quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Indignação saiu à rua

"Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida."
Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

Cartoon de Rodrigo.(Expresso)

Ao olharmos diariamente o que acontece neste nosso mundo , concluimos que o pesadelo do desespero está a tomar conta dele. A crise que nasceu a Ocidente emerge assustadoramente pelo planeta por entre a indiferença de quem comanda. E quem comanda é o lucro, a sede de riqueza a qualquer preço, a ganância feita regra e lei. A miséria há muito tempo foi sempre presente nos países onde o olhar nunca enxergou a pradaria. A aridez do deserto era-lhes imposta.
Mas a volúpia cresceu e o homem deixou-se cair nas teias em que foi insidiosamente aprisionado. Os ideais de bem-estar eram convencional e estrategicamente propagados em repetidas imagens de vazia felicidade consumista. Os índices de desemprego, a exploração das debilidades económicas levaram muitas famílias a novos estados de pobreza que se criam erradicados. A apatia e a fatalidade marcaram os primeiros tempos deste novo estado crísico. Os jovens, os mais atingidos porque sem futuro não se realizam, estavam em silêncio e esse silêncio confrangia uma geração que apostara na luta por ideais de justiça social, de liberdade e de paz , enfim , por ideologias onde a exploração do Homem não tinha espaço.
Ora, de acordo com a notícia do jornal Expresso, a taxa de desemprego em Portugal foi a quarta mais elevada da OCDE em Agosto com 12,3 por cento, quando a média dos 34 países desta entidade se fixou em 8,2, revelou a organização e para os países com dados disponíveis em Agosto, dentro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), só Espanha (21,2 por cento), Irlanda (14,6 por cento) e Eslováquia (13,4 por cento) se encontravam com taxas de desemprego superiores a Portugal.Nos 34 países da OCDE havia 44,3 milhões de pessoas desempregadas em Agosto, superior em 10,4 milhões de pessoas face a agosto de 2008.
Sendo os jovens, aqueles que maior dificuldade têm no acesso ao emprego, era inevitável o término do seu silêncio. Os Indignados estão nas ruas do Mundo vestindo novas formas de protesto. Se a forma é essa, ainda não se sabe, mas que a indiferença abre a porta à exploração, ao totalitarismo e à miséria controlada já todos nós sabemos.
Baptista-Bastos escreveu um artigo de opinião sobre os Indignados. A força, que marca a sua escrita, leva-nos a transcrevê-lo.

Sobre os "indignados"
por Baptista-Bastos
Tudo indica que o capitalismo está sem resposta para os desafios que lhe estão a surgir, um pouco por todo o lado. Os "indignados" dos oitenta países que se manifestaram no último fim- de-semana constituem um sinal, entre muitos outros, do mal-estar das populações. O empreendimento totalitário do "mercado" começa a fazer emergir novas formas de cidadania, com o pessoal mais novo a repegar nas bandeiras dos seus pais e a dar um outro sentido à resistência ideológica. Os turiferários do sistema podem esbracejar contra o movimento geral de protesto, alegando que o capitalismo tem sempre encontrado formas de se renovar, mas os seus argumentos não passam de autolimitações de recurso. A verdade é que os sinais são facilmente apreensíveis e negar ou contornar esta recomposta versão da luta de classes é tapar o sol com a peneira.
Sempre que nos mobilizamos estamos a decidir. E, lentamente embora, tudo induz a uma mudança considerável de mentalidades. Os mais jovens, sendo os porta-vozes do descontentamento generalizado, não se contentam com ser sujeitos passivos daquilo que lhes impõem. Os modernos mecanismos de informação e de relação uns com os outros representam uma etapa importante dos laços sociais, reatados, com outros métodos, após décadas de manipulação e de propaganda.
A verdadeira dimensão da acção dos "indignados" é, ainda, imprevisível e, acaso, não imaginável quanto aos resultados finais; no entanto, a própria distribuição assimétrica do protesto admite o renascimento de uma certa forma de convívio. Ora, o poder sempre combateu a convivialidade para discricionariamente governar, mesmo em democracia.
Algumas débeis adaptações que o capitalismo tem feito às exigências históricas nasceram das acções conjuntas dos "indignados" dessas épocas. O "equilíbrio pelo terror", da guerra-fria, permitia algumas cedências, e uma confortável estabilização das classes trabalhadoras. A implosão do "socialismo real" e a queda do Muro inverteram, ou subverteram, como se queira, o estado de coisas. Esta situação concebeu um desafio ético, que o capitalismo ignora e espezinha, como se está duramente a ver. A ausência de discussão e de debate, a ascensão de uma Direita integrista e intolerante criaram um vácuo insuportável, a que a Esquerda não soube ou não quis dar resposta, por inércia, incompetência e traição.
Os "indignados" emergem, inorganicamente, à margem dos partidos e das organizações sindicais, pela simples razão de que não se sentem representados
nem defendidos. Este tipo de iniciativas, sem fórmulas nem linhas regulamentadas, pode fazer despertar os nossos adormecimentos e as nossas fatigadas indiferenças. E repor em causa as origens dos poderes que dominam os valores morais, e nos causam desgraça, infelicidade e medo.
Baptista-Bastos em Artigo de Opinião ,publicado no DN, em 19/10/2011

1 comentário:

  1. Nascer para a vida, como dizia Manuel da Fonseca... Acrescento, pois!!!... Nascer igualmente para a indignação. Indignai-vos!... Se não vos indignarem, é porque não são gente, GENTE!... Se não nos indignarmos, não somos, nunca seremos nada! - V. P.

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