quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Os culpados somos nós?


O mesmo homem , o optimista, que vai enterrando os portugueses , em nome de Portugal, apresentou-se ontem, ao país em acto solene , para anunciar "carrancudamente" o desaire da sua governação. Aparentava ou afivelava um ar imaculado de ausência de culpa, furtando-se a qualquer e vulgar expressão  contrita. Tudo o ultrapassa, apenas o dever que o obriga a castigar alguns de nós, já que na sua extraordinária mente, os culpados são todos, menos e nunca ele. Ninguém o ouviu dizer “ASSUMO “, ERREI”, “LAMENTO”, ENGANEI-ME”, “ PEÇO DESCULPA” ou tão somente “ SOU MENTIROSO”.
Aqui, estão transcritas as declarações deste  Presidente do Conselho em datas distintas, Julho de 2010 e 29 de Setembro de 2010 ao mesmo Jornal . Que arguto determinismo traduzem estas medidas que se repetem (talvez indefinidamente, sabe-se lá). Não há dúvida que um desacerto forte, rigoroso e frutuoso perpassa por este governo que tem tal  prodigioso e iluminado  chefe . Se calhar a culpa é nossa, deste povo que o elegeu e o mantém .
Que mais nos espera,  meu pobre, pobre Portugal?

In “ Jornal Expresso”, 9:51 Quarta feira, 14 de Julho de 2010
“Em entrevista ao "Financial Times", José Sócrates revelou estar confiante no futuro do país, alegando que as medidas de austeridade surtirão bom efeito.
"Desafio qualquer pessoa a mostrar-me um país que tenha sido mais reformista nos últimos cinco anos", afirma José Sócrates, reconhecendo, todavia, que Portugal ainda não está acima da média europeia em termos de padrão de vida e de competitividade.
Em declarações a um suplemento especial sobre Portugal que o "Financial Times" publica na quarta feira, o chefe do Executivo congratula-se com os cortes na Administração Pública, referindo-se à redução de 73.000 funcionários (10 por cento) entre 2005 e 2009. O governante fala também sobre o pacote de medidas para combater a crise, assegurando que as "dificuldades financeiras" que Portugal enfrenta teriam "uma impacto muito mais negativo na economia do que as medidas de austeridade" que está a aplicar.
Sócrates destaca crescimento do PIB
Na entrevista ao jornal, José Sócrates destaca igualmente que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,1 por cento no primeiro trimestre deste ano e garante que Portugal vai fazer "tudo o que for necessário" para manter o compromisso de cortar o défice para 2 por cento do PIB em quatro anos. No aspecto laboral, e citando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o primeiro ministro declara ao Financial Times que "Portugal tinha um dos mercados de trabalho mais rígidos do mundo desenvolvido", enquanto agora está "próximo da Alemanha e melhor do que a França".
O progresso na área da ciência é considerado pelo chefe do Governo como "absolutamente extraordinário", com o investimento público na investigação a subir de 0,7 para 1,55 por cento do PIB entre 2005 e 2008, superando a Irlanda e a Espanha, e uma média de 7,6 investigadores por cada 1000 trabalhadores. “

In“Jornal Expresso”20:10 Quarta feira,29 de Setembro de 2010
“O primeiro-ministro, José Sócrates, acabou de anunciar as medidas de austeridade que farão parte do Orçamento de 2011.
Um corte de 5% da despesa com salários dos funcionários do Estado, incluindo todas as entidades como institutos e empresas públicas, e o aumento da taxa normal do IVA em dois pontos para 23% são duas das medidas anunciadas há instantes pelo Primeiro-Ministro para o próximo ano. No caso dos salários, o objectivo é conseguir um corte de 5% na massa salarial, começando com uma descida de 3,5% para os rendimentos entre 1500 e 2000 euros e atingindo 10% para os rendimentos mais elevados.
Foram ainda anunciadas várias medidas que farão parte do Orçamento do Estado para 2011 e que deverá ser entregue na Assembleia da República até 15 de Outubro.
Do lado da despesa, destacam-se, entre outras, além da redução dos salários, o congelamento das pensões e das progressões automáticas na administração pública, o fim do abono de família extraordinário, cortes na despesa com ajudas de custo ou a redução de 20% nos gastos com rendimento social de inserção e com a frota do Estado. O objectivo é conseguir um corte na despesa de 3420 milhões de euros.
Na receita, além do IVA, o Governo vai também avançar com a introdução de limites às deduções das despesas de saúde e educação no IRS que estavam já no Programa de Estabilidade e Crescimento, a criação de um novo imposto sobre a banca e a actualização das taxas, multas e penalidades. Medidas que deverão gerar uma receita de 1700 milhões de euros.
Para este ano, o ministro das Finanças assinou ontem um despacho a congelar o investimento até final do ano e anunciou, na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros que aprovou aslinhas gerais do Orçamento, que algumas das medidas do Orçamento de 2011 entrarão já em vigor, como é o caso da eliminação do abono de família extraordinário.
Recorde-se que o Governo tem uma meta de défice de 7,3% do produto interno bruto (PIB) este ano e, a julgar pelos dados conhecidos até agora, as contas estão fora do pretendido. Para 2011, o objetivo é de 4,6%.”

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Luísa Costa Gomes vence Prémio Fernando Namora/Estoril Sol

A escritora Luísa Costa Gomes venceu o Prémio Literário Fernando Namora/Estoril Sol com «Ilusão ou O Que Quiserem», editado pela Dom Quixote, em Novembro de 2009. A escolha foi unânime porque o júri «considerou a obra manifestamente inovadora, quer pela sua excelente construção, quer pelo seu ágil registo estilístico de constante ironia, quer pela análise penetrante de alguns comportamentos tipo da actual sociedade portuguesa, muito em especial no tocante a métodos pedagógicos aplicados nas escolas e à animação cultural na província, bem como à densidade da narrativa».
O júri foi constituído pelo escritor Vasco Graça Moura, Guilherme d´Oliveira Martins (em representação do Centro Nacional de Cultura), José Manuel Mendes (Associação Portuguesa de Escritores), Maria Carlos Loureiro (Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas), Manuel Frias Martins (Associação de Críticos Literários), Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz (convidados a título individual) e Lima de Carvalho e Dinis de Abreu (Estoril Sol) .
Concorreram a este prémio ,com o valor pecuniário de 25 mil euros , cerca de meia centena de obras, todas editadas em 2009.
«Ilusão ou O Que Quiserem» «conta-nos a história de uma separação, mas também de uma paixão obsessiva, de uma viagem patética, de um projecto que corre bem demais, e de outras peripécias. Trata-se de um romance satírico sobre um homem à procura da realidade, no meio de tantos, tantos fantasmas, vozes sem corpo, corpos sem voz, e da multidão de desconhecidos que faz parte da nossa vida de todos os dias», esclarece a Dom Quixote.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Contra a vergonha

