terça-feira, 25 de outubro de 2011

Andréa del Fuego recebe Prémio José Saramago

“Com o romance “Os Malaquias”, a escritora brasileira Andréa del Fuego é a vencedora da sétima edição do Prémio Literário José Saramago. O anúncio acaba de ser feito numa cerimónia no edifício sede do Grupo Bertrand Círculo, em Lisboa. O prémio, no valor de 25 mil euros, foi entregue à jovem escritora pelo secretário de Estado, Francisco José Viegas e foi atribuído por unanimidade.
O Prémio Literário José Saramago, que foi instituído pela Fundação Círculo de Leitores e é atribuído de dois em dois anos, distingue uma obra literária no domínio da ficção, romance ou novela, escrita em língua portuguesa, por um escritor com idade não superior a 35 anos, cuja primeira edição tenha sido publicada em qualquer país lusófono.
A escritora, natural de São Paulo, tem formação em publicidade, fez produção de cinema e realizou duas curtas-metragens, “Morro da Garça”, inspirada nas paisagens de Guimarães Rosa, e “O Beijo e Ela”. Andréa del Fuego que se estreou literariamente em 2004 com a antologia de contos “Minto enquanto posso”, recebeu já este ano o Prémio São Paulo de Literatura.
"Os Malaquias" conta a história da família de Andréa, cujos bisavós morreram ao serem atingidos por um raio. Aqui fica um excerto: "Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."
À sétima edição do prémio, que celebra a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998 a José Saramago, podiam concorrer obras publicadas em 2009 ou 2010 enviadas pelos escritores ou editores dos países da lusofonia cujos autores tivessem até 35 anos à data da sua publicação. O júri do Prémio José Saramago foi, nesta edição, presidido pela directora editorial do Círculo de Leitores, Guilhermina Gomes e composto ainda pela escritora e académica brasileira Nelida Piñon; pela poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares; pela “presidenta” da Fundação José Saramago, Pilar del Río, e pelo poeta e escritor Vasco Graça Moura. Por escolha da presidente Guilhermina Gomes, integraram também o júri Manuel Frias Martins, Maria de Santa Cruz e Nazaré Gomes dos Santos.”in jornal “Público”

1 comentário:

  1. A melhor maneira de não deixar esquecer um grande escritor é instituir um Prémio Literário Internacional com o seu nome. Um Prémio que o tenha como patrono. Parabéns, pois, a Andrea del Fuego!... E conjuntamente a Saramago, por "abençoar" tão jovem escritora e possuidora de tal estilo portentoso, másculo, por vezes rude, com termos golpeantes, fortes, mas com uma economia diegética admirável! ...A hemodinâmica cardíacado casal de idosos foi atingida por um raio durante uma trovoada. Fulminados!!! A escrita fascinante, afiada, contundente, sadia, da brasileira Andrea del Fuego quase que nos fulmina também, mas para nos "ressuscitar", para nosso bem, para procurarmos ler os seus livros. Pena que o câmbio livreiro do Brasil se repercuta em preços tão elevados em Portugal!... Quase inacessíveis à nossa bolsa! Porém, isso são outros contos que a longa irmandade luso-brasileira ainda não conseguiu resolver em tantos anos, quantos vai de vencida!... - V. P.

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