domingo, 11 de setembro de 2011

Há Música ao Domingo


Nesta década, 2001-2011, construimos um mundo desencantado. Em nome da perseguição/extinção do terrorismo, foram invadidos países, espoliados povos, torturados presos, desbaratado Património da Humanidade e propalada guerra pelo mundo. Mas o terrorismo continua. Ataques bárbaros, horrendos e incompreensíveis são perpretados constantemente.  O pior do presente é um futuro sem esperança. A salvaguarda do homem  talvez esteja na transfiguração desse caos em esperança, através da desconstrução do pavor que transformou o mundo.
Neste espaço semanal de Música, neste  Domingo , 11 de Setembro de 2011, será vossa a selecção. Um posto de rádio de New-York fez um apelo para que lhe fosse enviada pelos ouvintes uma obra musical que simbolizasse o 11 de Setembro, legendada com a respectiva justificação. Não sabemos ainda qual o resultado, mas apanhámos a sugestão, pelo que ficam, aqui, duas opções que poderão seleccionar. A legenda é nossa.

 "Air", suite nº 3, de  Johann Sebastian Bach



"Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor as fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma."
 Miguel Torga In “Fernão de Magalhães, Antologia Poética”, Lisboa: Dom Quixote, 1999.


"Palladio" de Karl William Jenkins, músico/compositor galês.



O POETA BEIJA TUDO

O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade...
E diz assim: "É preciso saber olhar..."
E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos...
E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás...
E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha...
E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de sol depois de um dia chuvoso...
E acha que tudo é importante...
E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim...
E reparou que os homens estavam tristes...
E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar..."
Sebastião da Gama, Diário, Lisboa, Edições Ática, 1975, 5.ª ed.

2 comentários:

  1. Só o Sebastião da Gama, o nosso "Zé da Anica",como era conhecido em Estremoz, professor (dos que aprendendo com os seus alunos, ganham informação para ensinar...) e também poeta, infelizmente desaparecido tão cedo, por motivos de uma tuberculose pulmonar, extensível aos rins, que conduziu a insuficiência renal, e à morte, poderia adoptar, se estivesse entre nós, como seu programa de vida a dedicada condição "pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes...", Ontem, como hoje, os homens estão tristes, não vislumbrando saída para a sua tristeza!... Parabéns pela excelente selecção musical,com distinção para Bach, sempre tão cuidada,tão amplamente generosa, e por nos ter recordado Sebastião da Gama, a quem o professor David Mourão-Ferreira chamou "o Príncipe dos Poetas da sua geração"...
    Varela Pires

    ResponderEliminar
  2. Excelente selecção musical neste dia que nos faz recordar memórias tão dramáticas. Por mim "voto" na peça de Karl W.Jenkins.

    ana maria

    ResponderEliminar