 Cada dia que passa uma nova  derrapagem é anunciada e todas convergem contra os mesmos: aqueles que não  derraparam , mas que são constantemente empurrados por uma incompetente e embusteira governação. É o desemprego,  é a miséria de um trabalho insuficiente, é a fome,  é, enfim, a criminosa indignidade do lucro devorando a equidade e impondo a penúria alargada.
Ontem, a pedido ou em aparente conluio , o Senhor OCDE, Secretário Geral, anunciou como medidas necessárias para a redução do famigerado défice português o  aumento cego  de impostos , a congelação dos salários dos funcionários públicos e etc...(que de tão virulento nem se enumera).
Ora, se a cegueira continua e este Governo promove as sugestões tão oportunas deste perito transnacional, a miséria propagar-se-á, atingindo aqueles que num  malabarismo colossal pagam à autarquia local o imposto sobre a casa que é apenas  o tecto e o chão que lhes restam.
O Orçamento que todos os dias nos persegue com cenas dramáticas de rompimento amoroso, qual folhetim mediático, revalida-se, agora,  nas propostas vindas do  exterior e formuladas com as medidas apontadas pela OCDE. Assim, novamente o Governo (vil e mesquinhamente) incólume e solidário declara-se obrigado a tomar essas opções impostas pela situação de crise  internacional e jamais pela negligência comprovada da sua acção. Ninguém aponta austeridade. Ninguém extingue as constantes inaugurações grandiosas do Presidente do Conselho e dos seus subordinados , ninguém acaba com os Institutos , Fundações, Comissões, Conselheiros, Pareceres  e Grupos especializados em apoio e promoção de um Governo moribundo e tóxico. NINGUÉM.
Os luxos adquiridos que têm  esvaziado os cofres públicos com a compra sucessiva de automóveis de grande cilindrada, com a utilização desmedida de cartões de crédito pelos governantes e afins, com a realização de banquetes ostentórios de uma opulência  artificial, com a iniquidade de atribuir reformas exorbitantes a grupos de elite protegida, com a promoção de imagem através de um novo riquismo bacoco  afundam a dignidade de um povo e conduzem à míngua dependência dos outros que nos sobrelevam com imposições humilhantes. E a divída pública  aumenta  e reitera essa dependência, obrigando-se a um consecutivo vergonhoso leilão internacional que também consecutivamente é repudiado, atingindo limites de licitação que assustam e reduzem Portugal ao lugar menor do continente mais velho e tolerante do mundo: a Europa da civilização humanista. E é essa Europa que vem para a rua, amanhã. O direito à indignação, o direito ao emprego e o direito básico de ser GENTE estará na rua, em manifestação. Esperemos pelo amanhã.

domingo, 26 de setembro de 2010

Para ouvir V

Banda sonora do filme “Born Free" (1966 - 96m) da autoria de John Barry que foi distinguida com um Óscar, em 1967.  John Barry é um grande compositor inglês que foi premiado várias vezes pelas excelentes  bandas sonoras de vários filmes .



" Uma leoa chamada Elsa " foi o título atribuido a este filme, em Portugal .
REALIZADOR
James Hill
INTÉRPRETES
Virginia McKenna, Bill Travers, Geoffrey Keen, Peter Lukoye, Omar Chambati, Bill Godden, Robert S. Young, Bryan Epsom, Geoffrey Best, Robert Cheetham, Surya Patel.
BANDA SONORA
John Barry
NEW COLUMBIA CLASSICS

Livro de inéditos de Llansol

Título: Um Arco Singular
              Livro de Horas II"
Autor: Maria Gabriela Llansol
Editor: Assírio § Alvim

Hoje, Domingo, 26 de Setembro, à tarde, será apresentado  nas Segundas Jornadas Llansolianas de Sintra, no Centro Cultural Olga Cadaval, o segundo volume do «Livro de Horas» de Maria Gabriela Llansol, que será comentado por José Manuel de Vasconcelos.
"Neste segundo volume do Livro de Horas evidenciam-se essencialmente duas vertentes. Por um lado, predominam registos tendencialmente bastante mais pessoais (por vezes mesmo íntimos) do que no primeiro volume. A matéria biográfica, as evocações da infância, as crises de relacionamento na vida social, as tensões entre indivíduo de escrita e grupos profissionais, ocupam grande parte da escrita diarística destes anos de 1977-1978 (correspondentes aos cadernos nº 3 a 6 da primeira série do espólio), uma época em que a escrita tem de alternar com o trabalho, e se vê, por isso, frequentemente atravessada por tensões e nostalgias. Por outro lado, põe-se mais à vista a oficina de Llansol, sobretudo no que se refere ao trabalho de pesquisa e de entrosamento da experiência com a narração e a escrita, particularmente do segundo e terceiro livros da primeira trilogia, A Restante Vida e Na Casa de Julho e Agosto.
[...]
Uma palavra sobre o título encontrado para este segundo volume: o «arco singular» que nele se traça (sugerido pela leitura de Rilke) é múltiplo, e será decisivo para o resto da vida e da escrita de Maria Gabriela Llansol. Esse arco vai do entusiasmo inicial da experiência cooperativa de trabalho e ensino à desilusão final dessa vivência, tão típica de uma época de ideais alternativos e de contradições. É o arco da tensão crescente entre as imposições da sobrevivência e a «sobrevida» que só a escrita de mais dois livros pode trazer, os que ocupam grande parte destes cadernos e deste período... É o arco que vai da matéria medieval, e fascinante, do universo de beguinas, cátaros, gnósticos e alquimistas à descoberta da escrita e da existência de outras mulheres, escritoras do mesmo século XX, e grandes revelações, como Virginia Woolf e Katherine Mansfield. É, em termos de quotidiano estrito, o arco que vai da saída de Lovaina e do seu mundo mais cosmopolita à aparente felicidade da vida mais tranquila na casa de Jodoigne (que evoca vagamente a da infância, e por isso é objecto de tanta atenção) e ao anúncio da saída para o isolamento ainda maior de Herbais, que proporcionará finalmente uma existência quase exclusivamente preenchida pela escrita. O «arco singular» que este livro dá a ver é, enfim, o de uma linha parabólica sempre bidireccional e tensa, com um vórtice em cima e outro em baixo, entre os quais se desenrola o percurso de um ser de escrita que, como dirão mais tarde as últimas palavras de O Senhor de Herbais, sendo como poucos singular, nunca seria «uma singularidade vã».
Publicado em “ Espaço Llansol”,  em 16/09/2010


