terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Comunicado


Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem que ninguém lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.

Miguel Torga, in “Diário”, Coimbra, 18 de Abril de 1968

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Os cem anos de Jorge Amado

Jorge Amado nasceu a 10 de Agosto de 1912, em Ferradas, na região do cacau, no sul da Bahia. 2012 é o ano do centenário desse grande homem das letras que revolucionou o romance brasileiro. Neste espaço, temos recordado a valiosa obra que legou ao Brasil e ao mundo. Fazê-lo é relançar uma galeria imensa de personagens que compõe magistralmente a produção literária deste escritor. Transcrevemos, anteriormente, num desses artigos, um excerto do Discurso da tomada de posse na Academia Brasileira proferido em Abril de 1961 que retomamos: " (...)quando aqui chego, chegam a esta casa, (...) pessoas simples do povo, aqueles meus personagens, pois é por suas mãos que aqui ingresso. Vêm mestres de saveiros e pescadores. Mestre Manuel, Maria Clara, Lívia e Guma, e sua ansiosa espera da morte no mar; vêm negros e mulatos, pai-de-santo Jubiabá e o negro Balduíno, Rosenha Rosedá e o Gordo, vêm as crianças abandonadas, os capitães da areia, trabalhadores dos campos de cacau e rudes coronéis de repetição em punho; vêm o rei das gafieiras da Bahia, Quincas Berro D'água, a mulata Gabriela feita de cravo e de canela, e o comandante Vasco Moscoso de Aragão, que amava sonhar e comandava os ventos.Gente simples do povo, não sou mais de que ele, e se os criei, eles me criaram também e aqui me trouxeram. Porque eles são o meu povo e a vida que tenho vivido ardentemente(...)". É esta a singularidade da obra de Jorge Amado.
Em 9 de Agosto de 2011 , véspera do dia em que Jorge Amado completaria 99 anos de idade, uma colectiva de imprensa em Salvador, na Fundaçāo Casa de Jorge Amado, deu início às comemoraçōes do centenário do escritor baiano. Na ocasiāo, foi apresentada uma comissāo para organizar diversas actividades que começaram em Salvador e se realizarão em todo o Brasil e que terāo um selo exclusivo deste centenário criado por Máquina Estúdio.
“A ideia é que este ano nāo acabe nunca” brincou Cecilia Amado, neta do escritor.
Os eventos acontecerāo de Agosto de 2011 até Agosto de 2012. Veja a programaçāo divulgada na colectiva, aqui

Para nós e na sequência do que acabamos de afirmar , celebrar Jorge Amado é revisitar incessantemente a sua obra para reproduzir alguns excertos que estampam essa prodigiosa galeria de gente simples que figura em toda a sua produção literária. Hoje, mergulhamos nesse universo popular para extrair uma das suas mais belas personagens, o negro António Balduíno , personagem central do romance "Jubiabá", escrito em 1935.

Ele julgara que a luta aprendida nos ABC lidos nas noites do morro, nas conversas em frente à casa de sua tia Luísa, nos conceitos de Jubiabá, na música dos batuques, era ser malandro, viver livre, não ter emprego. A luta não é esta. Nem Jubiabá sabia que a luta verdadeira era a greve, era a revolta dos que estavam escravos. Agora o negro António Balduíno sabe. É por isso que vai tão sorridente, porque na greve recuperou a sua gargalhada de animal livre. (…)
A noite desceu e a Lua sobe do mar para junto das estrelas. O Gordo andará na Rua Chile , de braços estendidos, a perguntar onde está Deus. Zumbi dos Palmares é que brilha no céu. Para os homens brancos, é Venus, o planeta. Para os negros, para António Balduíno, é Zumbi, o negro que morreu para não ser escravo. Zumbi sabia aquelas coisas que só agora António Balduíno aprendera. Os saveiros dormem. Apenas O Viajante sem Porto sai, lanterna acesa, carregado de abacaxis. Maria Clara vai em pé cantando. Dela vem o cheiro poderoso de mar. Ela nasceu no mar, o mar é o seu inimigo e o seu amante. António Balduíno também ama o mar. Sempre viu no mar o caminho de casa. E quando Lindinalva morreu, ele que pensava que seu A B C já estava perdido, que nada mais faria, quis entrar pela estrada do mar para ser feliz como um morto. Porém os homens do cais, os homens do mar, lhe ensinaram a greve. O mar lhe mostrou o caminho de casa. E ele olha para o mar verde, amarelado pela lua. De muito longe vem a voz de Maria Clara :
A estrada do mar é larga, Maria …
Um velho no cais deserto toca realejo. A música vem em surdina e se espalha pelos saveiros, pelas canoas, pelos transatlânticos, pelo grande mar misterioso de António Balduíno. Se não fosse a greve, o mar engoliria o seu corpo numa noite em que a lua não brilhasse. Se não fosse a greve ele teria desistido de ser cantado num A B C , de ver Zumbi dos Palmares brilhando como Vénus. Um vulto passa ao longe. Será Robert, o equilibrista, que desapareceu misteriosamente do circo? Mas pouco importa. A música do realejo é plangente. A voz de Maria Clara se sumiu no mar. Mestre Manuel irá ao leme. Ele sabe todos os segredos do mar. E amará Maria Clara à luz da lua. As ondas do mar molharão os corpos e assim o amor ainda será melhor. A areia alva do cais, prateada com a lua . Areia alva do cais onde o negro António Balduíno amou tantas mulatas que eram todas Lindinalva, a sardenta. Se não fosse a greve, o seu corpo de afogado seria depositado na areia e os siris chocalhariam como chocalhavam no corpo de Viriato, o Anão. Brilha a luz de um saveiro. O vento levará até ele a melodia do realejo que o velho italiano toca? « Um dia », pensa António Balduíno, « hei-de viajar, hei-de sair para outras terras.»
Um dia ele tomará um navio, um navio como aquele holandês que está todo iluminado, e partirá pela estrada larga do mar. A greve o salvou. Agora sabe lutar. A greve foi o seu A B C. O navio vai largar. Os marinheiros souberam da greve, contarão em outras terras que aqueles negros lutaram. Os que ficam dão adeuses. Os que vão limpam lágrimas. Porque chorar quando se parte? Partir é uma aventura boa, mesmo quando se parte para o fundo do mar como partiu Viriato, o Anão. Mas é melhor partir para a greve, para a luta. Um dia António Balduíno partirá num navio e fará greve em todos os portos. Nesse dia dará adeus também. Adeus minha gente que eu já vou. Zumbi dos Palmares brilha no céu. Sabe que o negro António Balduíno não entrará mais pelo mar para a morte. A greve o salvou. Um dia ele dará adeus e agitará um lenço do tombadilho de um navio. A música do realejo chora uma despedida. Mas ele não dará adeus como estes homens e mulheres da primeira classe, que dão adeus para os amigos, para pais e irmãos, para esposas chorosas, para noivas tristes. Ele dará adeus como aquele marinheiro loiro que está no fundo do navio e agita o boné para a cidade toda, para as prostitutas do Taboão, para os operários que fizeram a greve, para os malandros que estão na Lanterna dos Afogados, para as estrelas onde está Zumbi dos Palmares, para o céu claro e a Lua amarela, para o velho italiano do realejo, para António Balduíno também. Ele dará adeus como marinheiro. Adeus para todos , que ele fez a greve e aprendeu a amar a todos os mulatos, todos os negros, todos os brancos, que na terra, no bojo dos navios sobre o mar, são escravos que estão rebentando as cadeias. E o negro António Balduíno estende a mão calosa e grande e responde ao adeus de Hans, o marinheiro.
Pensão Laurentina ( Conceição da Feira) , 1934
Rio de Janeiro, 1935”
Jorge Amado, in “ Jubiabá”, Edição “Livros do Brasil “ , Lisboa

