quarta-feira, 24 de março de 2010

"Sinais de Fogo" de Jorge de Sena


Vai realizar-se no próximo dia 27 de Março, na Figueira da Foz, um Simpósio " Ler Sinais de Fogo" promovido e organizado pelo Casino da Figueira, pela Editora Babel e com o apoio da Fundação José Saramago. A abordagem será feita por especialistas desta obra de Jorge Sena onde estão previstos os seguintes temas: " A aparição da poesia em Sinais de Fogo" e "Realismo e Poesia em Sinais de Fogo".
O filme realizado por Luis Filipe Rocha será igualmente exibido, bem como a leitura de alguns excertos do romance.
" Sinais de Fogo" é um romance póstumo e inacabado de uma força pujante que retrata a sociedade burguesa dos finais da 1ª metade do Sec. XX. A acção desenrola-se predominantemente na Figueira da Foz, quando eclode a Guerra Civil em Espanha. Um jovem estudante, Jorge, vai passar as férias de Verão a casa do seu tio Justino, na Figueira. "Quando cheguei à Figueira, a estação era um tumulto de espanhóis aos gritos, com sacos e malas, crianças chorando, senhoras chamando umas pelas outras, homens que brandiam jornais, e uma grande massa de gente comprimindo-se nas bilheteiras."
Apesar da guerra densificar a trama , é a paixão de Jorge por Mercedes que domina e centraliza tudo: drama e poesia. "Que o diabo levasse tudo o que quisesse, todas as preocupações, todos os ciúmes, todas as palavras dadas por conta dele. Eu queria-a minha, por que preço fosse."
Mercedes estava noiva do Almeida , mas isso não impedia de a desejar , de a querer. O realismo das emoções, o desejo e a paixão atravessam magistralmente o romance de uma forma arrojada que faz catapultar da prosa as palavras em verdadeira forma poética. "Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,/ recebo gratamente como se recebe/ não a morte ou a vida, mas a descoberta/ de nada haver onde um de nós não esteja."
São estes "Os Sinais de Fogo" que estarão em análise no próximo dia 27.
" Tirei um papel do bolso, e escrevi: " Sinais de fogo os homens se despedem , lançando ao mar os barcos desta vida." Reli o que escrevera. E depois? Olhei o mar que escurecia, com manchas claras que ondulavam largas. Os barcos iam pelo mar fora, e nalguns havia lanternas acesas. " Nas vastas águas..." Nas vastas águas ... Era absurdo. Eu fazendo versos? Porquê? Amarrotei o papel e deitei-o fora."




1 comentário:

  1. Um grande romance de um grande escritor. Todas as iniciativas sobre Jorge de Sena são meritosas para que as editoras reeditem as suas obras.

    ResponderEliminar