sábado, 25 de setembro de 2010

Este nosso mundo

Em cada seis segundos morre de fome no mundo uma criança . Aterrador este nosso mundo.
O trabalho infantil tem vindo a reduzir-se, mas a um ritmo menor do que o desejado e ainda afecta 215 milhões de crianças no mundo, das quais 115 milhões exercem actividades perigosas, declarou a OIT.
Em Nova Iorque, realizou-se uma cimeira de três dias convocada pelo Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,  para pressionar a comunidade internacional no compromisso assumido há dez anos sobre oito ambiciosas metas, sendo a mais importante erradicar a fome e a pobreza extrema no mundo até 2015.
De acordo com o relatório elaborado por organismos como Banco Mundial, FMI, UNICEF, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), UNESCO, OCDE e Organização Mundial da Saúde (OMS) o número de pobres entre a população activa cresceu em 215 milhões e estima-se que até finais de 2010 surjam mais 64 milhões de pessoas devido à crise económica.
Em 2009, em Portugal registou-se pela primeira vez nos últimos cem anos o mais baixo índice de nascimentos , sendo inferior ao índice de mortes. Entretanto, as condições de sobrevivência têm sido agravadas pelo desemprego que aumentou assustadoramente.
Assim vai o nosso mundo. Assim vai Portugal.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Para reflectir

Aproxima-se o Centenário da República e é tempo de muitas acções festivas, de grandes (in)vocações e de importantes eventos culturais. A implantação da República marcou para sempre Portugal. No seu ideário estavam sagrados muitos princípios que , por vezes, se vão esquecendo. Um deles reporta-se à liberdade, condição essencial para o exercício pleno da democracia. Atente-se e medite-se neste sábio excerto sobre esse princípio: "Embora a liberdade deva ser largamente anunciada como direito, isso, por si só, não garante seu exercício, uma vez que a base efectiva da liberdade é o exercício político de seus cidadãos."

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

RECORDAR

Faz, hoje, 40 anos que Jorge de Sena escreveu este poema, pelo que recordá-lo é sempre um imenso regozijo e uma grande honra.

RECORDAR E NÃO
I
Que se recorda não recorda nunca,
e sonha-se dormindo o que vivido foi
mas entendido não, ou não assim.
Só que o lembrar de vida se sustenta,
e não sonhamos de ontem quanto não tornámos
a repetir, ainda que diverso,
com outra gente mesmo, num lugar de agora.
Sonha-se em sonhos do sonhado em vida,
à volta ou dentro do que se é memória
de haver sonhado o recordar futuro.
Porém se não recorda nem se sonha
o que saudade seja de haver tido
quanto lembramos só como saudade
que foi perdendo o rosto e o som da voz,
e nova carne não tomou da vida.

II
Felizes que de imagens e palavras
como da cor e som de umas e doutras
se iludem e contentam, são felizes
em verso e em vida, e no louvor dos que
nada mais querem que o prazer fingindo
por cor e som que não existe em nada.
E tristes os que têm por seu destino
o muito que viveram sem tentar-se
a imaginar uma alegria alheia
no que nos outros nos engana sempre.

III
Esses que chamam vida ao não-vivido,
que escrevem dela e disso o mais dos versos
quais é estimado que a não-vida escreva
para delíquio e orgasmo dos medrosos,
de vida ou de memória não precisam,
de havê-las tido ou não não é que sofrem
mas só da raiva de que por castrados
aos medrosos fascinam. Quanta imagem,
quanta palavra após palavra vácua,
quanto venéreo suas partes pinguem
de escassas aventuras sem prazer,
oh quanto encanta o imaginar de quantos
olham trementes e gulosos tudo
o que de medo não fizeram nunca
e menos os assusta quando é dito em nada.

IV
Que todos se consolem e se acarinhem
com as mãos, a língua, a máquina em que escrevem.
A vida é breve, e a arte mais comprida
que o mais comprido sexo sonhado.
Fazê-lo ejacular é um fácil gesto
de solitário adolescente. Mas
não mãos ou bocas essa outra arte abarcam,
nem há na vida sempre os orifícios
profundos e cingidos, húmidos e ardentes,
aonde essa arte encontre o que lhe foi medida.

V
Oh vem silêncio serenado e oculto
de um recordar que a vida só repete
se a repetirmos de memória antiga!
Oh vem só do pensar e do sentir lembranças
que de fugidas se entredoem tanto!
Oh vem. E desce, e a boca, e prende, e rasga
esta de sonhos tão sonhado vida!
Só disso existirás. Que te não leiam,
te não entendam ou de ti não falem
os que de imagens e de sons se vivem.

Jorge de Sena em 23/9/1970 , in " Exorcimos", 1972

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Para ouvir IV

A talentosa Sara Tavares num espectáculo ao vivo, interpretando "Bom Feeling", uma quente e harmoniosa canção.

