quinta-feira, 8 de abril de 2010

Portugal em Abril

São passados quase trinta e seis anos do Abril dos cravos. Agora temos rosas e já não são vermelhas , apenas cor-de-rosa. Um rosa bem pálido e esbatido, daquele que se tem dificuldade em classificar porque diluido por tantas lavagens já não se enxerga a raiz, a origem e a tonalidade da verdadeira cor.
Alguém já classificou os poetas como os maiores legisladores naturais do mundo porque são capazes de regular as palavras para traduzir a vida. Sophia de Mello Breyner Andresen é o exemplo dessa verdade. Atentemos no final do seu poema "Lagos II" integrado na obra " O Nome das Coisas" de 1977.
" IV
Ou poderemos Abril ter perdido
O dia inicial inteiro e limpo
Que habitou nosso tempo mais concreto?

Será que vamos paralelamente
Relembrar e chorar como um verão ido
O país linear e transparente

E sua luz de prumo e de projecto? "

Reflectindo sobre as palavras sagazes e poéticas de Sophia poderemos reinterrogar-nos sobre este Portugal em Abril. Estará como o rosa diluido, desbotado sem rumo ou sem projecto? E o dia inicial inteiro e concreto terá sido perdido?
PEC, Comissões de Inquérito, Corrupção, Remunerações pecaminosas, Inaugurações fictícias e muita miséria escondida enchem o Portugal deste Abril.
"Meu pobre Portugal, hei-de chorar-te!" escreveu Alexandre Herculano no exílio. Herculano que, para além de ser português, foi poeta, romancista , historiador e um homem de luta pela Liberdade e pela Justiça social; mas isso não basta para que o Portugal de hoje, no ano de 2010 em que ocorre o bicentenário do seu nascimento, lhe preste uma justa e adequada homenagem oficial.
Portugal deste Abril onde andas? Perdido, sem norte ou em desnorte?
Abril em Portugal já não é o que era, mas corta-fitas e puxa-bandeiras ainda andam por aí.

1 comentário:

  1. Excelente análise de Portugal e do Abril quase diluido.As cores da ideologia perderam-se.Até o grande Herculano é esquecido.Continue a escrever.Parabéns.

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