quinta-feira, 7 de abril de 2011

O poder da indignação

Stéphane  Hessel
Em Dezembro de 2010, foi publicado em França um pequeno livro-manifesto de Stéphane Hessel , veterano da Resistência Francesa e Diplomata, actualmente com 93 anos, onde exorta veementemente os franceses à indignação tal como fizeram os resistentes aquando da 2ª Guerra Mundial.O livro "Indignez-vous!" foi um êxito de vendas num curto espaço de tempo. Em Portugal já foi editado com prefácio de Mário Soares sob o título de "Indignai-vos!" pela Editora Objectiva.  
Neste dia em que Portugal foi sacudido por um turbilhão de sombrias incógnitas que o vinham ameaçando e que surpreendentemente os nossos governantes  tentaram manipular e esconder,  as palavras deste grande resistente francês e a lucidez da poesia de Miguel Torga impoêm-se com mestria como as melhores legendas para esta época.

" O motivo basilar da Resistência era a indignação. Nós, os veteranos dos movimentos de resistência e das forças combatentes da França livre, apelamos às gerações mais jovens que dêem a vida ao legado da resistência e aos seus ideais, e que os transmitam. Dizemos-lhes: revezai-vos e indignai-vos!
Os responsáveis políticos , económicos , intelectuais e a sociedade em geral não podem desistir , nem deixar-se impressionar pela actual ditadura internacional dos mercados financeiros que ameaça a paz e a democracia.(....) Quando  algo nos indigna como eu me indignei contra o nazismo, tornamo-nos  militantes, fortes e empenhados. Juntamo-nos a esta corrente  da História, e a grande corrente da História deve prosseguir graças a cada um de nós.
(...) A pior das atitudes é a indiferença, dizer "como não posso fazer nada, desenvencilho-me como posso". Este tipo de atitude conduz à  perda de uma das componentes essenciais do ser humano. Uma das componentes indispensáveis : a capacidade de indignação e a consequente militância."
Stéphane Hessel , "Indignez-vous!"

Plateia
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga, in "Câmara Ardente ", 1962

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