sábado, 15 de janeiro de 2011

Salgado Zenha e as Presidenciais de 1986

Vivemos um tempo diferente. Tempo em que os ideais se confundem e as ideologias não vigoram. Aproximam-se Eleições e esse acto que deveria promover um amplo debate de novos projectos para este país mortificado por tantos erros e vãs experiências,  queda-se perante um quadro de desalento , de repúdio por uma corrida que se esgota em si e per si, sem senso pelo censo. Os tempos mudaram , os candidatos são outros e , entretanto, Portugal espera.
Salgado Zenha foi candidato presidencial em 1986. Recordemo-lo.

Francisco Salgado Zenha, um grande Democrata
Francisco Salgado Zenha nasce a 2 de Maio de 1923 em Braga, numa família abastada. Foi um dos nossos  grandes da Resistência, lutando valorosamente contra o regime fascista, quer como militante do Partido Comunista desde a década de 40 , quer  através de uma militância activa nas CEUD's (Comissões Eleitorais de Unidade Democrática) , quer, posteriormente, como fundador do PS. Foi perseguido e feito preso político. Paralelamente , exerceu   uma excelente  actividade jurídica  nunca deixando de prestar ajuda a todos os  que  combatiam a Ditadura ,  realizando  brilhantes defesas  nos Tribunais . Com Mário Soares, forma uma das maiores duplas políticas do Portugal do século XX, partilhando ideais e quase todos os grandes momentos da vida política nacional. Ambos apoiam, sem reservas, o general Humberto Delgado em 1958 nas eleições presidenciais, para além de lutarem na linha da frente da oposição ao regime, da qual são figuras emblemáticas.
 Em artigos, em jornais, em Conselhos de Ministros e num Comício no Pavilhão dos Desportos (em 15 de Janeiro de 1975), Zenha bateu-se sempre contra o projecto da unicidade sindical,  uma única central sindical, apesar da proposta ter sido aprovada. Terá dito, antes, empolgando os socialistas no Comício, que "se hoje se sacrifica uma liberdade, amanhã poderá sacrificar-se outra, depois de amanhã outra, e assim sucessivamente".
Em 1976, começa esta dupla, Mário Soares e Salgado Zenha,  a desfazer-se , mas será o  ano de 1986 que marcará o afastamento definitivo destas personalidades políticas cuja  relação se foi  degradando  progressivamente. Zenha demite-se do PS e, apoiado pelo PRD e por Eanes, candidata-se a Belém, causando mal-estar no Partido, onde ainda existiam divergências internas entre "soaristas" e políticos ligados a Zenha. Recebe o apoio do PCP, o que não o impede de conhecer uma derrota política logo na primeira volta das Eleições, ainda que com a cifra de 20%. Em 10 de Junho de 1990, contudo, será por este condecorado com a Ordem da Liberdade, depois de um processo negocial para que aceitasse a distinção, mediado, entre outros, por António Guterres, amigo de sempre de Zenha.
Na data do seu septuagésimo aniversário, a 2 de Maio de 1993, terá dito, perante um grupo de amigos que lhe pediram mais protagonismo político "Sejamos bons e tentemos ser os melhores. Mas sejamos modestos; a modéstia é a melhor forma de vaidade."
Morre a 2 de Novembro de 1993. (  Consulte: Francisco Salgado Zenha. In Infopédia [Em linha]) Porto: Porto Editora, 2003-2011).

Eleições de 1986

  
                  
Resultados da Eleição Presidencial de 26 de Janeiro de 1986 - 1.ª volta :
Diogo Freitas do Amaral  -  CDS-PSD  -  2 629 597 votos  -  45,8%
Mário Soares   -  PS  -  1 443 683 votos  -  25,1%
Francisco Salgado Zenha  -  Independente  -  apoiado pelo PCP e PRD  -  1 185 867 votos  -  20,6%
Maria de Lourdes Pintasilgo  -  Independente  -  418 961 votos  -  07,3%
Ângelo Veloso  -  PCP  -  desistiu a favor de Salgado Zenha
Resultados da 2.ª volta de 16 de Fevereiro de 1986:
Mário Soares   -  PS e os restantes candidatos derrotados na 1º volta -  3 010 756 votos  -  50,7%
Diogo Freitas do Amaral  -  CDS-PSD  -  2 872 064 votos  -  48,4%

1 comentário:

  1. Don Francisco Salgado Zenha(q.e.p.d.), Gran Jurista y Gran Persona

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