sábado, 30 de abril de 2011

Poder ou Escolha?

Ter controlo é o mais importante
Estudo publicado no Psychological Science associa poder com escolha.
"Ter poder sobre os outros e fazer escolhas na nossa própria vida são aspectos que partilham um mesmo fundamento: o controlo. De acordo com um novo estudo publicado no Psychological Science, um jornal da Association for Psychological Science, as pessoas estão dispostas a trocar uma fonte de poder pela outra. Por exemplo, se as pessoas não têm poder, querem ter escolha, e se têm muita escolha não dão tanta importância ao poder.
“Instintivamente, as pessoas preferem estar em posições de grande poder”, explica M. Ena Inesi, da London Business School. “Similarmente, é confortável quando temos escolha, e não é confortável quando essa nos é tirada”, acrescenta. Para a cientista e restantes co-autores do estudo, a necessidade de controlo pessoal pode ser o factor que estes processos independentes têm em comum. Ter poder é ter controlo sobre o que os outros fazem; escolher é controlar as nossas próprias acções.
Para descobrir se o poder e a escolha são duas faces da mesma moeda, os investigadores conduziram uma série de experiências que analisaram se a falta de uma fonte de controlo (por exemplo, o poder) provocaria uma maior necessidade pela outra (liberdade de escolha, por exemplo).
Numa dessas experiências, os participantes começaram por ler uma descrição de um patrão e de um empregado e ficaram a pensar como se sentiriam nesses papéis. Em seguida, foi dito aos participantes que poderiam comprar uns óculos ou gelados de uma loja que tinha três opções ou de uma loja que tinha quinze opções. As pessoas demonstraram que estavam dispostas a percorrer grandes caminhos (conduzir para mais longe e esperar mais, por exemplo) para terem acesso à loja com mais opções.
Numa outra experiência, quando as pessoas eram privadas de fazerem escolhas, demonstravam vontade de ter poder. Mais experiências concluíram que as pessoas podem contentar-se ou com poder ou com escolha, ou com ambos. Mas sem qualquer um dos dois, sentem-se nitidamente insatisfeitos.
A investigadora M. Ena Inesi acredita que a descoberta, de que poder e escolha podem-se trocar, pode ser útil no mundo do trabalho. “Se imaginarmos uma pessoa com uma posição baixa numa empresa, é possível fazê-la sentir-se melhor com o seu trabalho e as suas funções, dando-lhe alguma possibilidade de escolha no modo de fazê-lo ou no projecto em que trabalha”. Esta investigação sublinha assim “a importância básica e fundamental do controlo na vida das pessoas”, conclui." In "CiênciaHoje"

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Amor

Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor não amam.
Jorge de Sena, in "Peregrinatio ad loca infecta" (1969)

Para ouvir e recordar

Evanescence em " My Immortal " ( 2004 ) recriando uma história muito versejada com um  refrão  cantado ao longo dos tempos por muitos amantes:
"When you cried I'd wipe away all of your tears/  When you'd scream I'd fight away all of your fears/ And I held your hand through all of these years/ But you still have all of me"

O mundo em sofrimento

Tornados matam centenas nos EUA

Tornados e violentas tempestades varreram nas últimas horas sete estados norte-americanos na região sul dos EUA, matando pelo menos 284 pessoas e arrasando localidades inteiras, arrastando viaturas e derrubando árvores e postes de electricidade.
Só no Alabama, o estado mais atingido pela catástrofe, morreram pelo menos 184 pessoas. Na sua passagem por Tuscaloosa, onde está sediada a Universidade de Alabama, os tornados mataram 37 pessoas, incluindo estudantes, e devastaram centros comerciais, lojas e estações de serviço. Também mais de um milhão de pessoas ficou sem energia eléctrica e uma central nuclear, danificada, permanecerá encerrada para reparação durante alguns dias ou mesmo semanas.
De acordo com estimativas preliminares, havia ainda registo de 32 mortos no Mississipi, 33 no Tennessee, 11 no Arkansas, 14 na Geórgia, oito na Virgínia e dois na Louisiana. A Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) anunciou que é ainda demasiado cedo para avançar um balanço definitivo do números de vítimas.
No total, registaram-se mais de uma centena de tornados, que deixaram um rasto de destruição durante aquela que foi a mais mortífera série de tempestade em quase quatro décadas nos EUA.
O presidente norte-americano, Barack Obama, que já ordenou a disponibilização de ajuda federal para o Alabama, desloca-se hoje àquele estado para averiguar a dimensão da catástrofe e acompanhar os trabalhos de resgate. Além do Alabama, também os estados do Arkansas, Mississipi e Tennessee declararam já o estado de emergência. In CM, 29/04/2011
Imagens inéditas do tsunami do Japão
A guarda costeira japonesa divulgou um vídeo com imagens impressionantes do tsunami do dia 11 de Março.
São imagens do momento em que a vaga arrastou tudo no porto e no aeroporto de Sendai e também em várias localidades costeiras das províncias de Iwate e Miyagi.
O sismo e o tsunami que se seguiu provocaram a maior crise humanitária da história do Japão desde a Segunda Guerra Mundial.
Está confirmada a morte de 14.358 pessoas; 11889 estão ainda dadas como desaparecidas e quase 131 mil estão alojadas provisoriamente em edfícios públicos. mais de 95 mil edifícios da região ficaram completamente destruídos.
Para além da destruição, o país luta ainda com a catástrofe nuclear na região de Fukushim. In Euronews, 28/04/2011
Ver: Imagens inéditas do tsunami do Japão euronews, mundo