domingo, 29 de janeiro de 2012

Ao Domingo Há Música

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
 

  Álvaro de Campos, in “Poesias de Álvaro de Campos.Fernando Pessoa.”     
  Lisboa, Edições Ática 

O Domingo é sempre  tempo  de dar às palavras a forma que o tempo exige. E para este último Domingo de Janeiro são  as  palavras de Fernando Pessoa como Álvaro de Campos que podem  ilustrar a extraordinária peça musical de Hans Zimmer, "Time" .

sábado, 28 de janeiro de 2012

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny, in «366 poemas que falam de amor», Antologia organizada por Vasco Graça Moura, Lisboa: Quetzal, 2003

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Seremos puro amor do há

“ (…) Não. O que procuro é ver onde a continuidade do há se fractura, onde muda de registo e de sinais, e se há possibilidade de o dizer sem esperança, nem impostura. «Sem esperança», quer dizer sem ilusão garantida. Quando nos apercebemos que o há é há, não somos só parte dele. Acrescentamos-lhe um ver criador_____criamos, modificando-lhe a paisagem. Nenhum traço se perde, mesmo que tenda a apagar-se. O que hoje me cabe é ver sinais, e projectá-los com toda a força de impacto de que dispuser. Sobrepondo-os e entendendo as consonâncias que desenvolvem entre si. Deixar-me orientar pelo sentido melódico que lhes ouço e aceitar a significação ou senso que resulta, se resultar. Recomeçar o ver todos os dias, tentar que a energia que me gasta me dê mais energia, procurá-la nos filamentos mais ténues do real que tenho à mão, não recear servir-me do estranho que o meu corpo sente e pensa.
Esse estranho é somente um efeito da linguagem do cinismo positivista em que fui criada. Ver é fazer e desfazer. É criar linguagem. E criar-me. Tornar-me um «puzzle» onde um dia se desenha um labirinto, outro dia um morro elevado da paisagem, outro dia um quarto escuro fracamente iluminado pelos ruídos exteriores, outro dia um corredor de amor sereno que atravessa a rua onde se ouvem passos de cavalos por entre melodias e batidas de rock. Não perder o fio, sem ter a obsessão ou a angústia de o perder. E, na hora em que o há se fractura, deixar-me ir, ver onde sou levada, retomar a corrente, aceitar mudar de forma e, a partir dela, reaprender a ver. Nessa hora, dar a mão e sentir as figuras. Horas há em que seremos pura vontade______puro amor do há.”
Maria Gabriela Llansol, in "Inquérito às Quatro Confidências - Diário III", Relógio D´Água Editores, Novembro de 1996

