terça-feira, 19 de abril de 2011

Os enganos da Política

Continua a festa das inaugurações num país onde os enganos já não são permitidos. O Presidente do Conselho  deslocou-se neste fim-de-semana para ostentórias inaugurações num país falido e  em rota de desaire completo. A tal anunciada troika da ajuda internacional  já se instalou para fiscalizar a obra que levou Portugal à miséria. Estamos à deriva e de bolsos vazios, mas a banda ainda toca e os tambores ribombam atrás do entronizado Secretário Geral do PS que se esquece que é Primeiro Ministro de dez milhões de portugueses.  Transferir para um país o simulacro de uma  pacificação podre, gerada em Congresso, já nem sequer é risível e muito menos admissível.
Resguarde-se e meta-se ao trabalho , Senhor Primeiro Ministro, para que   Portugal se possa ainda defender da crescente  xenofobia europeia.


Os dias de todos os espantos
por Baptista Bastos 
Parece que os socialistas ficaram muito contentes com o congresso do seu partido. E o mais contente de todos eles foi José Sócrates. Ungido como salvador da pátria e inocente vítima de inimigos inclementes, ele perguntou, comovido e lacrimejante, se os seus camaradas o seguiam, o desejavam, o amavam. Em coro, congestionados de amor e devoção, mil e oitocentos congressistas gritaram que sim. A nota e o resultado estavam dados. Só faltou o ceptro, a coroa e o manto vermelho de seda e gola de arminho. Depois, foram para casa, felizes por terem cumprido, com veneração e afecto, a liturgia da consagração.
O congresso do PS não serviu para outra coisa senão como metáfora de um particular panteísmo de linguagem e de espectáculo. É sempre assim, em qualquer reunião daquela natureza, dir-se-á. Por isso mesmo é que produzem a indiferença. A veneração quando atinge as raias da sabujice tem um preço. Um preço reconcentrado e vasto que se exprime das formas mais diversas. Uma delas é tornar oblíquo o pensamento e liquidar as ideias críticas. Nem um projecto, nem o esboço de uma teoria, nem o sopro de uma referência ideológica, nem o mais escasso resquício de vergonha interior pelo passado, pelos actos e actividades dos governos PS. Somente uma pose, uma farsa desesperada de quem abandonou o compromisso e a esperança, e se remete para um signo que se oculta noutro signo. Ana Gomes, a única que não destilou banalidades e fugiu um pouco à dissimulação, foi colocada à meia-noite para falar. Vinte socialistas esparsos e ensonados estavam na sala.
A coroação de Sócrates é uma vitória do próprio e uma nova derrota daqueles que, no PS, ainda acreditam nos ideais (que quer isto dizer?) e na possibilidade de se alterar o estado das coisas. Porém, as evidências e as comparações históricas são severas para quem embala essa fé: nenhum partido é reformável "por dentro". A dissidência tem sido o caminho e o estigma de quem a tal se aventurou. Por exemplo: nos partidos comunistas. A lição é crucial. Mas, como não tem sido apreendida e reflectida, as forças do progresso saem cada vez mais enfraquecidas. A soma e o resto estão à vista. Estes dias últimos fazem com que fiquemos mais ensimesmados, funestos e sigilosos. Um prestamista internacional vem ditar-nos o molde dos nossos comportamentos, e achincalhar o que sobrevive da nossa dignidade. Um homem que desdenhava a petulância dos partidos e a tacanhez afectada dos políticos mudou de carril com desenvolta impassibilidade. Os factos rasgam as nossas feridas e os paradigmas volatilizam-se. Não há em quem nem em que acreditar. A honra e a decência deixaram de possuir exactos significados e transferiram-se para os territórios da ambiguidade e das evasivas. Resta-nos as palavras. E mesmo assim... "
Artigo de Opinião de Baptista Bastos , publicado no DN em 13 de Abril de 2011

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