Marrocos, as vítimas do atentado
Um atentado em Marrocos provocou pelo menos 15 mortos e duas dezenas de feridos. Entre as vítimas estão vários cidadãos estrangeiros, alguns de nacionalidade francesa e russa.
A explosão foi registada por volta do meio-dia num café da praça central de Marraquexe, um dos principais centros de atração turística.
As autoridades admitiram, inicialmente, tratar-se de um acidente provocado por um incêndio. O ministro do Interior confirmou, mais tarde, tratar-se de um atentado.
Uma testemunha garante que o ataque foi perpetrado por um kamikaze.
Certo é que o atentado desta quinta-feira é o mais mortífero dos últimos oito anos.
“Cheirava mal, não sabemos se era um cheiro a gás ou a pólvora. Vimos uma grande explosão idêntica às que vemos nos filmes americanos” afirma um homem.
A explosão ocorreu na cafetaria Argana, um local frequentado por turistas nacionais e estrangeiros.
Paris anunciou a abertura de um inquérito preliminar, para apurar responsabilidades. Um procedimento normal quando há cidadãos franceses vítimas de atentados no estrangeiro.
As autoridades marroquinas estão também a investigar o ataque, que ainda não foi reivindicado.
28/04/ 2011 euronews

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O elogio do vazio


Daniel Serrão, Médico Patologista , Professor e  autor de várias obras, homem culto e dinâmico ,  que tem representado Portugal em diversos organismos internacionais e que se tem orientado por uma profunda dedicação à  Ética médica e à Bioética, proferiu, em 1988, num Encontro de Psicanálise e Cultura, uma notável Conferência.  Pela riqueza e pela actualidade  que revestem as suas palavras , publicamos um excerto dessa  Conferência.