Sobre o desemprego

À procura de novos paradigmas
Por Baptista Bastos

Sou particularmente sensível ao fenómeno do desemprego. Por duas vezes passei por essa situação, qual delas a mais dolorosa.
A primeira vez com 26 anos; a segunda, com 55. Ambas por motivos políticos. Tinha três filhos e, ao todo, sete pessoas a meu cargo. Deitei mão a tudo: escrevi discursos para empresários, para políticos e, até, de apresentação de um ano lectivo. Traduzi livros em quinze dias. Utilizava máquina de escrever e o ruído que ela fazia, pela noite fora, até madrugada, incomodava a minha mulher e os meus filhos, muito pequenos. Para não perturbar os seus sonos, por vezes fechei-me na casa de banho. Certa ocasião, o meu cansaço era tanto que adormeci.
Nada da minha história é importante. Serve para lhes dizer que é muito difícil, quase impossível, que eu desista das dificuldades, quaisquer que elas sejam. A minha resistência é, afinal, a resistência de qualquer homem normal. Creio.
O desemprego comove-me. Sei o que se passa nessa horrível situação. Chegam a evitar-nos, quando nos vêem, talvez receando que lhes possamos pedir dinheiro. Camilo Castelo Branco escarmentou-os muito bem: "Amigos, cento e dez ou talvez mais / eu tive um dia; / porém, ceguei, e desses cento e dez impávidos sacanas / só um ficou." É uma experiência extrema, no interior da qual a solidariedade parece arredia.
Sinto um nó na garganta quando as televisões noticiam (é diário) este e aquele encerramento de fábricas, de oficinas, de empresas. Os rostos daquelas mulheres e daqueles homens, condenados por um crime que não cometeram, fazem-me estremecer de indignação. Sirvo-me, então, dos meios de que disponho e dos processos que me são caros: escrevo por eles, com eles e ao lado deles. Cada desempregado é um camarada, um amigo e um companheiro perto ou longínquo. Quando as grandes multinacionais, depois de auferirem benesses e benefícios do Governo, se passam para outro país, onde a mão-de-obra é mais barata, aí, a minha ira, o meu furor, a minha cólera sobem de nível. O capitalismo não dispõe de um pingo de decência.
Mas o capitalismo, temos de o dizer, cumpre os seus desígnios: o lucro, pelo lucro. O socialismo promete este mundo e o outro. O capitalismo não promete nada, a não ser miséria, e a distribuição de umas escassas migalhas. Não tenhamos dúvidas. O capitalismo apenas promove algum bem-estar quando pressionado pelos sindicados, pelos grandes movimentos sociais.
Estamos à beira de qualquer coisa de incontrolável. Vivemos, não só em Portugal, mas no resto do mundo, sentados num barril de pólvora. No nosso país são mais de 600 mil desempregados. E nenhum Governo faz algo que limite esta desgraça. O PSD apenas fala, e fala em excesso, pela voz de Pedro Passos Coelho. E, em vez de propor decisões, faz ameaças. Só um mentecapto admitirá como certa a resolução da crise através das alterações à Constituição. Tenho pena de dizer o que vou dizer: mas Passos Coelho também não serve. Que nos resta?, dando-se de barato que nem o PCP nem o Bloco de Esquerda conseguirão chegar ao poder. Pelo menos nas actuais circunstâncias e com o gaseamento intoxicante e manipulador consumado, acriticamente, por uma Imprensa, uma Rádio e uma Televisão que somente seguem, bovinamente, a ideologia das classes dirigentes. E não me venham com o comunismo, com o papão do comunismo, com a ameaça do comunismo. A técnica ainda pega. Porém temos de combater a pecha letal. Quando fui professor, numa Universidade de Lisboa, incitava os meus alunos ao conhecimento, à paixão e à vontade. Não há superstições nem maldições. E os portugueses são tão bons no trabalho, na criatividade, na inventiva, como quaisquer outros.
As coisas são-nos apresentadas como factos consumados e absolutamente indiscutíveis. O inimigo a abater é sempre aquele, homem, movimento ou causa, que seja recalcitrante deste mórbido estado das sociedades actuais. Todavia, o que está condenado, mais tarde ou mais cedo, é a renúncia a pensar, a aceitação cabisbaixa do que se nos expõe como inelutável.
A última crise do capitalismo, cujas consequências não pararam, nem, sequer, estacionaram, não é a derradeira. Nem a dobra da crise fará nascer, ou renascer, como se queira, o socialismo. Decorrerão décadas e décadas até que a humanidade descubra um outro modelo para se estabelecer um outro modo de vida. Contudo, creio que muitas coisas estão a ser postas em causa, e as doenças morais, éticas, políticas e religiosas que nos envolvem vão ter de encontrar soluções. Soluções humanas. Soluções do homem para o homem. O próprio paradigma da Esquerda, mais marcado pela Comuna de Paris do que da Revolução Francesa, terá de se modificar. Já está a modificar-se. Sem ter de claudicar ante a ofensiva neoliberal, nem de trair os testamentos que a formaram e continuam a legitimar.

Artigo de Opinião de Baptista Bastos, publicado no " Jornal de Negócios " de 17 de Setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Tempo Republicano da Literatura Portuguesa

Foi publicado o último número da Revista Colóquio/ Letras da Fundação Gulbenkian dedicado ao tempo republicano da Literatura Portuguesa.
Na altura em que se comemora o centenário da proclamação da República, o n.º 175 da Revista Colóquio /Letras ( Set. - Dez. 2010) procura dar visões aprofundadas de como o universo intelectual reagiu a essa mudança, mostrando a complexidade e a pluralidade da literatura e da cultura de quase duas décadas desse regime.
Com contributos de Miguel Real ("As doze tensões do pensamento português na I República"), Manuela Parreira da Silva ("A República dos modernistas"), Nuno Júdice ("Pessoa e a Europa"), Carlos Leone ("A propósito de uma pseudo-invasão"), Ana Alexandra Seabra de Carvalho ("Manuel Teixeira-Gomes"), Carina Infante do Carmo ("No tempo em que se faziam revoluções de chapéu de coco e bigodes carbonários"), este número inclui ainda, em separata, uma panorâmica exaustiva d’O Tempo Republicano da Literatura Portuguesa de José Carlos Seabra Pereira.
Para além da habitual secção de recensões críticas, publicam-se quatro entradas de 1974 do diário inédito de Alberto de Lacerda sobre o convívio do poeta com o casal Vieira da Silva e Arpad Szenes; António Vieira ("A Transmigração") e João Paulo Borges Coelho ("A Cidade dos Espelhos") assinam textos de ficção; Guilherme d’Oliveira Martins leva-nos de "Cracóvia a S. Petersburgo", enquanto Manuel Amado nos conduz pelas ruas vazias de Lisboa.

