segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Recordar Fiama Hasse Pais Brandão



  DO MAR

Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.
Fiama Hasse Pais Brandão

Fiama Hasse Pais Brandão nasceu em 1938, em Lisboa. Poetisa, dramaturga, ficcionista e ensaísta. Revelada, como Gastão Cruz, no movimento Poesia 61, que revolucionou a linguagem poética portuguesa dos anos 60, Fiama veio a demonstrar ser uma das principais vozes poéticas da sua geração. Fiama Hasse Pais Brandão destacou-se sobretudo na poesia. Casada com o poeta Gastão Cruz, dedicou-se igualmente à escrita para teatro, tendo a sua primeira peça, "Os Chapéus de chuva", sido distinguida com o Prémio Revelação de Teatro, em 1961.Faleceu em 19 de Janeiro de 2007 com 69 anos de idade.
Lugar no céu
Fiama Hasse Pais Brandão é “uma das grandes poetisas do século XX”, disse à Lusa o crítico e ensaísta Eduardo Lourenço, que considera Fiama “uma espécie de concha de silêncios, onde se reflectiam todas as dores e alegrias do mundo”.
É “mais célebre do que verdadeiramente conhecida”, disse ainda. “Mas vamos ter agora tempo para a ler, como é costume em Portugal, onde só acordamos com os mortos nos braços”, acrescentou.
“Se há um céu para os poetas, como se diz que há para as crianças quando morrem, pela sua inocência, Fiama, que tinha esse nome maravilhoso de chama, terá nele certamente um lugar”, disse ainda o ensaísta.
Eduardo Lourenço prefaciou “Obra Breve”, o livro que reúne a poesia completa de Fiama Hasse Pais Brandão (Assírio e Alvim, 2006).
In “Jornal Público” 20.01.2007
Sobre a Obra
"Fiama sente a inextricável complexidade do mundo e a sua perplexidade perante ele é permanente, embora não passiva. Essa perplexidade não paralisa a investigação activa do real, antes parece estimulá-la e desenvolvê-la. Qualquer dos seus poemas é um percurso acidentado e abrupto que gera na fragilidade irredutível de uma identidade perplexa mas insubmissa."
António Ramos Rosa
Letras & Letras, 21/ 10/ 92
 "Ao longo de mais de trinta anos, a poesia de Fiama Hasse Pais Brandão mais não fez do que aprofundar as relações entre a linguagem e o mundo, entre as palavras e a vida, entre as imagens linguísticas e as imagens reais. Se a poesia é um som e se a obra de um poeta é o seu som, o seu sopro, então a poesia sopra através da vastidão de uma vida e arrasta nesse sopro a imagem dos lugares por onde passou."
Gastão Cruz
Letras & Letras, 21/ 10/ 92

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