literário brasileiro - na categoria de contos e crónicas, com o livro Desgracida. Como era de se esperar, Trevisan manteve-se em Curitiba e enviou um representante à cerimónia de entrega do prémio.
Fonte: Lusa/SOL/ Público

2 comentários:

  1. Parabéns à Língua Portuguesa celebrada por tantos e tantos exímios escritores.
    No Brasil, em Curitiba, Dalton Trevisan é a expressão da arte da escrita em Português, neste ano de 2012.

    ResponderEliminar
  2. É importante que o Prémo Camões não revele somente as figuras públicas mais conhecidas no mundo da Arte e das Ciências nos países de Língua portuguesa. E os outros?!... Dalton Trevisan, cuja obra não conhecemos, e o confessamos aqui, é uma das figuras que merece ser divulgada através de um Prémio de tão alto gabarito! As nossas felicitações ao premiado!... Queremos conhecer melhor a sua obra literária em Portugal.

    ResponderEliminar