sexta-feira, 25 de março de 2011

O poder da estupidez


"A questão acerca da qual muitas vezes as pessoas razoáveis se interrogam é a de que como e porquê pessoas estúpidas conseguem atingir posições de poder e de autoridade. Não é difícil compreender como o poder político, económico ou burocrático aumenta o potencial nocivo de uma pessoa estúpida. Mas temos ainda de explicar e perceber o que torna essencialmente perigosa uma pessoa estúpida, ou seja, em que consiste o poder da estupidez.
Os estúpidos são perigosos e funestos principalmente porque as pessoas razoáveis acham difícil imaginar e entender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode entender a lógica de um bandido. As acções do bandido seguem um modelo de racionalidade. O bandido quer algo “ mais “ na sua conta. Dado que não é suficientemente inteligente para cogitar métodos com os quais obter algo “ mais “ para si, proporcionando ao mesmo tempo algo “ mais “ também para os outros, ele obterá o seu algo “mais “ causando algo “ menos “ ao seu próximo. Tudo isto não é justo, mas é racional e se somos racionais podemos prevê-lo. Em suma, podemos prever as acções de um bandido, as suas sujas manobras e as suas deploráveis aspirações e muitas vezes podemos preparar as defesas apropriadas.
Com uma pessoa estúpida tudo isto é absolutamente impossível. Como está implícito na Terceira Lei Fundamental, uma criatura estúpida persegui-lo-á sem razão, sem um plano preciso, nos tempos e nos lugares mais improváveis e mais impensáveis. Não há qualquer maneira racional de prever se, quando, como e porquê, uma criatura estúpida vai desferir o seu ataque. Perante um indivíduo estúpido está-se completamente vulnerável.
Dado que as atitudes de uma pessoa estúpida não são conformes às regras da racionalidade, disso resulta que :
a)      geralmente somos apanhados de surpresa pelo ataque ;
b)      quando temos consciência do ataque não conseguimos organizar uma defesa racional, porque o ataque em si não tem qualquer estrutura racional.
O facto de a actividade e os movimentos de uma criatura estúpida serem absolutamente erráticos e irracionais, não só torna a defesa problemática como torna ainda extremamente difícil qualquer contra-ataque – é como  tentar disparar contra um objecto capaz dos mais improváveis e inimagináveis movimentos. Isto é o que Dickens e Schiller tinham em mente quando um deles afirmou que “ com estupidez e boa digestão o homem pode enfrentar muitas coisas “ , e o outro que “ contra a estupidez os próprios Deuses combatem em vão “.
Devemos ter ainda em conta uma outra circunstância. A pessoa inteligente sabe que é inteligente. O bandido tem consciência de ser um bandido. O crédulo está penosamente ciente da sua própria credulidade. O estúpido, ao contrário de todos estes personagens, não sabe que é estúpido. Isso contribui decisivamente para dar maior força, incidência e eficácia à sua acção devastadora. O estúpido não é inibido por aquele sentimento a que os anglo-saxónicos chamam self-consciousness. Com um sorriso nos lábios, como se fizesse a coisa mais natural do mundo, o estúpido aparecerá inopinadamente para lhe dar cabo dos seus planos, destruir a sua paz, complicar-lhe a vida e o trabalho, fazer-lhe perder dinheiro, tempo, bom humor, apetite e produtividade – e tudo isto sem malícia, sem remorsos e sem razão. Estupidamente.
Carlo M.Cipolla, " As leis fundamentais da estupidez", in " Allegro Ma Non Troppo",Celta Editora

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