quarta-feira, 28 de outubro de 2009

POR ENTRE OS MARES DA VIDA


Por entre os mares da vida
Rios da memória inferida
Recordo os dias de Inverno
Em que líquidos eram os sonhos
Espraiando as névoas do desejo.

Imaginava o mundo em brocados
Coloridos por pincéis orvalhados
Numa litania imensa, infindável
Do presente, do futuro, do passado.

Chapinhando ermo me deleitava
Ao som das bátegas gritava
Mais alto o clamor da inocência
Transformar o frio gélido da noite
Em calor ardente, diurno, transparente.

O presente chegou, o passado esvaiu-se
E o futuro nebuloso dirimiu-se
Em histórias, peripécias, devaneios
De brocados partidos, desbotados.

No oceano de mares em fúria,
Afundei o destino da incúria
Que para nós fora marcado
Pela mão da cobiça, do apátrida,
Da assassina ganância humana.

E por ti, meu irmão desconhecido
Que me esperas já encanecido
Eis-me, aqui, do mar aportado
Fraterno e frágil, mas não derrotado!

M.J. Soares de Moura, in "Poesias do Mar e da Terra"

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