Elogio de um vazio virtual e virtuoso
(Conferência)
Tenho à minha frente uma folha de papel, branca, vazia.
Será insuportável o vazio desta folha?
Será que não conseguirei escrever nela nada que interesse aos participantes neste encontro de Psicanálise e Cultura?(...)Que grande desafio, minhas Senhoras e Senhores, o que fiz a mim próprio ao aceitar intervir e ao assumir, contra a corrente, não a angústia do vazio mas o elogio de um vazio que pode ser apenas virtual e poderá tornar-se virtuoso.
Olho a folha de papel, branca e vazia, e vejo nela o espaço onde vou projectar-me, onde vou colocar, com ordem e método se possível, o que tenho para vos comunicar.
Sem nenhuma angústia. Com tranquilidade e optimismo.
Começo com uma citação de Bernardo Soares e do seu "Livro do Desassossego" que é, todo ele, uma análise subtil mas corrosiva da percepção individual do vazio.
"Sim, é o poente..." "Nesta hora, em que sinto até transbordar, quisera ter a malícia inteira de dizer, o capricho livre de um estilo por destino. Mas não, só o céu alto é tudo, remoto, abolindo-se, e a emoção que tenho, e que é tantas, juntas e confusas, não é mais que o reflexo desse céu nulo num lago em mim - lago recluso entre rochedos hirtos, calado, olhar de morto, em que a altura se contempla esquecida.
Tantas vezes, tantas, como agora, me tem pesado sentir que sinto sentir como angústia só por ser sentir, a inquietação de estar aqui, a saudade de outra coisa que se não conheceu, o poente de todas as emoções, amareleceu-me esbatido para tristeza cinzenta na minha consciência externa de mim.
Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra cousa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer. É todo o peso e toda a mágoa deste universo real e impossível, deste céu estandarte de um exército incógnito, destes tons que vão empalidecendo pelo ar fictício, de onde o crescente imaginário da Lua emerge numa brancura eléctrica parada, recortado a longínquo e a insensível.
É toda a falta de um Deus Verdadeiro que é o cadáver vácuo do céu alto e da alma fechada. Cárcere infinito - porque és infinito não se pode fugir de ti”. Fim de citação.
A inteligência analítica de Pessoa - uma inteligência judaica que vai até ao mais fundo de si própria, sejam quais forem as consequências, numa volúpia insaciável de descobrir a verdade - desenha, neste texto, os contornos nítidos do vazio possível numa existência humana.
É porque o existir é descoberto na "consciência externa de mim" - le soi-même comme un autre, de Paul Ricoeur - que o vazio não tem que ver nem com a vida nem com a morte; é outra coisa que até brilha, que pode ser ou não um diamante, mas está no fundo de uma cova à qual não se pode descer.  Mas, não poderá? - interrogo eu.
A apóstrofe final do texto de Bernardo Soares é a caracterização deste vazio, do vazio tal como Pessoa o descobre em si - Cárcere infinito e acrescenta, depois de um travessão, porque és infinito não se pode fugir de ti.
Tenho neste texto o essencial para defender a minha tese: o vazio é virtual e pode, em certas condições, ser virtuoso.
Primeiro argumento - a Natureza tem horror ao vazio; ou: não há vazio na Natureza.
Esta Natureza, que grafei com N maiúsculo, é todo o mundo natural físico e químico; não há nele vazio porque o espaço é gerado pela expansão da matéria no tempo; e um espaço exterior à matéria é impensável pela inteligência humana. A matéria pode ser sólida, líquida ou gasosa mas porque é ela que define o espaço, não há vazio; o vazio seria um espaço sem matéria o que não é concebível no interior da categoria lógica que, bem ou mal, conforma o nosso pensamento.
No mundo real, inorgânico ou biológico, não há vazio, não há espaço sem matéria. Quando os histopatologistas descrevem, nos tecidos, espaços sem matéria, espaços vazios, como o espaço de Disse entre as células hepáticas, apenas estão a descrever artefactos da técnica histológica aplicada a tecidos mortos pela fixação.
No mundo natural não há vazio, nem real nem virtual.
Se não há vazio na natureza - e é certo que não há, nem mesmo os buracos negros no universo cósmico são espaços vazios e eram os últimos que resistiam - se a natureza é toda ela compacta então é fora desta opacidade da natureza que poderemos encontrar o tal vazio anunciado no programa deste encontro de psicanálise e cultura e dado, pelos organizadores, como insuportável.
Onde descobrirei esse vazio?(...)Não está de certo na Psicanálise. Ciência recente, ela está bem cheia de cultores especializados, de pacientes confiantes, de teorias, de doutrinas, de métodos de intervenção, de criatividade por vezes quase esotérica de tão profundamente interpretativa ou explicativa.  Cheia também de alguns fracassos e desilusões.
Também não estará na Cultura porque esta enche-se todos os dias com os produtos da actividade criativa da inteligência humana, racional ou emocional. E quando os velhos, como eu, dizem: os jovens actuais vivem num vazio cultural, apenas estamos a afirmar que estão cheios de uma cultura diferente da nossa. Não leram Eça de Queiroz, mas devoram Jeffrey Archer; não ouvem Bach mas compraram milhões de discos do Good-Bye Rose; e por aí fora.
Se não é o vazio na Natureza, nem na Psicanálise, nem na Cultura, será o vazio no homem que é, afinal, tudo isto, é natureza, é espírito e é cultura?
Vou assumir que é o vazio no Homem; o tal animal aflito, no dizer de Gedeão, que vai de mais infinito a menos infinito.  Então haverá algum espaço, entre as duas coordenadas do Infinito, que possa apresentar-se, ao homem e no homem como um espaço vazio? Há, mas é um vazio virtual.
Para expor este segundo argumento - o vazio no homem é virtual - vou ter de arranjar um conceito de homem e movimentar-me dentro dele.
Chegado a este ponto, confrontado com semelhante necessidade metodológica - propor uma concepção de homem - que é uma tarefa ciclópica e, se calhar, para mim, inacessível, olho a folha branca e sinto-me vazio.
Se conseguir escrever alguma coisa que vos interesse ou apenas vos irrite concluirei que este vazio é, claramente, virtual; veremos no final se acabou por ser virtuoso.
(…) Quando a inteligência de alguns gregos, meio século antes da nossa era, se defrontou com o vazio no entendimento do homem e do seu lugar no mundo, iniciou uma reflexão profunda e tão virtuosa que, ainda hoje, é dela que se alimentam todos os filósofos; essa reflexão criou conceitos novos e as palavras que passaram a simbolizá-los e a exprimi-los pelo seu conteúdo significante - Caos, Cosmos, Physis, Logos, Ethos, Pathos, Psyché e tantos outros. Esta reflexão grega, incontornável como se diria hoje, abriu o caminho para a reflexão racional dos homens que se continuou até ao momento presente e se continuará no futuro. Excelsamente virtuosa, direi, a forma como foi superado este vazio.
Outro exemplo é o do vazio gerado pela descoberta consciente da morte pessoal.
A morte - muito mais do que o amor que não é vazio, é plenitude - foi, é e continuará a ser a maior fonte de criações culturais e artísticas todas orientadas, expressa ou simbolicamente, para a superação do vazio gerado pela vivência auto-consciente da morte individual. E isto acontece em todas as sociedades humanas, sejam quais forem as linguagens culturais disponíveis - das pirâmides egípcias, à Pietá de Miguel Ângelo ou às desconstruções de Marc Chagal.
Onde quero chegar, porque é tempo de terminar, é que a percepção auto-consciente do vazio seja ele afectivo, emocional, intelectual ou total, pode ser, tem sido o ponto de arranque para um trabalho de superação que pode não encher o vazio individual - Dostoiewslay teve a virtude de criar uma obra genial mas viveu no vazio até ao fim - mas dá, a este vazio, um carácter virtuoso para o próprio e para os outros homens.
Melhor ser vazio, assim, do que estar cheio de si próprio, engordado por uma balofa auto--suficiência e pela empáfia orgulhosa de tudo saber e tudo controlar.
Melhor sofrer este vazio do que não levar "angústia para o jantar”, e poder dormir o sono tranquilo dos antropóides sem história.
Melhor viver perigosamente o seu vazio pessoal do que gastar, inutilmente, a vida no conformismo cinzento de todo o mundo para ser, afinal, ninguém.
O vazio pode ser virtuoso e criativo.
A vida cheia, supostamente cheia, pode estar oca e ser inútil.
Para terminar como comecei com uma referência hebraica, chamo em meu auxílio Job, o paradigma do homem esvaziado de tudo mas que soube virtualizar e superar esse vazio - da família, da saúde, dos bens.
Eis como Job preencheu o seu vazio - "Nudus evertit ex utero matris mea et nudo reverterit illuc" - " Saí nú do ventre da minha mãe e nú voltarei para ele. O Senhor mo deu o Senhor mo tirou; Bendito seja o Nome do Senhor”.
A folha já não está branca. Ficou enegrecida com uma escrita miúda, nervosa, pouco ágil.  Encheu-se de ideias algo amontoadas, umas de certo, absurdas, outras talvez desafiantes e proporcionadoras de reflexão mais alargada e ambiciosa.  Não sei.
Sei que me livrei de um vazio real - a folha branca a irritar-me com a sua brancura inútil - e não de um vazio virtual.
Por isso, tenho agora a certeza, nada criei de virtuoso." Daniel Serrão, in site Daniel Serrão

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vitorino Magalhães Godinho morreu aos 92 anos


"Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011) morreu ao princípio da noite de terça para quarta-feira. Figura ímpar de historiador e de democrata, o seu nome e a sua obra passarão à história e ficarão inscritos no panteão da nossa memória colectiva, numa genealogia onde só cabem, antes dele, Oliveira Martins e Jaime Cortesão. Nasceu em Lisboa, de família republicana, com raízes na região de Ovar.
Nele se manifestaram, desde muito cedo, o interesse pela história e pelas questões de lógica aplicadas às ciências humanas e sociais. Em 1940, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, tendo sido nomeado professor extraordinário da Faculdade de Letras de Lisboa (1941-44).
Em 1959, enquanto investigador do Centre National de Recherche Scientifique e após longa integração na chamada École Pratique des Hautes Études, associada à célebre revista "Annales", defendeu o seu doutoramento de Estado na Sorbonne. Regressou, então, a Portugal como professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1960-62). Duas vezes nomeado professor em universidades portuguesas foi, em ambos os casos, demitido por razões políticas. A sua inquebrável defesa dos valores da cidadania democrática e a sua lúcida adesão aos valores republicanos forçaram-no ao exílio. O pior dos quais terá sido o que viveu no desemprego, mas envolvido em intenso trabalho intelectual e editorial, ao longo dos oito anos que se seguiram à greve académica e ao rebentar da Guerra Colonial.
Em 1970 voltou a França para integrar o corpo docente da Universidade de Clermont-Ferrand. Após o 25 de Abril, regressou a Portugal, tendo sido Ministro da Educação e Cultura (1974) e Director da Biblioteca Nacional (1984), cargos dos quais se demitiu por discordâncias políticas que sempre tornou públicas. Foi professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, desde 1975. O seu projecto de criação de uma verdadeira faculdade de ciências sociais e humanas, organizava-se em torno de uma maneira de pensar historicamente, mas foi desvirtuado e infelizmente mal compreendido.
Um modo global e interdisciplinar de pensar historicamente os problemas do presente, como era a sua proposta, foi substituído por uma concepção entrincheirada da história e das ciências sociais. O Prémio Balzan, espécie de Nobel para as Humanidades e Ciências Sociais, que lhe foi conferido em 1991, constituiu o reconhecimento internacional por uma obra e o modo como sempre soube excercer o seu ofício de historiador.
Entre os seus principais livros contam-se: "Razão e História - Introdução a um problema" (1940); "Documentos para a História da Expansão Portuguesa" (1943-1956); "A Expansão Quatrocentista Portuguesa" (1944); "Prix et monnaies au Portugal, 1750-1850" (1955); "A economia dos descobrimentos henriquinos" (1962); "Os Descobrimentos e a Economia Mundial" (1963-1971; edição francesa, 1966; edição revista, 1983-1984); "A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa" (1971), "Mito e Mercadoria, Utopia e Prática de Navegar, Séculos XIII-XVIII" (1990). A este vasto elenco, acrescentam-se diversos volumes de ensaios, a direcção da enciclopédia Focus e da Revista de história económica e social, pela Sá da Costa; e a direcção de várias colecções na Cosmos.
O funeral realiza-se amanhã, da capela da Praça de Londres para o cemitério do Alto de São João."Elogio fúnebre do historiador Diogo Ramada Curto, in jornal “Expresso “, 27/04/2011

Entretanto, em declarações à Agência Lusa, Manuela Mendonça, presidente da Academia Portuguesa da História, afirmou que Magalhães Godinho é “o último de uma geração de ouro da historiografia portuguesa” destacando os “novos contributos dados pelo investigador no estudo da História, quer na conceptualização quer na metodologia, fortemente influenciados pela École des Annales, de que foi membro”.
O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou Vitorino Magalhães Godinho como “um dos mais notáveis historiadores do século XX, declarando que, com a sua morte, Portugal perdeu “um grande homem de cultura”.
Mário Soares, antigo presidente da República e também perseguido pelo Estado Novo, preso e exilado antes do 25 de Abril, já o tinha referido comoum cidadão exemplar. Um homem probo, de uma inteireza de carácter excepcional e de uma honestidade moral e intelectual invulgar. Tem uma obra que o classifica entre os maiores historiadores portugueses.

Transparência

Morrer é só não ser visto,
é sair de ao pé de ti,
apagar-me em tudo isto,
deixar de ver o que vi.

Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,
no deserto do não ser.

Morrer é como apagar-se
a chama que houve em nós,
é uma espécie de ficar-se
vazio da própria voz.

Vive o amor da atenção
que se tem por quem se ama.
Mas a morte atiça em vão
o fio que não dá chama.

Morrer é só não ser visto,
é passar a pertencer
a um livro de registo
que guarda o nosso não-ser.
Eugénio Lisboa , poema  cantado por Amélia Muge no álbum  “Não sou daqui” de 2006

terça-feira, 26 de abril de 2011

Os vulcões de Marte

"A nave Mars Express da ESA enviou imagens de um par de vulcões, localizados no hemisfério norte do Planeta Vermelho. Muito depois de ter cessado a actividade vulcânica, a área foi transformada pelo impacto de meteoritos, que depositaram material nos flancos dos vulcões.  

The region around Ceraunius Tholus and Uranius Tholus
Ambiente em torno de Ceraunius Tholus y Uranius Tholus


Quando a nave passou novamente por cima para captar os últimos dados, as nuvens já se tinham dissipado, daí que haja uma linha fininha entre eles, na imagem final.
A palavra latina “tholus”refere-se à estrutura cónica dos vulcões. A base do Ceraunius Tholus tem 130 km de comprimento, o seu pico ergue-se até aos 5,5 km. No seu cume está a grande caldeira de 25 km de largura. Com uma morfologia semelhante à do seu vizinho, e localizado 60 km mais a norte, o Uranius Tholus é um vulcão mais pequeno, com uma base com um diâmetro de 62 km e uma altura de 4,5 km.


