© Fernando Fernandes / Sentido das Letras
© Fernando Fernandes / Sentido das Letras

O passeio deve começar bem cedo para aproveitar ao máximo tudo o que a vila de Sintra tem para oferecer. E a escolha não é fácil.
Para que o dia seja verdadeiramente low cost, sugerimos que vá de comboio e que depois se desloque a pé pela vila. Terá pela frente algumas caminhadas valentes mas verá que nem se dará conta das distâncias com as paisagens que o rodeiam.
Sugerimos que comece pela exploração da Quinta da Regaleira. Situada em pleno Centro Histórico de Sintra, classificada Património Mundial pela UNESCO, a Quinta da Regaleira é um lugar com espírito próprio. Construída no início do Século XX inclui um conjunto de construções espalhados pela floresta luxuriante que rodeia a casa principal. Diz a história que a Quinta da Regaleira é o resultado da concretização dos sonhos mito-mágicos do seu proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro(1848-1920), aliados ao talento do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini(1848-1936).
A imaginação destas duas personalidades invulgares concebeu, por um lado, o somatório revivalista das mais variadas correntes artísticas - com particular destaque para o gótico, o manuelinoe a renascença- e, por outro, a glorificação da história nacional influenciada pelas tradições míticas e esotéricas.
Entrar na Quinta da Regaleira é recuar no tempo. É também uma viagem pelos sonhos, pelos mitos, pela imaginação. Deixe-se transportar e ali desfrutará de várias horas dos mais diversos prazeres.
O Palácio dos Milhões, a casa principal, é uma verdadeira mansão filosofal de inspiração alquímica, repleta de pormenores e recantos a que é preciso dar atenção. Cá fora, o parque engloba um cenário verdadeiramente exótico, onde as diferentes espécies de flora refletem o cuidado com que ali foram colocadas.
Não deixe ainda de entrar na Capela da Santíssima Trindade, que nos permite descer à cripta onde se recorda o simbolismo e a presença do além. Há ainda um conjunto de torreões que oferecem paisagens deslumbrantes, recantos estranhos feitos de lenda, vivendas apalaçadas de gosto requintado, e terraços dispostos para apreciação do mundo celeste.
A culminar a visita à Quinta da Regaleira, há que invocar a aventura dos cavaleiros Templários, ou os ideais dos mestres da maçonaria, para descer ao monumental poço iniciático por uma imensa escadaria em espiral.
Quando der conta já deve ser hora do almoço. Se preferir ficar por ali, coma qualquer coisa no café/restaurante que encontra dentro da Quinta da Regaleira. Pode optar por saladas ou tostas ou, se preferir uma refeição mais consistente, também são servidos almoços. Em alternativa, pode sempre preparar um piquenique em casa e desfrutar dos seus petiscos num dos recantos dos jardins da Regaleira.
Com o estômago aconchegado, prepare-se para partir em direcção ao Palácio da Pena. Tendo apenas um dia de passeio, este é outro dos ícones de Sintra que não pode perder.
Para lá chegar basta seguir as placas que encontra ao longo do caminho. A última parte do percurso é bastante a subir, pelo que deve levar consigo água e uns bons sapatos de caminhada. Se já estiver cansado, o melhor é ir até à estação do comboio de Sintra e apanhar o autocarro nº 434 que o deixará mesmo à porta do palácio.
Construído a cerca de 500 metros de altitude, o Palácio da Pena é um dos mais completos e notáveis exemplares de arquitectura portuguesa do Romantismo. Remonta a 1839, quando o rei consorte D. Fernando IIde Saxe Coburgo-Gotha (1816-1885), adquiriu as ruínas do Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena e iniciou a sua adaptação a palacete. Para dirigir as obras, chamou o Barão de Eschwege, que se inspirou nos palácios da Baviera para construir este edifício.
Muito fantasiosa, a arquitectura da Pena utiliza os "motivos" mouriscos, góticos e manuelinos, mas também o espírito Wagneriano dos castelos Schinkel do centro da Europa. Fica a cerca de 4,5 Km do centro histórico.
Lá dentro pode visitar as salas referentes a diversas épocas, onde poderá apreciar o mobiliário e decoração contemporâneo das mesmas. Entre estes espaços destacamos o Quarto da Rainha D. Amélia, onde verá a cama de bilros, onde esta soberana passou a última noite antes de partir a caminho do exílio.
Este é mais um local onde irá perder-se no espaço e no tempo. Perca algumas horas na visita e termine com uma bebida refrescante na esplanada do bar, situado numa das torres do palácio, e desfrute da vista.
Terminado o dia, volte ao centro da vila e leve para casa alguns travesseiros, um dos bolos típicos de Sintra. Se tiver tempo, não deixe ainda de dar um pulo ao Museu do Brinquedo, onde está garantida mais uma viagem ao tempo da sua infância. A não perder também.
Quando regressar a casa levará certamente na bagagem a vontade de voltar e de visitar tudo o que ficou por ver." In " Viagens&Lazer", Sentido das Letras, 18 de Julho, 2011