terça-feira, 20 de abril de 2010

ABRIL DE ABRIL


Foi ontem, 19 de Abril, inaugurada a Cátedra Manuel Alegre instituida pelo Departamento de Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Pádua, em Itália, com o objectivo de promover o estudo da Língua, Literatura e Cultura portuguesas. Os proponentes desta Cátedra declararam ter escolhido Manuel Alegre porque "é um poeta, romancista, político e intelectual de topo do Portugal contemporâneo. Sem nunca renunciar ao empenhamento político, explora num registo de contínua e forte originalidade áreas temáticas universais, como a da errância, já que 'todos somos exilados de Florença' na esteira da grande tradição literária filiada em Portugal na 'lusitana antiga liberdade', de Luís Vaz de Camões, particularmente cara também ao lema da Universidade de Pádua: Universa Universis Patavina Libertas (Liberdade de Pádua, Universal e para todos)"
Na dissertação que proferiu nesta sessão inaugural, Manuel Alegre afirmou : (...)"Não sou um académico. Estou aqui como poeta e agradeço que seja nessa qualidade que me recebem, já que, no meu país, historicamente, poesia e língua quase se confundem." ” Eduardo Lourenço, num ensaio sobre a minha escrita, fala da "nostalgia da epopeia". Eu tenho essa nostalgia. A minha visão de Portugal é uma visão poética, uma visão integradora, em que se misturam poemas, batalhas, revoluções.” (...) "Hoje, como sempre, poesia é liberdade".
E da Liberdade, Manuel Alegre sabe-lhe as letras que molda em palavras feitas poemas.
" Abril de Abril" é um poema que emerge desse saber.

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.

Manuel Alegre, in "Atlântico", Moraes Editora, 1981

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