Por Revista Colóquio/Letras, publicado em 14.9.2010 na secção Notícias

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A poesia cantada de Vinicius de Moraes


A Felicidade
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor

Vinicius de Moraes, in "Poesia completa e prosa: Cancioneiro"

"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que actua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."

Nota - A poesia de Vinicius sente-se em cada palavra. É carnal, melódica, real.
Para Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural"(...) "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes." - disse também este grande poeta.




Soneto da Felicidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me preocupe
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, in "Poesia completa e prosa: Cancioneiro"

domingo, 19 de setembro de 2010

A democracia não se exporta

Os responsáveis de segurança afegãos afirmaram, numa conferência de imprensa, que durante o dia, morreram onze civis, três polícias, um militar , 27 talibãs e 107 ficaram feridos em resultado das acções violentas ocorridas este Sábado, durante a jornada eleitoral, acrescentando que o nível de segurança foi superior ao das eleições presidenciais de 2009.
Pela segunda vez desde a queda do regime talibã, em 2001, os representantes da Câmara baixa do Parlamento foram escolhidos, no Afeganistão. Os eleitores afegãos elegeram 249 deputados, sendo que 68 vagas são reservadas a mulheres.
A eleição deste Sábado é considerada uma prova de estabilidade para o país. Observadores temem fraudes na votação. No ano passado, as eleições presidenciais foram também ofuscadas por uma onda de violência e por sérias irregularidades. Em todo o país, forças adicionais de segurança foram estacionadas para impedir ataques.
Segundo dados do Ministério Afegão do Interior, 52 mil polícias cuidaram da segurança dos cerca de 6 mil locais de votação. Outros 63 mil soldados Afegãos foram chamados para patrulhar os arredores. Com 120 mil homens, a força internacional Isaf esteve de prevenção para intervir em casos de emergência.
O Afeganistão continua em guerra apesar da presença da força militar internacional. Alguém já disse que " A democracia não se exporta, sobretudo quando é representada por forças armadas estrangeiras". Esperemos, entretanto , que os Afegãos encontrem o seu caminho de estabilidade e que a violência se extinga definitivamente dando lugar a um país livre onde o respeito pela pessoa humana seja totalmente vivenciado.
Artigo baseado em informações da Imprensa escrita

sábado, 18 de setembro de 2010

Participação na vida pública

A Constituição da República Portuguesa, no Capítulo II - Direitos, liberdades e garantias de participação política - , prevê a igualdade de acesso a todos os cidadãos na condução pública do país. Qualquer português nunca deve esquecer esse direito porque se não o exercer a sua cidadania nunca será real e plena. Portugal deve protagonizar a vontade de um povo, que somos todos nós. Não deixemos que outros nos substituam, ocupemos o nosso lugar, já que nos tempos hodiernos, a Constituição tem sido o tema e o fundamento que têm alimentado partidaria e mediaticamente o espaço dos nossos dias .


Artigo 48.º

1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.

2. Todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objectivamente sobre actos do Estado e demais entidades públicas e de ser informados pelo Governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos.


In "Constituição da República"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Para ouvir III

Dulce Pontes & Waldemar Bastos em "Velha Chica", num espectáculo ao vivo, em 1999. Duas grandes vozes, uma portuguesa e outra angolana, que se elevam em perfeição.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A primeira Lista do Prémio Goncourt


A Academia Goncourt

O júri do Prémio Goncourt divulgou, no dia 6 de Setembro, a primeira lista de seleccionados onde aparecem algumas das obras que encimam a tão famosa “rentrée littéraire” francesa, tais como “Le premier mot” de Vassilis Alexakis ( Ed. Stock), a última publicação de Michel Houellebecq, “La carte et le territoire “ ( Ed. Flammarion), “Le cœur régulier” (Ed. de L'Olivier) de Olivier Adam, “Une forme de vie “ de Amélie Nothomb (Ed. Albin Michel), “L’insomnie des étoiles”, de Marc Dugain (Ed. Gallimard).
Assim, nesta primeira selecção constam os seguintes nomes com as respectivas obras:
- Olivier Adam, “ Le coeur régulier “(Ed. de L'Olivier)
- Vassilis Alexakis, “ Le premier mot “ (Ed. Stock)
- Thierry Beinstingel, “ Retour aux mots sauvages” (Ed. Fayard)
- Vincent Borel, “ Antoine et Isabelle”(Ed. S. Wespieser)
- Virginie Despentes , “ Apocalypse bébé” (Ed. Grasset)
- Marc Dugain , “ L'insomnie des étoiles” (Ed. Gallimard)
- Mathias Enard ,
“ Parle-leur de batailles,
-
Michel Houellebecq , “ La carte et le territoire” (Ed. Flammarion)
-
Maylis de Kerangal , “ Naissance d'un pont” (Ed. Verticales)
-
Patrick Lapeyre, “La vie est brève et le désir sans fin” (Ed. P.O.L)
-
Fouad Laroui, “ Une année chez les Français” (Ed. Julliard)
-
Amélie Nothomb,” Une forme de vie “(Ed. Albin Michel)
-
Chantal Thomas, “Le testament d'Olympe “(Ed. du Seuil)
-
Karine Tuil, “ Six mois, six jours “(Ed. Grasset)
A segunda selecção está marcada para 5 de Outubro e a terceira e última para 4 de Novembro deste ano. O Prémio será atribuído a 8 de Novembro e será anunciado em Paris, no Restaurante Drouant, após o habitual almoço que reunirá os dez jurados.
Este Prémio que é o mais cobiçado e prestigiado galardão literário francês tem somente o valor pecuniário de 10 Euros , mas o real e efectivo valor reside na fama que dá ao premiado catapultando-o para a ribalta mediática. A obra e o escritor são lançados no mercado pelo que conduz sempre à venda de um número incalculável de exemplares da obra premiada.
O laureado Goncourt de 2009 foi Marie NDiave com o romance" Trois femmes puissantes", Ed. Galimard. Em Portugal, o romance foi editado pela Teorema com o título «Três Mulheres Poderosas».

