terça-feira, 13 de março de 2012

Arte e Ciência

formação de novo vaso sanguíneo

Arte e ciência juntam-se para criar "um novo mundo"
Fotografias, escultura e vídeos representam imaginário do conhecimento científico
Muito se tem falado sobre a arte imitar a ciência ou a ciência imitar a arte. No primeiro dia deste mês, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, o artista austríaco Herwig Turk e o vice-presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Paulo Pereira, mostraram ao público o que acontece quando a arte e a ciência se juntam para criar algo novo.
Os trabalhos dos autores do «The Blindspot», resultam de uma investigação interdisciplinar que pretende avaliar o valor simbólico da percepção num contexto amplo, recorrendo a ferramentas do âmbito das ciências.
O que Herwig Turk e Paulo Pereira propõem com o projecto é uma reflexão sobre a representação social do conhecimento científico e do imaginário que a ciência transmite. A ideia é promover uma articulação integrada e construtiva entre arte e ciência enquanto actividades que partilham métodos, procedimentos e uma determinação em encontrar novas formas de representação da realidade.

Tools

Assim, quando os procedimentos e a linguagem dos laboratórios de investigação científica são retirados do seu contexto e deslocados para outros cenários criam uma metalinguagem que ultrapassa as fronteiras tradicionais entre a ciência e a arte. «Tools» e «Gaps» foram duas das obras  apresentadas que demonstram isso mesmo.
As fotografias da série «Tools» descrevem uma técnica de biologia celular que permite a detecção e a identificação de proteínas; desde a limpeza dos pratos até ao desligar da fonte de energia. Nestas fotografias, foi pedido a um cientista para reproduzir os diferentes passos desta técnica na ausência das ferramentas normalmente necessárias.
Gaps
A escultura «Gaps» é a reprodução tridimensional do modelo desenhado pelo cientista Steve Catarino, que investiga os mecanismos que regulam a degradação da conexina 43, para ilustrar a interacção entre duas conexinas de células adjacentes. As conexinas participam na formação das gap-junctions, canais que atravessam as membranas das células e permitem a passagem de nutrientes e de pequenas moléculas sinalizadoras assegurando a comunicação entre elas. A comunicação através de gap-junctions é fundamental para assegurar o bom funcionamento de diversos órgãos e sistemas. São, por exemplo, responsáveis pela coordenação da batida cardíaca ou, durante o parto, pela sincronização das contracções de todas as células do útero.
Ao "Ciência Hoje", o artista Herwig Turk explicou que criar arte no mundo científico e captar a atenção dos cientistas não é fácil. “Normalmente tenho que descobrir cientistas que são curiosos e que querem fazer experiências juntamente comigo. É algo muito pessoal. Mas isto não significa que consigo despertar neles interesse pela arte. A maior parte dos cientistas que estão interessados na troca e na arte interagem comigo”, afirma.
O encontro  de 1 de Março, no Jardim de Inverno, intitulado «A Arte de fazer Ciência», cuja discussão foi moderada por Carlota Simões do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC), também apresentou dois projectos de Pedro Miguel Cruz.
O jovem informático realizou, em colaboração com Penousal Machado, docente do Departamento de Engenharia Informática da UC, um mapeamento de dois milhões de registos GPS, de coordenadas e velocidades de mais de mil e quinhentos táxis que circularam em Lisboa ao longo de um mês. No vídeo «Lisbon's Blood Vessels», o autor condensou esses dados numa animação que representa a dinâmica da circulação automóvel durante um dia, como se o mapa da cidade fosse um organismo vivo.
A segunda obra de Pedro Miguel Cruz, distinguido em 2011 «Seeds of Science-Júnior» pelo "Ciência Hoje", intitula-se «Empires Decline». Trata-se de um trabalho de computação gráfica sobre a queda de quatro impérios marítimos: Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França.
Por Susana Lage, ” in CiênciaHoje”, 1/03/2012

1 comentário:

  1. Se a Ciência tende para a Arte inquestionavelmente e no futuro em simbiose, digamos uma forma de Arte para cada área do conhecimento, a Arte em si vale-se dos avanços técnicos da Ciência, sem nunca tender para uma ciência "per si".

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