quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O universo de Fernando Pessoa em Exposição

A criança que ri na rua

A criança que ri na rua,
A música que vem no acaso,
A tela absurda, a estátua nua,
A bondade que não tem prazo

Tudo isso excede este rigor
Que o raciocínio dá a tudo,
E tem qualquer coisa de amor,
Ainda que o amor seja mudo.
4-10-1934
Fernando Pessoa, in “Poesias Inéditas”,1930-1935, (Nota prévia de Jorge Nemésio), Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

Fernando Pessoa Plural como o universo
Exposição dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos, que pretende mostrar toda a multiplicidade da obra do grande poeta de língua portuguesa, conduzindo o visitante numa viagem sensorial pelo universo de Pessoa, para que leia, veja, sinta e ouça a materialidade das suas palavras. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, nesta exposição encontra-se um espaço repleto de poemas, textos, documentos, fotografias e pintura, onde se incluem raridades como a primeira edição do livro "Mensagem", com uma dedicatória escrita pelo poeta.
Nascida de uma colaboração entre a Fundação Roberto Marinho (Brasil) e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, com o apoio da Fundação Gulbenkian, esta exposição foi inaugurada em São Paulo, em 2010, e apresentada no Rio de Janeiro em 2011. Em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, a exposição assinala o Ano do Brasil em Portugal.
"Fernando Pessoa, Plural como o Universo" tem várias componentes. Um dos espaços é reservado à apresentação, em compartimentos delimitados, do ortónimo e dos quatro mais importantes heterónimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Noutra parte, encontra-se uma recolha de textos, cuja tónica é mostrar como puderam conviver, no espírito de Pessoa, os heterónimos, os escritos auto interpretativos e todos os outros projectos que o poeta ia desenvolvendo, num processo dinâmico e simultaneamente solitário. A exposição inclui ainda documentos inéditos, pinturas e alguns objectos nunca antes expostos em Portugal.
Os visitantes têm à sua disposição exemplares de toda a obra de Fernando Pessoa, em português e traduzidos para outras línguas, para que esta mostra possa também ser uma oportunidade para a leitura ou releitura, num espaço pouco usual, dos múltiplos e diferenciados escritos do poeta.
A componente multimédia da exposição é constituída por filmes, vozes e sons, poemas ditos e páginas de livros que, com um só toque do visitante se alternam e desfolham, fazendo uso das tecnologias actuais. O visitante pode escolher assim o seu próprio percurso perante a multiplicidade de escritos e registos existente.
( Informação Gulbenkian)
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De 10 Fev 2012 a 30 Abr 2012
Das 10:00 às 18:00
Encerra Segunda-feira e Domingo de Páscoa
Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian
Entrada: €4

Aceita o universo

Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.

Se há outras matérias e outros mundos
Haja.
1-10-1917
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,1994.

1 comentário:

  1. Aceitemos Fernando Pessoa, tal como ele deixou que o aceitássemos!... Uma das maiores riquezas de uma literatura, pela diversidade, originalidade e herogeneidade da sua obra literária - que ele tanto prezava e que para ele era tudo na vida. Como pessoa, como Homem, dotado de uma personalidade dissociativa que soube traduzir artística e genialmente, Fernando Pessoa foi alguém extremamente invulgar, solitário. É conhecida de todos a sua estória com o "senhor Abel", que chegou a intrigar o patrão no seu emprego como correspondente comercial... Possuia alguns amigos que se conservaram fiéis, acreditando nele todo tempo, sabendo-o uma das maiores Almas que Portugal viu nascer e conheceu!... Guardou modestamente a "sete chaves" - como soe dizer-se - sem alardes, nem ostentações, sem vaidade, sem pompa, os seus segredos, aquele modo de ser tão simples como complexo, mas sem incomodar ninguém, sem pedir nada à vida... Ainda hoje, dezenas dos seus Heterónimos vivem à nossa beira, com identidade literária própria, com tanto de semelhante connosco, com qualquer de nós.

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