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Escrever


Se eu pudesse havia de transformar as palavras
em clava.
Havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante, sem música.
Como um gesto, uma pancada brusca e sóbria.
Para quê todo este artifício da composição sintáctica e métrica?
Para quê o arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras, pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo.
Vejo, admiro, desejo?
Ou sim ou não.
E como isto continuando.

E gostava para as infinitamente delicadas coisas
do espírito...
Quais, mas quais?
Gostava, em oposição com a braveza do jogo da
pedrada, do tal ataque às coisas certas e negadas...
Gostava de escrever com um fio de água.
Um fio que nada traçasse.
Fino e sem cor, medroso.

Ó infinitamente delicadas coisas do espírito!
Amor que se não tem, se julga ter.
Desejo dispersivo.

Vagos sofrimentos.
Ideias sem contorno.
Apreços e gostos fugitivos.
Ai! o fio da água, o próprio fio da água sobre
vós passaria, transparentemente?
Ou vos seguiria humilde e tranquilo?

Irene Lisboa, in " De Outono havias de vir ", 1937

domingo, 12 de setembro de 2010

Quando o cinema retrata a crise

" The Company Men", filme de John Wells com Ben Affleck, Chris Cooper, Tommy Lee Jones e Kevin Costner.O tema versa sobre os efeitos da crise que conduziram ao «downsizing» das grandes empresas. A estreia está prevista para 30 de Dezembro 2010.

sábado, 11 de setembro de 2010

O dia em que o mundo mudou

Passaram-se nove anos e o mundo continua com o pavor e o terror de muitos Bin Ladens. A dor do 11 de Setembro transformou o mundo . A guerra espalhou-se sem que a pacificação fosse planificada. E o extremismo grassou e continua a enformar os mais calamitosos actos contra a dignidade do Homem.
Assim, vai o nosso mundo: Cruel, injusto e vulnerável.

Leonard Cohen

Ontem , Leonard Cohen deu um excelente concerto no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Aos 76 anos, actuou com mestria durante três horas e meia, provocando a admiração do público e óptimas críticas pela Comunicação Social.
Ei-lo, em "Dance Me to the End of Love" do album " Various Positions" de 1984, uma das mais belas canções de sempre desta voz tão peculiarmente grave e rouca.


Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til i'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in babylon
Show me slowly what i only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Recordar um amigo chamado Camus



Un ami nommé Camus
Franz-Olivier Giesbert

C'est sans doute parce que le monde tourne de plus en plus vite que nous adorons nous arrêter sur notre passé, si possible en nous faisant mousser ou en versant notre larme. C'est ce qu'on appelle une célébration.
Après l'anniversaire de la chute du mur de Berlin, voici venir le temps de la commémoration de la mort d'Albert Camus. Un monument national qui, pour le coup, n'a pas usurpé son titre.
«Avoir raison trop tôt est toujours un grand tort.» Telle fut la faute d'Albert Camus, qui nous a quittés, il y aura bientôt cinquante ans, en pleine force de l'âge, à 47 ans, dans un stupide accident de voiture, le 4 janvier 1960.
Mais la postérité lui a bien réussi. Même s'il a dit que le besoin d'avoir raison était la «marque d'un esprit vulgaire», Albert Camus aura dominé son époque par sa préscience, ses tourments et la pertinence de ses analyses sans avoir connu, après sa mort, le purgatoire obligatoire des écrivains.
Pourquoi reste-t-il à ce point d'actualité, le romancier de «L'étranger», qui, en poche, est toujours en tête des meilleures ventes ? Sans doute parce qu'il est, plus qu'un écrivain, un philosophe ou un moraliste, mais aussi un ami dont, à chaque livre, on se sent plus proche.
Ce libertaire, rétif aux idéologies, n'est tombé dans aucun des panneaux de notre affreux XXe siècle. Il a juste beaucoup douté. Notre cher Jacques-Pierre Amette a tout dit, un jour, dans ces colonnes, à propos d'Albert Camus: «C'est cette vulnérabilité révélée, écrite, répétée, ressassée, qui nous le rend proche, vrai (1). »
Comme tous les vrais amis, il ne mourra jamais, l'homme qui a écrit: «Je ne connais qu'un seul devoir, et c'est celui d'aimer. »

(1)- « Le Point » du 14 août 1993.

Publié le 13/11/2009 , dans "Le Point" N°1939

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Booker Prize


Foi anunciada a lista de finalistas do prestigiado " Booker Prize", no valor de 50 mil libras. Esta lista foi considerada a mais controversa dos últimos anos. Inicialmente, englobando treze nomeados passou para apenas seis.
Os finalistas que integram a lista são: Peter Carey (vencedor deste prémio por 2 vezes), Emma Donoghue, Damon Galgut, Howard Jacobson, Andrea Levy e Tom McCarthy .
O anúncio do vencedor será efectuado a 12 de Outubro.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Os Franceses vieram para a rua



Ontem, ao fim do dia, a CGT declarava que tinham saido para as ruas de França 2,7 milhões de pessoas protestando contra o projecto do aumento da idade da Reforma , um número superior ao contabilizado pelos orgãos oficiais do Ministério do Interior. Segundo a CGT, só em Paris manifestaram-se 270.000 pessoas. Cerca de 200 cidades francesas foram também palco de grandes manifestações. Os Franceses vieram efectivamente para A RUA.
" Era este o objectivo e o Governo não poderá fazer como se nada se tivesse passado hoje" - declarou Bernard Thibault, Secretário Geral da CGT.
Entretanto, Martine Aubry, Secretária Geral do Partido Socialista, que participou na Manifestação em Paris , prometia novamente repor a idade legal da reforma nos 60 anos. O Primeiro Ministro , François Fillon, comunicava, na Assembleia Nacional, que estava aberto ao debate desde que não se perdesse de vista o objectivo da reforma.
Em França, os trabalhadores demonstram com energia o que pretendem para o futuro. Diz o ditado que a união faz a força. Esperemos que assim seja .