Features around Ceraunius Tholus and Uranius Tholus
Principais características da região de Ceraunius Tholus e Uranius Tholus


Os flancos do Ceraunius Tholus são relativamente íngremes, com uma inclinação de 8°, e está rodeada de vales. Têm cortes profundos em vários locais, sugerindo que tenha havido deposição de macio e de fácil erosão, como camadas de cinza, depositadas durante as erupções vulcânicas.
O maior e mais profundo destes vales tem cerca de 3,5 Km de comprimento e 300 m de profundidade e termina numa grande cratera de impacto, de forma alargada, situada entre os dois vulcões, na qual se nota a deposição de sedimentos em forma de leque. 

Elevation of Ceraunius Tholus and Uranius Tholus
Elevação de Ceraunius Tholus e Uranius Tholus


Apesar de ainda haver algum debate científico relacionado com a origem do leque, pensa-se que pode ter sido formado quando o material de uma câmara de lava ou tubo foi empurrada para baixo pelo degelo do cume do vulcão.
O cume desta cratera – a caldeira – é plana e suave, ou seja, é possível que tenha tido um lago nos primórdios da história de Marte, quando a atmosfera era mais densa. Também é possível que a água tenha sido produzida quando a actividade vulcânica derreteu estruturas conhecidas como lentes de gelo. A lente de gelo forma-se quando a humidade se entranha abaixo da superfície e forma uma camada gelada entre o solo e a camada rochosa por baixo.

Ceraunius Tholus and Uranius Tholus in high resolution
Ceraunius Tholus y Uranius Tholus em alta resolução

A cratera alongada entre os dois vulcões tem o nome de Rahe. Mede 35 km por 18 km e é o resultado do impacto oblíquo de um meteorito.
Uma cratera de impacto mais pequena, com 13 km, pode ser vista a oeste de Uranius Tholus. Esta também se formou depois de terminada toda a actividade vulcânica e o material projectado cobriu as laterais inferiores da cratera, o que implica que apenas as estruturas superiores originais sejam agora visíveis." In Portal da ESA , Abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Revolução dos Cravos - Grândola, Vila Morena

A voz de Amália na emblemática canção de Zeca Afonso, " Grândola , Vila Morena", ilustrando o registo documental do 25 de Abril de 1974.
Longe estamos desse dia, mas celebrá-lo é urgente nestes dias incertos,  em que muitas das esperanças de Abril ainda estão por realizar.

Poemas da Liberdade IV

Apresentação

Cantar não é talvez suficiente.
Não porque não acendam de repente as noites
tuas palavras irmãs do fogo
mas só porque palavras são
apenas chama e vento.

Eu venho incomodar.
Trago palavras como bofetadas
e é inútil mandarem-me calar
porque a minha canção não fica no papel.
Eu venho tocar os sinos.
Planto espadas
e transformo destinos.
Os homens ouvem-me cantar
e a pele
dos homens fica arrepiada.
E depois é madrugada
dentro dos homens onde ponho
uma espingarda e um sonho.

E é inútil mandarem-me calar.
De certo modo sou um guerrilheiro
que traz a tiracolo
uma espingarda carregada de poemas
ou se preferem sou um marinheiro
que traz o mar ao colo
e meteu um navio pela terra dentro
e pendurou depois no vento
uma canção.

Já disse: planto espadas
e transformo destinos.
E para isso basta-me tocar os sinos
que cada homem tem no coração.

Manuel Alegre,in  «Praça da Canção» 1965, Publicações Dom Quixote

domingo, 24 de abril de 2011

Convite para um Domingo de Páscoa

Convite
Vamos, ressuscitados , colher flores!
Flores de giesta e tojo, oiro sem preço...
Vamos àquele cabeço
Engrinaldar a esperança!
Temos a primavera na lembrança;
Temos calor no corpo entorpecido;
Vamos! Depressa!
A vida recomeça!
A seiva acorda, nada está perdido!
Miguel Torga , Coimbra , 2 de Abril de 1961 , in " Diário IX", Ed. Círculo de Leitores


O Domingo de Páscoa na Liturgia Cristã
Jesus e os discípulos de Emaús, Evangelho segundo S. Lucas, capítulo 24, 13-31
"24, 13 E eis que,  nesse dia, dois deles estavam a caminho duma aldeia chamada Emaús, que distava  de Jerusalém sessenta estádios.  14 Conversavam eles entre si acerca de tudo o que tinha acontecido,   15 e sucedeu que ao conversarem  e discutirem entre si, o próprio Jesus aproximando-se, se pôs a caminhar com eles.  16 Os olhos deles estavam impedidos de o reconhecer.  17 Disse-lhes, pois: “ Que conversas são essas que discutis entre vós, enquanto caminhais?”  E eles pararam, entristecidos.  18 Respondendo, um deles, de nome Cleofas, disse-lhe: “ Tu és o único  forasteiro de Jerusalém que não sabes o que lá aconteceu nestes dias?”  19 E ele disse-lhes: “ O quê?”  Eles disseram-lhe: “ O que diz respeito a Jesus de Nazaré, que era um profeta poderoso em obra e palavra diante de Deus e de todo o povo.  20 Como o entregaram os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes em condenação à morte, e o crucificaram.  21 Nós, porém, esperávamos que ele fosse aquele que devia remir Israel. Mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que tudo isto aconteceu.  22 É certo que algumas mulheres dentre os nossos nos perturbaram; tendo ido de manhã cedo ao túmulo.   23 e não encontrando o corpo dele, voltaram, dizendo que tinham tido uma visão de anjos que dizem que ele vive.   24  E indo alguns dos nossos ao túmulo encontraram tal como as mulheres tinham dito; a ele, porém,  não o viram.”   25 Então ele disse-lhes: “ Ó insensatos e lentos de coração para acreditar em tudo o que disseram os profetas!    26 Acaso não devia o Cristo sofrer isso e entrar na sua glória?”   27 E começando de Moisés e de todos os profetas interpretava-lhes em todas as Escrituras as coisas acerca dele mesmo.   28 Aproximaram-se da aldeia para onde iam, e ele fingiu ir mais longe.    29 Mas eles instavam com ele, dizendo: “ Fica connosco, porque é tarde e o dia  já declina.”  E entrou para ficar com eles.   30 Sucedeu que, ao sentar-se à mesa com eles, tomando o pão, deu graças e, partindo, dava-lho.  31 Seus olhos abriram-se, então, e reconheceram-no; mas ele tornou-se invisível."

