sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Portugal dos pobrezinhos

Ontem, duas notícias divulgadas pela Lusa entraram em agónica luta. Se a primeira lançava a semente da esperança , a segunda expulsava-a do futuro  dos portugueses. Portugal assistiu, em horário nobre, à comunicação do Primeiro Ministro a que se refere a segunda notícia.Uma avalanche de penalizações e de precariedade existencial desabou sobre todos nós, povo deste país. Um atestado de desgovernação nacional ao longo do tempo por políticos inaptos, ineptos, indecorosos e inequivocamente inaceitáveis conduziram-nos à miséria, ao descalabro , ao limbo da sobrevivência. E onde estão eles ? O que se apresentou , assume-se condoído e sem responsabilidade por este processo suicida. Os outros andam lá fora ou por aí, incólumes, gracejando e alvitrando,  imunes ao desaire que nos lançaram. E repetem -se. Sempre  o mesmo discurso, as mesmas palavras , o mesmo cânone. A culpa é dos outros que se foram, ou seja,   da herança desconhecida que os sucessivos governos vão recebendo das findas  governações.
Impostos, desemprego, despedimentos, redução de salários, de subsidios de férias e de Natal , de assistência na saúde e na educação, alargamento do horário de trabalho foi o anúncio de  uma sequência tenebrosa de medidas que toda conjugada nos conduz ao desespero, à miséria e ao espectro terrível da fome. E eis que somos nós e apenas nós, povo deste país, que vai suportar a iniquidade de tanta danosa governação.
Onde chegamos meu pobre , pobre Portugal. Onde nos colocaram, meu pobre , pobre Portugal. Para onde iremos, meu pobre , pobre Portugal? E que seremos, meu pobre, pobre Portugal?
Para que se visualizem as notícias a que se alude,  faz-se a  sua transcrição, bem como alguns textos para uma plural e fugaz  reflexão.

Notícias da Lusa:
1-O presidente executivo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira disse ontem que Portugal ainda não é um caso de sucesso, mas pode vir a ser, e que os investidores conhecem agora melhor a Europa por causa da crise.
2- O primeiro-ministro afirmou hoje que nunca pensou ter de anunciar aos portugueses «medidas tão severas» como a eliminação dos subsídios de férias e de Natal, expansão do horário de trabalho no sector privado em meia hora por dia, cortes muito substanciais no sector da saúde e da educação. "Temos de salvaguardar o emprego", justificando-as com uma «derrapagem orçamental» da responsabilidade do anterior executivo do PS.
«Nunca nos deveríamos ter permitido chegar a este ponto. Quando fui eleito primeiro-ministro nunca pensei que tivesse de anunciar ao país medidas tão severas e tão difíceis de aceitar», afirmou Pedro Passos Coelho, numa declaração ao país, na residência oficial de São Bento.
Segundo o primeiro-ministro, «os desvios na execução orçamental de 2011 relativamente ao que estava previsto no programa de assistência [económica e financeira a Portugal] são superiores a 3 mil milhões de euros» e obrigaram o Governo PSD/CDS-PP a reforçar as medidas previstas.Diário Digital / Lusa


Já Foste Rico e Forte e Soberano

Já foste rico e forte e soberano,
Já deste leis a mundos e nações,
Heróico Portugal, que o gran Camões
Cantou, como o não pôde um ser humano!

Zombando do furor do mar insano,
Os teus nautas, em fracos galeões,
Descobriram longínquas regiões,
Perdidas na amplidão do vasto oceano.

Hoje vejo-te triste e abatido,
E quem sabe se choras, ou então,
Relembras com saudade o tempo ido?

Mas a queda fatal não temas, não.
Porque o teu povo, outrora tão temido,
Ainda tem ardor no coração.

Saúl Dias, in "Dispersos (Primeiros Poemas)" Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão de José Régio, foi poeta do movimento da «Presença», assinando os poemas com o nome de Saúl Dias.

A Cegueira da Governação
"Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais?" E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos." Padre António Vieira, in "Sermões"

1 comentário:

  1. Os ricos só se sentem verdadeiramente ricos, se tiverem como termo de comparação a confrangedora pobreza dos pobres. Infelizmente!... Os que pouco ou nada têm, os pobres, não necessitam de termo de comparação, porque simplesmente a pobreza acumula pobreza, sorvendo o magro caldo requentado dos dias anteriores, enquanto a riqueza chamará sempre mais riqueza, mais capital, mais dinheiro para se tornar imbatível. Assim... Os governantes de um país (pobre) nunca poderão querer que esse país cresça, se torne grande, esmifrando cêntimo a cêntimo, esmagando o povo em miséria, empobrecendo cada vez mais os seus cidadãos! Esta é que é a nossa triste realidade!... O futuro?!... Mudar de vida! Mudarmos o nosso viver é (será) o lema. Esse o caminho. Tal como o Padre António Vieira pregou há 400 anos... - V.P.

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