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A França em Manifestação


Ao meio-dia já desfilavam 450.000 pessoas nas ruas de França. Os Sindicatos consideram que nesta greve e manifestação contra o aumento da idade da reforma , registar-se-á a maior mobilização de sempre.
O projecto da alteração da idade da reforma cuja análise também tem início, hoje, no Parlamento Francês, tem como objectivo alterar a actual idade legal da reforma de 60 anos para 62 em 2018, aumentando-a de 4 meses por ano, a partir de 2011. A primeira geração a ser atingida por esta reforma é a que nasceu em 1951.
Por cá, a idade da reforma aumentou e prevê-se que vá aumentando em colisão com a mobilização que vai diminuindo. A precariedade do emprego retira a força aos trabalhadores e amarra o direito à indignação.

Para ouvir (II)

A voz timbrada de Camané em “Sei de um rio”, um Fado com letra de Pedro Homem de Mello e música de Alain Oulman do Album "Sempre de mim" , de 2008



Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando

Pedro Homem de Melo e Alain Oulman,in "Sempre de Mim", 2008

Para ouvir

Alanis Morissette em "That I Would Be Good". Uma bela melodia numa óptima interpretação.



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A mais esplendorosa criação de Portugal

"As Humanidades, os Estudos Culturais, o Ensino da Literatura
e a Política da Língua Portuguesa"
Autor: Vitor Manuel de Aguiar e Silva
Editora: Almedina
Tema: Literatura
Ano: 2010
Tipo de capa: Brochada
ISBN 9789724041957 364 págs


Para Vítor Aguiar e Silva a Língua Portuguesa é «a mais esplendorosa, perdurável e irradiante criação de Portugal».

Neste novo livro, ele identifica a origem da crise das Humanidades na «crise do conhecimento da língua materna, que depois condiciona a prática da leitura e a compreensão dos textos literários, históricos, filosóficos etc. Todas as Humanidades se fundam no conhecimento e na prática da língua e sobretudo na leitura e na interpretação de textos, em particular de textos literários»(...) «O discurso das Humanidades tem de ser sempre (…) a defesa intransigente contra os dogmáticos, os tiranos e os espoliadores da liberdade e da dignidade do homem, no plano das ideias e dos valores, e no plano das práticas concretas».
Assim, Aguiar e Silva defende que se deve “«melhorar, fortalecer e enriquecer o conhecimento da língua portuguesa» e assumir «a elaboração das Humanidades», como «saberes sistematizados que ensinem o homem a falar, a discorrer, a interpretar, a argumentar, a ponderar os valores, a tomar decisões na esfera política, a representar poética e simbolicamente as suas acções, as suas virtudes, as suas misérias e os seus sonhos». (...) “As Humanidades são saberes disciplinares ensinados e cultivados nas Escolas, desde o Ensino Básico até à Universidade, que se têm constituído ao longo dos séculos e que têm como objecto de estudo o homem enquanto animal que fala, que escreve, que se exprime e comunica através de textos orais e de textos escritos, assim criando mitos, religiões, poemas, narrativas, leis, ordenamentos políticos, sistemas filosóficos, teorias científicas, etc., que consubstanciam as civilizações e as culturas. As Humanidades são, por isso mesmo, saberes indissociáveis da memória histórica do homem e saberes cuja teoria e cuja prática são fundamentais na construção do presente e do futuro. Esta obra é uma reflexão preocupada, mas não pessimista, sobre a relevância do ensino das Humanidades num mundo e em Escolas em transformação profunda e célere”.

domingo, 5 de setembro de 2010

Voltaram das férias e não se calam (II)

E chamam-lhe "Rentrée". Até o termo foi importado com a estulta ou pretensa intenção de dar profundidade a um corolário de repetidos e obtusos discursos que parece imparável porque todos se acham no dever, ou talvez, no direito de fazer. E lá vão eles, bronzeados e descansados, por esse país fora, em romaria acertada, anunciando promessas para um futuro redentor deste presente tenebroso.
E o povo a vê-los passar. Quem os mandou voltar? Possivelmente, Ninguém.
Meu pobre Portugal, de Palavras e de Promessas estamos todos fartos.










A Paz arredondava-se aos Domingos



E , uma vez redonda, registava
a paração de campos entrevistos,
com o descanso a inundar a alma.
O longe propagava ondas de sinos
até a exultação da maré alta
arrepiar as do rio
e ir ampliar a placidez das águas.
Átrio era o ócio. Ou também indício
de vales alteados, já sem lágrimas,
mas onde ver sofria o paraíso
e o paraíso a si se nomeava.

Fernando Echevarria, in " Lugar de Estudo", Edições Afrontamento, Maio de 2009

sábado, 4 de setembro de 2010

A vocação do Professor



«A necessidade de transmitir conhecimento e competências, o desejo de os adquirir são constantes da natureza humana. Mestres e discípulos, ensino e aprendizagem deverão continuar a existir enquanto existirem sociedades. A vida tal como a conhecemos não poderia passar sem eles. Contudo, há mudanças importantes em curso. A computação, a teoria da informação e o acesso à mesma, a ubiquidade da Internet e da rede global envolvem muito mais do que uma revolução tecnológica. Implicam transformações de consciência, de hábitos de percepção e de expressão. O impacto sobre o processo de aprendizagem é já capital. [Contudo] a aura carismática do professor inspirado, o romance da persona no acto pedagógico perdurarão certamente a sede de conhecimento, a necessidade profunda de compreender, estão inscritas no melhor dos homens e das mulheres. Tal como a vocação do professor. Não há ofício mais privilegiado. Despertar noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro: eis uma tripla aventura como nenhuma outra»

George Steiner, in " As Lições dos Mestres ", Gradiva, 2005

Que solução para o futuro do nosso Planeta?

