quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ANTERO DE QUENTAL, " As causas da decadência dos povos peninsulares"

Nas palavras de Eduardo Lourenço: "Ninguém entre nós pôs mais paixão no propósito de decifrar e ao mesmo tempo emendar o destino português do que Antero”
O período mais estimulante da vida pública de Antero de Quental foi o que culminou com a organização, junto com Batalha Reis, das Conferências do Casino, que se inauguraram em 22-V-1871, no Casino Lisbonense. A sua finalidade era a reflexão sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade portuguesa no contexto europeu, porque "não podia viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo", lia-se no programa, redigido por Antero. A mais célebre das conferências é a sua: “Causas da decadência dos povos peninsulares”, que foi imediatamente impressa e se tornou no seu mais conhecido texto em prosa. Para ele, a decadência das nações peninsulares, tão prósperas nos séculos XV e XVI, era devida a três causas de diversa natureza: moral, política e económica. A primeira tinha a ver com a transformação pós-Concílio de Trento do Cristianismo, "que é sobretudo um sentimento", no Catolicismo, "que é principalmente uma instituição". Um vive da fé, o outro do dogmatismo e da disciplina cega, que levou à Inquisição. A segunda, atribuiu-a ao Absolutismo, tão nefasto para a vida política e social como o Catolicismo para a Igreja. A terceira causa (sem discutir o carácter heróico das Descobertas) tinha a ver com as conquistas longínquas que levaram à decadência económica da Metrópole, com largas camadas da população a abandonar os campos com o olho nas riquezas da Índia: "Somos uma raça decaída por termos rejeitado o espírito moderno; regenerar-nos-emos abraçando francamente este espírito. O seu nome é Revolução [...] Se o Cristianismo foi a revolução do mundo antigo, a Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno". Nunca em Portugal se fora tão longe na denúncia das consequências do poder temporal da Igreja, e por isso as conferências acabaram por ser proibidas através de portaria real contra a qual redigiram o seguinte protesto:

Protesto
Contra o Encerramento da Sala das Conferências Democráticas
Em nome da liberdade de pensamento, da liberdade de palavra, da liberdade de reunião, bases de todo o direito público, únicas garantias da justiça social, protestamos, ainda mais contristados que indignados, contra a portaria que mandou arbitrariamente fechar a sala das conferências democráticas. Apelamos para a opinião pública, para a consciência liberal do país, reservando-nos a plena liberdade de respondermos a este acto de brutal violência como nos mandar a nossa consciência e de cidadãos.
Lisboa, 26 de Junho de 1871 Antero de Quental, Adolfo Coelho, Jaime Batalha Reis, Salomão Saragga, Eça de Queirós

Da agitação que se seguiu a este atentado às liberdades, consagradas mas não respeitadas, resultou a queda do governo que as suprimira.
Ana Martins, in " Quental "

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