sábado, 28 de janeiro de 2012

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny, in «366 poemas que falam de amor», Antologia organizada por Vasco Graça Moura, Lisboa: Quetzal, 2003

1 comentário:

  1. Cesariny, o surrealismo, aquele tudo e todos!..., aquele modo de estar diferente, aquele envolver-se na revolução da sociedade, com mil críticas à mistura, mais críticas que amor, amor em si... Mário Cesariny marcou a sua geração e nunca usou ou calçou "luvas brancas" para desancar como pôde e quando quis numa arte podre e prenhe de "galões" que queria elevar-se, botar figura, ser mais do que valia, ser chamada ao palanque. Um poeta ao seu modo, como o Luís..., e outros, mas sempre Alguém que está no seu lugar, que estará presente na Literatura Portuguesa Contemporânea, para todo o sempre! Ninguém ousará tirar-lhe o lugar! Sei do que falo. "Em todas as ruas te encontro", Mário!... Em todos os versos, em toda a poesia te encontro, Cesariny!...

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