sábado, 23 de abril de 2011

O universo do Livro

Cartaz de João Vaz de Carvalho sobre  Dia Mundial do Livro 2011

"Le livre ne se donne pas si on le parcourt. Le grand lecteur est celui qui sait «s’abandonner totalement à lui,esprit comme corps, esprit plongeant dans les pages comme la tête ». Charles Dantzig

Gabriel García Márquez afirmou que " A literatura é tão importante para conservar, como para inovar , como para criar." Autor de livros fabulosos, mestre do imaginário fantástico traduzido de forma sublime numa prosa mais poética que alguma da melhor poesia, este grande homem das letras  terá sempre o seu nome associado a qualquer acto que tenha como objecto o livro. O exercício do encanto que pratica magistralmente nos seus romances sobre a condição humana transforma o leitor num amante incondicional. O talento deste escritor mede-se pela fruição vertiginosa que a leitura das suas obras provoca. Romances  como " Amor em Tempo de Cólera ", composto de 400 páginas mágicas sobre a intemporalidade do amor, estruturadas circularmente através da recuperação de uma memória imaculada sem qualquer infíma  mancha  de esquecimento ou como a outra extraordinária  obra-prima  " Cem Anos de Solidão", romance eterno e registo perfeito de um realismo sublimado, são lidas em puro estado de deslumbramento . Garcia Márquez não é apenas um símbolo da referenciada como  nova era do  romance latino americano é  primordialmente o ícone da excelência do romance .
Milan Kundera, outro grande escritor,  em " Arte do Romance" enuncia a importância de quatro séculos de romance europeu para a compreensão dos tempos Modernos e de todos os grandes temas existenciais. Para ele o fundador dos tempos Modernos não é apenas Descartes mas também Cervantes ou seja: " Um por um, o romance descobriu à sua própria maneira , pela sua própria lógica, os diferentes aspectos da existência : com os contemporâneos  de Cervantes  interroga-se sobre o que é a aventura ; com Samuel Richardson, começa a examinar " o que se passa no interior ", a desnudar a vida secreta dos sentimentos ; com Balzac descobre o enraizamento do homem na História; com  Flaubert explora a terra até então incógnita do quotidiano; com Tolstoi debruça-se sobre a intervenção do irracional nas decisões e no comportamento humanos. Sonda o tempo ;  o fugidio momento passado com Marcel Proust; o fugidio momento presente com James Joyce. Interroga-se , com Thomas Mann, o papel dos mitos que , vindos do fundo dos tempos, teleguiam os nossos passos. Et caetera, et caetera.
O romance acompanha o homem constante e fielmente desde o começo dos Tempos modernos. A "paixão de conhecer" ( aquela que Husserl considera a essência da espiritualidade europeia) apoderou-se então  dele para que prescrute a vida concreta do homem e a proteja contra " o esquecimento do ser "; para que mantenha " o mundo da vida " sob uma iluminação perpétua. É nesse sentido que compreendo e partilho  a obstinação com que Hermann Broch repetia : Descobrir aquilo que só um romance pode descobrir , é a única razão de ser de um romance . O romance que não descobre uma porção até então desconhecida da existência , é imoral. O conhecimento é a única moral do romance."
Os livros e aquilo que encerram enriquecem  as mentes e recriam o mundo. O romance não examina a realidade, mas sim a existência.O romancista não é um  historiador  nem um profeta: é um explorador da existência.
Ler e mergulhar nos livros intensamente é  um momento decisivo porque é um acto de abandono , uma acto de entrega e de isolamento quase um acto de pura solidão de leitor com o texto que vai descobrir. E nessa entrega constrói-se uma relação que tão depressa é densa como suave, de paixão como  de ódio, de sonho como de pesadelo, de paz como de violentação,  de amor como de raiva, de combate como de entrega , enfim é uma relação dialógica do intérprete com o seu texto.
E é assim a glória da leitura e o milagre do livro. Prestemos-lhe homenagem neste dia mundial do Livro.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tudo começou por um jardim


" Tudo começou na terra por um jardim. Chamavam a esse jardim " Paraíso".
E Jesus agonizou num jardim, plantado de oliveiras.
E a filosofia, no tempo de Platão, nasceu num jardim.
Todo o destino se resume à passagem de um jardim para outro jardim."
                                                                    Jean Guitton, in " Cartas Abertas"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Paixão Segundo São Mateus , as vozes e o canto

"Naquele tempo, foi Jesus com os Seus discípulos para um sítio chamado Getsémani e disse-lhes : " Assentai-vos aqui , enquanto vou, ali orar". E levando consigo  Pedro e os filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se . E disse-lhes : " A minha alma está triste até à morte! Ficai aqui e vigiai comigo". Depois,  avançou um pouco  e prostou-se com o rosto no chão , orando e dizendo: " Meu Pai , se é possível, fazei que este cálice se afaste de mim; contudo, faça-se a Vossa vontade ,e não a minha."
(...) Havendo rompido a manhã , todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos se reuniram em conselho contra Jesus, para O condenarem à morte. E, levando-O, conduziram-n'O e entregaram-n'O ao governador Pôncio Pilatos. Então, Judas, tendo atraiçoado Jesus  e vendo que Este havia  sido condenado, foi logo cheio de arrependimento,  levar  as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo :"Pequei,entregando-vos o sangue inocente! ".Mas eles disseram : " Que nos importa isso? Tu poderias pensar no que fazias!"  Evangelho da Paixão e Morte de Jesus,  segundo S. Mateus ,26-27

Karl Richter conduzindo a Münchener Bach Orchester na primeira parte da "Paixão Segundo São Matheus"(BWV 244) de Johann Sebastian Bach. As vozes e o canto numa obra-prima, obra  ímpar da música clássica ocidental.