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O mistério feminino

"A Maria , que lhe pedia um milagre, Jesus, segundo São João, respondeu: " Que te importa, ó minha mãe, a minha hora ainda não chegou. "
Esta declaração poderia aplicar-se à mulher neste final do século vinte. A hora da mulher ainda não chegou na história do mundo, apesar de numerosos sinais levarem a crer que essa hora não está longe.
Até à época presente, e desde as origens, a mulher ainda não falou da mulher: a mulher foi venerada, ou maldita, pelo homem, através do cérebro masculino. Ela vivia, crescia, amadurecia, ela morria num universo inteiro ocupado pelo macho.
Virá rapidamente o tempo em que a mulher será. Como dizia Rainer Maria Rilke, estas poucas palavras não significam apenas o contrário do homem, mas qualquer coisa que vale por si mesma, " a mulher na sua humanidade".
Rilke acrescentava que esse progresso transformaria a experiência do amor. O amor não será mais a relação de um homem com uma mulher, mas a de uma humanidade com outra. " Este amor mais humano, pleno de respeito e de silêncio, é o que nós preparamos . Consiste em que duas solidões se protejam, se limitem e se respeitem."
No fim do segundo milénio, asssistimos neste domínio secreto mais que em muitos outros a uma mutação nas profundezas: quem sabe se o amor , esse mistério tão ambíguo, não vai receber um novo rosto?
Então reflectindo sobre o mistério da mulher e sobre o mito da princesa, os homens compreenderão que na projecção mística e poética a que chamamos princesa, tudo está já presente, misteriosamente prefigurado. Théodore de Banville no século passado tinha cantado esse mistério da mulher elevada ao seu mais alto grau de beleza e de nobreza:

As princesas, espelhos dos céus, orientes, tesouros
Dos tempos, regressaram para nós ao mundo,
E quando o artista implora, que só as conheceu,
Ordena-lhes que nasçam e revivam uma vez mais...

Revemos num rico e fabuloso cenário,
Mortes, amores, lábios ingénuos,
Vestidos abertos mostraram as pernas nuas,
Sangue e púrpura e broches de ouro.

As princesas, de que os séculos são avaros,
Triunfam de novo sobre tecidos raros;
Vemos os claros rubis acenderem-se sobre os seus braços,

As cabeleiras sobre as fontes flamejamantes
refulgir, e os seus seios de neve animarem-se
E os seus lábios abrirem-se como flores sangrentas.

Banville chama " tríptico da perfeição " o lugar onde se encontram as três mulheres que encarnam o amor sublime e que eram para ele a mãe, a irmã e a santa."
Jean Guitton, in " Cartas Abertas", Editorial Notícias

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um luminoso sinal

Trigésima sexta carta a M.M.

Eu amo. Eu apenas sei dizer que amo
como se o meu amor não tivesse objecto
e no entanto ele é um barco onde vou com todos vós
sulcando o deserto que resplandece e que nos ofusca
mas é aí que partilhamos o pão e o vinho
e a água fresca que os cactos absorvem
e vemos o horizonte nu sobre a areia infindável.
Eu amo e sei a quem amo mas ao mesmo tempo o meu amor é vago
e tão indefinido como uma nuvem sem rumo
perdida sobre uma ilha deserta onde as lágrimas de um náufrago
se transformaram num pássaro negro ferozmente solitário.
Sim, eu sei a quem amo, a todos vós e é por isso que não me sinto perdido
embora o esteja porque espero de nada esperar,
porque estou à beira de ser não sei sendo o quê, ou maravilha ou monstro,
iluminado ou cego ou uma coisa e outra, ou tudo ou nada,
e só o meu amor é um sim , um luminoso sinal
na nulidade de ser e de não ser quem sou.
António Ramos Rosa, in " Cartas Poéticas entre António Ramos Rosa e Manuel Madeira" Ed. Livros do Mundo,2ª edição, Maio 2011

No Prefácio destas " Cartas Poéticas entre António Ramos Rosa e Manuel Madeira" Varela Pires escreve : "Dois poetas - António Ramos Rosa, já hoje considerado o mais premiado dos poetas portugueses vivos e Manuel Madeira, outra referência marcante da poesia moderna portuguesa - tornam públicas 134 cartas , das muitas que trocaram entre si, ao longo da vida.
São textos poéticos de reflexão, de auscultação, de intimidade, nascidos de um conhecimento mútuo destes dois poetas. São epístolas iluminadas por uma confidencialidade deliberada, expressão do estranho modo de conceber e partilhar, assente na poeira dos dias e no anseio da luz contemporânea da suprema arte de revelar os seres e as coisas.(...) Este discurso poético a duas mãos - as cartas trocadas entre António Ramos Rosa e Manuel Madeira - é algo de singular no nosso tempo, espelho de fascínio e complexidade, colóquio pensante, osmose quase perfeita entre realidade e palavra, assunção do verso como expressão intimista (...) um monumento ímpar na Poesia Epistolar portuguesa do nosso tempo." Varela Pires, in Prefácio das "Cartas Poéticas entre António Ramos Rosa e Manuel Madeira" Ed. Livros do Mundo, 2ª edição, Maio 2011


Trigésima sexta carta a A.R.R.

Será o amor apenas um sentimento platónico
de que se absorve e transmite o perfume e o sabor
envoltos em palavras que perduram
enquanto os aromas e os sabores persistem
nas formas musicais das flores e dos frutos
e que depois de secos os frutos e perdidos os sons e as cores
se torna impalpável como as sensações
presentes embora nas dobras da memória
e se escoa lentamente como o fumo e a água?
O amor procura a personificação
nasce de uma ausência e do desejo de encontrar
uma presença viva que preencha o vazio
e fertilize o deserto em suculentos sulcos
para que a harmonia floresça e frutifique e cante
em vez da solidão de uma voz exausta
sobre si dobrada como sobre um poço.
Manuel Madeira, in " Cartas Poéticas entre António Ramos Rosa e Manuel Madeira", Ed. Livros do Mundo, 2ª edição, Maio 2011

