sábado, 30 de maio de 2009

Confidencial

Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitado.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.

Miguel Torga, in " Poesia completa II", Coimbra, 17 de Setembro de 1992

2 comentários:

  1. Lindo poema. Miguel Torga é um dos maiores das nossas letras. Parabéns.

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  2. A poesia enche as páginas do nosso conhecimento porque os poetas são os maiores filósofos da vida

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