"A Paixão segundo São Mateus, BWV 244, (conhecida na Alemanha pelo nome de Matthäuspassion) é um oratório de Johann Sebastian Bach, que representa o sofrimento e a morte de Jesus segundo o Evangelho de São Mateus, capítulos 26 e 27, com libreto de Picander (Christian Friedrich Henrici). Com uma duração de mais de 2 horas e meia (em algumas interpretações, mais de 3 horas) é a obra mais extensa do compositor. Constitui ,sem dúvida alguma, uma das obras mais importantes de Bach e uma das obras-primas da música ocidental. A Paixão Segundo são Mateus foi apresentada pela primeira vez na Sexta-feira da Paixão de 1727 ou na Sexta-feira da Paixão de 1729 na Thomaskirche (Igreja de São Tomás) em Leipzig, onde Bach era o Kantor. Como outras Paixões em forma de oratório, a composição de Bach apresenta o texto bíblico de S. Mateus, de um modo relativamente simples, consta de duas grandes partes constituídas de 68 números em que se alternam coros, corais, recitativos, ariosos e árias."

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poemas da Liberdade III

O Futuro

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente.

Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente.

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.

José Carlos Ary dos Santos In "Obra Poética", Editorial Avante, Lisboa, 1994, p 389.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Os enganos da Política

Continua a festa das inaugurações num país onde os enganos já não são permitidos. O Presidente do Conselho  deslocou-se neste fim-de-semana para ostentórias inaugurações num país falido e  em rota de desaire completo. A tal anunciada troika da ajuda internacional  já se instalou para fiscalizar a obra que levou Portugal à miséria. Estamos à deriva e de bolsos vazios, mas a banda ainda toca e os tambores ribombam atrás do entronizado Secretário Geral do PS que se esquece que é Primeiro Ministro de dez milhões de portugueses.  Transferir para um país o simulacro de uma  pacificação podre, gerada em Congresso, já nem sequer é risível e muito menos admissível.
Resguarde-se e meta-se ao trabalho , Senhor Primeiro Ministro, para que   Portugal se possa ainda defender da crescente  xenofobia europeia.


Os dias de todos os espantos
por Baptista Bastos 
Parece que os socialistas ficaram muito contentes com o congresso do seu partido. E o mais contente de todos eles foi José Sócrates. Ungido como salvador da pátria e inocente vítima de inimigos inclementes, ele perguntou, comovido e lacrimejante, se os seus camaradas o seguiam, o desejavam, o amavam. Em coro, congestionados de amor e devoção, mil e oitocentos congressistas gritaram que sim. A nota e o resultado estavam dados. Só faltou o ceptro, a coroa e o manto vermelho de seda e gola de arminho. Depois, foram para casa, felizes por terem cumprido, com veneração e afecto, a liturgia da consagração.
O congresso do PS não serviu para outra coisa senão como metáfora de um particular panteísmo de linguagem e de espectáculo. É sempre assim, em qualquer reunião daquela natureza, dir-se-á. Por isso mesmo é que produzem a indiferença. A veneração quando atinge as raias da sabujice tem um preço. Um preço reconcentrado e vasto que se exprime das formas mais diversas. Uma delas é tornar oblíquo o pensamento e liquidar as ideias críticas. Nem um projecto, nem o esboço de uma teoria, nem o sopro de uma referência ideológica, nem o mais escasso resquício de vergonha interior pelo passado, pelos actos e actividades dos governos PS. Somente uma pose, uma farsa desesperada de quem abandonou o compromisso e a esperança, e se remete para um signo que se oculta noutro signo. Ana Gomes, a única que não destilou banalidades e fugiu um pouco à dissimulação, foi colocada à meia-noite para falar. Vinte socialistas esparsos e ensonados estavam na sala.
A coroação de Sócrates é uma vitória do próprio e uma nova derrota daqueles que, no PS, ainda acreditam nos ideais (que quer isto dizer?) e na possibilidade de se alterar o estado das coisas. Porém, as evidências e as comparações históricas são severas para quem embala essa fé: nenhum partido é reformável "por dentro". A dissidência tem sido o caminho e o estigma de quem a tal se aventurou. Por exemplo: nos partidos comunistas. A lição é crucial. Mas, como não tem sido apreendida e reflectida, as forças do progresso saem cada vez mais enfraquecidas. A soma e o resto estão à vista. Estes dias últimos fazem com que fiquemos mais ensimesmados, funestos e sigilosos. Um prestamista internacional vem ditar-nos o molde dos nossos comportamentos, e achincalhar o que sobrevive da nossa dignidade. Um homem que desdenhava a petulância dos partidos e a tacanhez afectada dos políticos mudou de carril com desenvolta impassibilidade. Os factos rasgam as nossas feridas e os paradigmas volatilizam-se. Não há em quem nem em que acreditar. A honra e a decência deixaram de possuir exactos significados e transferiram-se para os territórios da ambiguidade e das evasivas. Resta-nos as palavras. E mesmo assim... "
Artigo de Opinião de Baptista Bastos , publicado no DN em 13 de Abril de 2011