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Assim vai o Mundo em 2012

O mundo em regressão
O relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) , “Global Employment Trends 2012” ("Tendências Globais do Trabalho 2012"), ontem divulgado,alerta para a necessidade de criação de emprego, face à perda de 200 milhões de postos de trabalho nos últimos três anos.
“O mundo entra em 2012 enfrentando um desafio sério em termos de trabalho e uma amplificação de condições de emprego deficitárias”, refere a organização, sublinhando que, desde que a crise começou, contabiliza-se 200 milhões de desempregados a nível global. Além da recuperação destes postos de trabalho, a OIT acredita que será necessário criar outros 400 milhões de empregos no mundo, durante a próxima década, para “gerar um crescimento sustentável, mantendo a coesão social”.
As previsões da OIT apontam para que a taxa de desemprego global se mantenha em 6% até 2016, o que, só este ano, vai significar que mais três milhões de pessoas vão ficar sem emprego. Mas a organização estima que, se a situação económica se deteriorar, o aumento se fixe em quatro milhões em 2012.
O relatório conclui que os jovens têm sido os mais penalizados desde o eclodir da crise, sendo que, em 2011, havia 74,8 milhões de desempregados no grupo de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos.
A taxa de desemprego dos jovens ronda, actualmente, os 12,7% e a OIT acredita que não vai haver grandes mudanças a este nível. “Tendo em conta a tendência actual, há pouca esperança de que se registe uma melhoria substancial no curto prazo no que diz respeito às expectativas de emprego” destas pessoas.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) avisa  que as medidas de austeridade que as economias desenvolvidas estão a aplicar aos apoios para os desempregados vão piorar as condições do mercado de trabalho e agravar as consequências de longo prazo.A tendência actual para políticas transversais de austeridade na despesa pública não dá garantias e deverá agravar os problemas no mercado de trabalho", lê-se no ‘Global Employment Trends O documento explica que "as experiências passadas sugerem, em particular, que políticas de apoio aos rendimentos dos desempregados têm o potencial para efeitos alargados e positivos na criação de emprego". Ou seja, "tanto as políticas activas como as políticas passivas direccionadas para o mercado de trabalho têm provado ser muito efectivas na criação de emprego e no apoio dos rendimentos", defende. Já "o corte nestes programas vai agravar os problemas no mercado de trabalho na região [União Europeia e países desenvolvidos], tornando mais custosa a redução das taxas de desemprego e travando substancialmente a retoma", acrescenta ainda a OIT. Em alternativa, os governos devem orientar a despesa pública para sectores "com maior potencial de criação de emprego", cortando, em alternativa, "nas despesas fiscais e nos subsídios que são ineficientes".
 O reforço do subsídio de desemprego, a reavaliação do salário mínimo e dos subsídios pagos pelos Estados às empresas que dão trabalho a pessoas com deficiência, são alguns dos caminhos que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta para incentivar a criação de emprego, num cenário de crise global.
A OIT afirma que mesmo criando-se   600 milhões de postos de trabalho na próxima década  haverá ainda 900 milhões de trabalhadores a viver abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com cerca de um euro e meio por dia. Fonte :  TSF , Público e Económico

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fernando Pessoa e a revista "Orpheu"

