sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O País dos tijolos

Eu mexo-me melhor na confusão, dizia Juan Domingo Péron. Desde então, esta mínima tem sido maximizada por todo o tipo de políticos. Não admira pois que a ideologia da confusão seja hoje seguida militantemente em Portugal. O País aproxima-se perigosamente da demência institucionalizada. A confusão tornou-se tão generalizada que já ninguém sabe quem é que está de um lado ou de outro do espelho que mostrava Alice. Portugal tornou-se o recinto dos loucos do "Voando sobre um ninho de cucos". Em que outro local do mundo dirigentes políticos e empresariais inovam a língua portuguesa acrescentando um novo significado à palavra "tijolo" (agora, "um pacote de dez maços de dez notas")? Em que outro sítio deste planeta os seus dirigentes discutem em voz alta o que fazer a um jornalista? Portugal está à beira da loucura. E ninguém ainda o avisou disso. É a "fast-food" política, onde só o imediato importa, que tornou tudo isto possível. Política é o que surge hoje no noticiário das oito. O longo prazo é o que surge amanhã no noticiário da noite. A relação crucial agora é entre o político, o jornalista e o conselheiro. As opiniões populares estão a ser continuamente testadas, mas só para confirmarem a resposta desejada. É por isso que a política do "focus group" e do nivelamento da informação se tornaram cruciais na política portuguesa. É esse vírus que está a corroer, como bicho-carpinteiro, a democracia portuguesa. Faz-se política como se estivéssemos no recreio da escola primária. E é nessa confusão que se move o poder.

Fernando Sobral, Artigo de Opinião publicado no "Jornal de Negócios" , em 3/02/2010

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