Os Estudos, os Debates, as reflexões à volta deste tema têm sido frequentes e diversos. O futuro é também uma preocupação ecológica, já que de sobrevivência se trata. Sobre essa matéria, o Jornal "Le Monde " publicou, em 26 de Agosto último, este artigo que se transcreve.

La décroissance, une solution d'avenir ?

"Nous vivons l'époque où la croissance rencontre les limites de la planète, déclare Yves Cochet, député (Verts) de Paris. La ligne qu'il défend pour éviter le "chaos social" consiste à "disqualifier (…) la puissance, l'utilitarisme et la surconsommation pour faire de l'écologie, de la sobriété et de la décroissance, une mode, un esprit du temps, un nouvel imaginaire collectif".
"La décroissance est un idéal de riches, réplique le géographe Jean Chaussade. (…) Le monde a besoin d'une croissance durable, qualitative, d'une croissance contrôlée, apprivoisée, qui rétablisse un certain équilibre entre ceux qui ont trop et ceux qui n'ont pas suffisamment."
De son coté, Corinne Lepage estime que "la décroissance n'est pas porteuse d'espoir". La présidente de CAP 21 prône une "macroéconomie soutenable" et un "capitalisme entrepreneurial".
Selon Alain Gras, professeur de socio-anthropologie, et Philippe Léna, directeur de recherche à l'Institut de recherche pour le développement, "la charge de Corinne Lepage contre la décroissance est "révélatrice des contradictions incontournables dans lesquelles s'enferment ceux qui (…) n'acceptent pas de remettre sérieusement en cause les mécanismes et l'idéologie qui sont à l'origine de la crise actuelle. (…) Une tout autre vision du monde reste à construire, affirment-ils, la contestation des objectifs actuels de l'économie par la réflexion sur la décroissance le permet".
"Le Monde", 26/08/2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Portugal liderou

Portugal é o país que registou, em Julho de 2010, a maior subida nas vendas a retalho, entre os 27 membros da União Europeia, de acordo com a informação divulgada, hoje , pelo Eurostat.
Ultimamente, Portugal tem atingido os lugares cimeiros por desempenhos negativos. As vendas a retalho contrariam este registo, elevando-o ao topo dos bons resultados.
Parabéns, Portugal. Aqui , fica assinalado o teu comportamento de liderança nesta UE de muitos líderes.

In " Jornal de Negócios " de 3/09/2010

Exposições do Centenário da República


Exposições do Centenário
Exposição: Letras e Cores, Ideias e Autores da República
Data de publicação: 23.08.2010

No ano em que se comemoram cem anos sobre a implantação da República, a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), em colaboração com a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, apresenta a exposição “Letras e Cores, Ideias e Autores da República”. A partir de textos de autores que marcaram decisivamente a cultura humanístico-literária em Portugal no final do século XIX e início do século XX, a DGLB convidou dez ilustradores a tratar plasticamente dez temas representativos do contexto social, político, cívico e cultural da época: Ultimatum, Monarquia, 5 de Outubro, Igreja, Educação, Mulheres, Modernismo, Grande Guerra, Chiado e Revistas. O resultado mostra de que forma literatura e arte, passado e presente, se podem cruzar de forma coerente e harmoniosa, dando corpo a um percurso fulcral da história portuguesa contemporânea: o triunfo da ideia republicana de cidadania, a instauração do regime, a participação de Portugal na I Grande Guerra e a vida política, social, cultural e artística deste período.
A exposição Letras e Cores, Ideias e Autores da República é uma iniciativa da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas e da CNCCR e poderá ser vista no Museu do Traje a partir de Outubro e nas Bibliotecas Municipais ao longo do ano.
Contacto para mais informações: comissao@centenariorepublica.pt
Notícia do Site do Centenário da República

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A tragédia em Moçambique



Aumentar a água, a luz seguidas do pão é uma morte anunciada para quem tem pouco ou nada tem. E por isso , ontem , a revolta foi para a rua, em Maputo, Moçambique. Os protestos ganharam dimensão com a força beligerante entre a Polícia e os manifestantes. Ao fim do dia contabilizavam-se já uma dezena de mortos e vários feridos.

Moçambique é um dos países mais pobres do mundo, onde todos os dias se morre de fome por falta de recursos para a luta da sobrevivência. Os direitos fundamentais não são plenos no mundo inteiro, embora sejam património da Humanidade.

O povo de Moçambique tem sido penalizado com aumentos sucessivos do custo de vida, mormente dos bens essenciais. Estes últimos fizeram descer o pânico à capital. A luta pelo pão de cada dia provoca e resulta em violência , quando a fome impera.

Assim vai o nosso mundo, cada vez mais desigual e feroz.



quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Em Setembro

É em Setembro que a minha praia me reconhece , abrindo-me, de novo, os seus longos braços para repetidos abraços de maresia ...

" C'est en Septembre", uma canção emblemática na voz inesquecível de Gibert Bécaud.



C'est en septembre

Les oliviers baissent les bras
Les raisins rougissent du nez
Et le sable est devenu froid
Au blanc soleil
Maitres baigneurs et saisonniers
Retournent à leurs vrais métiers
Et les santons seront sculptés
Avant Noël

C'est en septembre
Quand les voiliers sont dévoilés
Et que la plage tremble sous l'ombre
D'un automne débronzé
C'est en septembre
Que l'on peut vivre pour de vrai

En été mon pays à moi
En été c'est n'importe quoi
Les caravanes le camping-gaz
Au grand soleil
La grande foire aux illusions
Les slips trop courts, les shorts trop longs
Les Hollandaises et leurs melons
De Cavaillon

C'est en septembre
Quand l'été remet ses souliers
Et que la plage est comme un ventre
Que personne n'a touché
C'est en septembre
Que mon pays peut respirer

Pays de mes jeunes années
Là où mon père est enterré
Mon école était chauffée
Au grand soleil
Au mois de mai, moi je m'en vais
Et je te laisse aux étrangers
Pour aller faire l'étranger moi-même
Sous d'autres ciels

Mais en septembre
Quand je reviens où je suis né
Et que ma plage me reconnaît
Ouvre des bras de fiancée
C'est en septembre
Que je me fais la bonne année

C'est en septembre
Que je m'endors sous l'olivier

Gilbert Bécaud