CARTA DE FERNANDO PESSOA
"- Comecemos por distinguir três coisas que habitualmente se confundem quando se fazem referências ao «Orpheu». Por «Orpheu» entende-se umas vezes a revista com aquele nome, de que saíram só dois números, em Março e Junho de 1915; outras vezes os que estiveram ligados a ela, ainda que como simples espectadores próximos ou amigos, e sem que nela influíssem ou colaborassem; outras vezes ainda, os que escreveram subsequentemente em estilo semelhante ou aproximado ao dos que de facto colaboraram no «Orpheu».
- Ora eu parto do principio de que o que v. quer saber é como se organizou e lançou a revista «Orpheu», e de como foi recebida. É a isso, pois, que vou responder. Isto explicará desde logo, evitando confusões ou melindres que sem esta explicação se poderiam sentir justificados, porque motivo não cito vários poetas e escritores que, pela mesma altura ou mais tarde, escreveram em estilo ou modo parecido com o nosso. Explicará também porque não vou buscar antecedentes, episódios anteriores à preparação do «Orpheu», ou até as origens, reais ou presumíveis, da corrente literária, pois foi uma corrente e não uma escola, que se manifestou no «Orpheu» mas já antes começara.
- Vamos, pois, ao caso do aparecimento da revista. Em princípios de 1915 (se não me engano) regressou do Brasil Luís de Montalvor, e uma vez, em Fevereiro (creio), encontrando-se no Montanha comigo e com o Sá-Carneiro, lembrou a ideia de se fazer uma revista literária trimestral - ideia que tinha tido no Brasil, tanto assim que trazia para colaboração alguns poemas de poetas brasileiros jovens, e a ideia do próprio titulo da revista - «Orpheu». Acolhemos a ideia com entusiasmo, e como o Sá-Carneiro tinha, além do entusiasmo, a possibilidade material de realizar a revista, passou imediatamente a dar o caso por decidido, e desde logo se começou a pensar na colaboração. Contanto mais entusiasmo acolhemos a ideia quanto é certo que ambos nós havíamos projectado varias revistas, mas sempre, por qualquer razão, os projectos haviam esquecido. O que esteve mais próximo de se realizar foi o de uma revista pequena, intitulada «Europa», que abriria por um manifesto, de que escrevi apenas uns quatro parágrafos, com colaborarão ocasional de Sá-Carneiro, e de que me lembro ser uma das principais afirmações a da nossa necessidade de «reagir em Leonino» contra o ambiente - frase tendente, é claro, para a perfeita elucidação do público.
- O certo, porém, é que se decidiu publicar o "Orpheu". Sem perda de tempo se adoptaram o nome e a periodicidade, e se estabeleceu o número de páginas - de 72 a 80 em cada número. E ficou igualmente assente que figurariam como directores o Luís de Montalvor e um dos poetas brasileiros seus amigos - Ronaldo de Carvalho. Digo «figurar como directores» sem intuito algum reservado. A direcção real da revista era, e foi sempre, conjunta, por estudo e combinação entre nós três e também o Alfredo Guisado e o Cortes Rodrigues, de quem falarei a seguir. Ficou assente também, que o Luís de Montalvor escrevesse o prefácio da revista, o que de facto fez, não colaborando porém no primeiro número por não ter pronto ou não considerar pronto o poema com que de facto colaborou no segundo.
No mesmo dia ou no dia seguinte expusemos, Sá-Carneiro e eu, a ideia da revista ao Alfredo Guisado e ao Cortes Rodrigues, e pode dizer-se que o número ficou completo, sobretudo depois de termos obtido a colaboração do Almada Negreiros, que providencialmente tinha completado uma pequena série, interessantíssima, de trechos em prosa, a que pôs o título «Frisos» quando os inseriu na revista.
O «Orpheu» foi logo para a tipografia, ficando eu apenas a completar o «Opiário» da minha  personagem Álvaro de Campos, que embora hipoteticamente escrito antes da «Ode Triunfal» o foi realmente depois.
O número foi de facto bem organizado. Começava, à parte o prefácio, com uns poemas do Sá-Carneiro e fechava com a «Ode Triunfal» do meu velho e inexistente amigo Álvaro de Campos. E, a propósito de Ode Triunfal. Para dar, mesmo para os próximos de nós, uma ideia de individualidade do Álvaro de Campos, lembrei ao Alfredo Guisado que fingisse ter recebido essa colaboração da Galiza; e assim se obteve papel em branco do Casino de Vigo, para onde passei a limpo as duas composições. Lembro-me ainda do António Ferro e Augusto Cunha, então muito novos, e que frequentemente iam pelos Irmãos Unidos, lerem atentamente, sozinhos numa mesa ao fundo, essas composições inesperadas; assim como me lembro do Almada Negreiros, depois de ler com entusiasmo a «Ode Triunfal», me sacudir fortemente pelo braço, visto a minha falta de entusiasmo, e de me dizer, quase indignado: «Isto não será como v. escreve, mas o que é, é a vida». Senti que só a sua amizade me poupava à afirmação implícita de que Álvaro de Campos valia muito mais do que eu.
- Assim a blague começava em casa?
- A blague? De certo modo. Mas é bom entendermo-nos sobre isso de blague, pois fomos acusados de «fazer blague» em tudo quanto escrevíamos e fazíamos.
Quando vi que o «Orpheu» era dado como propriedade de «Orpheu Ltda.» observei ao Sá-Carneiro que era preferível dizer «Empresa do Orpheu» ou coisa parecida, e não empregar uma designação de sociedade por quotas. «E se alguém se lembrar de pedir a certidão de registo no Tribunal do Comércio?» «Você crê?» disse o Sá-Carneiro. «Deixe ir assim. Gosto tanto, tanto da palavra limitada». «Está bem» respondi, «se o caso é esse, vá. Mas, olhe lá, que serviço é este de o António Ferro figurar como editor. Ele não pode ser editor porque é menor». «Ah, não sabia, mas assim tem muito mais piada!» E o Sá-Carneiro ficou contentíssimo com a nova ilegalidade. «E o Ferro não se importa com isso?» perguntei. «O Ferro? Então v. julga que eu consultei o Ferro». Nessa altura desatei a rir. Mas de facto, informou-se o Ferro e ele não se importou com a sua editora involuntária nem com a ilegalidade dela.
Por exemplo? Revíamos nós, Sá-Carneiro e eu, as provas da primeira folha, quando me surgiu, no prefácio de Luiz de Montalvor, a frase «maneiras ou formas» transformada em «maneiras de formas». Ia a emendar, quando o Sá-Carneiro me suspendeu. «Deixe ir assim, deixe ir assim: assim ainda se entende menos.»
Um sonetilho de Ronald de Carvalho vinha, por distracção ou outro qualquer motivo, mal pontuado. Tinha só um ponto no fim das quadras e outro no fim dos tercetos. Esta deficiência lembrou-me a extravagância de Mallarmé, alguns de cujos poemas não têm pontuação alguma, nem no fim um ponto final. E propus ao Sá-Carneiro, com grande alegria dele, que fizéssemos, por esquecimento voluntário, a mesma coisa ao soneto de Ronald de Carvalho. Assim saiu. Quando mais tarde um critico apontou indignadamente que «a única coisa original» nesse soneto era não ter pontuação, senti deveras um rebate longínquo num arremedo de consciência. Depressa me tranquilizei a mim mesmo. A falta de fim justifica os meios.”

Fernando Pessoa em texto, originalmente dactilografado, publicado como inédito em Nova Renascença, Número 2 - sem indicação do destinatário, nem da data.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ao Domingo Há Música

                                     "What have we found?/ The same old fears"
                                                                                 Pink Floyd

Numa semana em que se assinaram acordos que vão reger o mundo do Trabalho em Portugal, mundo castigado  pelo desemprego e pela precariedade, velhos medos retornam para derrogar a esperança  num futuro vislumbrado.
Os Pink Floyd numa icónica melodia de 1975, "Wish you were here",  lançam palavras com mestria e talento que revelam como a música é intemporal. Ouçamo-los.



