quarta-feira, 2 de março de 2011

Os novos dias de ira

"Sócrates vs Merkel Poucos dias antes da reunião entre os líderes da zona euro, José Sócrates irá encontrar-se com Merkel para discutir soluções para a resolução da crise da dívida.
Este encontro colocará frente a frente duas posições opostas. Portugal defende que o fundo europeu seja utilizado de forma mais flexível, nomeadamente na compra de obrigações soberanas, enquanto vários responsáveis alemães já se manifestaram contra essa estratégia. Na semana passada, o governo alemão apoiou a proposta dos grupos parlamentares de centro-direita para proibir a compra de obrigações pelo fundo de resgate europeu.
(...)Apesar de Lisboa garantir que o convite partiu de Berlim, a mesma fonte da Comissão Europeia desconfia que a iniciativa pode ter partido de Portugal. "A diplomacia alemã não costuma funcionar assim, chamando outros líderes a Berlim. Parece-me mais um exercício de relações públicas para favorecer Portugal. Além disso, duvido que, depois da derrota eleitoral que Merkel sofreu, a chanceler se apresente favorável às propostas portuguesas, bastante impopulares na Alemanha." in  Jornal i ,Filipa Martins

Nota:Todos estes acontecimentos que se sucedem no nosso país fazem ressurgir uma voz forte da nossa Literatura , Guerra Junqueiro. No seu tempo dissecou a realidade nacional e exortou à  insurgência contra o autoritarismo. Por isso , um dia Guerra Junqueiro diria para o seu amigo Luis de Oliveira Guimarães " Os poetas consideram-me um político; os católicos julgam-me um ímpio; os ateus, um crente." (1).
 Se num exercício simples e quase rudimentar tentarmos substituir algumas referências nomeadamente a que designa o  Rei, as palavras  de  Guerra Junqueiro ganham plena actualidade nestes dias de ira contida. Estas que vamos transcrever  surgiram  na sequência do Ultimatum inglês :
"O estado é o rei. Cidadão há um único: D. Carlos. Os deveres são nossos, os direitos, dele. Estrangula-me as ideias, arromba-me a gaveta, ou corta-me o pescoço, conforme o queira. A justiça é um relógio que ele atrasa, adianta ou faz parar, segundo lhe dá na vontade. Decreta a lei e nomeia o juiz. O parlamento é o seu capricho" (2)
"Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante, o direito garantido virtualmente na lei, posto, de facto, à mercê dum compadrio de batoteiros, sendo vedado, ainda aos mais orgulhosos e mais fortes, abrir caminho nesta porcaria, sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários".
(1) Luís de Oliveira Guimarães, Junqueiro e o Bric-à-Brac, Lisboa, 1942
(2)Guerra Junqueiro, "Anotações (Balanço Patriótico)", in Pátria, 7ª edição, Porto, Lello & Irmão – Editores, 1950

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