As intempéries desta Primavera

"Mais de metade dos mortos do sismo e tsunami que afectaram o nordeste do Japão a 11 de Março tinha 65 ou mais anos e a maioria morreu afogada, indicam dados da polícia nipónica revelados pela agência Kyodo.
Os últimos números da tragédia indicam 13.843 mortos e 14.030 desaparecidos, revelaram hoje as autoridades policiais.
Os últimos números da tragédia indicam 13.843 mortos e 14.030 desaparecidos, revelaram hoje as autoridades policiais.
Dos 9.112 mortos nas prefeituras de Iwate, Miyagi e Fukushima cuja identidade está confirmada, 4.990 ou cerca de 54,8 por cento, tinha 65 anos ou mais.
Só em Miyagi, dos 8.015 mortos confirmados até 10 de Abril, 7.676 pessoas - 95,8 por cento - pereceram por afogamento em consequência do tsunami.
Peritos em catástrofes assinalaram que pode também assumir-se que nas outras prefeituras as mortes foram principalmente por afogamento, confirmando que a tragédia foi maior por as comunidades mais envelhecidas do nordeste terem sido as mais atingidas.
Até agora estão confirmadas 8.412 mortes em Miyagi, 3.981 em Iwate e 1.387 em Fukushima."In DN
Ler mais:Japão: Mais de metade das vítimas morreu afogada - Globo - DN

Série de violentos  tornados e tempestades atinge EUA
"Estados Unidos registaram mais de 60 tornados nos últimos três dias. Arkansas e Alabama são os estados mais afectados
Pelo menos 35 pessoas já morreram no sul dos Estados Unidos em três dias de tempestades de Primavera, com as autoridades esperando mais vítimas à medida que as equipes de emergência trabalharem nas localidades mais afetadas. Alguns relatos na imprensa americana já falam em 44 mortos.
Na Carolina do Norte, as tempestades causaram quatro mortes no sábado. Foram registrados mais de 60 tornados. Sete pessoas morreram em Arkansas e outras sete no Alabama, os Estados mais afetados
Em Arkansas, um homem e a sua filha morreram quando uma árvore foi derrubada por um raio e caiu sobre a casa onde eles viviam. Outro menino de seis anos de idade morreu ao ser derrubado de uma árvore pelos ventos. O governador do Alabama declarou emergência em todo o estado.
Em Oklahoma, onde cinco escolas foram destruídas, duas irmãs anciãs morreram. Uma pessoa morreu no Mississippi, que declarou estado de emergência em 14 condados.
No Texas, um bombeiro foi morto tentando apagar um incêndio florestal alimentado pelos fortes ventos. Os ventos fortes, os mais violentos da temporada, também derrubaram árvores na Geórgia.
Os alertas de tornados  espalham-se por diversos estados no sul do país e agora incluem partes do leste, como a capital, Washington D.C., e os estados de Vírginia e Maryland."Globo

Tempestades na China provocam pelo menos 17 mortos
As autoridades chinesas confirmaram a morte de pelo menos 17 pessoas e ferimentos em dezenas de outras devido a violentas tempestades que atingiram a zona centro e sul da província de Guangdong, adjacente a Macau e Hong Kong.
Funcionários dos serviços de emergência explicaram que a chuva de granizo e ventos fortes atingiram a capital de Guangdong, a cidade de Cantão, além de outras como Foshan, Dongguan e Zhaoqing.
As vitimas foram atingidas pela queda de objectos e colapso de paredes entre outros acidentes que terão provocado, pelo menos, 118 feridos, escreveu a agência oficial, Xinhua.
A região de Guangdong é a sede de parte do sector produtivo para exportações na China, mas até agora as autoridades não referenciaram qualquer dano grave nas fábricas da região.  Agência Lusa
Mau tempo
Chuva e trovoada lançam aviso amarelo para todo o país
Hoje, todos os distritos de Portugal continental estão sob aviso amarelo por causa da previsão de chuva, por vezes forte, e de trovoadas, segundo o Instituto de Meteorologia
Estes avisos, válidos até hoje às 23h59, deixam de fora a Madeira e os Açores, informa o site do instituto.
O aviso amarelo implica uma "situação de risco para determinadas actividades dependentes da situação meteorológica", segundo uma escala de quatro avisos (verde, amarelo, laranja e vermelho).
Por seu lado, a Autoridade Nacional de Protecção Civil alerta todos os distritos para a ocorrência de precipitação intensa, sendo de esperar “cheias rápidas” nas cidades, “cortes de estrada devido a inundações” e “danos em estruturas”.
Esta manhã, o mau tempo causou a queda de uma árvore na Avenida João XXI, em Lisboa, danificando uma viatura, informou a agência Lusa. Fonte dos Sapadores de Bombeiros disse que não houve vítimas a registar. “A viatura ligeira ficou danificada pela queda de uma árvore cerca das 07h00 devido à chuva e ao vento que se fizeram sentir durante a noite, não havendo vítimas a lamentar uma vez que o automóvel encontrava-se estacionado”, informou.
Para hoje, o Instituto de Meteorologia prevê céu geralmente muito nublado e aguaceiros por vezes fortes, com condições favoráveis à ocorrência de trovoada. O vento soprará fraco a moderado (10 a 30 quilómetros/hora), por vezes forte (30 a 50 quilómetros/hora) nas terras altas até ao início da tarde.
A temperatura máxima vai descer, prevendo-se para o Porto 17ºC e para Lisboa e Faro, 19ºC.
As condições meteorológica desta semana contrastam com a da semana passada, que registou temperaturas próximas dos 30ºC devido à “predominância da corrente de leste, transportando ar quente e seco no território do continente”, explicou o Instituto de Meteorologia. Anteontem à tarde o cenário mudou devido à “rotação do vento para o quadrante sul” que transporta ar marítimo, progressivamente, de Sul para Norte.”in Jornal “Público”