Wish You Were Here
So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain.
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears.
Wish you were here


Roger Waters  e  David Gilmour

sábado, 21 de janeiro de 2012

A vida não cabe numa teoria

 "A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar."
Miguel Torga, in "Diário II" (Abrecôvo, 27 de Dezembro de 1941) , Circulo de Leitores

Viver é acreditar

« (…) gosto da palavra “acreditar”. Normalmente, quando se diz “eu sei”, não se sabe, acredita-se. Eu acredito que a arte é o único tipo de actividade pela qual o homem enquanto tal se manifesta como verdadeiro indivíduo. Apenas através dela ele pode ultrapassar o estado animal, porque a arte é uma abertura para lugares onde não domina nem o tempo nem o espaço. Viver é acreditar; pelo menos é o que eu acredito.»
Marcel Duchamp, “Duchamp du Signe”, Flammarion, 1994

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eventos culturais e Prémios Literários

Guimarães 2012 começa a 21 de Janeiro


Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura está mesmo a começar e a inaugurar um ano excepcional de cultura europeia todos os dias, cada dia, na extraordinária cidade de património e cultura que já é Guimarães. Viva connosco estes momentos únicos, vive Guimarães 2012.
Consulte na Agenda todos os eventos que vão preencher com invulgar intensidade a Semana de Abertura - de 21 a 28 de janeiro - e todos os detalhes sobre o programa cultural de Guimarães 2012 até 31 de Março. São dezenas e dezenas de razões para ver cultura em Guimarães, para vir a Guimarães, para viver Guimarães em 2012, para fazer parte desta Capital Europeia da Cultura.
Veja imagens de Guimarães que traduzem a dimensão da beleza ancestral desta cidade:


Prémio Literário Casino da Póvoa
 As obras finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do 13º Correntes d’Escritas, evento a decorrer na Póvoa de Varzim, de 23 a 25 de Fevereiro, já foram seleccionadas. Da lista de mais de 200 livros, o júri, constituído por Ana Paula Tavares, Fernando Pinto do Amaral, José António Gomes, Patrícia Reis, Pedro Mexia, escolheu os seguintes títulos:
A Cidade de Ulisses, Teolinda Gersão, Sextante
As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta, Dom Quixote
Adoecer, Hélia Correia, Relógio D’Água
Bufo e Spallanzan, Rubem Fonseca, Sextante
Do Longe e do Perto- Quase Diário, Yvette Centeno, Sextante
Dublinesca, Enrique Vila-Matas, Teorema
O Homem que Gostava de Cães, Leonardo Padura, Porto Editora
Os Íntimos, Inês Pedrosa, Dom Quixote
Tiago Veiga – Uma Biografia, Mário Cláudio, Dom Quixote
A reunião final do júri, para decidir o vencedor, realiza-se no dia 22 de Fevereiro e o anúncio oficial será no dia 23, na Cerimónia de Abertura do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, pelas 11h00, no Casino da Póvoa. O Prémio, no valor de 20 mil euros, será entregue na Sessão de Encerramento, no dia 25, sábado.
Mas, o certame inclui, ainda, outros prémios literários. Quanto ao Prémio Correntes d’Escritas/Fundação Dr. Luís Rainha, que distingue um livro inédito (romance, contos, ensaio ou poesia) cuja temática seja a Póvoa de Varzim, concorreram seis trabalhos. Todos os vencedores serão também anunciados na Cerimónia de Abertura do Correntes d’Escritas.
Em pouco mais de um mês, o maior evento literário do país está de regresso ao sítio do costume. A Póvoa de Varzim, entre 23 e 25 de Fevereiro, tornará a receber os seus amigos – escritores e público– para juntos viverem dias informais à volta das palavras e dos livros.Site CMPV, Póvoa de Varzim, 11.01.2012
Prémio Jacinto Prado Coelho
A Associação Portuguesa dos Críticos Literários (APCL) distinguiu a professora universitária Rosa Maria Martelo com o Prémio Jacinto do Prado Coelho de 2010, foi esta segunda-feira anunciado.
O presidente da APCL, Liberto Cruz, disse à agência Lusa que Rosa Maria Martelo foi distinguida pelo livro “A Forma Informe – Leituras de Poesia”, editado pela Assírio & Alvim, “um conjunto de ensaios exclusivamente acerca de poetas portugueses”.
“O júri considerou que este livro revela uma notável capacidade de análise de um género que está, infelizmente, cada vez mais afastado dos interesses críticos dos nossos dias”, indicou o presidente da APCL, que fez parte do júri.  Público.


A Fundação Calouste Gulbenkian promove um ciclo de conferências durante o ano 2012 com o seguinte programa:
Quarta, 15 Fevereiro 2012, 18:00 Trazer o céu para a terra. Henrique Leitão, Universidade de Lisboa .
PRÓXIMAS CONFERÊNCIAS:Quarta, 28 Março 2012, 18:00 Ter muitas ideias, e a coragem de deitar quase todas fora. Dinis Pestana, Universidade de Lisboa | Quarta, 18 Abril 2012, 18:00 Geometria com dobras de papel: como o origami bate Euclides. Ana Rita Pires, Cornell University | Quarta, 16 Maio 2012, 18:00 Como rodopia um pião, e porquê. Eduardo Marques de Sá, Universidade de Coimbra | Quarta, 6 Junho 2012, 18:00 A Teoria do Caos: de Homer Simpson ao futuro do Planeta. M. Paula Serra de Oliveira, Universidade de Coimbra | Quarta, 24 Outubro 2012, 18:00 A linguagem do Universo. José Natário Universidade Técnica de Lisboa | Quarta, 14 Novembro 2012, 18:00 Trigamia intelectual: Poincaré, Hamilton e Perelman. André Neves, Imperial College | Quarta, 12 Dezembro 2012, 18: 00 A Matemática, o Universo e tudo o resto. Jorge Buescu, Universidade de Lisboa

