terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

               Valete, Frates.

Fernando Pessoa, in “ Mensagem”, Colecção Poesia, Edições Ática

1 comentário:

  1. Este poema define o Portugal dos dias de hoje, como o definiu outrora, no inícios dos anos 30... Um retrato em pouca palavras, onde sobressai o incerto e uma amargura latente, um país a "entristecer", um país a definhar, pairando esfumado, esfumando-se por detrás de um nevoeiro errático, a cada dia mais espesso.

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