quinta-feira, 11 de março de 2010

As vítimas dos grandes eventos

Raquel Rolnik, uma investigadora dos direitos humanos na ONU, apresentou em Genebra, Segunda-Feira passada, 8 de Março, um relatório muito crítico (texto integral disponível em Inglês) sobre o impacto dos grandes eventos desportivos como o Campeonato Mundial de Futebol ou os Jogos Olímpicos, acusando os organizadores destes importantes encontros desportivos de serem responsáveis pela expulsão ou pela deslocalização de milhares de pessoas para "embelezar" as cidades. Aponta, nomeadamente, o caso de vinte mil pessoas deslocadas de um "bairro de lata" no Cap, cidade do Cabo, com o aproximar do Campeonato do Mundo de Futebol.
Apresentada na Internet como "relatora especial da ONU para o alojamento durável , enquanto elemento de direito para um nível de vida aceitável", Rolnik, urbanista e universitária brasileira, abordava já no seu Blog, desde o dia 5 de Março, o prejuízo social que provocam estas grandes manifestações desportivas . Nessa nota, ela destaca o impacto de competições como os Jogos Olímpicos de Sydney (ensombrado pelos excessos dos preços do imobiliário ), os Jogos de Pequim (1,5 milhões de deslocados), ou o próximo Campeonato do Mundo .
Raquel Rolnik lamenta que se registe frequentemente uma enorme falta de compromisso pelos países organizadores de tais eventos em respeitar e assegurar o direito ao alojamento. E se ela se regozija com o compromisso tomado pelo Comité Olímpico Internacional de ter em conta esta questão, deplora a atitude da FIFA , que tem sido sempre insensível à mesma. " A FIFA nunca respondeu a nenhuma das nossas cartas, nem a qualquer pedido de encontro. " - afirma ela.
Se a FIFA não respondeu ainda a estes ataques, o Comité organizador do Mundial na África do Sul defendeu-se de "dissimular a realidade social". " Nós trabalhamos para melhorar mais de 200 "bairros de lata" para assegurar que façam parte integrante da cidade, e que eles não sejam apenas enclaves dentro dela."- declarou no Cap.
Adaptação do artigo publicado no Jornal " Le Monde" , em 9/03/2010

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