I Congresso Internacional de Cultura Lusófona Contemporânea
Subordinado ao tema A Mulher na Literatura e Outras Artes, o I Congresso Internacional de Cultura Lusófona Contemporânea, promovido pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre, decorre nos dias 11 e 12 de Junho de 2012, encontrando-se oficialmente aberto o período para submissão de propostas de comunicação num dos seguintes subtemas:
1. Literatura e autoria feminina: vozes, percursos e modos de ver o mundo
2. Texto, género e linguagem: as potenciais marcas do feminino
3. Modalidades de escrita no feminino: diários ficcionais e narrativas epistolares
4. Representações da mulher na literatura de autoria masculina ou feminina: a (des)construção do estereótipo
5. Sujeitos textuais e construção da identidade feminina: auto-percepção e (in)aceitação de si; corpo: totalidade e fragmentação
6. Identidade feminina e alteridade: a poética do (des)encontro
7. Representações da mulher no Cinema e outras Artes: a (re)configuração do cânone e da identidade
Os resumos de eventuais comunicações deverão ser enviados por correio electrónico até ao dia 12 de Março de 2012 para congressoesep@gmail.com

A crise é real, mas não mata a programação do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian(CAM)
Primeira exposição portuguesa de Josef Albers e o assinalar do ano Portugal-Brasil são os destaques da programação do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian.
Crise, mas a crise não elimina a ambição. A de, por exemplo, mostrar pela primeira vez em Portugal a obra do pintor germano-americano Josef Albers, "um dos grandes pilares da arte do século XX", e pô-la em relação, recorrendo à colecção do CAM, com a produção portuguesa sua contemporânea. A de acolher uma retrospectiva do artista conceptual espanhol Antoni Muntadas (Entre/Between), ou de assinalar este que é o Ano Portugal-Brasil, celebrado nos dois lados do Atlântico, com exposições de
Beatriz Milhazes (Quatro Estações) e de Rosângela Rennó (Frutos Estranhos).O olhar para o exterior, como é desejo manifesto da directora do CAM, estará em constante diálogo com a produção artística nacional: a primeira exposição póstuma de Jorge Varanda, uma "biografia comentada" de Alberto de Lacerda, uma antologia de Carlos Nogueira ou A mata B, a exposição que o colectivo A kills B, fundado em 2007 por Hugo Canoilas e João Ferro Martins, preparou.
Depois de um ano que encerrou com Plegaria Muda (Oração Silenciosa, a primeira exposição portuguesa da colombiana Doris Salcedo (destacada na revista Art Forum como uma das melhores de 2011), este ano iniciou-se com task performance (até dia 20), um ciclo de filmes e vídeos de Robert Morris, Dennis Oppenheim e Roman Signer. Como se lê no texto de apresentação, estes artistas representavam, na década de 1960 e 1970, a vontade de substituir - em sintonia com a "nova dança" de coreógrafas como Yvonne Rainer, Lucinda Childs e Trisha Brown - "qualquer interpretação ilusionista pela experiência directa do tempo real, o tempo da experiência das nossas acções comuns".
Se 2011 foi no CAM aquele que Isabel Carlos classificou como "o ano da Escandinávia", fruto das parcerias estabelecidas com instituições daquela região, este será "o ano da Suíça". Quatro Estações, de Beatriz Milhazes (17 de Fevereiro a 13 de Maio), nasce da colaboração com a Fundação Beyeler de Basileia, e Frutos Estranhos, de Rosângela Rennó (de 17 de Fevereiro a 6 de Maio) resulta de uma parceria com o Fotomuseum Winterthur de Zurique.
A 18 de Maio chegará ao CAM aquela que a revista francesa Beaux Arts considerou uma das melhores exposições de 2011 em França. Pintura sobre papel - Josef Albers na América, que estará patente até 1 de Julho, apresenta uma obra que ficou célebre pelas Homenagens ao Quadrado, pintadas entre 1950 e 1976, através de 80 estudos pouco conhecidos do artista nascido na Alemanha em 1888.
Entre/Between, de Antoni Muntadas, um dos primeiros a reflectir a problemática das relações entre a arte, os media e a vida, chega a 7 de Junho, vindo do Rainha Sofia, em Madrid. Do Irish Museum virá, a 21 de Setembro, Imagens ou Sombras, do irlandês Gerard Byrne. Fonte : Público
Congresso Internacional 2012 - Centenário do Nascimento de Alves Redol
"No Centenário do Nascimento de Alves Redol e a poética do romance: encruzilhadas e derivas ideológicas", pelo Prof. Doutor Carlos Reis, será a primeira das várias comunicações que integram o Congresso Internacional “No Centenário do Nascimento de Alves Redol, que tem lugar nos dias 19 (na Faculdade de Letras), 20 e 21 de Janeiro (no Museu do Neo -Realismo). O Congresso realiza-se no âmbito das Comemorações do Centenário do Nascimento do escritor vila-franquense, cuja obra e percurso de vida têm sido divulgadas nas múltiplas iniciativas que, desde Janeiro de 2011, decorrem no Museu do Neo-Realismo e noutros locais, no quadro da programação das entidades que se associaram a esta efeméride.  A organização deste Congresso cabe ao Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ao Museu do Neo-Realismo e à Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, que conseguiram reunir um importante leque de congressistas em torno da obra de Alves Redol. Para além de Carlos Reis, registem-se os nomes de José Neves, Mário Vieira de Carvalho, David Santos, Emília Tavares, José Manuel Vasconcelos, Isabel Pires de Lima, Helena Carvalhão Buescu, Paula Morão, Maria Graciete Besse, António Pedro Pita, Manuel Gusmão, Vítor Viçoso e Maria Alzira Seixo, responsável pela conferência de encerramento do Congresso, intitulada: Redol e a literatura em devir: poética da transformação do texto em “Avieiros” (estudo das 1.ª e 6.ª edições). O programa do Congresso pode ser consultado Aqui

