sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Angola: poesia e civilização


Bailarina negra
A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz

A noite
Sempre a noite
Sempre a indissolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz

Um perfume de vida
esvoaça
adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão

Amor,
Vênus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece

Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãs de fogo
amor
.
António Jacinto* , in “ Poemas 1961”

*António Jacinto, cujo nome completo é António Jacinto do Amaral Martins, nasceu em Luanda em 1924 e faleceu em 1991. Orlando Távora é o pseudónimo utilizado por António Jacinto como contista. Por razões políticas esteve preso entre 1960 e 1972. Militante do MPLA, foi co-fundador da União de Escritores Angolanos, membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola e participou activamente na vida política e cultural angolana. Foi empregado de escritório e técnico de contabilidade, Ministro da Educação de Angola e Secretário de Estado da Cultura.
Obra poética: “Poemas, 1961”


Monangambé  (contratado)
Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras

- "Monangambéé...'"

António Jacinto, in " Poemas, 1961"

Ruínas de Mbanza Kongo


Angola: Ruinas de Mbanza Kongo candidata-se a Património da Humanidade
"A coordenadora da candidatura das ruínas de Mbanza Kongo, Angola, a património da humanidade afirmou Quarta-Feira, 7 de Dezembro, que o Governo tem até Julho de 2012 para apresentar o dossiê à UNESCO e considerou que já existem indícios para sustentar a inscrição.
Segundo a arqueóloga Sónia da Silva António, a coordenadora do Projecto «Mbanza Kongo, cidade a desenterrar para preservar», do Ministério da Cultura angolano, decorrem actualmente os trabalhos de escavação na área classificada daquela cidade para procurar as provas arqueológicas de que a antiga capital do reino do Kongo tem um valor universal excepcional.
Formado no século XIII, o reino do Kongo tinha seis províncias e ocupava parte dos actuais territórios de República Democrática do Congo (RDC), Congo Brazzaville, Gabão e Angola. Mbanza Kongo ainda hoje preserva as ruínas daquela que pode ter sido a primeira Sé Catedral erguida ao sul do Saara, denominada Kulumbimbi e construída no século XVI, testemunha da presença portuguesa na região.
Sónia António, que desde segunda-feira se encontra em Mbanza Kongo acompanhada de dois arqueólogos da Universidade de Yaoundé, Camarões, para mais uma missão científica, reconheceu que ainda há muito por pesquisar, mas que existem já indícios que podem sustentar a inscrição das ruínas na agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).Notícia in “ Ciência Hoje”

1 comentário:

  1. África, sedução, amor e por vezes também pesadelo!... Quem a conhece desde a mais tenra idade, nunca mais esquece as suas cores, os seus cheiros, a chuva quente, o calor anular, os cantares, as danças no fogo da noite, o feitiço, a febre dos dias!... - V. P.

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