sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O sentido da vida

" A vida humana tem um sentido, faz sentido, ou será que , na esteira do Qohelet, devemos repetir mataiótês mataiotétôn, ta panta mataiótês ( " Vaidade das vaidades ( isto é : suprema vaidade), tudo é vaidade " ? Admitindo mesmo o lado retórico da afirmação , resta saber onde se encontra o sentido da vida, em que coisa consiste , como encontrá-lo. E as perguntas multiplicam-se , exercendo sobre nós uma pressão quase imediata: o sentido, somos nós que o inventámos ou preexiste-nos? Ele precede-nos de tal modo que a nossa tarefa consista em descobri-lo ou temos de o construir passo a passo? No decurso do tempo, será que o sentido permanece igual, ao abrigo das contingências da vida, ou ele segue os meandros imprevisíveis de toda a existência? Outra questão: uma vez na nossa posse , porquanto possamos falar de posse do sentido, podemos perdê-lo, podemos abandoná-lo, sob o peso das vicissitudes da existência? No decurso da vida , poderemos afirmar que se mantém quase imutável ou inalterado, adaptando-se às épocas que cada idade atravessa? E na hipótese de se poder alcançá-lo, " fará sentido" mantê-lo e conservá-lo numa espécie de torre de marfim, como se estivesse protegido das desgraças daqueles que nos rodeiam? Enfim, como afirmar que a morte tem sentido, que o esquecimento tem sentido, que a doença terminal e o enfraquecimento físico-mental têm sentido? Qual é este sentido capaz de projectar a sua sombra ou, mais exactamente, a sua luz na existência a ponto de a tornar compreensível, aceitável e sorridente?
Dois polos emergem; esperança, certeza, felicidade, luz que se abre à plenitude do cosmos, por um lado; trágico, absurdo, desesperança, solidão do fechamento sobre si, por outro; eis duas direcções, de sinais opostos, entre as quais a existência humana parece distendida, numa tensão incontornável. E qual será o lugar para Deus neste combate humano? "
Michel Renaud, in " A fragilidade na busca de o sentido da existência", Revista Portuguesa de Bioética", Outubro de 2011

2 comentários:

  1. O MAIS GENUINO SENTIDO DA VIDA, DO SER, É CRIAR, AJUDAR A CRIAR VIDA, NOS NOSSOS SEMELHANTES, NOS OUTROS, ESSES ESPELHOS DE NÓS PRÓPRIOS. SENTIRMOS A VIDA É EXISTIR, É TRANSPORTARMOS CONNOSCO NOVAS FORMAS DE "INVENTAR" O SER, O SERMOS, O PERCURSO E AS RAZÕES DE O PERCORRERMOS, AS MÚLTIPLAS VERTENTES DO OLHAR, DE OLHARMOS A RAZÃO OU AS RAZÕES DE ESTARMOS, AQUI E AGORA, NA PROFUNDA E VASTÍSSSIMA EXTENSÃO DOS TEMPOS. O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA É PRODIGALIZAR O BEM, ATRAVÉS DAS NOSSAS POSSIBILIDADES,O GESTO MAGNÂNIMO DE "DARMOS ASAS" AOS QUE AS NÃO AS ABRIRAM, E CONVIDÁ-LOS AO VOO, A ESSE VOO DO MARAVILHOSO QUE É SENTIRMOS E LEVARMOS ESSE SENTIR, ESSA PAIXÃO DE SENTIMENTO ATÉ ONDE FOR POSSÍVEL!... - V.

    ResponderEliminar
  2. ...E qual será o lugar para Deus neste combate humano?

    Se Deus estivesse no centro do coração humano haveria menos guerras interiores e exteriores, visto que ele ensina: amai ao próximo como a ti mesmo. Mas, o homem ocupado com tantas coisas efêmeras, esquece-se até mesmo de se amar, abrindo portas para conflitos e preocupações.
    Felicidades a você.

    ResponderEliminar