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Até ao Fim


Então está tudo dito, meu amor
Por favor, não penses mais em mim
O que é eterno acabou connosco
E este é o princípio do fim

Mas sempre que te vir
Eu vou sofrer
E sempre que te ouvir
Eu vou calar
Cada vez que chegares
Eu vou fugir
Mas mesmo assim amor
Eu vou-te amar
Até ao fim do fim
Eu vou-te amar

Então está dito, meu amor
Acaba aqui o que não tinha fim
Para ser eterno tudo o que pensámos
Precisava que pensasses mais em mim

Para ti pensar a dois é uma prisão
Para mim é a única forma de voar
Precisas de agradar a muita gente
Eu por mim só a ti queria agradar

Tozé Brito


Ana Moura, uma das novas  grandes vozes do Fado, em " Até ao Fim ", peça extraída do Álbum "Coliseu audio" cujo poema Música  são de Tozé Brito.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Mensagem

" O Tudo ou o seu nada
O inteiro mar ou a orla vã desfeita."

                             Fernando Pessoa, in " Mensagem", Colecção Poesia , Edições Ática

Estarei aqui no dia da chegada

"Se eu pudesse falar-te. Se as minhas mãos, se a minha voz te tocasse: não me escutas, é ainda demasiado cedo para que saibas que existo. (...) A única forma de te ser fiel é costurar a vida, lentamente, pelo avesso da dor, inventar um peito onde possas deitar-te, cobrir com lenços grandes os espelhos a fim de que nada impeça o teu regresso. Como não quis ver-te partir estarei aqui no dia da chegada. Também eu vim da guerra quando ninguém sabia dos meus passos. Em Novembro, de manhã, tão de manhã, que os mortos do meu sangue nem sequer tiveram tempo de acordar. Dormiam como dormes. E cá estão. Fazem parte de ti, de mim, do mundo. De onde tornas a nascer. Imensamente."
António Lobo Antunes, in "Não entres por enquanto nessa noite escura", Ed. D. Quixote

Sinopse do romance: " O pai de Maria Clara foi internado e vai morrer. O livro é composto pelas divagações de Maria Clara, as suas recordações e as suas histórias e personagens inventadas, enquanto o pai está a morrer."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cantiga do Batelão



Se me visses morrer
os milhões de vezes que nasci

Se me visses chorar
os milhões de vezes que te riste...

Se me visses gritar
os milhões de vezes que me calei...

Se me visses cantar
os milhões de vezes que morri
e sangrei...

Digo-te irmão europeu
havias de nascer
havias de chorar
havias de cantar
havias de gritar

E havias de sofrer
a sangrar vivo
milhões de mortes como Eu !!!
José Craveirinha, in "Xigubo", Edições 70,Lisboa, 1980

José Craveirinha nasceu em Maputo a 28 de Maio de 1922 e faleceu na República da África do Sul a 6 de Fevereiro de 2003.Escritor, poeta, contista, jornalista foi o primeiro Presidente da Associação de Escritores Moçambicanos.Esteve preso pela Pide, de 1965 a 1969, com Malangatana e Rui Nogar, entre outros, na célebre Cela 1. 
Tem uma abundante obra publicada e é considerado um dos grandes poetas de África e da Língua Portuguesa. Em 1991, recebeu o mais alto galardão literário português, o Prémio Camões.
“Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite." José Craveirinha em notas autobiográficas

O declínio do cérebro

Especialistas procuram mudanças iniciais que indiquem Alzheimer
"Um estudo conduzido ao longo de dez anos (entre 1997 e 2007), pela University College de Londres (UCL), indicou que as funções do cérebro podem começar deteriorar-se a partir dos 45 anos. A investigação foi publicada na revista «British Medical Journal».
Entre mulheres e homens com idades entre 45 e 49 anos, os cientistas perceberam um declínio no raciocínio mental de 3,6 por cento, contrariando estudos anteriores que indicavam que o declínio cognitivo seria depois dos 60.
Os cientistas avaliaram a memória, o vocabulário e as habilidades cognitivas – de percepção ou de compreensão – de quase 5,2 mil homens e 2,2 mil mulheres entre 45 e 70 anos, todos, funcionários públicos britânicos.
Os resultados demonstraram uma queda da memória e da cognição visual e auditiva, mas não se verificou o mesmo relativamente ao vocabulário. Em indivíduos entre 65 e 70 anos, o declínio mental foi de 9,6 por cento nos homens e 7,4 por cento nas mulheres.
Para os cientistas, isso quer dizer que a demência não é um problema exclusivo da velhice, e sim um processo que se desenrola ao longo de duas ou três décadas e o importante é identificar os riscos precocemente.
As funções cognitivas estão ligadas a hábitos e estilo de vida, através de factores como o fumo e a falta de exercício físico. Para a Sociedade contra o Alzheimer, o estudo mostra a necessidade de mais conhecimento das mudanças no cérebro que sinalizam o problema. Adoptar uma dieta saudável, não fumar, manter o colesterol e a pressão do sangue sob controlo – reduzem o risco de demência, segundo a sociedade." Fonte: Ciência Hoje em 2012-01-06